segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Cristão gere o Santander sem dele fazer Santa Casa da Misericórdia


Noticia o Jornal Eonómico que António Vieira Monteiro vai deixar de ser o CEO do Banco Santander Totta e passará a chairman, sendo que, no lugar de CEO, lhe sucederá Pedro Castro e Almeida. Porém, ao ser questionado esta semana por este periódico à margem da apresentação de resultados do Banco, Vieira Monteiro, não se pronunciou sobre o tema, declarando que “se trata de uma decisão do acionista”.

É mudança de cadeiras na administração que surge no quadro da renovação dos órgãos sociais para o triénio 2019-2021, pois o mandato da administração acaba no final deste ano.
A lista dos elementos dos novos órgãos sociais já propostos vai ser avaliada pelo Banco Central Europeu, no âmbito do processo fit & proper (adequação e avaliação), e já deu entrada no Banco de Portugal. No entanto, o regulador não comentou.
A eleição dos órgãos sociais do Santander Totta (passará a ter a marca Santander, deixando cair a designação Totta) ocorrerá em assembleia geral a convocar para o efeito e que deverá realizar-se até ao final deste ano. E o banco manterá o seu princípio de ter um CEO português.
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Por seu turno, o DN, sob o título “Dos ‘swaps’ ao Banif: o legado de Vieira Monteiro no Santander Totta”, salienta que Vieira Monteiro entregou aos acionistas mais de dois mil milhões de lucros nos 7 anos de liderança (dois mandatos) e que, no dia 13 de dezembro, Pedro Castro e Almeida assumirá os destinos do banco. Mas o DN fornece os dados do legado do CEO para o sucessor. Assim:
Vieira Monteiro, que a partir de janeiro deixa a presidência executiva do banco, colocou-o como líder do mercado português em ativos e crédito ao longo dos seus dois mandatos, que não foram fáceis e envolveram algumas polémicas. Por exemplo, o caso dos swaps das empresas públicas de transportes e a compra do Banif a desconto originaram-lhe pesadas críticas.
Outra novidade é que, antes de passar o testemunho a Castro e Almeida, atual administrador do Totta, Vieira Monteiro deixa preparada a mudança de marca – o nome Totta cai ao fim de 125 – e deixa concluída a integração operacional e tecnológica do Banco Popular (comprado em 2017).
Mas, polémicas à parte, o Santander está agora mais forte. Ao invés dos concorrentes, o banco teve sempre lucros (mesmo durante a crise financeira do país), chegou à liderança do setor em termos de ativos e crédito, crescendo também na quota de mercado no segmento das pequenas e médias empresas, e ganhou quota nos recursos de clientes e no crédito.
Monteiro assumiu a presidência executiva do Totta em 2012, em pleno resgate financeiro. Em 2013, eclodiu a polémica dos swaps (contratos de seguros de crédito), tendo o banco sido acusado de ter feito contratos abusivos que acabariam por gerar prejuízos elevados para várias empresas públicas de transportes (o risco de prejuízo chegava a 1200 milhões de euros). Governo e banco chegaram a acordo em abril de 2017, no conflito que durava desde 2013, quando a então Ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, decidiu rasgar os contratos e as empresas deixaram de pagar ao banco. Só em juros, o Estado pagou mais de 500 milhões de euros, quando o acordo previa um empréstimo de 2,3 mil milhões do banco ao Estado para pagamento dos swaps.
Em meados de 2014, caiu o BES; e a resolução do Banif ocorreu em dezembro de 2015, num processo que envolveu a compra dum pacote de ativos por parte do Santander. A aquisição permitiu ao Santander reforçar a quota de mercado e chegar à liderança, nomeadamente nos Açores e na Madeira. Mas o negócio foi criticado: primeiro, porque o fim do Banif custou aos contribuintes 2,4 mil milhões; depois, porque a venda foi feita com desconto de 75% (O Santander comprou o Banif por 150 milhões de euros ativos, quando a atividade do Banif foi avaliada em 600 milhões de euros). E o Santander registou nas suas contas anuais consolidadas o ativo adquirido com o valor de 283 milhões de euros.
