A asserção é Stefano Casciu, académico que veio a Lisboa falar da excelência da arte italiana,
sobretudo de Florença, onde uma família de comerciantes, depois grão-duques,
patrocinou nomes como Botticelli e Miguel Ângelo, alicerçando tradição que
perdura e que lhe faz dizer que “a estética faz parte
da alma italiana, no tempo dos Medici como hoje”.
***
A conferência de Stefano
Casciu
Na conferência intitulada “I musei della Toscana
riuniti nel Polo Museale: una assoluta eccellenza italiana”, que proferiu no
Instituto Italiano (em Lisboa), assegurou, perante a sua diretora, Luisa Violo, e Paola
d’Agostino, da embaixada italiana, que fez a tradução:
“Florença
deve muito à última dos Medici. Anna Maria Luisa fez algo único. Deixou todo o
património artístico da família ao novo grão-duque da Toscana, um
Habsburgo-Lorena, mas com a condição de que ficasse em Florença.”.
Essa posição
dos Medici garantiu-lhes um lugar na
história que outras famílias de mecenas não alcançaram, como os Gonzaga, de que
um dos seus vendeu a coleção aos reis de Inglaterra, ou dos Este, que cederam
às ofertas do príncipe-eleitor da Saxónia para pagarem dívidas. Assim, a
coleção Gonzaga está na National Gallery de Londres, não em Mântua, e a dos
Este está em Dresden e não em Modena. Já os Farnesi (de duques de
Parma passaram a vice-reis de Nápoles) levaram a
coleção familiar para os novos domínios, mas, depois da reunificação italiana
de 1861, as obras de arte continuam património do país e não estão expostas num
museu estrangeiro.
O professor Casciu, um sardo (nascido em
1959, em Cagliari) apaixonado pela Toscana, foi fotografado por Diana Quintela, que pôs
como pano de fundo uma obra de arte contemporânea para fazer o contraponto com
o classicismo que serviu de tema à conversa pois, segundo o académico, “a
estética faz parte da alma italiana, no tempo dos Medici como hoje”.
Ora, sendo
em estética quase impossível competir com o legado dos Medici, Casciu sustenta:
“Em Florença, ainda na Idade Média, já se produzia muita arte. Sempre se
sentiu na cidade a herança greco-romana, como se houvesse uma continuidade. É
certo que aconteceu isso um pouco por toda a Itália, mas uma convergência de
fatores geográficos, culturais e económicos tornou especial esta cidade de
ricos comerciantes. A sociedade exigia arte e patrocinava-a. E havia competição
entre a sociedade civil e a eclesiástica na produção de palácios, catedrais,
monumentos. Os Medici, família
riquíssima de mercadores que acumulou tanto dinheiro que se tornaram
banqueiros, percebeu melhor do que ninguém o valor da arte. E no final do
século XV, quando assumem o governo da cidade, na época de Lourenço, o
Magnífico, patrocinam grandes artistas como Botticelli e Gianbologna.”.
Botticelli é
florentino, mas Gianbologna é flamengo, o que mostra a capacidade dos Médici
para atrair artistas. E Miguel Ângelo, filho da Toscana, é outro grande nome a
associar aos Medici. A este respeito, o professor (membro do
conselho de administração da Galleria degli Uffizi) vinca:
“Era uma relação complicada, pois Miguel Ângelo era republicano e os
Medici queriam ser nobreza”.
E refere que,
na ascensão a duques e depois grão-duques, os Medici usam a cultura e fazem uma
espécie de diplomacia com o envio de artistas pela Europa. Miguel Ângelo, que fez algumas obras em
Florença, sobretudo na Capela dos Medici, acolheu-se à proteção do Papa Leão X,
“um Medici” (ao longo do século XVI a
família dará quatro papas). E com os geniais Botticelli e
Miguel Ângelo ombreou Leonardo da Vinci, também toscano, que fez carreira
sobretudo em Milão e na França e se tornou “o mais icónico dos artistas italianos
do Renascimento. E Casciu aponta:
“Leonardo
era o verdadeiro homem do Renascimento. Fez tudo. Era um grande inventor. Um
homem completo, total. Como pintor foi importante, e todos conhecemos a Gioconda,
mas pintou pouco.”.
