Noticia o Jornal Eonómico que António Vieira
Monteiro vai deixar
de ser o CEO do Banco Santander Totta e passará
a chairman, sendo que, no lugar de CEO, lhe sucederá Pedro Castro e
Almeida. Porém, ao ser questionado
esta semana por este periódico à margem da apresentação de resultados do Banco,
Vieira Monteiro, não se pronunciou sobre o tema, declarando que “se trata de
uma decisão do acionista”.
É mudança de cadeiras na administração que surge no
quadro da renovação dos órgãos sociais para o triénio 2019-2021, pois o mandato
da administração acaba no final deste ano.
A lista dos elementos dos novos órgãos sociais já
propostos vai ser avaliada pelo Banco Central Europeu, no âmbito do processo fit & proper (adequação
e avaliação), e já deu
entrada no Banco de Portugal. No entanto, o regulador não comentou.
A eleição dos órgãos sociais do Santander Totta (passará
a ter a marca Santander, deixando cair a designação Totta) ocorrerá em assembleia geral a convocar
para o efeito e que deverá realizar-se até ao final deste ano. E o banco manterá o seu princípio de
ter um CEO português.
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Por seu turno, o DN, sob o título “Dos ‘swaps’ ao Banif: o legado de Vieira Monteiro no Santander Totta”,
salienta que Vieira Monteiro entregou aos acionistas mais de dois mil milhões
de lucros nos 7 anos de liderança (dois mandatos) e que, no
dia 13 de dezembro, Pedro Castro e Almeida assumirá os destinos do banco. Mas o
DN fornece os dados do legado do CEO
para o sucessor. Assim:
Vieira Monteiro,
que a partir de janeiro deixa a presidência executiva do banco, colocou-o como
líder do mercado português em ativos e crédito ao longo dos seus dois mandatos,
que não foram fáceis e envolveram algumas polémicas. Por exemplo, o caso dos swaps das empresas públicas de
transportes e a compra do Banif a desconto originaram-lhe pesadas críticas.
Outra novidade
é que, antes de passar o testemunho a Castro e Almeida, atual administrador do
Totta, Vieira Monteiro deixa preparada a mudança de
marca – o nome Totta cai ao fim de 125 – e deixa concluída a
integração operacional e tecnológica do Banco Popular (comprado em 2017).
Mas, polémicas
à parte, o Santander está agora mais forte. Ao invés
dos concorrentes, o banco teve sempre lucros (mesmo durante a crise financeira do país), chegou à liderança do setor em termos de
ativos e crédito, crescendo também na quota de mercado no segmento das pequenas
e médias empresas, e ganhou quota nos recursos de clientes e no crédito.
Monteiro assumiu a presidência executiva do
Totta em 2012, em pleno resgate financeiro. Em 2013,
eclodiu a polémica dos swaps (contratos de
seguros de crédito), tendo o banco sido acusado de ter feito contratos
abusivos que acabariam por gerar prejuízos elevados para várias empresas
públicas de transportes (o risco de prejuízo chegava a 1200 milhões de euros). Governo e banco
chegaram a acordo em abril de 2017, no conflito que durava desde 2013, quando a
então Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, decidiu rasgar os contratos
e as empresas deixaram de pagar ao banco. Só em juros, o Estado pagou mais de
500 milhões de euros, quando o acordo previa um empréstimo de 2,3 mil milhões do
banco ao Estado para pagamento dos swaps.
Em meados de
2014, caiu o BES; e a resolução do Banif ocorreu em dezembro de 2015, num processo
que envolveu a compra dum pacote de ativos por parte do Santander. A aquisição permitiu ao Santander reforçar a quota de mercado e chegar à
liderança, nomeadamente nos Açores e na Madeira. Mas o
negócio foi criticado: primeiro, porque o fim do Banif custou aos contribuintes
2,4 mil milhões; depois, porque a venda foi feita com desconto de 75% (O Santander
comprou o Banif por 150 milhões de euros ativos, quando a atividade do Banif foi
avaliada em 600 milhões de euros). E o Santander registou nas suas
contas anuais consolidadas o ativo adquirido com o valor de 283 milhões de
euros.
