O último
compromisso do Papa nos Emirados Árabes Unidos foi a celebração da Missa no estádio
Zayed, em Abu Dhabi, com a homilia papal, para milhares de fiéis, sobre as
Bem-aventuranças como “um mapa de vida”, já que “não são para super-homens”,
mas para quem procura e tenta realizar a santidade diariamente. Nela emergiu
com força a asserção do Pontífice, citando São Francisco de Assis, de que “o
cristão parte armado apenas com a sua fé humilde e o seu amor concreto”, o
apelo à comunidade católica da Península Arábica a que seja oásis de paz e a exortação a que os cristãos “sejam
felizes”.
O local, com
capacidade para receber 45 mil pessoas, ficou pequeno para tantos fiéis –
caldeus, coptas, greco-católicos, greco-melquitas, latinos, maronitas,
sírio-católicos, siro-malabarenses e siro-malancareses – tanto que foram
distribuídos cerca de 135 mil bilhetes para que a cerimónia fosse acompanhada
do lado de fora, por telões. As autoridades locais informaram que no total estavam
presentes na celebração (dentro e fora do estádio), cerca de 180 mil pessoas. Foi a vertente interna da viagem: confirmar os
irmãos na fé (vd Lc 22,32), pela
palavra, oração e festa.
***
A homilia da
Missa em Abu Dhabi
A homilia,
proferida em italiano pelo Pontífice e traduzida simultaneamente em árabe, realçou
o conselho fundamental para se viver como cristão: ser feliz – a mensagem
basilar de Jesus, que não é prescrição para se cumprir, nem um complexo de
doutrinas a conhecer, mas estilo de vida a abraçar. Porém, para Jesus, a
felicidade consegue-se segundo os critérios do Evangelho e não segundo a
pautação do mundo, ou seja, são felizes os pobres, os mansos, os que permanecem
justos, não os ricos, os poderosos e os violentos. E, tendo-se interrogado a si
mesmo o Bispo de Roma sobre quem tem razão, Jesus ou o mundo, discorreu:
“Para compreender, vejamos como viveu Jesus:
pobre de coisas e rico de amor; curou muitas vidas, mas não poupou a sua. Veio
para servir e não para ser servido; ensinou que não é grande quem tem, mas quem
dá. Justo e manso, não opôs resistência e deixou-Se condenar injustamente. E,
assim, Jesus trouxe o amor de Deus ao mundo. Só assim derrotou a morte, o
pecado, o medo e o próprio mundanismo: unicamente com a força do amor divino.”.
E, em consequência, exortou:
“Peçamos hoje, aqui juntos, a graça de voltar a descobrir o encanto de
seguir Jesus, de O imitar, de nada mais procurar senão a Ele e ao seu amor
humilde. Com efeito, é na comunhão com Ele e no amor pelos outros que está o
sentido da vida na Terra. Acreditais nisso?”.
Francisco,
descrevendo e agradecendo o modo como é vivida, nos Emirados Árabes Unidos, a
“polifonia da fé” dos católicos, “que edifica a Igreja”, frisou que seguir o
caminho de Jesus não significa estar sempre alegre e reconhece que não é fácil
“viver longe de casa e talvez sentir, além da falta das afeições mais queridas,
a incerteza do futuro”. Porém, a provação pode fazer-nos ver que não estamos sozinhos”,
pois, nesses momentos, o Senhor “caminha
ao nosso lado”, “é especialista em
fazer coisas novas, sabe abrir caminhos mesmo no deserto” (cf Is 43,19).
Assegurando que
a vivência profunda das Bem-aventuranças não postula necessariamente “feitos
extraordinários”, bastando realizar a “única obra de arte, possível a todos, a
da nossa vida”, o Papa explanou o seu pensamento sobre o dinamismo da vida em
bem-aventurança:
“As Bem-aventuranças são um mapa de vida:
não pedem ações sobre-humanas, mas a imitação de Jesus na vida de cada dia.