Mas o
professor, sustentando que isto de ícones tem muito a ver também com as épocas,
anota:
“Caravaggio só se tornou de novo reputado no século XIX. Graças à sua
biografia de brigão, de assassino mesmo, o artista nascido no ducado de Milão,
já bem dentro do século XVI, afirmou-se assim na modernidade.”.
Aduzindo que
o projeto nacional italiano tem forte base cultural, assente na língua e no
património artístico, Casciu destaca as leis do novo Estado para proteger a
arte e como isso tem antecedentes em Roma, nos próprios papas (capazes de
apreciar obras profanas, nomeadamente estátuas pagãs vindas dos tempos
greco-romanos), que em 1734 inauguraram os Museus Capitolinos, “os primeiros abertos ao público no mundo”.
É a herança greco-romana,
associada à posição central da Península que explica muito do génio artístico,
a par do clima agradável, das influências várias, desde os fenícios aos árabes,
da tradição artesã que na Idade Média fazia de cidades como Lucca o grande
centro de produção de seda do Ocidente. E o académico enfatiza:
“Ainda hoje os artesãos italianos são dos melhores do mundo. Nos tecidos
e não só. A moda italiana impõe-se. E mesmo as grandes marcas de luxo francesas
quando querem garantir a melhor qualidade buscam produção italiana.”.
E, voltando
à estética, que faz parte da tal alma italiana”, o professor sublinha:
“Durante
muitos anos fomos o único país que ensinava História da Arte ao longo dos anos
escolares. E todas as cidades exibem obras de arte. Não existem só nos museus,
mas nas ruas também. As crianças italianas crescem a ver arte.”.
Bela lição para outros países, incluindo Portugal, que têm disponível um
património linguístico e literário e um património cultural (folclore, música, bailado, jogos tradicionais, escultura, arquitetura, pintura,
paisagismo, peças megalíticas, arte rupestre…)! É bem possível e mui desejável usar a estética
na pedagogia, recorrendo à tecnologia, e fazer mais educação pela arte. (cf DN, de 5 de novembro).
***
Algumas particularidades da cultura italiana
A História
de muitos séculos – da Antiguidade ao Império Romano e ao Risorgimento, que tornou a Península pátria unificada – viu
sucederem-se diferentes génios das belas artes. Sem esquecer nomes brilhantes
como Piero della Francesca, Giorgio Vasari ou Lippi, são de relevar artistas
com obras-primas de entre os nomes destacados da história do povo italiano,
tais como:
Dante Alighieri
(1265-1321).
No final da Idade
Média, o célebre poeta (o verdadeiro nome é Durante di Alighiero degli
Alighieri – Dante é o hipocorístico
de Durante; e Alighieri é variante do patronímico Alagherii
ou do gentílico de Alagherii) influenciou profundamente a
futura unidade italiana, que se iniciou em Turim. A sua escrita induziu a
Toscana (ou
Florentina) a
conhecer novo crescimento e consolidar-se para se tornar no século XIX a língua
oficial de toda a Península italiana, mas, já antes desse reconhecimento
nacional, a língua italiana foi usada até na Sicília pelos notáveis. Era a
língua cultural por excelência, a que – dizem – Dante deve o lugar que tem na
História. Foi escritor, poeta e político.
Nascido em Florença e falecido em Ravena, é célebre pela Divina Comédia.
Leonardo da Vinci (1456-1519). O seu espírito esplêndido ainda impressiona. Com
efeito, a riqueza do seu trabalho resulta do seu lado eclético e até
enciclopédico. Nascido a 15 de abril de 1456 na Toscana, morreu em 1519 em
Amboise, na França, e hoje brilha como o símbolo do Renascimento. Era pintor,
cientista, filósofo, arquiteto, matemático, poeta, diplomata, astrónomo e
escultor. Conhecido, primeiro, como
pintor, graças à Última Ceia e à Mona Lisa, também
ajudou os avanços da ciência. Muito
antes do tempo, ele já havia imaginado alguns equipamentos incluindo o avião, o
carro, o submarino, a bicicleta e o helicóptero. Isto, sem olvidar o seu legado
que induziu inúmeras descobertas na ótica, na anatomia, na hidrodinâmica e na
engenharia civil.
