domingo, 18 de novembro de 2018

Mais espaço às mulheres nas funções de responsabilidade da Igreja


O Papa entregou, este sábado, dia 17 de novembro, na Sala Clementina, o ‘Prémio Ratzinger’, considerado o ‘Nobel’ da Teologia, ao arquiteto suíço Mario Botta e à teóloga alemã Marianne Schlosser, como fora anunciado no passado dia 20 de setembro.
O ‘Prémio Joseph Ratzinger’ é atribuído anualmente, desde 2011, pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI  (tem o nome do Papa Emérito). Este ano foi atribuído à predita teóloga alemã, que se tornou a segunda mulher a receber o galardão. Mas, pelo segundo ano consecutivo o prémio também se dirigiu ao campo das artes de inspiração cristã, tendo distinguido o referido arquiteto.
Marianne Schlosser, nascida em 1959, é professora na Universidade de Viena, distinguiu-se pela sua investigação sobre a Baixa Idade Média e sobre a figura de São Boaventura, a quem Joseph Ratzinger dedicou grande atenção.
Mario Botta, nascido em 1943, é responsável por uma vintena de edifícios religiosos, sendo notório o seu interesse pela “categoria do sagrado”, uma grande “espinha na garganta da secularização” crescente e alastrante.
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Na cerimónia de entrega do prémio o Papa Francisco destacou a “herança cultural e espiritual” de Bento XVI e encorajou os galardoados a estudarem os escritos do Papa Emérito e a enfrentarem os “novos temas com que a fé é chamada a dialogar, como o cuidado da criação da Casa comum e a dignidade da pessoa humana”.
No seu discurso, Dirigindo o seu pensamento “afetuoso e agradecido” a Bento XVI, disse o Santo Padre no sue discurso:
Como admiradores de sua herança cultural e espiritual, vós recebestes a missão de a cultivar e fazer com que continue frutificando, com aquele espírito fortemente eclesial que carateriza Joseph Ratzinger desde os tempos da sua profícua atividade teológica juvenil, quando deu frutos preciosos no Concílio Vaticano II, e depois nas sucessivas etapas da sua longa vida de serviço, como professor, arcebispo, responsável de dicastério e Pastor da Igreja Universal. Encorajo-vos a continuar estudando os seus escritos, mas também a enfrentar os novos temas com os quais a fé é chamada a dialogar, como os que foram evocados por vós e que eu considero muito atuais, desde o cuidado da Criação como Casa comum e a defesa da dignidade da pessoa humana.”.
Teóloga alemã e Professora de Teologia na Universidade de Viena e profundamente convicta, como Bento XVI, da importância da Teologia para comunicar a fé e tornar possível o diálogo entre o mundo académico e o mundo dos fiéis, Marianne Schlosser, de 59 anos, nomeada pelo Papa Francisco, em 2014, membro da Comissão Teológica Internacional, é a segunda mulher, depois da biblista Anne-Marie Pelletier, a receber o Prémio Ratzinger.
A esse respeito, declarou o Sumo Pontífice:
É muito importante que seja reconhecida cada vez mais a contribuição feminina no campo da pesquisa teológica científica e do ensino da Teologia, por muito tempo considerados campos quase exclusivos do clero. É necessário que essa contribuição seja incentivada e encontre mais espaço, coerentemente com o aumento da presença feminina nos vários âmbitos de responsabilidade da Igreja, em particular, e não somente no campo cultural.”.
Desde o ano passado que, além da Teologia, o Prémio Ratzinger é atribuído também ao campo das artes de inspiração cristã. Assim, esta 8.ª edição, foi premiado Mario Botta, de 75 anos, arquiteto suíço de fama internacional que trabalhou na construção de importantes edifícios de culto, na Itália e na França e é autor de uma das Capelas expostas no Pavilhão da Santa Sé na atual Bienal de Arquitetura em Veneza, tendo na sua longa carreira mostrou uma grande sensibilidade pela sacralidade do espaço, como mostram à saciedade as igrejas por si projetadas.
E Francisco disse:
Congratulo-me com o arquiteto Mario Botta. Ao longo da história da Igreja, os edifícios sagrados foram uma chamada concreta a Deus e às dimensões do espírito onde quer que o anúncio cristão se tenha espalhado pelo mundo. Eles expressaram a fé da comunidade de fiéis (...). O compromisso do arquiteto criador de locais sagrados na cidade dos homens é de grande valor, e deve ser reconhecido e incentivado pela Igreja, em particular quando se corre o risco do esquecimento da dimensão espiritual e da desumanização dos espaços urbanos.”.
Permanecendo ancorado “ao nosso tempo” e voltando o olhar para a esperança sustentada pelo Espírito e pelo compromisso dos homens, o Papa Francisco concluiu, citando um discurso de Bento XVI em 2009:
Por ocasião da sua visita a Bagnoregio, cidade de São Boaventura, Bento XVI expressou-se assim: Uma bela imagem da esperança a encontramos num de seus sermões do Advento, onde ele compara o movimento da esperança ao voo do pássaro, que abre as asas da maneira mais ampla possível, e para as mover emprega todas as suas forças. Faz de si mesmo um movimento para subir e voar. Esperar é voar, diz São  Boaventura. Mas a esperança exige que todos os nossos membros se movam e se projetem em direção ao verdadeiro auge do nosso ser, em direção às promessas de Deus. Quem espera, diz ele, ‘deve levantar a cabeça, voltando para o alto os seus pensamentos, em direção à altura da nossa existência, ou seja, em direção a Deus’.”.
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Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI, que instituiu o Prémio Ratzinger, é uma entidade fundada pelo Papa Bento XVI, a 1 de março de 2010, com a finalidade de promover a publicação, divulgação e estudo dos seus escritos. Foi erigida juridicamente de acordo com o Código de Direito Canónico e com a Lei Fundamental do Estado da Cidade do Vaticano. É presidida por Frederico Lombardi, SJ.