Convidam-nos a manter puro o coração, a praticar a mansidão e a justiça venha o
que vier, a ser misericordiosos com todos, a viver a aflição unidos a Deus. É a
santidade da vida diária, que não precisa de milagres nem de sinais
extraordinários. As Bem-aventuranças não são para super-homens, mas para quem
enfrenta os desafios e provações de cada dia. Quem as vive à maneira de Jesus
torna puro o mundo. É como uma árvore que, mesmo em terra árida, diariamente
absorve ar poluído e restitui oxigénio.”.
E fez votos para que aqueles cristãos sejam bem enraizados em Jesus e
prontos a fazer o bem a quem está perto deles e que aquelas suas comunidades
sejam “oásis de paz”.
Por fim,
Francisco deteve-se em duas das bem-aventuranças: a da mansidão e a da paz.
No quadro da
bem-aventurança da mansidão, “Felizes os
mansos, porque possuirão a terra (Mt 5,5), exortou à não-agressão e à manutenção da mansidão,
mesmo diante dos acusadores. E, citando São Francisco de Assis, proclamou:
“Nem lutas nem disputas: naquele tempo em que muitos partiam revestidos
de pesadas armaduras, São Francisco lembrou que o cristão parte armado apenas
com a sua fé humilde e o seu amor concreto. É importante a mansidão: se
vivermos no mundo à maneira de Deus, vamos tornar-nos canais da sua presença;
caso contrário, não daremos fruto.”.
Sobre a bem-aventurança
da paz, “Felizes os pacificadores, porque
serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9), incentivou a promover a paz, começando pela
comunidade em que vivemos, pois uma Igreja que persevera na palavra de Jesus e
no amor fraterno produz frutos. E o Papa vincou:
“Para vós, peço a graça de preservar a paz,
a unidade, de cuidardes uns dos outros numa bela fraternidade, onde não haja
cristãos de 1.ª classe e de 2.ª. Jesus, que vos chama ‘felizes’, conceda a
graça de caminhardes sempre diante sem vos desencorajardes, crescendo no amor ‘uns
para com os outros e para com todos’ (1 Ts 3,12).”.
Na verdade, Jesus, como disse Francisco, “não deixou nada
escrito, não construiu nada de imponente”; e, “quando nos disse como viver, não
pediu que erguêssemos grandes obras ou nos salientássemos realizando feitos
extraordinários”, mas que assumíssemos a cruz da vida e O seguíssemos na
santidade orante e no bem-fazer.
***
A apreciação
da viagem a partir da audiência geral do dia 6, pelo ‘Vatican News’
No seu 5.º
encontro do ano com os fiéis em audiência geral de quarta-feira, a 6 de
fevereiro, o Papa recebeu
7 mil pessoas na Sala Paulo VI e com elas, compartilhou os principais momentos da
viagem acabada de realizar aos Emirados Árabes Unidos. Foi, na sua perspetiva,
uma visita breve, mas muito importante, pois, na sequência do encontro de 2017
em Al-Azhar, no Egito, “escreveu uma nova
página na história do diálogo entre cristianismo e islamismo e no compromisso
de promover a paz no mundo a partir da fraternidade humana”.
Referindo
que foi a primeira vez que um Papa foi
à Península Arábica e ocorreu justamente 800 anos depois da visita
de São Francisco de Assis ao Sultão al-Malik al-Kamil, confessou:
“Muitas vezes pensei em São Francisco durante esta viagem: ele ajudou-me
a conservar no coração o Evangelho, o amor de Jesus Cristo, enquanto eu vivia
os vários momentos da visita; no meu coração estava o Evangelho de Cristo, a
oração ao Pai por todos os seus filhos, especialmente pelos mais pobres, pelas
vítimas da injustiça, da guerra, da miséria...; a oração para que o diálogo
entre Cristianismo e Islamismo seja um fator decisivo para a paz no mundo de
hoje”.