Michelangelo (1475-1564). Após o surgimento da filosofia
neoplatónica florentina e a verdadeira renovação nas artes, de que são parte os
italianos, Michelangelo é o paradigma do Renascimento italiano no seu apogeu, sendo
o seu talento como escultor incomparável. De seu verdadeiro nome completo Ludovico Buonarroti Simoni, um gigante
da cultura italiana, nasceu a 6 de março de 1475, no território da República
Florentina, e morreu aos 88 anos nos Estados Pontifícios, em Roma, em 1564, logo
após o Concílio de Trento. Fiel à tradição itálica, também foi um
“faz-tudo”. Pintou em qualquer meio. O seu trabalho na Capela Sistina, na
Colina do Vaticano, coroou a sua carreira artística. E as suas esculturas não
são menos famosas, como testemunha a sua Pietà de 1499, visível na Basílica de
São Pedro.
***
Pela
quantidade, qualidade e diversidade de obras de arte herdadas do passado ou
erigidas contemporaneamente, a Itália é verdadeiro repositório de arte tanto em
espaços museológicos como monumentais e paisagísticos e mesmo no ordenamento do
território. E a música (música clássica, música ligeira, música sacra…), o teatro (ópera, melodrama, drama, comédia,
revista), o bailado, o folclore, a moda, o design, etc.? Quanto a arte italiana não
contribuiu para o mundo!
E, no
atinente ao cinema, dizem os observadores que “a Itália é para o cinema o que a
massa é para culinária, ou seja, indispensável. Mas, para falar de cinema, é
preciso ter em conta os nomes de Vittorio De Sica, Fellini, Ettore
Scola, Bertolucci e assim por diante – que são fortes personalidades da
Itália e do mundo.
Como
realizadores italianos que marcaram a história do cinema mundial, basta referir
nomes como: Roberto Rosselini, Luchino Visconti, Pier Paolo Pasolini,
Marco Ferreri, Antonioni, Giuseppe Tornatore Tornatore, Dino Risi, Nanni
Moretti, Emanuele Crialese, Paolo Sorrentino… E, como atores do país de
Dante, são de mencionar: Sophia Loren, Marcello Mastroianni, Claudia
Cardinale, Aldo Fabrizi, Alberto Sordi, Ornella Muti, Toni
Servillo…
Há uma lista
infinda de italianos realizadores, atores, produtores… – muito influentes e
ativos no cinema. E, em geral, a civilização da Itália é das mais fascinantes
do continente europeu.
De filmes
italianos que
sobressaem na história mundial, são de mencionar, entre outros:
Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica. Um lindo exemplo do neorrealismo italiano, que narra
a história duma família muito pobre que penhora tudo para sobreviver.
Amarcord, de Frederico Fellini. Realizado em 1973, é uma verdadeira poesia da
vida da Itália nos anos 30 (fascista), de suas
crianças, sonhos e fantasias. Titta é um menino que estuda, vive com a família
sempre em dificuldade, brinca e fantasia com os amigos. De roteiro muito pouco
convencional, ver Amarcord é quase
obrigatório para os cinéfilos.
Um Dia Muito Especial, de Ettore Scola. Belíssimo filme emocionante com a dupla imperdível
Sophia Loren e Marcello Mastroianni de 1977. Dois solitários, homem e mulher,
são vizinhos que se encontram no dia 8 de maio de 1938, dia em que Hitler
visita Mussolini em Roma.
Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. Nostálgico, sensível e simples, é um grande clássico de
1988 e um dos melhores filmes do final do século XX. Totó, um garotinho doido
por cinema, faz amizade com o projetista da sua cidade para poder assistir a
filmes gratuitamente logo antes do surgimento da televisão. Cresce e torna-se um
cineasta famoso. Revive toda a sua história da infância quando fica a saber da
morte de Alfredo, o projetista.
Grande Beleza, de Paolo Sorrentino. Foi exibido em 2013 nas principais salas de todo
o mundo. Surpreendeu pelas belas fotografias e história de uma Roma com todos
os seus elementos: turistas, burguesia, boémia, Vaticano, política,
intelectuais…
***
Além das
personalidades referidas, destacam-se político-militares-escritores (“numa das
mãos a pena, noutra a espada”),
exploradores, comerciantes, aventureiros, músicos, cantores, simplesmente
políticos e alguns artistas da política, tais como:
- Júlio César (100 a.C. –
44 a.C.). Nascido em Roma, em 100 a.C., e
morto na mesma cidade em 44 a.C., era escritor, político e general – um
tático e um génio político, que levou a que as legiões romanas conquistassem a
Gália.
