Entre
as várias iniciativas desencadeadas para assinalar o centenário do nascimento
do Padre Manuel Antunes, destaca-se o Congresso Internacional “Repensar
Portugal, a Europa e a Globalização: 100 anos do Padre Manuel Antunes
SJ”, a decorrer desde o dia 2 de novembro – e que se encerrará a 6 de
novembro – na Assembleia da República, na
Fundação Calouste Gulbenkian e no Município da Sertã. É uma iniciativa da CMS (Câmara
Municipal da Sertã), da Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares
Atlânticos e a Globalização, sediada na UA (Universidade
Aberta), do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da FLUL (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), da FCG (Fundação Calouste Gulbenkian) e do IECCPMA (Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes), em cooperação
com outras instituições científicas e culturais nacionais e internacionais,
como o IEAC-GO (Instituto de Estudos
Avançados em Catolicismo e Globalização).
Segundo
a Organização (como se lê no site da FLUL), os seus objetivos são os
seguintes:
- Aprofundar o conhecimento da vida e do magistério
pedagógico, intelectual e espiritual do Padre Manuel Antunes;
- Revisitar, conhecer e compreender os grandes temas e
problemas da obra do Padre Manuel Antunes;
- Situar a obra e o pensamento de Manuel Antunes na Companhia de Jesus e no
quadro da sua herança espiritual, cultural e científica, no qual a Revista Brotéria se tornou uma referência em
Portugal;
- Analisar os discursos em torno da identidade portuguesa, tendo por referência
os textos antunesianos escritos sobre Portugal, a sua história, as derivas
presentes e os desafios futuros;
- Analisar temas e problemas da cultura política em
Portugal na perspetiva dos diagnósticos e caminhos apontados pelo Padre Manuel
Antunes;
- Pensar a educação em Portugal e os desafios que a
integração europeia e a globalização colocam, no quadro do esforço de adequação
de conteúdos e de métodos, aos desafios da mentalidade e das sociedades
tecnológicas hodiernas;
- Refletir sobre os grandes temas e problemas que se
colocam em pleno século XXI a Portugal e à Europa, no contexto de uma
globalização acelerada;
- Contribuir para pensar o mundo, a vida e os anseios
psicológicos, mentais e espirituais da humanidade nos nossos dias, desafiada
pelo cuidado da natureza, pela necessidade de lidar com os progressos
tecno-científicos e pela emergência das sociedades digitais, nas quais a
hiperinformação se tornou um capital decisivo;
- Pensar o processo de robotização do mundo e da
emergência da dita era do pós-humano;
- Contribuir com reflexão crítica, no quadro dos Estudos Globais, para
compreender o mundo globalizado em que vivemos e intervir com perguntas e
respostas inovadoras.
***
Do
vasto programa – em que predominam os aspetos temáticos, mas em que estão presentes
vários elementos culturais, de memória e conviviais – destacam-se, a seguir, os
títulos da conferências, das comunicações a todo o auditório, das sessões plenárias
e das sessões temáticas, dispensando-se as referências aos subtemas de cada sessão
temática ou plenária, bem como aos presidentes de mesa e aos respetivos
intervenientes. Assim:
No
1.º dia, realizou-se a Sessão de Abertura na Assembleia da
República com Presidente da Assembleia da República, Reitor da Universidade
Aberta (UAb), Reitor da Universidade de
Lisboa (UL), Presidente da Câmara Municipal
da Sertã, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Provincial da Companhia de
Jesus, Presidente da Comissão Científica e Presidente da Comissão Organizadora.
Seguiu-se a Conferência de Abertura sob
os títulos “Pensamento global”,
por Edgar Morin (Université Sorbonne
Nouvelle – Paris 3),
e “Ética,
política & direito democrático. Tópicos para a atual crise”, por Paulo Ferreira da Cunha (UP – Universidade
do Porto). Depois, realizaram-se duas Sessões
Plenárias, com os debates subsequentes: uma, sob a presidência de Viriato Soromenho-Marques (UL), em torno do tema “Política,
Fé e Sociedade”; e outra, sob a presidência de João Relvão Caetano (UAb), em torno do tema “Padre
Manuel Antunes: Memória e Testemunho”.
E
o 1.º dia terminou com uma comunicação sob o título “Qu’est-ce qu’être un écrivain
jésuite au XXe siècle? L’exemple de Manuel Antunes”, por Pierre Antoine
Fabre (École des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris), seguida de Receção e Porto de Hora nos Paços do
Concelho de Lisboa.
