sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Esperanças e feridas em debate no Encontro Mundial das Famílias 2018


Está a decorrer, em Dublin, na Irlanda, desde o passado dia 21, o Encontro Mundial das Famílias 2018, que se estenderá até ao próximo dia 26, dia em que será revelado o local do próximo encontro, de aqui a três anos.
Sobre o programa e a logística do Encontro, o secretário do Dicastério para os Leigos, Família e Vida, Padre Alexandre Awi de Mello conversou com o Vatican News, tendo relevado o empenho que o dicastério pôs neste encontro, o trabalho organizativo que a diocese de Dublin desenvolveu para que tudo corresse bem e a generosidade dos irlandeses que possibilitou a participação de famílias de países mais pobres e que, sem esta ajuda, bem como a do predito dicastério romano, não teriam qualquer hipótese de participar. Não é por acaso que o Padre Awi de Mello coloca fortes expectativas neste encontro mundial.
No dia 21, à noite, foram realizadas as cerimónias de abertura, simultâneas com 26 dioceses da Irlanda, e, a partir do dia 22 até esta sexta-feira, dia 25, está a realizar-se o Congresso Pastoral inspirado na Exortação Apostólica pós-Sinodal Amoris Laetitiae, sendo a partir desta Exortação Apostólica que se fazem as reflexões, confrontos e projetos.
De acordo com o Vatican News, Dom Eamon Martin, Arcebispo de Armagt, Primaz da Irlanda e presidente da Conferência Episcopal Irlandesa, abriu o Congresso com um tema complexo, mas ao mesmo tempo estimulante: como ensinar as famílias a redescobrir a fé, a comunicá-la às novas gerações e, consequentemente, a fazê-la passar à sociedade.
Por sua vez, Emma Ciccarelli vice-presidente do Fórum Nacional italiano das Famílias, enfatiza o “encontro” como “uma bênção” e uma ocasião para recentrar o valor da família, na sequência do pedido formulado pelo Papa na sua videomensagem. Diz ela que, na Irlanda, se percebe como é urgente esta exigência. Refere que, andando pelas ruas, se deu conta da grande quantidade de jovens a quem se deve direcionar a nossa mensagem de esperança para a família.
Do programa das atividades do Congresso consta uma sequência de mesas redondas, painéis e testemunhos, não apenas sobre o papel da família na sociedade de hoje e a sua articulada relação com a Igreja, mas também sobre as múltiplas feridas da família. A este propósito, Emma Ciccarelli evidencia:
Os temas de discussão abordam o dia a dia. São feitas reflexões sobre famílias refugiadas, sobre o problema do abismo digital entre as gerações, sobre as dificuldades do matrimónio. Não são somente temáticas ideológicas, mas também concretas, podemos dizer pastorais. Dão a sua própria contribuição, com seu testemunho, vários casais e jovens que passam por estes problemas.”.
Por outro lado, tem sido dado o devido relevo à oração, já que esta se posiciona como o sustentáculo da vida pessoal, familiar e eclesial. Por isso mesmo, este encontro mundial viu na oração o verdadeiro motor dos seus trabalhos. Por conseguinte, foram montadas duas grandes áreas dedicadas à oração comunitária e pessoal e à adoração eucarística; e todos os dias, às 16,30 horas, é celebrada a Santa Missa.
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O IX Encontro Mundial das Famílias tem como tema “a alegria do amor nas famílias é também a alegria da Igreja”, é caraterizado pela oração com uma particular dimensão ecuménica e suscita a participação de famílias (37 mil participantes) de 116 países dos 5 continentes.
Congresso Pastoral de três dias, a que se aludiu acima, desenvolve, na Royal Dublin Society (RDS), mais de 60 workshops e debates, todos inspirados no documento pós-Sinodal “Amoris laetitia”. Com efeito, na sua Carta de Convocação para o Encontro Mundial das Famílias, o Papa expressou o desejo de que o Encontro pudesse oferecer às famílias uma “oportunidade de compartilhar e aprofundar os ensinamentos da Exortação Pós-Sinodal”.
O Padre Douglas de Freitas afirmou que sempre foi uma preocupação constante do magistério deste Papa  a realidade familiar. E menciona uma entrevista de Francisco quando voltava da Terra Santa, em que, interpelado porque um Sínodo sobre as famílias, respondera que gostaria de saber o que Jesus traz às famílias hoje. Por isso, o convite do Papa para o encontro considera essas três palavras-chave do magistério do Papa e coloca-nos ao centro e em comunhão colaborativa com os temas importantes para Francisco.
O desejo do Papa, como ele o exprime na carta-convocatória do Encontro, é: [...] que as famílias tenham modo de aprofundar as próprias reflexões e as próprias partilhas sobre os conteúdos da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris LaetitiaE para a preparação formulou duas perguntas: “O Evangelho continua a ser alegria para o mundo?; e a família: Continua a ser uma boa notícia para o mundo de hoje?”. O Papa adianta uma resposta dizendo que sim, pois acredita que a família, que tenha o fundamento na Rocha do Evangelho de Jesus, segundo o projeto de Deus, é evangelho para o mundo e parte da nova evangelização que comunica o amor e a misericórdia de Deus aos homens.
Assim, não admira que o encontro de Dublin seja marcado pela “fé, amor e esperança na família” e os temas em debate tenha entusiasmado os participantes.  
