No
passado dia 15 de novembro fez-se a memória litúrgica de Santo Alberto Magno,
Doutor da Igreja e padroeiro dos estudantes de ciências naturais.
Alberto Magno, OP (em latim: Albertus Magnus) ou Alberto,
o Grande, ou Alberto
de Colónia, é o santo filósofo, escritor, astrólogo, teólogo e
bispo, que a Igreja Católica proclamou Doutor da Igreja em 1931 por
decisão de Pio XI. Pertencente à poderosa e influente família Bolsadt, na
Alemanha, era um frade da Ordem dos Pregadores (dominicano) fundada por São Domingos de Gusmão. Ainda em vida
era conhecido como doctor universalis e doctor
expertus e, já idoso, ganhou o epíteo “Magnus” (“o Grande”). Estudiosos como James A. Weisheipl e Joachim R.
Söder sustentam que foi o maior filósofo e teólogo alemão da Idade Média.
A sua família era nobre, rica, cristã e tinha uma importante tradição
militar. Desde a infância, Alberto manifestou piedade religiosa e recebeu uma
educação primorosa e aguçada.
O título de “grande” (magnus), com que passou para a história, indica a vastidão e a profundidade da
sua doutrina, que associou à santidade da vida. Mas já os seus contemporâneos
não hesitavam em atribuir-lhe títulos excelentes: um dos seus discípulos,
Ulrico de Estrasburgo, definiu-o “enlevo e milagre da nossa época”.
***
Dados biográficos
É provável
que tenha nascido em Lauingen, no Ducado da Baviera, na Suábia (Alemanha), pois chamava-se a si próprio “Alberto de Lauingen” (o epíteto pode ser ainda um nome de
família). Mas, quanto ao ano de nascimento,
aventam-se várias hipóteses, mas todas levam a situá-lo antes de 1206. Terá
nascido em 1196 ou 1200, dadas as confiáveis evidências de que teria de 80 anos
ou mais quando morreu em 1280. Porém, várias fontes afirmam que tinha 87 anos,
o que explica porque 1193 também aparece como ano do seu nascimento.
Levado por
um tio foi estudar para a Universidade de Pádua (Itália), onde teve contacto com a obra de Aristóteles e conheceu o Beato Jordão da Saxónia,
da Ordem de São Domingos, que o acompanhou no seu processo de ingresso nos
dominicanos. Mas um
relato de Rudolph de Novamagia revela que Alberto tivera uma visão da
Virgem Maria, que o convenceu aceitar o hábito de dominicano. Sendo
muito devoto da Virgem Maria, durante seus momentos de oração ela aconselhou-o
a perseverar apesar da dificuldade e a não desistir.
Alberto contou
que, quando era jovem, os estudos lhe eram difíceis e, certa noite, tentou
fugir do colégio onde estudava. Quando chegou ao topo duma escada encostada na
parede, encontrou a Virgem Maria, que lhe disse: “Alberto, porque, em vez de
fugires do colégio, não me rezas, que sou ‘Casa da Sabedoria’? Se tens fé em
mim e confiança, eu te darei uma memória prodigiosa”, disse-lhe a Mãe de Deus.
“E para que
saibas que fui eu que te concedi, quando fores morrer, esquecerás tudo o que
sabias”, acrescentou a Virgem. E isto cumpriu-se. Dois anos mais tarde, o santo
partiu para o Céu muito pacificamente, sem doenças e enquanto conversava com os
seus irmãos em Colónia.
Ele não
desistiu e passou a perseguir a união entre ciência e fé. E dizia: “Minha intenção última está na
ciência de Deus”. E, em 1223 ou 1229, entrou para a Ordem dos
Pregadores contra a vontade da família e estudou teologia na Universidade
de Bolonha. Selecionado para ocupar uma cadeira
de professor em Colónia, onde havia um mosteiro dominicano, ensinou
durante muitos anos na região, sobretudo em Regensburg, Friburgo,
Estrasburgo e Hildesheim. E, durante o primeiro mandato em Colónia,
escreveu a “Summa de Bono” depois
de debater com Filipe, o Chanceler, as propriedades transcendentais do
ser. Foi o primeiro a comentar praticamente todas as obras de Aristóteles,
tornando-as acessíveis para o debate académico mais amplo – estudo que o levou
a conhecer e comentar o ensinamento dos muçulmanos,
principalmente Avicena e Averróis, e pôs Aristóteles no centro do debate.