Por outro lado, a compra do Banco Popular, em
meados de 2017, a digitalização do banco e a mudança de marca são também
legados que Vieira Monteiro deixa na sua presidência, tal como
a contínua redução do número de trabalhadores e de balcões. Só neste ano,
saíram do Totta 200 funcionários e, em 2018, o banco fecha ao todo 100
agências.
Mas, entre o início
de 2012 e o final de setembro passado, a sua quota de mercado, em termos de
recursos de clientes, passou de 10,1% para 14,2%; no stock de
crédito hipotecário, a quota cresceu de 12,3% para 17,8%; e, no crédito a empresas,
reforçou a quota em 9 pontos percentuais, para 18,3%.
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E o ECO
mostra em epígrafe: “Pedro Castro e
Almeida, um cristão da alta finança que vai gerir os destinos do Santander
Totta”. E frisa que o próximo CEO do Santander “conhece melhor do que ninguém os cantos à casa,
onde é administrador há 11 anos”.
Pormenoriza que “Pedro Castro e Almeida é um homem da alta finança, habituado à ciência dos números e da
contabilidade” e que tanto cita o economista mais importante num discurso aos
seus quadros como Madre Teresa de Calcutá ou o Papa Francisco. João Pedro Tavares, que o conhece há
mais de 10 anos, diz:
“Ele é muito mobilizador. Há cargos que
fazem as pessoas, mas no caso do Pedro será ele a fazer o cargo.”.
Tanto João como Pedro são membros da ACEGE (Associação Cristã de Empresários e
Gestores): o primeiro é seu presidente; e o
segundo é vice-presidente. Trata-se, segundo a visão da associação, duma “comunidade
de líderes empresariais cristãos que procuram, pelo seu trabalho, a promoção da
dignidade de cada pessoa e a construção do bem comum segundo os critérios de
Cristo, tornando-se
assim coparticipantes na Criação” (vd site da ACEGE). E, como crê
Tavares, será essa visão do mundo e da vida que levará Castro e
Almeida para a liderança de um dos maiores bancos nacionais (onde é administrador
há mais de 10 anos). Diz o líder da ACEGE:
“É um homem inteiro, não há duplicidade. O
Pedro com fato e o Pedro sem fato são a mesma pessoa. […]. Promove a
diversidade, cala-se para ouvir os outros e é muito sensível. Não deixa de
transmitir as más notícias, mas fá-lo de uma forma humanizadora.”.
Castro e Almeida, de 51 anos, casado e com uma família numerosa (tem cinco
filhos e dois enteados), nasceu em
berço ligado à banca: o pai foi quadro do Totta e o irmão Luís lidera o negócio
do espanhol BBVA em Portugal. E ele é membro do conselho de administração há
mais de uma década, tendo sido responsável pela rede de empresas e negócio
tradicional, bem como pela gestão de ativos e seguros.
Enfatiza o ECO que, há vários
anos no banco, se formou uma das melhores academias de líderes,
pois foi do Santander que saíram nomes como António Horta Osório, Stock
da Cunha, Nuno Amado… E Tavares, frisando que o seu amigo se preparou bem para
o cargo, acentua:
“O Santander tem muito a noção de academia e
o Pedro também vai ajudar a gerar líderes para o futuro, de referência”.
Com efeito, ainda este ano, frequentou o programa The Innovative Technology Leader da Stanford University, direcionado para executivos e líderes de
organizações. E, antes, realizou formações na Harvard Business School (Corporate
Governance, em 2015) e no INSEAD (Advanced Management Programme, em 2010), isto para lá da licenciatura no ISEG, onde
entrou em 1985. Também neste campo a transição será tranquila quando o Santander se bate no mercado de igual para igual com o BCP enquanto
maior banco privado nacional, depois de as aquisições do Banif e do Banco Popular terem dado,
nos últimos anos, outra força ao banco dos espanhóis. Os últimos resultados,
apresentados na passada semana, evidenciam a saúde financeira: os lucros aumentaram
para 385 milhões de euros.