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De acordo com a edição de 23 de agosto do L’Osservatore Romano, as famílias, na capital da Irlanda, em dezenas de encontros, mesas-redondas e conferências diárias, discutem e refletem, a partir da Exortação apostólica, as três virtudes teologais da fé, esperança e caridade, “não de modo abstrato, não como tratado teológico”, mas na referência “à vida concreta que nós, famílias, vivemos diariamente, onde habitamos, no contexto em que nos encontramos”, tal como explicou Linda Ghisoni, subsecretária do Dicastério vaticano para os leigos, a família e a vida. E o ambiente de trabalho é marcado pelo diálogo, comparação, testemunhos, bem como por aquela parresia (coragem, audácia, destemor) a que o Papa não se cansa de apelar. Paralelamente aos conteúdos, emerge um estilo, um modo de ser Igreja, como frisou Ghisoni aos participantes do grupo por ela coordenado, que discutiu o trecho da Carta aos Coríntios em que Paulo recorda que, das virtudes, a “maior de todas é a caridade”. Segundo as declarações de Ghisoni, as famílias vivem todos os dias mil dificuldades e, como “nem tudo se transformará magicamente após Dublin 2018, não estaremos isentos dos desafios e dos problemas diários”. Porém, garante:
Se tivermos vivido uma experiência de Igreja, de comunhão, sem preconceitos, em que cada um enriquece o outro com o próprio testemunho de vida, então poderemos levar para casa um método eclesial baseado no viver a comunhão, a partilha, além de alguns instrumentos para sermos fiéis à nossa vocação e sermos verdadeiramente felizes”.
Após o Arcebispo Primaz da Irlanda (a quem competiu fazer as honras da casa) ter aberto o Congresso com o tema a que se fez referência, os trabalhos foram iniciados na manhã do dia 22 pelo arcebispo de Viena, o Cardeal Christopher Schönborn, que guiou o grupo de debate e discussão dedicado à celebração da família na tradição judaico-cristã. Foi uma ocasião para reiterar o tema da indissolubilidade do matrimónio, fundada na relação pessoal com Deus, e o tema da tutela do interesse das crianças. Idealmente, cada momento do dia de uma família é examinado, buscando, nas experiências pessoais e nas reflexões da Amoris laetitia, as respostas às dúvidas, as sugestões para superar dificuldades, as indicações para uma vida mais plena e consciente. E passa-se do papel dos pais à oração doméstica, do empenho na sociedade e no lugar de trabalho ao compromisso nas comunidades paroquiais, da importância de encontrar medidas contra a cultura do desperdício à fascinante, mas por vezes também perigosa, relação com o mundo digital. E ainda: o diálogo entre pais e filhos, a vida sacramental (relevando o significado e importância da celebração do matrimónio na igreja), a sexualidade, a saúde e a doença, o dom dos filhos, o papel fundamental dos avós. Presente também no debate foi o modo como as famílias cristãs devem comportar-se ante os grandes problemas que afligem o planeta: dos fenómenos migratórios, com os sofrimentos de deslocados e refugiados, ao criminoso tráfico de seres humanos, da crise económica à dignidade a ser salvaguardada no mundo do trabalho.
E chegou-se ao grande tema da defesa do ambiente e do cuidado da Casa comum. Em tudo isso, como recordou Linda Ghisoni, é possível conjugar as sugestões do hino à caridade de Paulo, que “não é uma receita para pessoas perfeitas”, mas, como vem explicado no capítulo IV da Amoris laetitia com sugestões muito concretas, um verdadeiro “projeto de amor” que, a partir do amor de Deus por cada um de nós, não prevê fechamentos ou individualismos. Com efeito, “nós somos, como uma família, somente se amamos, se nos amamos e se doamos este amor, que desse modo se multiplica e gera vida”.
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Não é, pois de estranhar que Dublin seja, nesta semana, uma cidade em festa. Na verdade, o seu verão está entrelaçado, nestas horas, com a festiva mistura de bandeiras e rostos que coloram de esperança o Encontro Mundial das Famílias. Ecoam, em particular, as palavras do Papa: “A família é o berço da vida e escola de acolhida e de amor; é uma janela aberta sobre o mistério de Deus”. Entre a multidão de turistas contam-se numerosos grupos de peregrinos, acompanhados por bispos e sacerdotes. As famílias testemunham a fé e aguardam ansiosamente a chegada, no dia 25 de agosto, do Papa Francisco a Dublin para a festa das famílias no Croke Park Stadium (depois da visita ao Presidente na residência oficial, encontro com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, no Castelo de Dublin, visita à Catedral e visita privada ao Centro de acolhimento para Famílias sem-casa). Depois, no dia 26, será a recitação do Angelus na esplanada do Santuário de Knock, a Santa Missa no Phoenix Park e o encontro com os Bispos no Convento das Irmãs Dominicanas.
Entretanto, cânticos, orações e o entusiasmo das crianças marcam estas horas de alegre espera. Ao longo do trajeto que o Papa vai percorrer, já foram colocadas bandeiras irlandesas e do Vaticano. Em várias áreas da cidade, protegidas por enorme dispositivo de segurança, podem ver-se filas de voluntários – referência preciosa para chegar ao centro de Dublin e aos eventos programados. Numerosas famílias com pessoas portadoras de deficiência, por exemplo, vindas da África e da Índia, manifestam necessidades diversas e específicas. Mas todas são animadas pela luz da Palavra de Deus. Nos eventos que animaram até agora o Encontro Mundial das Famílias, muitos os temas aprofundados, ligados às experiências quotidianas e aos factos atuais.
Não admira, assim, que, apesar das feridas provocadas pelos abusos sexuais de por parte de clérigos e de alguma tentativa localizável de boicote à vinda do Papa, o pulsar das famílias e o Vaticano vejam no encontro o signo da esperança e da reconstituição da Igreja no país.
2018.08.24 – Louro de Carvalho

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