Passou, em
1241, a lecionar teologia na Universidade de Paris, centro intelectual da Europa
Ocidental ao tempo, como
titular da cadeira de teologia no Colégio de São Tiago, sendo que, em 1245, ali
obteve o grau de
professor de teologia pelas mãos de Guerico de
Saint-Quentin. Foi o primeiro dominicano alemão a conquistar este posto e diz-se que eram tantos os
estudantes que frequentam as suas aulas que teve de ensinar numa praça pública,
a chamada Praça “Maubert”, em razão do seu nome “Magnus Albert”.
Neste
período, Tomás de Aquino, que veio a ser um dos grandes luminares da
Igreja, tornou-se um dos seus alunos e manteve-se sempre fiel às suas
doutrinas e à influência que recebeu de outros antigos filósofos. Além
disso, Alberto compreendia muitos aspetos do mundo natural, como
a metafísica, a física e a matemática. Reconheceu grandes dotes em Tomás de Aquino: “Vós o chamais o boi mudo”, disse aos
outros alunos, que com tal expressão haviam definido o taciturno companheiro de
estudo, “mas ele, com a sua doutrina,
emitirá ruídos que serão ouvidos em todo o mundo”.
Em 1248, foi encarregado de abrir um estúdio teológico
em Colónia, uma das cidades mais importantes da Alemanha, onde ele viveu
durante vários períodos e que se tornou a sua cidade de adoção. De Paris, levou
consigo para Colónia o discípulo extraordinário, Tomás de Aquino. Só o mérito
de ter sido mestre de São Tomás seria suficiente para nutrir profunda admiração
por Santo Alberto. Entre estes dois grandes teólogos instaurou-se um relacionamento
de estima e amizade recíproca, atitudes humanas que contribuem muito para o
desenvolvimento da ciência.
Em 1254,
tornou-se superior provincial da sua Ordem, trabalho difícil que
realizou com grande cuidado e eficiência (percorreu a pé as
várias regiões, para estar próximo das comunidades religiosas a ele confiadas, mendigando
ao longo do trajeto pão e teto). Durante o
seu mandato, defendeu publicamente os dominicanos contra os ataques do corpo
docente secular e regular da Universidade de Paris, escreveu um comentário
sobre São João Evangelista e respondeu ao que dizia serem “erros” do
filósofo islâmico Averróis. Passados 5 anos, participou num capítulo geral da
Ordem em Valenciennes com Tomás de Aquino (outro grande teólogo medieval com
incidência nos séculos seguintes), os
mestres Bonushomo Britto, Florentius (provavelmente
Florêncio de Hidínio, chamado também de “Florêncio Gaulês”) e Pedro, que criou uma ratio studiorum
(um programa
de estudos) para a Ordem, que trazia a
filosofia como inovação para os que não foram suficientemente treinados na
teologia. E, a partir de então, iniciou-se a tradição da filosofia escolástica
dominicana com, por exemplo, a criação do Studium Provinciale no convento
de Santa Sabina em Roma em 1265, o embrião da futura Pontifícia
Universidade de São Tomás de Aquino
(Angelicum).
Em Roma,
chegou a ser teólogo
e canonista pessoal do Papa em Agnani, Viterbo e Roma. E, em 1260, o Papa Alexandre IV (1254-1261) nomeou-o Bispo de Regensburg, cargo que
manteve por três anos. Neste período, melhorou a sua reputação de humildade ao
recusar andar montado a cavalo como ditava a legislação dominicana e, ao invés
disso, andava sempre a pé pela sua diocese, hábito que lhe valeu o apelido
carinhoso de “Botas, o bispo de seus paroquianos” (viveu
em perfeito espírito de pobreza, assimilado na vida religiosa: “Nas suas gavetas não havia uma moeda”,
disse dele alguém, “nem uma gota de vinho
na barrica ou um punhado de grãos no celeiro). Depois de renunciar ao cargo para
viver no seu convento de Würzburg e se dedicar a formar e ensinar, passou o resto da vida numa aposentadoria parcial
morando em diversas casas monásticas da Ordem e pregando por todo o sul da Alemanha.
Em 1270,
pregou a VIII Cruzada na Áustria. Depois, ficou famoso pelo papel de mediador
entre os diversos partidos que lutavam na região. Em Colónia, Alberto é
conhecido não apenas como o fundador da universidade mais antiga da Alemanha,
mas também pelo “Grande Veredicto” (“Der Große Schied”) de 1258, que encerrou o conflito
entre a população da cidade e o Arcebispo.
Entre as
últimas obras de Alberto, insere-se a luta para defender a ortodoxia do seu
antigo pupilo Tomás de Aquino, cuja morte em 1274 o aborreceu
sobremaneira, apesar de o relato de que ele teria ido pessoalmente a Paris para
defender as suas doutrinas não poder ser confirmado.