Depois de
agradecer às autoridades do país, a Dom Paul Hinder, Vigário Apostólico da Arábia do Sul,
à comunidade católica em geral, ao Príncipe Herdeiro e ao Conselho Muçulmano de
Anciãos, Francisco definiu como ponto culminante da viagem o encontro
inter-religioso no Memorial do Fundador dos EAU, Xeque Zayed bin Sultan Al Nahyan. E revelou ter conhecido o
sacerdote mais idoso do país, que aos 92 anos, na cadeira de rodas e cego,
continua o seu trabalho, sempre de sorriso no rosto.
Também
lembrou o Papa a histórica Declaração conjunta sobre a Fraternidade
Humana:
“Afirmamos juntos a vocação comum de todos
os homens e mulheres a serem irmãos como filhos e filhas de Deus, condenamos
todas as formas de violência, especialmente aquela revestida de motivos
religiosos, e comprometemo-nos a difundir valores autênticos e a paz no mundo”.
O Pontífice
ressaltou que, numa época como a nossa, em que há a forte tentação de ver um
choque entre civilizações cristãs e islâmicas e de considerar as religiões como
fontes de conflito, os dois líderes religiosos em presença quiseram dar este
sinal claro e decisivo do encontro, do respeito e do diálogo:
“É possível encontrar-se, respeitar-se e
dialogar entre si; e, apesar da diversidade de culturas e tradições, o mundo
cristão e o mundo islâmico valorizam e protegem valores comuns: vida, família,
sentido religioso, honra para com os idosos, educação dos jovens e outros”.
Outro
momento significativo da viagem apostólica foram os dois encontros com a
comunidade católica local, formada por trabalhadores de vários países da Ásia,
na Catedral de São José, e para a Eucaristia, no estádio de Abu Dhabi, quando
se rezou, de modo especial pela paz e pela justiça, com especial intenção para
o Oriente Médio e o Iémen.
Com efeito, naquele oásis multiétnico e multirreligioso que
são os EAU, existe um bom número de cristãos, trabalhadores originários de
vários países, para quem o Pontífice celebrou a Santa Missa no
Estádio da cidade, anunciando-lhes o “Evangelho das Bem-aventuranças” e do
louvor a Deus. E o Papa terminou o discurso da audiência geral com satisfação,
dizendo:
“Esta viagem pertence às ‘surpresas’ de
Deus, por isso O louvamos a Ele e à sua providência e rezamos para que as
sementes dispersas produzam frutos segundo a sua santa vontade”.
***
A autoanálise da viagem na conferência de imprensa no voo de regresso ao
Vaticano
Em termos genéricos, o Papa considerou a viagem
importante, ao dizer aos jornalistas:
“Foi uma viagem muito breve, mas para mim
foi uma experiência grande. Penso que toda a viagem seja histórica e também que
cada dia nosso seja para escrever a história quotidiana. Nenhuma história é
pequena. Toda a história é grande e digna. E, mesmo se for feia, a dignidade
está escondida e sempre pode emergir.”.
Questionado sobre os resultados da viagem, começou por apontar a modernidade
do país, o seu acolhimento, a aposta no futuro pela educação, realçando a
transformação da água do mar e a da humidade em água potável e a noção de que o
petróleo faltará. E, no âmbito religioso, destacou:
“É um Islão aberto, de diálogo, um
Islão fraterno, de paz, […] não obstante os problemas de algumas guerras na
área. Para mim, foi muito tocante o encontro com os sábios do Islão, um
encontro profundo. Eram de diferentes lugares e de várias culturas. Isto também
indica a abertura desse país a um diálogo regional, universal e religioso.
Fiquei impressionado com a conferência inter-religiosa: foi um forte evento
cultural. Mencionei isso no discurso, o que fizeram ali, no ano passado, sobre
a proteção das crianças na Internet!”.