O
2.º dia abriu, na Sertã, com
uma comunicação sob o título “A Filosofia como Espaço do Espírito”, por Miguel Real (UL), a que se seguiram duas Sessões Temáticas, com debates
subsequentes: uma, com o tema “Padre Manuel Antunes: Trajetos, Vivências e
Causas” nos dois Painéis
Temáticos; e outra, com o tema “Política, Moral e Revolução: Temas e Problemas”, no Painel
Temático 1, e “Temas e Problemas da Cultura Portuguesa”,
no Painel
Temático 2.
A
tarde começou com uma comunicação sob o título “Repensar
Portugal: A importância dos partidos na iniciação política à
democracia segundo o Padre Manuel Antunes Antunes”, por José Rosa (UBI – Universidade da
Beira Interior). Seguiram-se duas Sessões Temáticas, com debates subsequentes: uma,
com o tema “Questões Atuais, Questões Globais”, no Painel
Temático 1, e “Educação e Renovação
Pedagógica em Chave Global”, no Painel
Temático 2; e outra, com o tema “Empreendedorismo,
Educação e Globalização”, num Painel
Único.
E o 2.º dia
encerrou com uma comunicação sob o título “A (tão) serena
(quão firme) demanda da justiça social em Manuel Antunes”, por Januário da Costa Gomes (UL).
O
3.º dia foi preenchido, na
Sertã, por: Eucaristia em memória do
Padre Manuel Antunes, Almoço-convívio
e Percurso Literário Padre Manuel Antunes.
O
4.º dia decorre em Lisboa na Fundação Calouste Gulbenkian e abriu com a
comunicação sob o título “Da matriz clássica ao devir moderno: Teoria,
hermenêutica e crítica da arte literária em Manuel Antunes”, por José Carlos Seabra Pereira (UC –
Universidade de Coimbra).
Seguiram-se duas Sessões Temáticas, com
debates subsequentes: uma, com os temas “Os
Desafios e as Oportunidades da Inteligência Artificial”, no Painel Temático
1, “Globalização, Transdisciplinaridade e Educação Integral”, no
Painel Temático 2, e “Europa,
Democracia e Desafios Globais”, no
Painel Temático 3; e outra, com os temas “Europa,
Identidades e Pós-Identidades”, no Painel Temático 1, “Antigos e
Modernos: Visões Contrastantes”, no
Painel Temático 2, e “Crítica
Literária e Escritores Portugueses”, no Painel Temático 3.
A tarde foi
preenchida com duas Sessões Temáticas,
com debates subsequentes: uma, com os temas “Educação e Futuros Possíveis”,
no Painel
Temático 1, “Comunicação,
Democracia e Globalização”, no Painel Temático 2, e “Desafios Éticos dos Novos Contextos do Humano”, no
Painel
Temático 3; e outra, com os temas “Fátima Global”, no Painel
Temático 1, “Educação e Globalização”, no Painel
Temático 2, e “Temas Antunesianos”, no Painel
Temático 3.
E o 4.º dia encerrará com “Jantar
em homenagem ao Padre Manel Antunes no restaurante Chaminés do Palácio da Independência
de Portugal”
O
5.º dia (e
último) decorrerá
também em Lisboa, na Fundação Calouste
Gulbenkian e abrirá com uma comunicação sob o título “Ville manifeste: Le porte voix
de la globalisation”, por Valérie Devillard (Université de Paris II).
Seguir-se-ão
quatro Sessões Temáticas, com debates
subsequentes: a primeira, com os temas “Liberdade de Ensinar e Aprender: Condição de
Igualdade, Garantia de Diversidade”, no Painel Temático 1, “Globalização:
Propaganda e Conflitos”, no Painel Temático 2, e “Democratização
e Globalização do Conhecimento: O Caso Paradigmático da Wikipédia”, no Painel
Temático 3; a segunda, com os temas “Portugal e
Cultura-Mundo”, no Painel
Temático 1, “Conciliar Mundos: Entre Clássicos e Modernos”,
no Painel
Temático 2, e “Empreendedorismo,
Inovação e Inclusão”, no Painel Temático 3; a
terceira, com os temas “Magistério Pedagógico e Intelectual do Padre
Manuel Antunes”, no Painel
Temático 1, “Intercâmbios Globais, Ecologia e Revolução das
Mundividências”, no Painel Temático 2, e “Intercâmbios
Globais, Ecologia e Revolução das Mundividências”, no Painel
Temático 3; e a quarta, com os temas “Portugal Político: Diagnósticos, Desafios e Soluções”, no Painel Temático 1, “Portugal: História, Língua e Identidades”,
no Painel
Temático 2, e “Escritas, Autores e Leituras”, no Painel
Temático 3.
A
Conferência de Encerramento sob o
título “Manuel
Antunes, SJ – História e Cultura” será proferida por
Luís Filipe Barreto (UL).