Em 1274,
participou ativamente no II Concílio de Lyon, na França.
Porém,
em 1278, enquanto dava aulas, a sua memória falhou de súbito e ele perdeu a agudeza
do entendimento, compreendendo que estava a chegar o seu fim, pelo que mandou construir seu próprio túmulo e passou a rezar
diariamente o ofício dos defuntos. E, depois desta deterioração da
saúde em 1278, faleceu em 15 de novembro de 1280 no convento dominicano de Colónia.
Foi uma
grande autoridade em vários ramos do saber. Até então, não cabia dúvida de
que se tratava de um intelectual fora do comum. No entanto, mantinha-se humilde
e nunca deixou a oração e os sacramentos. Disse o Papa Bento
XVI em 24 de março de 2010:
“Santo Alberto Magno recorda-nos que entre ciência e fé existe amizade e
que os homens de ciência podem percorrer, através da sua vocação para o estudo
da natureza, um autêntico e fascinante percurso de santidade”.
***
Alberto foi
mencionado muitas vezes por Dante Alighieri, que fez da doutrina albertina
sobre o livre arbítrio a base de seu sistema ético. Na “Divina Comédia”, Dante coloca Alberto e
Aquino entre os grandes amantes da sabedoria (spiriti sapienti) no Paraíso do sol. Também foi mencionado,
ao lado de Agrippa e Paracelso, no clássico “Frankenstein”, de Mary ShellY. E as suas obras influenciaram o
jovem Victor Frankenstein.
Em 1622,
o Papa Gregório XV declarou-o Beato. E, a 16 de dezembro de
1931, Pio XI canonizou-o e proclamou-o Doutor
da Igreja. Dez anos depois, foi proclamado por Pio XII santo padroeiro dos
cientistas. Segundo Joan Carroll Cruz, foi agraciado com um corpo incorrupto. No aniversário da sua morte, em 1954, foram as suas relíquias
trasladadas para um sarcófago na cripta da igreja dominicana de Santo
André.
***
As obras
As obras de Alberto, colecionadas em 1899, compõem 38 volumes, uma
demonstração não só da sua prolificidade como também do seu conhecimento
literalmente enciclopédico sobre tópicos tão variados como gramática, lógica,
geometria, aritmética, meteorologia, teologia, botânica, geografia, astronomia,
astrologia, mineralogia, alquimia, zoologia, frenologia, direito, além de
tratados sobre a justiça, amizade e amor. Leu, interpretou e sistematizou toda a
obra de Aristóteles através do estudo de traduções latinas e de
anotações de comentaristas árabes, sempre à luz da doutrina da Igreja.
Grande parte do conhecimento moderno que temos sobre o grande filósofo grego foi
preservado e apresentado aos estudiosos ocidentais por Alberto Magno. E escreveu
livros sobre navegação, tecelagem, agricultura. Tão espantoso acúmulo de saber
não o impediu de ser um humilde frei dominicano, piedoso e obediente.
Todavia, a
sua atividade foi mais filosófica que teológica. As suas obras de filosofia
estão, em geral, divididas de acordo com o esquema aristotélico das
ciências e consistem em interpretações e versões condensadas das obras do
filósofo grego, acrescidas de discussões suplementares sobre tópicos
contemporâneos e, ocasionalmente, de suas discordâncias. As suas principais
obras teológicas são o comentário em 3 volumes do Livro das Sentenças de Pedro Lombardo (Magister
Sententiarum) e
uma Summa Theologiae em 2 volumes, sendo esta última uma
repetição mais didática da primeira.
Está
entre os primeiros pensadores medievais a afirmar a autonomia da ciência e da
filosofia em relação à teologia. Verdadeiro génio enciclopédico, capaz de se
mover com grande segurança nos mais diferentes campos do conhecimento humano,
conviveu com perfeita harmonia entre as razões da ciência e da fé, que provêm do mesmo Deus, pelo que não se podem contradizer. E, nestes termos, rezava:
“Senhor Jesus, “invocamos a tua ajuda para não nos deixarmos seduzir
pelas vãs palavras tentadoras sobre a nobreza da família, sobre o prestígio da
instituição, sobre o que a ciência tem de atraente” (Sgarbossa,
1996).