Quanto às honras militares e a movimentação e
colorido nos ares, esclareceu:
“Interpreto todos os gestos de boas-vindas
como gestos de boa vontade. Cada um realiza-os segundo as próprias culturas.
Encontrei um acolhimento muito grande […] sentiam que a visita do Papa era uma
coisa boa. Alguém disse até ‘uma bênção’, Deus sabe. Queriam fazer sentir que
eu era bem-vindo. Sobre o problema das guerras, […] sei que é difícil dar uma
opinião depois de dois dias e depois de ter falado sobre o assunto com poucas
pessoas. Digo que encontrei boa vontade em iniciar processos de paz.”.
No atinente ao modo como será aplicada a Declaração sobre a
fraternidade, depois de confessar ter sido preparada com muita reflexão e
oração de ambas as partes, advertiu quanto aos perigos:
“Para mim existe somente um grande perigo
neste momento: a destruição, a guerra, o ódio entre nós. Se nós, fiéis, não
somos capazes de nos dar as mãos, abraçar-nos, beijar-nos e também rezar, a
nossa fé será vencida. Esse documento nasce da fé em Deus, que é Pai de todos e
Pai da paz. Condena toda a destruição, todo o terrorismo, desde o primeiro
terrorismo da história, o de Caim. É um documento que se desenvolveu em quase
um ano, com ida e volta, orações. Ficou para amadurecer, um pouco confidencial,
para não dar à luz a criança antes do tempo. Para que seja maduro.”.
Interpelado sobre se o documento dos dois líderes
religiosos, tão ambicioso quanto à educação, pode influenciar os fiéis, disse:
“Ouvi dizer a alguns muçulmanos que deveria
ser estudado nas universidades, pelo menos em Al-Azhar certamente, e nas
escolas. Deve ser estudado, não imposto.”.
No atinente às consequências da Declaração no mundo islâmico e entre os
católicos, até porque acusam o Papa de se deixar instrumentalizar pelos
muçulmanos, depois de admitir que é acusado de se deixar instrumentalizar por
todos, até pelos jornalistas, referiu que, do ponto de vista católico, “não foi um milímetro além do Concílio Vaticano II” e
revelou:
“Antes de tomar a decisão […], pedi que um teólogo e
também o Teólogo da Casa Pontifícia, que é um dominicano com a bela tradição
dominicana, […] encontrasse a coisa justa. E ele aprovou. Se alguém se sente
mal, eu compreendo, não é algo de todos os dias e não é um retrocesso. É um
passo avante que vem de 60 anos atrás, o Concílio que se deve desenvolver. Os
históricos dizem que, para que um Concílio tenha consequências na Igreja, são
necessários 100 anos, estamos na metade do caminho. Aconteceu também
comigo. Li uma frase do documento que me surpreendeu e disse a mim mesmo:
não sei se é segura. Ao invés, era uma frase do Concílio!”.
E em relação
ao mundo Islâmico, indicou sem ilusões:
“Existem vários pareceres, alguns mais radicais, que outros. Ontem, no
Conselho dos sábios, havia pelo menos um xiita, e falou bem. Haverá
discrepâncias entre eles… mas é um processo, os processos devem amadurecer,
como as flores, como a fruta.”.
Sobre o encontro com os anciãos, depois de
salientar que “são realmente sábios”, contou:
“O Grande Imame falou primeiro, depois cada
um deles, começando pelo mais ancião […] até ao mais jovem,
que é o secretário, mas disse tudo em vídeo. […]. As
palavras-chave são ‘sabedoria’ e ‘fidelidade’. Depois, enfatizaram um caminho
de vida no qual esta sabedoria cresce e a fidelidade se torna forte, e daí
nasce a amizade entre os povos. Um deles era xiita, outros com diferentes
cambiantes. O caminho de sabedoria e fidelidade leva a construir a paz, que é
verdadeira obra de sabedoria e fidelidade. Fiquei com a impressão de estar
entre verdadeiros sábios.”.
