O Papa entregou, este sábado, dia 17 de novembro, na
Sala Clementina, o ‘Prémio Ratzinger’, considerado o ‘Nobel’ da Teologia, ao
arquiteto suíço Mario Botta e à teóloga alemã Marianne Schlosser, como fora
anunciado no passado dia 20 de setembro.
O ‘Prémio Joseph Ratzinger’ é atribuído anualmente,
desde 2011, pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI (tem o nome do Papa Emérito). Este ano foi atribuído à predita teóloga alemã, que
se tornou a segunda mulher a receber o galardão. Mas, pelo segundo ano
consecutivo o prémio também se dirigiu ao campo das artes de inspiração cristã,
tendo distinguido o referido arquiteto.
Marianne Schlosser, nascida em 1959, é professora na
Universidade de Viena, distinguiu-se pela sua investigação sobre a Baixa Idade
Média e sobre a figura de São Boaventura, a quem Joseph Ratzinger dedicou
grande atenção.
Mario Botta, nascido em 1943, é responsável por uma
vintena de edifícios religiosos, sendo notório o seu interesse pela “categoria
do sagrado”, uma grande “espinha na garganta da secularização” crescente e
alastrante.
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Na cerimónia
de entrega do prémio o Papa Francisco destacou a “herança cultural e
espiritual” de Bento XVI e encorajou os galardoados a estudarem os escritos do
Papa Emérito e a enfrentarem os “novos
temas com que a fé é chamada a dialogar, como o cuidado da criação da Casa
comum e a dignidade da pessoa humana”.
No seu discurso,
Dirigindo o seu pensamento “afetuoso e agradecido” a Bento XVI, disse o Santo
Padre no sue discurso:
“Como admiradores de sua herança cultural e
espiritual, vós recebestes a missão de a cultivar e fazer com que continue
frutificando, com aquele espírito fortemente eclesial que carateriza Joseph
Ratzinger desde os tempos da sua profícua atividade teológica juvenil, quando
deu frutos preciosos no Concílio Vaticano II, e depois nas sucessivas etapas da
sua longa vida de serviço, como professor, arcebispo, responsável de dicastério
e Pastor da Igreja Universal. Encorajo-vos a continuar estudando os seus
escritos, mas também a enfrentar os novos temas com os quais a fé é chamada a
dialogar, como os que foram evocados por vós e que eu considero muito atuais,
desde o cuidado da Criação como Casa comum e a defesa da dignidade da pessoa
humana.”.
Teóloga alemã
e Professora de Teologia na Universidade de Viena e profundamente convicta,
como Bento XVI, da importância da Teologia para comunicar a fé e tornar possível
o diálogo entre o mundo académico e o mundo dos fiéis, Marianne Schlosser, de
59 anos, nomeada pelo Papa Francisco, em 2014, membro da Comissão Teológica
Internacional, é a segunda mulher, depois da biblista Anne-Marie Pelletier, a
receber o Prémio Ratzinger.
A esse
respeito, declarou o Sumo Pontífice:
“É muito importante que seja reconhecida
cada vez mais a contribuição feminina no campo da pesquisa teológica científica
e do ensino da Teologia, por muito tempo considerados campos quase exclusivos
do clero. É necessário que essa contribuição seja incentivada e encontre mais
espaço, coerentemente com o aumento da presença feminina nos vários âmbitos de
responsabilidade da Igreja, em particular, e não somente no campo cultural.”.
Desde o ano
passado que, além da Teologia, o Prémio Ratzinger é atribuído também ao campo
das artes de inspiração cristã. Assim, esta 8.ª edição, foi premiado Mario
Botta, de 75 anos, arquiteto suíço de fama internacional que trabalhou na
construção de importantes edifícios de culto, na Itália e na França e é autor
de uma das Capelas expostas no Pavilhão da Santa Sé na atual Bienal de Arquitetura
em Veneza, tendo na sua longa carreira mostrou uma grande sensibilidade pela
sacralidade do espaço, como mostram à saciedade as igrejas por si projetadas.