- Marco Polo (1254 – 1324). Nasceu em 1254, foi comerciante e explorador e
morreu em 8 ou 9 de janeiro de 1324, em Veneza. Famoso pelas muitas viagens à
China, foi embaixador do primeiro imperador mongol e da dinastia Yuan Kubilai
Khan. Tornado investigador-mensageiro em nome do palácio imperial da China, do
Irão e da Rússia, realizou várias missões em grande parte na Ásia. O seu livro
“As Viagens de Marco Polo”
conta as suas aventuras.
- Cristóvão Colombo (1451-1506). Nascido, segundo os italianos, em Génova em 1451 e
morto em Valhadolid (Espanha) em 1506,
foi o primeiro marinheiro a atravessar o Oceano Atlântico (em 1492), permitindo-se chegar ao Caribe e ir à descoberta da
América. Desempenhou um papel importante nas grandes descobertas dos séculos XV
e XVI.
Galileu Galilei (1564 – 1642). Nascido em Pisa, em 1564, e morto em Arcetri, em
1642, é um precursor no campo da física e da astrofísica. Desde 1680, é
considerado o fundador da disciplina de física e o cavouqueiro da mecânica
moderna. Inventou o pêndulo e enfrentou o Santo Ofício por causa do
heliocentrismo.
E muitos
mais (alguns
verdadeiros artistas da política): Antonio
Vivaldi (1678 – 1741); Benito Mussolini (1883 – 1945); Giorgio Armani (1934); Luciano Pavarotti (1935 – 2007); Silvio
Berlusconi (1936); Andrea Bocelli (1958); Monica Bellucci (1964); Matteo Renzi (1975); Francesco
Totti (1976) Valentino Rossi (1979). (cf https://www.superprof.com.br/blog/caracteristicas-do-universo-italiano/)
***
De
San Gimignano a Cefalú, 20 povoados italianos merecem uma visita
São
povoados, cidadezinhas ou vastidão de povoados – cheios de arte e de milagres
da natureza:
- Do alto das torres de San Gimignano divisa-se uma região de prados, colinas ondulantes como os quadris de Monica Belucci e esguios ciprestes que pespontam as vielas. Este povoado toscano foi núcleo urbano importante na idade Média, quando a principal estrada que unia a Itália ao resto da Europa, a via Francigena, lhe trouxe prosperidade. Dessa época datam os seus principais monumentos, concentrados ao redor das praças da Cisterna e da Catedral, com vários edifícios medievais (palácio Tortolini Treccani, torres Güelfas Gémeas e palácio Vecchio del Podestà).
- Do alto das torres de San Gimignano divisa-se uma região de prados, colinas ondulantes como os quadris de Monica Belucci e esguios ciprestes que pespontam as vielas. Este povoado toscano foi núcleo urbano importante na idade Média, quando a principal estrada que unia a Itália ao resto da Europa, a via Francigena, lhe trouxe prosperidade. Dessa época datam os seus principais monumentos, concentrados ao redor das praças da Cisterna e da Catedral, com vários edifícios medievais (palácio Tortolini Treccani, torres Güelfas Gémeas e palácio Vecchio del Podestà).
- A luz do mediterrâneo e a opulência artística aliam-se no Mezzogiorno, o extremo sul da Península
Itálica, com cidadezinhas como Alberobello
e os seus ‘trulli’ (casas cónicas); Otranto, com o mosaico da ‘Árvore da
Vida’ (do século XII), ou Galatina, com
os afrescos da basílica de Santa Catarina d’Alessandria. Em povoados da Apúlia,
como Galatina, onde ainda se pratica
o ritual da ‘pizzica’, uma espécie de exorcismo, para curar a mordedura da
tarântula – dança de ritmo frenético que se intensifica até que a pessoa caia
extenuada, porque acredita que o veneno se expele com o suor.
- Lugares como Pereto
– vilarejo acidentado e montanhoso de 764 habitantes, na província de L’Aquila,
na região florestal dos Abruzos, o último refúgio do lobo dos Apeninos –
escondem a Itália desconhecida.