Fora do banco, além de ser vice-presidente da ACEGE,
Pedro Castro e Almeida é também diretor no Centro Social e Paroquial São
Francisco de Paula, na Paróquia de São Francisco de Paula, em Lisboa. Diz
João Pedro Tavares:
“Ele tem um grande sentido de missão, sentido
dos outros, de criação de valor, que é fundamental para as instituições. Mas a
criação de valor não se esgota no lucro financeiro, mas também no lucro para as
pessoas. […]. Vai receber um grande
legado no Santander Totta, mas o Pedro vai saber amplificá-lo, tanto
financeiramente como socialmente. Vai fazer do Santander Totta muito mais do
que um banco.”.
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A missão da ACEGE é “inspirar os líderes
a viver o Amor e a Verdade no mundo económico e empresarial e com isso a
transformar a sociedade” (vd site da ACEGE). Ora, foi dum
dos seus encontros que Castro e Almeida deixou um testemunho em vídeo, disponível
no You tube, sobre a importância de adotar os “critérios de Cristo” na
vida pessoal e profissional. Disse:
“Vejo a minha vida como um caminho, como uma
peregrinação e a importância da ACEGE é porque me acompanha nesta peregrinação,
que tem um princípio e há de ter um fim. E acompanha-me nesta peregrinação de
vida como uma comunidade, como uma comunidade que inquieta o meu dia a dia, que me inquieta no meu mundo do trabalho e que inquieta a minha
consciência e que me ajuda na minha unicidade de vida.”.
No mesmo vídeo, deixou exemplos de como a ACEGE pode ter impacto na vida
das instituições e dos trabalhadores:
“Sendo uma preocupação da ACEGE desenvolver
uma comunidade que promove o debate e que desafia cada um a assumir
os critérios de Cristo na forma como trabalha, naturalmente, o que eu
considero mais relevante é esta capacidade que a ACEGE tem tido de influenciar
e transformar o futuro nas empresas, promovendo uma série de ações,
relacionados não só com a ética empresarial,
nomeadamente a componente dos pagamentos pontuais a
fornecedores ou a conciliação família-trabalho,
mas também através dos grupos de Cristo na empresa que criaram aqui um espaço
de reflexão e de inspiração para a ação dos gestores nas empresas”.
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Obviamente,
o líder cristão não fará duma entidade essencialmente lucrativa uma instituição
de solidariedade social ou uma santa casa da misericórdia. Porém, no respeito
pela autonomia das realidades terrestres, que os cristãos têm em conta, os
valores cristãos estarão presentes na formação, profissionalismo e dedicação. E
espera-se, pelo menos, a minimização dos danos que instituição, de si, fortemente
lucrativa possa infligir aos seus trabalhadores e à sociedade em geral; e a
evidência da função social da empresa. De facto, o encerramento de 100 balcões
e a dispensa de trabalhadores não são à partida sinais de observação dos
princípios do primado do trabalho sobre o capital, do bem comum, do salário
justo, dos direitos e deveres e da empresa produtiva como comunidade de pessoas,
gerando lucros e a sua distribuição (cf Hermenegildo
Encarnação, Impacto da Doutrina Social da
Igreja no Trabalhador e no Empresário, Lisboa: Editorial Cáritas, 2016).
Entretanto,
saúda-se a preocupação da ACEGE enunciada pela voz de Gonçalo Lobo Xavier:
“Por muitas mudanças
que possam ocorrer no mundo laboral, há questões que estarão sempre presentes.
A conciliação da vida familiar com a vida de trabalho é seguramente um dos
temas que nos acompanhará por toda a nossa vida profissional, quer tenhamos
descendentes ou ascendentes. A família será sempre um pilar da construção de
uma sociedade mais justa e solidária. É
por isso importante partilhar conhecimento nesta área, sabendo naturalmente que
não há receitas que possam ser aplicadas a todos e que cada um deverá ter a
consciência dos seus limites e do que pode e deve fazer no sentido de defender
a sua família dos excessos de trabalho.”.
2018.11.12 – Louro de Carvalho
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