Por outro lado, a compra do Banco Popular, em meados de 2017, a digitalização do banco e a mudança de marca são também legados que Vieira Monteiro deixa na sua presidência, tal como a contínua redução do número de trabalhadores e de balcões. Só neste ano, saíram do Totta 200 funcionários e, em 2018, o banco fecha ao todo 100 agências.
Mas, entre o início de 2012 e o final de setembro passado, a sua quota de mercado, em termos de recursos de clientes, passou de 10,1% para 14,2%; no stock de crédito hipotecário, a quota cresceu de 12,3% para 17,8%; e, no crédito a empresas, reforçou a quota em 9 pontos percentuais, para 18,3%.
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E o ECO mostra em epígrafe: “Pedro Castro e Almeida, um cristão da alta finança que vai gerir os destinos do Santander Totta”. E frisa que o próximo CEO do Santander “conhece melhor do que ninguém os cantos à casa, onde é administrador há 11 anos”.
Pormenoriza que “Pedro Castro e Almeida é um homem da alta finança, habituado à ciência dos números e da contabilidade” e que tanto cita o economista mais importante num discurso aos seus quadros como Madre Teresa de Calcutá ou o Papa Francisco. João Pedro Tavares, que o conhece há mais de 10 anos, diz:
Ele é muito mobilizador. Há cargos que fazem as pessoas, mas no caso do Pedro será ele a fazer o cargo.”.
Tanto João como Pedro são membros da ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores): o primeiro é seu presidente; e o segundo é vice-presidente. Trata-se, segundo a visão da associação, duma “comunidade de líderes empresariais cristãos que procuram, pelo seu trabalho, a promoção da dignidade de cada pessoa e a construção do bem comum segundo os critérios de Cristo, tornando-se assim coparticipantes na Criação” (vd site da ACEGE). E, como crê Tavares, será essa visão do mundo e da vida que levará Castro e Almeida para a liderança de um dos maiores bancos nacionais (onde é administrador há mais de 10 anos). Diz o líder da ACEGE:
É um homem inteiro, não há duplicidade. O Pedro com fato e o Pedro sem fato são a mesma pessoa. […]. Promove a diversidade, cala-se para ouvir os outros e é muito sensível. Não deixa de transmitir as más notícias, mas fá-lo de uma forma humanizadora.”.
Castro e Almeida, de 51 anos, casado e com uma família numerosa (tem cinco filhos e dois enteados), nasceu em berço ligado à banca: o pai foi quadro do Totta e o irmão Luís lidera o negócio do espanhol BBVA em Portugal. E ele é membro do conselho de administração há mais de uma década, tendo sido responsável pela rede de empresas e negócio tradicional, bem como pela gestão de ativos e seguros.
Enfatiza o ECO que, há vários anos no banco, se formou uma das melhores academias de líderes, pois foi do Santander que saíram nomes como António Horta Osório, Stock da Cunha, Nuno Amado… E Tavares, frisando que o seu amigo se preparou bem para o cargo, acentua:
O Santander tem muito a noção de academia e o Pedro também vai ajudar a gerar líderes para o futuro, de referência”.
Com efeito, ainda este ano, frequentou o programa The Innovative Technology Leader da Stanford University, direcionado para executivos e líderes de organizações. E, antes, realizou formações na Harvard Business School (Corporate Governance, em 2015) e no INSEAD (Advanced Management Programme, em 2010), isto para lá da licenciatura no ISEG, onde entrou em 1985. Também neste campo a transição será tranquila quando o Santander se bate no mercado de igual para igual com o BCP enquanto maior banco privado nacional, depois de as aquisições do Banif e do Banco Popular terem dado, nos últimos anos, outra força ao banco dos espanhóis. Os últimos resultados, apresentados na passada semana, evidenciam a saúde financeira: os lucros aumentaram para 385 milhões de euros.