- Numa igreja da Toscana,
suspensa por cordas, Juliette Binoche voou até a abóbada a segurando uma tocha
elétrica. Em seu movimento pendular, a luz noturna do interior revela rostos,
corpos, anjos. A sequência do filme ‘O
Paciente Inglês’ foi rodada na capela-mor da basílica de San Francisco de
Arezzo, decorada por 12 afrescos pintados por Piero dela Francesca em meados do
século XV, de episódios bíblicos e lendários – pinturas que têm seu reflexo nas
telas do pintor francês Balthus. Fascinado pela obra, empregou-se como lavador
de pratos em uma ‘trattoria’ de Arezzo
para contemplar a maestria da composição, a luminosidade dos brancos, azuis e
verdes; a hierática beleza de suas figuras
- As escarpas da
costa da Ligúria, perto de Génova, escondem belos povoados coloridos grudados
ao mar com o nome de Cinque Terre (Cinco Terras): Monterosso al Mare, Vernazza, Corniglia, Manarola e
Riomaggiore.
- Respira-se a Belle Époque nas ‘villas’ da alta burguesia nas
margens do lago Maggiore, como o
Palazzo Borromeo de la Isola Bella, em Stressa
(com formato de barco) e os 10 terraços de jardins ou a Villa Fontana, em Belgirate, onde o poeta Gabriele D’Annunzio
passou temporadas.
- Bagno Vignoni
situa-se no vale de Orcia, sobre paisagem suave de colinas, vias margeadas por
ciprestes e casas de cor de damasco. Na praça central estende-se uma fumegante
piscina com água termal com temperatura de 50ºC. Ali transcorreu a sequência
central do filme ‘Nostalgia’, do
cineasta russo Andréi Tarkovski, grande prémio de criação do Festival de Cannes
de 1983.
- De meados de maio até começo de julho, os prados da
planície de Castelluccio di Norcia,
no parque nacional dos Montes Sibilinos, cobrem-se de papoulas, lírios, anémonas
e margaridas, um espetáculo natural conhecido como ‘La Fiorita’.
- A vida em Cefalú, um dos portos donde partem barcos até as
míticas ilhas Eólias, gravita em torno de Corso Ruggero. A impressionante
catedral normanda, um bloco austero com aparência de fortaleza, foi incluída em
2015 na Lista do Património Mundial da UNESCO.
- Inclinada sobre o mar Tirreno, num dos enclaves mais atraentes da
costa Amalfitana, a vila medieval de Ravello
volta-se para a água a partir das suas extraordinárias ‘villas’, mirantes e
jardins, que lembram Greta Garbo, Jacqueline Onassis e Humphrey Bogart.
- Truman Capote
descreve a ilha de Ischia, onde o
escritor passou a primavera de 1949, dividindo sua estadia com visitas à
vizinha ilha de Prócida, onde Michael Radford rodou o filme ‘Il Postino’ (‘O Carteiro e o Poeta) e diz:
“Um dia, percorrendo as costas escarpadas,
vimos uma papoula, e depois outra; crescem isoladas entre as pedras à sombra,
como campainhas-chinesas espetadas ao longo duma corda retesada. Seguimos o rasto
das papoulas e chegamos a um caminho que desemboca numa praia estranha e
oculta. Estava cercada por falésias, e a água era tão clara que se viam as
flores do mar e os movimentos bruscos dos peixes.”.
- Foram necessárias
mais de 50.000 horas de trabalho para que os afrescos pintados por Giotto até
1290 na abóbada da basílica superior de San Francisco, em Assis, voltassem a ser admirados após o terramoto que em 1997
sacudiu a região da Úmbria, no centro da Itália, provocando o desmoronamento de
parte do teto e da abside da basílica. Discípulo de Cimabue, que superou,
Giotto, no seu itinerário de pintor e arquiteto, passou por Florença, Roma,
Rimini, Ravena, Nápoles e Milão, mas em Pádua e Assis é que a obra atinge os
níveis mais altos de perfeição.
- A escarpada
península que se estende entre os golfos Paradiso
e Tigullio, na costa da Ligúria,
abriga pequenas praias, povoados de pescadores, ‘villas’ românticas e hotéis de
luxo. No adorável porto de Portofino
ancorou Guy de Maupassant no seu veleiro ‘Bel Ami’.