E Francisco disse:
“Congratulo-me com o arquiteto Mario Botta.
Ao longo da história da Igreja, os edifícios sagrados foram uma chamada
concreta a Deus e às dimensões do espírito onde quer que o anúncio cristão se tenha
espalhado pelo mundo. Eles expressaram a fé da comunidade de fiéis (...). O
compromisso do arquiteto criador de locais sagrados na cidade dos homens é de
grande valor, e deve ser reconhecido e incentivado pela Igreja, em particular
quando se corre o risco do esquecimento da dimensão espiritual e da
desumanização dos espaços urbanos.”.
Permanecendo
ancorado “ao nosso tempo” e voltando o olhar para a esperança sustentada pelo
Espírito e pelo compromisso dos homens, o Papa Francisco concluiu, citando um
discurso de Bento XVI em 2009:
“Por ocasião da sua visita a Bagnoregio,
cidade de São Boaventura, Bento XVI expressou-se assim: Uma bela imagem da
esperança a encontramos num de seus sermões do Advento, onde ele compara o
movimento da esperança ao voo do pássaro, que abre as asas da maneira mais
ampla possível, e para as mover emprega todas as suas forças. Faz de si mesmo
um movimento para subir e voar. Esperar é voar, diz São Boaventura. Mas a
esperança exige que todos os nossos membros se movam e se projetem em direção
ao verdadeiro auge do nosso ser, em direção às promessas de Deus. Quem espera,
diz ele, ‘deve levantar a cabeça, voltando para o alto os seus pensamentos, em
direção à altura da nossa existência, ou seja, em direção a Deus’.”.
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A Fundação
Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI, que instituiu o Prémio Ratzinger, é
uma entidade fundada pelo Papa Bento XVI, a 1 de março de 2010, com
a finalidade de promover a publicação, divulgação e estudo dos seus escritos. Foi
erigida juridicamente de acordo com o Código de Direito Canónico e
com a Lei Fundamental do Estado da Cidade do Vaticano. É presidida
por Frederico Lombardi, SJ.
Segundo o
artigo 2.º do Estatuto que rege o seu funcionamento, os seus
objetivos são: promover pesquisas, estudos e publicações sobre a obra e o
pensamento do Prof. Joseph Ratzinger; organizar e desenvolver congressos de
elevado valor cultural e científico; e premiar os estudiosos que se destacam,
por méritos especiais, tanto na atividade de publicação como na investigação
científica.
Os
organismos que dirigem a fundação são: o conselho
administrativo, composto pelo presidente Frederico Lombardi e pelos
conselheiros Georg Gäswein, Stephan Corno e Giuseppe Costa; o Colégio de revisores, composto pelo
presidente Alessandro Grisanti e pelos conselheiros Alberto Perlasca e Maria
Teresa Carone; e o Comité científico,
composto pelo presidente Angelo Amato e pelos conselheiros Kurt
Koch, Gianfranco Ravasi e Luis Ladaria.
Por seu turno, o Prémio Ratzinger – como se
disse, concedido a estudiosos que se destacaram por sua investigação científica
no âmbito teológico e, desde 2011, pelas artes de inspiração cristã – é um prémio
internacional instituído pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger
e por ela atribuído anualmente a candidatos que reúnam as condições estipuladas
no Estatuto.
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Foi no passado
dia 20 de setembro que foram anunciados os vencedores do Prémio Ratzinger 2018,
no quadro da apresentação, na Sala de Imprensa da Santa Sé, as próximas iniciativas
promovidas pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI. Eram três as
iniciativas em causa: o Prémio “Ragione Aperta”; o “Prémio Ratzinger”; e o
Simpósio Internacional.
Na apresentação destes três eventos, na
Sala de Imprensa da Santa Sé, a 20 de setembro, pronunciaram-se o Cardeal
Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, o Padre
Federico Lombardi, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI,
o Prof. Giuseppe Dalla Torre, ex-grão-chanceler da Universidade Livre Maria
Santíssima Assunta e o dott. Max Bonilla, responsável pelas relações externas
da Universidade Francisco de Vitoria, de Madrid.