Segundo o artigo 2.º do Estatuto que rege o seu funcionamento, os seus objetivos são: promover pesquisas, estudos e publicações sobre a obra e o pensamento do Prof. Joseph Ratzinger; organizar e desenvolver congressos de elevado valor cultural e científico; e premiar os estudiosos que se destacam, por méritos especiais, tanto na atividade de publicação como na investigação científica.
Os organismos que dirigem a fundação são: o conselho administrativo, composto pelo presidente Frederico Lombardi e pelos conselheiros Georg Gäswein, Stephan Corno e Giuseppe Costa; o Colégio de revisores, composto pelo presidente Alessandro Grisanti e pelos conselheiros Alberto Perlasca e Maria Teresa Carone; e o Comité científico, composto pelo presidente Angelo Amato e pelos conselheiros Kurt Koch, Gianfranco Ravasi e Luis Ladaria.
Por seu turno, o Prémio Ratzinger – como se disse, concedido a estudiosos que se destacaram por sua investigação científica no âmbito teológico e, desde 2011, pelas artes de inspiração cristã – é um prémio internacional instituído pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger e por ela atribuído anualmente a candidatos que reúnam as condições estipuladas no Estatuto.
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Foi no passado dia 20 de setembro que foram anunciados os vencedores do Prémio Ratzinger 2018, no quadro da apresentação, na Sala de Imprensa da Santa Sé, as próximas iniciativas promovidas pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI. Eram três as iniciativas em causa: o Prémio “Ragione Aperta”; o “Prémio Ratzinger”; e o Simpósio Internacional.
Na apresentação destes três eventos,  na Sala de Imprensa da Santa Sé, a 20 de setembro, pronunciaram-se o Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, o Padre Federico Lombardi, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI, o Prof. Giuseppe Dalla Torre, ex-grão-chanceler da Universidade Livre Maria Santíssima Assunta e o dott. Max Bonilla, responsável pelas relações externas da Universidade Francisco de Vitoria, de Madrid.
O Prémio “Razão aberta” (“Ragione Aperta”). Nascido da colaboração com a Universidade espanhola Francisco de Vitoria, é inspirado numa ideia central no pensamento de Joseph Ratzinger: a necessidade de ter uma visão ampla e aberta da razão e do seu exercício na busca da verdade e da resposta às questões fundamentais sobre a humanidade e o seu destino. A segunda edição deste prémio ocorreu no dia 24 de setembro,  na Academia de Ciências.
O “Prémio Ratzinger”, que chegou a sua oitava edição a 17 de novembro,  foi entregue este ano à teóloga católica alemã Marianne Schlosser e ao arquiteto de renome internacional Mario Botta, tendo sido esta a segunda vez que o prestigioso reconhecimento é atribuído a uma mulher, “como prova da qualificada e crescente contribuição feminina no campo das ciências teológicas” e também a segunda vez que foi atribuído ao mundo das artes em reconhecimento do apreço pela categoria do sagrado.
A terceira iniciativa, promovida pela Fundação Ratzinger, foi o VIII Congresso Internacional de Estudos, que este ano foi organizado em Roma, juntamente com a Universidade Livre Maria Santíssima Assunta (Lumsa), nos dias 15 e 16 de novembro, com foco no tema “Direitos Fundamentais e Conflitos de Direitos” e constituindo uma ocasião para celebrar dois importantes aniversários: o 70.º aniversário da adoção, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o 20.º aniversário da concessão da laurea honoris causa ao então Cardeal Joseph Ratzinger pela Lumsa, pela “contribuição fundamental que ele deu durante seus estudos para a fundação de direito”.
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Em suma, nesta entrega do Prémio Ratzinger, além do explícito reconhecimento do apreço pela categoria do espaço sagrado (quando cresce o esquecimento da espiritualidade), é de destacar que Francisco evidenciou a necessidade de ter mais mulheres “nos diferentes campos de responsabilidade da vida da Igreja”, lamentando que a sua presença se circunscreva, muitas vezes, apenas ao campo cultural, e sublinhou a importância de “se reconhecer cada vez mais a contribuição das mulheres no campo da investigação teológica científica e do ensino da teologia, consideradas durante muito tempo territórios quase exclusivos do clero”.
Para o Papa, é necessário que “esta contribuição seja estimulada e que encontre um espaço mais amplo, coerente com o crescimento da presença feminina nos diferentes campos de responsabilidade da vida da Igreja”. Com efeito, desde que Paulo VI proclamou Teresa de Ávila e Catarina de Sena como Doutoras da Igreja, deixou de haver dúvidas de que as mulheres podem alcançar os lugares mais altos da inteligência e da fé – o que João Paulo II e Bento XVI confirmaram, incluindo na lista de doutores e doutoras da Igreja os nomes de outras mulheres, como Santa Teresa de Lisieux e Hildegarda de Bingen.
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Então, para quando a entrega de mais cargos cimeiros eclesiais a mulheres, a votação feminina nos diversos órgãos de proposta e de decisão e no Sínodo dos Bispos (por parte das superioras maiores, como no caso dos superiores maiores) e, ainda, a ordenação diaconal e presbiteral de mulheres? Até quando é que o sexo é fautor (ou obstáculo) da comunicação da Graça sacramental, da habilitação para o ensino da doutrina da fé e da capacidade de liderança eclesial?
2018,11.17 – Louro de Carvalho  

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