Tendo-lhe sido recordado que uma menina passou por entre
as barreiras e correu até ao Papa para lhe entregar uma carta, disse que ainda
não tivera tempo de a ler, mas acrescentou:
“Aquela menina é uma menina corajosa! Essa menina tem futuro e eu ouso
dizer: Pobre marido! Corajosa,
gostei. E, depois, outra menina seguiu-a! Que bonito...”.
Posto ante o facto de o grande Imame ter
abordado o tema da Islamofobia e Francisco não ter falado na Cristianofobia e a perseguição aos cristãos, disse que falou disso, mas não naquele momento, e que tem falando disso com frequência. No entanto, sobre o
documento, adiantou:
“Eu acredito que o documento fosse mais de
unidade e de amizade. Mas ele condena a violência e alguns grupos que se dizem
islâmicos – mesmo que os sábios digam que isso não é islamismo – e perseguem os
cristãos.”.
E relatou um
episódio de há anos:
“Lembro-me daquele pai em Lesbos com os seus
filhos. Trinta anos de idade. Chorava e disse-me: eu sou muçulmano, a minha
esposa era cristã e vieram os terroristas do ISIS, viram a sua cruz,
pediram-lhe que se convertesse e, depois da sua recusa, degolaram-na na minha
frente. Este é o pão quotidiano dos grupos terroristas: a destruição da pessoa.
É por isso que o documento foi de forte condenação.”.
Tendo-lhe sido apontado que fala de liberdade religiosa, que esta vai
além da liberdade de culto e que fez uma visita a um país dito tolerante, mas
que muitos católicos presentes no estádio, pela primeira vez desde que chegaram
aos Emirados, puderam celebrar abertamente a sua fé, disse que “todo o processo
tem princípio, existe um antes e um depois, mas sem parar”.
E evocou um
episódio de há anos, em Roma:
“Um adolescente de 13 anos com quem estive
em Roma disse-me: ‘Algumas coisas que o senhor diz parecem-me interessantes,
mas eu quero dizer-lhe que sou ateu. O que devo fazer como ateu para me tornar
um homem de paz?’. Eu disse-lhe: ‘Faça o que você sente, falei com ele um
pouquinho’. Eu gostei da coragem dele.”.
E
acrescentou:
“Ele é ateu, mas busca o bem, e isso também
é um processo. Devemos respeitar e acompanhar todos os processos, sejam das
cores que forem. Eu acredito que estes são passos avante.”.
Em suma, do meu ponto de vista, o Papa Francisco
sabe que é tentador aproveitarem-se da sua vontade de diálogo, procura dizer
tudo o que é preciso dizer, mas sem queimar etapas ou sem estragar antecipada e
desnecessariamente e resultados, e respeita a dinâmica dos processos. Roma e
Pavia não se fizeram num dia. É a semente do Reino a germinar para crescer imenso!
***
A confirmação das previsões do Cardeal Secretário de Estado quanto a esta
viagem
Confirma-se a
expectativa e previsão do Cardeal Secretário de Estado previamente entrevistado
pelo Vatican News, sobre a visita do
Papa aos EAU como um novo capítulo na relação de fraternidade entre as religiões”, com os
dois momentos marcantes:
o encontro inter-religioso no
Memorial do Fundador e a Missa no estádio de Zayed.
Segundo o entrevistador Roberto Piermarini, o Cardeal Parolin define os Emirados Árabes Unidos como uma
ponte entre o Oriente e o Ocidente e uma terra multicultural, multiétnica e multirreligiosa.
E a mensagem papal seria “para todos os
líderes e membros das religiões, para que se empenhem em trabalhar juntos para
construir a unidade, a paz e a harmonia no mundo, para redescobrir as raízes de
nossa fraternidade, em vista de uma luta clara e explícita contra qualquer tipo
de fundamentalismo e radicalismo que leve a conflitos e contraposições”. Por
outro lado, a viagem apostólica levaria o Papa “a encontrar numerosos católicos presentes no país, para os encorajar a
continuar a dar seu testemunho cristão e a contribuir para a construção da
sociedade e, de maneira mais geral, para a paz e a reconciliação”.