Fora do banco, além de ser vice-presidente da ACEGE, Pedro Castro e Almeida é também diretor no Centro Social e Paroquial São Francisco de Paula, na Paróquia de São Francisco de Paula, em Lisboa. Diz João Pedro Tavares:
Ele tem um grande sentido de missão, sentido dos outros, de criação de valor, que é fundamental para as instituições. Mas a criação de valor não se esgota no lucro financeiro, mas também no lucro para as pessoas. […]. Vai receber um grande legado no Santander Totta, mas o Pedro vai saber amplificá-lo, tanto financeiramente como socialmente. Vai fazer do Santander Totta muito mais do que um banco.”.
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A missão da ACEGE é “inspirar os líderes a viver o Amor e a Verdade no mundo económico e empresarial e com isso a transformar a sociedade” (vd site da ACEGE). Ora, foi dum dos seus encontros que Castro e Almeida deixou um testemunho em vídeo, disponível no You tube, sobre a importância de adotar os “critérios de Cristo” na vida pessoal e profissional. Disse:
Vejo a minha vida como um caminho, como uma peregrinação e a importância da ACEGE é porque me acompanha nesta peregrinação, que tem um princípio e há de ter um fim. E acompanha-me nesta peregrinação de vida como uma comunidade, como uma comunidade que inquieta o meu dia a dia, que me inquieta no meu mundo do trabalho e que inquieta a minha consciência e que me ajuda na minha unicidade de vida.”.
No mesmo vídeo, deixou exemplos de como a ACEGE pode ter impacto na vida das instituições e dos trabalhadores:
Sendo uma preocupação da ACEGE desenvolver uma comunidade que promove o debate e que desafia cada um a assumir os critérios de Cristo na forma como trabalha, naturalmente, o que eu considero mais relevante é esta capacidade que a ACEGE tem tido de influenciar e transformar o futuro nas empresas, promovendo uma série de ações, relacionados não só com a ética empresarial, nomeadamente a componente dos pagamentos pontuais a fornecedores ou a conciliação família-trabalho, mas também através dos grupos de Cristo na empresa que criaram aqui um espaço de reflexão e de inspiração para a ação dos gestores nas empresas”.
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Obviamente, o líder cristão não fará duma entidade essencialmente lucrativa uma instituição de solidariedade social ou uma santa casa da misericórdia. Porém, no respeito pela autonomia das realidades terrestres, que os cristãos têm em conta, os valores cristãos estarão presentes na formação, profissionalismo e dedicação. E espera-se, pelo menos, a minimização dos danos que instituição, de si, fortemente lucrativa possa infligir aos seus trabalhadores e à sociedade em geral; e a evidência da função social da empresa. De facto, o encerramento de 100 balcões e a dispensa de trabalhadores não são à partida sinais de observação dos princípios do primado do trabalho sobre o capital, do bem comum, do salário justo, dos direitos e deveres e da empresa produtiva como comunidade de pessoas, gerando lucros e a sua distribuição (cf Hermenegildo Encarnação, Impacto da Doutrina Social da Igreja no Trabalhador e no Empresário, Lisboa: Editorial Cáritas, 2016).
Entretanto, saúda-se a preocupação da ACEGE enunciada pela voz de Gonçalo Lobo Xavier:
Por muitas mudanças que possam ocorrer no mundo laboral, há questões que estarão sempre presentes. A conciliação da vida familiar com a vida de trabalho é seguramente um dos temas que nos acompanhará por toda a nossa vida profissional, quer tenhamos descendentes ou ascendentes. A família será sempre um pilar da construção de uma sociedade mais justa e solidária. É por isso importante partilhar conhecimento nesta área, sabendo naturalmente que não há receitas que possam ser aplicadas a todos e que cada um deverá ter a consciência dos seus limites e do que pode e deve fazer no sentido de defender a sua família dos excessos de trabalho.”.
2018.11.12 – Louro de Carvalho

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