O “Dicionary of
Scientific Biography” afirma que Santo Alberto Magno foi um dos mais
famosos precursores da ciência moderna na Alta Idade Média. Escreveu a obra “De Mineralibus”. Conseguiu preparar a
potassa cáustica e descreveu a composição química do cinabre (sulfureto de
mercúrio), do cerusita (óxido de
zinco artificial) e do mínio
(óxido de
chumbo empregado na pintura e na fabricação de vidros especiais) e do carbonato de chumbo artificial.
Sustentava com clareza que “a ciência não pode
explicar o mistério, mas ajuda a preparar os caminhos de Deus”. Era um
admirador de Aristóteles e afirmava que é possível utilizá-lo como Santo Agostinho
utilizara Platão; mas rejeita o que em Aristóteles é contrário à fé cristã. São
Tomás de Aquino foi herdeiro académico de Santo Alberto Magno.
Destacam-se,
a seguir, alguns vetores da sua produção:
Filosofia natural. O conhecimento de Alberto Magno
sobre a filosofia natural (a “ciência”) era considerável e notavelmente
acurado para a época. A sua diligência em aprender em todos os campos era
enorme e, apesar de haver diversas lacunas no seu sistema científico, caraterístico
da filosofia escolástica, o seu profundo estudo de Aristóteles deu-lhe um
poderoso pensamento sistemático e grande habilidade explicativa. Um exemplo
desta tendência geral é o seu tratado em latim “De Falconibus” (posteriormente
incorporado numa obra maior, “De
Animalibus”, compondo o capítulo 40 do livro 23), em que mostra um
impressionante conhecimento das diferenças entre as aves de rapina e
as demais aves; a diferença entre os tipos de falcões; a preparação
para a caça; as técnicas de cura de falcões doentes e feridos. E, em “De Mineralibus”, afirma:
“O objetivo
da filosofia natural [ciência] é não apenas aceitar as afirmações de outros,
mas investigar as causas que estão em ação na natureza”.
O aristotelismo influenciou
profundamente a visão de Alberto sobre a natureza e a filosofia.
O seu legado
académico justifica o apelido honorífico de Doctor Universalis, que ganhou da parte dos seus
contemporâneos. Mas Alberto foi também responsável por mostrar que a Igreja não
é contra o estudo da natureza e da ciência. Apesar da sua ênfase na
experimentação e na investigação, Alberto respeitava a autoridade e a tradição
a ponto de não publicar muitos dos seus trabalhos na área. Muitas vezes
silenciava-se sobre diversos temas da astronomia e da física por acreditar que
eram teorias muito avançadas para a época. Acreditava
que as coisas naturais eram um composto de matéria e forma que ele chamava
de “quod est and quo est”,
uma tese aristotélica conhecida como hilemorfismo. A sua versão era
basicamente a de Aristóteles, mas com alguns elementos emprestados
de Avicena.
Alquimia. Nos séculos subsequentes à sua morte, apareceram muitas
histórias a retratá-lo como alquimista e mago. Sobre a alquimia e a química, têm-lhe
sido atribuídos muitos tratados, embora nos seus tratados autênticos tenha escrito
pouco sobre o tema e, ainda assim, comentando Aristóteles. Por exemplo, no seu
comentário “De Mineralibus”,
alude ao “poder das pedras”, mas não elabora sobre isso. Existe uma ampla gama de obras alquímicas
pseudoalbertinas para confirmar a crença que se desenvolveu de que ele teria
sido um mestre da alquimia, uma das ciências fundamentais da Idade Média .
Entre elas, contam-se: “Metais e
Materiais”; “Segredos da Química”;
“Origem dos Metais”; “Origem dos Compostos”; uma “Concordância”; uma coleção de observações
sobre a pedra filosofal; “Theatrum Chemicum”; e uma coleção de tópicos alquímicos. Credita-se-lhe a
descoberta do arsénico e diversas experiências com substâncias
químicas fotossensíveis, incluindo o nitrato de prata. Porém, há
pouquíssimas evidências de que ele tenha pessoalmente realizado qualquer
experimentação. E contam as
lendas que Alberto Magno teria descoberto a pedra filosofal e a passara para o seu
pupilo, Tomás de Aquino, pouco antes de ele morrer. Alberto não confirma a
descoberta nas suas obras, mas diz ter testemunhado a criação
de ouro por “transmutação”. Credita-se ainda a Alberto a criação
de um autómato mecânico na forma de uma cabeça de latão que seria
capaz de responder perguntas, um feito que também foi atribuído a Roger
Bacon.