Enfatizando
ser a primeira vez que um Papa vista os Emirados Árabes Unidos e mesmo a Península Arábica, Pietro Parolin vincou a
situação de ponte daquele país como escala de passagem aérea e a sua índole “multicultural, multiétnica e multirreligiosa”.
Assim, iria ser dado ao Pontífice o ensejo de confirmar “o conceito da fraternidade” e o compromisso pela paz, bem como o
de encontrar “uma comunidade cristã, uma comunidade católica”, sendo que, “em
relação a esses irmãos e irmãs na fé”, a presença papal seria de “conforto e
encorajamento” para seguirem “o seu testemunho cristão”.
Questionado sobre a participação de Francisco no Encontro inter-religioso
a ser realizado em Abu Dhabi e sobre o papel do evento num mundo ferido pelo
fundamentalismo, o purpurado sublinhou a afirmação da fraternidade universal e
a redescoberta das suas raízes – em vista duma luta clara e explícita contra
todo tipo de fundamentalismo, de radicalismo “que possa levar a conflitos e
contraposições, e em vista de construir caminhos de reconciliação e de paz”. E,
antecipando a imagem do deserto utilizada pelo Papa Bergoglio, frisou:
“Poderíamos usar uma imagem, já que lá há
muito deserto: muitas vezes os caminhos do deserto são cobertos de areia, as
tempestades fazem-nos desaparecer. Trata-se de os redescobrir e de começar a
percorrê-los, todos juntos, de forma tal a oferecer verdadeiramente uma
esperança ao nosso mundo tão dividido e fragmentado.”.
Sobre a celebração eucarística no estádio da capital, considerou o número
de cristãos que ali vivem, provenientes dos países vizinhos e de outras partes do mundo, que ali acorreram “para
encontrar oportunidades de emprego”. E a presença deles torna-se “experiência
de encontro com o outro”, sendo que as autoridades desses Estados se empenham
em que eles “se tornem modelos de coexistência e de colaboração entre os vários
componentes”. E disse:
“Esperamos que os cristãos que estão ali
presentes possam continuar a dar a sua contribuição também para a construção
daquela sociedade, mas de modo mais geral, para a paz e a reconciliação no
mundo. E às irmãs e aos irmãos católicos que encontram dificuldades e também
fazem tantos sacrifícios para viver sua fé, gostaria de dizer neste momento que
somos próximos a eles, que realmente nos sentimos ligados a eles por uma
fraternidade cristã e que fazemos de tudo para os ajudar com os meios que
estão à nossa disposição.”.
Por fim, evocando a sua ida ao país em 2015, onde inaugurou uma igreja dedicada ao Apóstolo São
Paulo, Parolin
falou daquela comunidade eclesial como uma Igreja numerosa, compósito-laboratorial
(feita de fiéis pertencentes a diferentes culturas com diversas línguas
e diversos ritos – laboratório de unidade e de comunhão na diversidade) e dinâmica (cheia de vitalidade dentro de si). E
observou:
“Não faltam desafios e dificuldades e, às
vezes, também há tensões. Mas parece-me que realmente há um esforço por parte
de todos, sob a orientação dos pastores locais, de viver uma autêntica
comunhão. […] Bastaria participar (e o Papa o fará porque celebrará a Missa)
nas celebrações desta comunidade para ver como são realmente comunidades
vibrantes, que participam plenamente das celebrações litúrgicas - e ao mesmo
tempo também empenhada em testemunhar no ambiente em que se encontra e a colocar-se
a serviço da sociedade junto à qual vive e trabalha.”.
***
Nada
ficou por dizer e tudo está em rota do processo de cumprimento, não sem
dificuldades. É a esperança em marcha!
2019.02.06 –
Louro de Carvalho
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