O Prémio
“Razão aberta” (“Ragione Aperta”). Nascido da colaboração com a Universidade espanhola Francisco de Vitoria,
é inspirado numa ideia central no pensamento de Joseph Ratzinger: a necessidade
de ter uma visão ampla e aberta da razão e do seu exercício na busca da verdade
e da resposta às questões fundamentais sobre a humanidade e o seu destino. A
segunda edição deste prémio ocorreu no dia 24 de setembro, na
Academia de Ciências.
O “Prémio Ratzinger”, que chegou a sua oitava edição a 17 de novembro, foi entregue este ano à teóloga católica alemã Marianne Schlosser e ao arquiteto de renome internacional Mario Botta, tendo sido esta a segunda vez que o prestigioso reconhecimento é atribuído a uma mulher, “como prova da qualificada e crescente contribuição feminina no campo das ciências teológicas” e também a segunda vez que foi atribuído ao mundo das artes em reconhecimento do apreço pela categoria do sagrado.
O “Prémio Ratzinger”, que chegou a sua oitava edição a 17 de novembro, foi entregue este ano à teóloga católica alemã Marianne Schlosser e ao arquiteto de renome internacional Mario Botta, tendo sido esta a segunda vez que o prestigioso reconhecimento é atribuído a uma mulher, “como prova da qualificada e crescente contribuição feminina no campo das ciências teológicas” e também a segunda vez que foi atribuído ao mundo das artes em reconhecimento do apreço pela categoria do sagrado.
A terceira iniciativa, promovida pela
Fundação Ratzinger, foi o VIII Congresso Internacional de Estudos, que este ano
foi organizado em Roma, juntamente com a Universidade Livre Maria Santíssima
Assunta (Lumsa), nos dias 15 e 16 de novembro, com
foco no tema “Direitos Fundamentais e
Conflitos de Direitos” e constituindo uma ocasião para celebrar dois
importantes aniversários: o 70.º aniversário da adoção, pela Assembleia Geral
das Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o 20.º
aniversário da concessão da laurea
honoris causa ao então Cardeal Joseph Ratzinger pela Lumsa, pela “contribuição
fundamental que ele deu durante seus estudos para a fundação de direito”.
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Em suma, nesta entrega do Prémio Ratzinger, além do explícito reconhecimento
do apreço pela categoria do espaço sagrado (quando cresce o esquecimento da espiritualidade), é de destacar que Francisco evidenciou a necessidade de ter mais
mulheres “nos diferentes campos de responsabilidade da vida da Igreja”, lamentando que a sua presença se
circunscreva, muitas vezes, apenas ao
campo cultural, e sublinhou a importância de “se reconhecer cada vez mais a contribuição
das mulheres no campo da investigação teológica científica e do ensino da
teologia, consideradas durante muito tempo territórios quase exclusivos do
clero”.
Para o Papa, é necessário que “esta contribuição seja
estimulada e que encontre um espaço mais amplo, coerente com o crescimento da
presença feminina nos diferentes campos de responsabilidade da vida da Igreja”.
Com efeito, desde que Paulo VI proclamou Teresa de Ávila e Catarina de Sena
como Doutoras da Igreja, deixou de haver dúvidas de que as
mulheres podem alcançar os lugares mais altos da inteligência e da fé –
o que João Paulo II e Bento XVI confirmaram, incluindo na lista de doutores e
doutoras da Igreja os nomes de outras mulheres, como Santa Teresa de Lisieux e
Hildegarda de Bingen.
***
Então,
para quando a entrega de mais cargos cimeiros eclesiais a mulheres, a votação
feminina nos diversos órgãos de proposta e de decisão e no Sínodo dos Bispos (por
parte das superioras maiores, como no caso dos superiores maiores) e, ainda, a ordenação diaconal
e presbiteral de mulheres? Até quando é que o sexo é fautor (ou
obstáculo) da comunicação
da Graça sacramental, da habilitação para o ensino da doutrina da fé e da
capacidade de liderança eclesial?
2018,11.17 –
Louro de Carvalho
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