Astrologia. Alberto tinha um profundo interesse pela astrologia,
como demonstram estudos como o de Paola Zambelli. Por toda a Idade Média –
e por muitos séculos depois – a astrologia era amplamente aceite por cientistas
e intelectuais, que defendiam uma visão de que a vida na terra era efetivamente
um microcosmo inserido num macrocosmo (este último, o próprio cosmos). Acreditava-se que existia uma correspondência
entre ambos e que, por isso, os corpos celestes seguiam padrões e ciclos
similares dos que se observavam na terra. Por isso, imaginava-se ser razoável
afirmar que a astrologia poderia ser utilizada para prever um futuro provável
das pessoas. E Alberto fez disso uma componente central do seu sistema
filosófico, argumentando que uma compreensão das influências celestes que nos
afetam poderia ajudar-nos a viver as nossas vidas mais em conformidade com os
preceitos cristãos. A afirmação mais completa da sua crença astrológica pode
ser encontrada na obra que escreveu em 1260, o “Speculum Astronomiae”. Porém, detalhes e partes destas crenças
podem ser encontrados em quase todas as suas obras, desde a primeira, a “Summa De Bono”, até à última,
a “Summa Theologiae”. Música. Alberto é também conhecido pelo seu brilhante
comentário sobre as práticas musicais da época, sendo que a maior parte das
suas observações estão no seu comentário sobre as “Poéticas” de Aristóteles. Rejeitava
a ideia da “música das esferas” como ridícula, pois supunha que o movimento dos
corpos celestes seria incapaz de gerar som. E escreveu bastante sobre as
proporções na música e sobre os três diferentes níveis subjetivos no qual o
cantochão pode operar na alma humana: purgação dos impuros; iluminação que
leva à a contemplação; e nutrir o aperfeiçoamento através da contemplação.
De particular interesse para os teóricos da música modernos é a atenção que ele
prestava ao silêncio como parte integral da música.
***
Em suma, Alberto
Magno recorda-nos que entre ciência e fé existe amizade e que os homens de
ciência podem percorrer, através da vocação para o estudo da natureza, um
autêntico e fascinante percurso de santidade. E abriu a porta para a receção
completa da filosofia de Aristóteles na filosofia e teologia medieval, uma receção
elaborada de modo definitivo por Tomás de Aquino.
Eis um dos grandes méritos de Santo Alberto: com rigor
científico, estudou as obras de Aristóteles, convicto de que tudo o que é
realmente racional é compatível com a fé revelada nas Sagradas Escrituras. Em
síntese, Santo Alberto Magno contribuiu assim para a formação de uma filosofia
autónoma, distinta da teologia e a ela vinculada só pela unidade da verdade. Neste
sentido, disse:
“Desejar tudo aquilo que eu quero para a
glória de Deus, como Deus deseja para a sua glória tudo o que Ele quer, ou
seja, conformar-se sempre com a vontade de Deus para desejar e fazer tudo
unicamente e sempre pela sua glória”.
***
Por fim, transcreve-se a Oração a Santo Alberto Magno
do site de Terra Santa Cruz:
“Dá-me,
Senhor, um espírito aberto e compreensivo como aquele que concedeste a Santo
Alberto. E também, como a ele, dá-me a graça de abarcar parte do teu mistério
com a minha inteligência. E que tudo isso me sirva para iniciar uma vida de
oração constante e agradável em tua presença. Que Assim Seja. Amém. Santo Alberto
Magno, rogai por nós.”.
***
A iconografia
do tímpano e arquivoltas do portal do século XIII da Catedral de
Estrasburgo foi inspirada pelas obras de Santo Alberto Magno.
Cf:
https://www.acidigital.com/noticias/hoje-e-celebrado-santo-alberto-magno-o-grande-doutor-por-um-acordo-com-a-virgem-66711;
http://www.arquisp.org.br/liturgia/santo-do-dia/santo-alberto-magno;
https://cleofas.com.br/santo-alberto-magno-o-doutor-universal/;
https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-santo-alberto-magno/181/102/#c;
https://www.infopedia.pt/$santo-alberto-magno;
Amerio, F. História
da Filosofia I (Antiga e Medieval). Ed. Casa do Castelo, Coimbra: 1968
Abdel et al. A
Filosofia Medieval – do século I ao século XV. Ed. Publicações Dom Quixote,
Lisboa: 1983;
Huisman, D. Dicionário
dos Filósofos. Ed. Martins Fontes, São Paulo: 2001;
Leite, J. & Coelho,
A. (org.). Santos de Todos os Dias,
vol. XI (novembro). Ed. Quid Novi, Matosinhos: 2006;
Sgarbossa, M.& Giovanni, L. Um Santo para Cada Dia, Ed. Paulus, São Paulo: 1996.
2018.11.17 –
Louro de Carvalho
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