E a Sessão de Encerramento conta com
a presença do Presidente da República, do Presidente da Fundação Calouste
Gulbenkian, do Ministro da Educação, do Presidente da Câmara Municipal da
Sertã, do Diretor do CLEPUL, do
Presidente da Comissão Científica e do Presidente da Comissão Organizadora –
seguindo-se a Atuação de Rão Kyao.
O
congresso regista contributos de académicos, escritores, sacerdotes, jornalistas,
e de personalidades de várias instituições, designadamente: a Assembleia da República; várias universidades
públicas portuguesas (Lisboa, Nova, Aberta, Porto, Coimbra,
Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Aveiro, Beira Interior, Madeira, ISCE –
Instituto Universitário de Lisboa…);
o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa; a Universidade Lusófona, a Universidade
Católica Portuguesa e a Universidade Europeia; o Instituto Europeu de Ciências
da Cultura Padre Manuel Antunes; as revistas “Brotéria” e “Sábado”; o “Jornal de Letras”; a agência Ecclesia; o Santuário de Fátima; o
Ministério da Educação e o da Cultura; a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas;
a Fundação Calouste Gulbenkian; os municípios de
Sertã e de Lisboa; a Mobilidade PT; a Academia das Ciências de Lisboa; a Federação
Nacional das Associações de Pais de Alunos do Ensino Católico; a Associação
Portuguesa de Escolas Católicas; o Externato Frei Luís de Sousa; a Rede Cuidar
da Casa Comum; a Fundação Gonçalo da Silveira; e a Fundação Vox Populi.
E
são de destacar personalidades das seguintes instituições estrangeiras: Universidade
Federal do Rio de Janeiro; Universidade do Estado de Santa Catarina; Universidade
Presbiteriana Mackenzie; Universidad de Alcalá de Henares; Sorbonne Université;
Universidade de Paris II; Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3; École des
Hautes Études en Sciences Sociales – Paris; European Council of National
Associations of Independent Schools; e Wikimedia Espanha.
***
O Padre
Manuel Antunes, SJ (1918-1985), é um dos
pensadores e pedagogos mais notáveis do século
XX português. Pelas disciplinas que lecionou na FLUL, ensinou várias gerações
de estudantes (cerca de 15 mil), desde
1957 até à sua morte, em 1985. De acordo com os testemunhos disponíveis, é uma
referência de pedagogo e de hermeneuta “arguto
e prospetivo da cultura e das sociedades clássicas e contemporâneas”, sendo
ainda hoje lembrado com saudade e como um modelo de pensamento e de sabedoria
pelos que foram seus alunos e pelos que tiveram o privilégio de com ele privar.
Também se destacou como diretor da Revista Brotéria
(da Companhia
de Jesus, onde escreveu centenas de artigos,
sob 126 pseudónimos, “sobre os mais
diversos temas de cultura histórica, religiosa e filosófica, assim como de
atualidade política, social e literária”.
Legou-nos “um pensamento muito sagaz e avançado sobre
Portugal e a Europa, na relação com o mundo em processo de globalização”. E
os seus textos, ainda hoje muito lidos e citados, deram origem a diversos
livros, tornados numa espécie de chave de leitura de aspetos relevantes do
mundo contemporâneo, de que relevam “Indicadores de Civilização e Repensar
Portugal”.
A reflexão
antunesiana está patente num número significativo de textos, alguns dos quais
de caráter prospetivo, que podem ser lidos com grande proveito, pois mantêm uma
significativa atualidade, visto que soube antecipar, nas décadas de 60 e 70 do
século XX, com uma argúcia e lucidez extraordinárias, derivas, problemas e
desfechos da vida portuguesa e internacional. Surpreendem-nos questões,
reflexões e propostas que podem ajudar na urgência de repensar Portugal, a
Europa e o nosso mundo atual, marcado por uma tremenda incerteza.
Realizado um
primeiro Congresso, em 2005, sobre a sua vida e obra, na Fundação Calouste
Gulbenkian e no Centro Cultural da Sertã, e concluída a preparação da sua Obra Completa, publicada pela Fundação Calouste
Gulbenkian, em 2012, é pertinente assinalar os 100 anos do nascimento desta
figura maior do pensamento avançado em Portugal com um evento científico
internacional, para, sob os grandes tópicos da reflexão antunesiana, se pensarem
os grandes temas e problemas do país em articulação com as grandes questões da
Europa e do mundo globalizado em que vivemos (cf site da FLUL).
***
Sirva o
evento para fazer memória do sacerdote académico de larga visão e para reforçar
o prestígio das nossas instituições, que dele bem necessitam em tempo de
emergência da mediocridade!
2018.11.05 –
Louro de Carvalho
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