- Incrustada em
montanha de rocha vulcânica, rodeada de muralhas e dominada por um aqueduto
construído sobre dois arcos gigantes, uma localidade de origem etrusca que
abrigou uma grande comunidade judaica é conhecida como la Piccola Gerusalemme (Pequena
Jerusalém). Junto ao aqueduto encontra-se o castelo de Orsini e o museu de arte etrusca.
- As pequenas
cidadezinhas da comarca vitivinícola de Langhe
(Piemonte), como Castiglione
Falleto, são a referência do movimento ‘slow food’ (comer devagar), que nasceu em 1986, na cidade de Bra, pela mão do cozinheiro e crítico gastronómico Caslo Petrini
para exaltar as tradições culinárias locais e os sabores da terra.
- Pelas colinas
que rodeiam o lago Trasimeno, a 38Km
de Perugia, distribui-se uma série de povoados onde viveu e trabalhou Il
Perugino (1446-1523): Castiglione del Lago, de ruas
pavimentadas com ardósia; Paciano,
vila medieval encravada numa bela paragem de colinas de florestas e olivais; Panicale, onde Il Perugino pintou o
‘Martírio’ de São Sebastião, e Fontignano,
vila onde o pintor, depois de terminar uma ‘Virgem com o Menino’ no oratório da
Anunciada, morreu de peste. Todos eles fazem parte do ‘I borghi più belli d’Italia (os
povoados mais belos da Itália), selo de promoção turística que valoriza a integridade do
tecido urbano, a harmonia arquitetónica e a qualidade e conservação do seu
património artístico.
- A cidade de Barga, esparramada sobre uma colina com
vista para as montanhas alpinas, é um lugar especial para as crianças
italianas: aqui tem o refúgio a Befana, a bruxa boa que, no início do ano, traz
doces e brinquedos. Os seus palácios, construídos na época dos Medici, seguem
os moldes ‘quatrocentistas’ de Florença.
- Rapallo é uma localidade costeira ao sul de Génova, com colinas
ajardinadas e velhas ‘villas’ que despontam entre pinheirais e palmeiras, com
uma praia repleta de antigos hotéis. Com Santa Margherita Ligure e Portofino,
traça a exclusiva rota da Riviera italiana, descoberta pela elite britânica em
meados do século XIX.
- Em 29 de junho
de 1440, as hostes florentinas dos Visconti enfrentaram uma coligação comandada
pela República de Florença, na planície que se estende diante do povoado
medieval de Anghiari perto de Arezzo.
A batalha, vencida pelos florentinos, deve a notoriedade ao afresco, hoje
perdido, pintado por Leonardo da Vinci no Salão dos Quinhentos do Palazzo
Vecchio de Florença entre 1503 e 1506.
-
E Barolo é o nome de paisagem
de vinhedos na região de Le Langhe, no Piemonte, perto de Alba, a cidade das
100 torres. Desde 2014 é Património Mundial da UNESCO, honraria que abrange as
7 comunas da comarca: Barolo, Castiglione Falletto, Grinzane Cavour, La Morra,
Monforte d’Alba, Novello e Serralunga d’Alba. (cf
Isidoro merino, As
cidadezinhas mais bonitas da Itália,in
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/19/album/1461062745_635063.html).
***
Língua
latina que canta e encanta…
O italiano é
língua de mulheres e homens elegantes, compositores famosos, grandes atores… –
em clima ensolarado, praias mediterrânicas, montanhas íngremes e humanidade de
calor. Sendo o idioma dum único país (exceto San Marino e o Vaticano onde é
uma língua oficial), também é
falado em partes da Suíça, Croácia, Eslovénia e mesmo no Brasil (graças à
emigração em massa de italianos para a América do Sul e, em especial, para o
Brasil). Mas também a língua de Camões é doce,
cantável e cantante. Veja-se como o é na boca das crianças de tenra idade, dos nossos
aldeãos e aldeãs do centro e do norte, nos trovadores galaico-portugueses (a transcrever
a oralidade), em Bernardim
Ribeiro, Manuel Bernardes, João de Deus, Eugénio de Castro, no lirismo camoniano,
cantares populares e fado, nos oaristos protalâmicos e na pena e boca dos
genuínos cultores da Madre Língua e das belas letras. Dizia-o Vénus. Que o
digam os brasileiros!
2018.11.07 – Louro de Carvalho
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