Está a decorrer, em Dublin, na Irlanda, desde o
passado dia 21, o Encontro Mundial das Famílias
2018, que se estenderá até ao próximo dia 26, dia em que será revelado o
local do próximo encontro, de aqui a três anos.
Sobre o programa e a logística do Encontro, o secretário do
Dicastério para os Leigos, Família e Vida, Padre Alexandre Awi de Mello
conversou com o Vatican News, tendo
relevado o empenho que o dicastério pôs neste encontro, o trabalho organizativo
que a diocese de Dublin desenvolveu para que tudo corresse bem e a generosidade
dos irlandeses que possibilitou a participação de famílias de países mais pobres
e que, sem esta ajuda, bem como a do predito dicastério romano, não teriam qualquer
hipótese de participar. Não é por acaso que o Padre Awi de Mello coloca fortes
expectativas neste encontro mundial.
No dia 21, à
noite, foram realizadas as cerimónias de abertura, simultâneas com 26 dioceses
da Irlanda, e, a partir do dia 22 até esta sexta-feira, dia 25, está a realizar-se
o Congresso Pastoral inspirado na
Exortação Apostólica pós-Sinodal Amoris Laetitiae, sendo a
partir desta Exortação Apostólica que se fazem as reflexões, confrontos e
projetos.
De acordo com o Vatican
News, Dom Eamon Martin, Arcebispo de Armagt, Primaz da Irlanda e presidente
da Conferência Episcopal Irlandesa, abriu o Congresso com um tema complexo, mas
ao mesmo tempo estimulante: como ensinar as famílias a redescobrir a fé, a comunicá-la
às novas gerações e, consequentemente, a fazê-la passar à sociedade.
Por sua vez, Emma Ciccarelli vice-presidente do Fórum
Nacional italiano das Famílias, enfatiza o “encontro” como “uma bênção” e uma
ocasião para recentrar o valor da família, na sequência do pedido formulado
pelo Papa na sua videomensagem. Diz ela que, na Irlanda, se percebe como é
urgente esta exigência. Refere que, andando pelas ruas, se deu conta da grande
quantidade de jovens a quem se deve direcionar a nossa mensagem de esperança
para a família.
Do programa das
atividades do Congresso consta uma sequência de mesas redondas, painéis e
testemunhos, não apenas sobre o papel da família na sociedade de hoje e a sua
articulada relação com a Igreja, mas também sobre as múltiplas feridas da
família. A este propósito, Emma Ciccarelli evidencia:
“Os
temas de discussão abordam o dia a dia. São feitas reflexões sobre famílias
refugiadas, sobre o problema do abismo digital entre as gerações, sobre as
dificuldades do matrimónio. Não são somente temáticas ideológicas, mas também
concretas, podemos dizer pastorais. Dão a sua própria contribuição, com seu
testemunho, vários casais e jovens que passam por estes problemas.”.
Por outro
lado, tem sido dado o devido relevo à oração, já que esta se posiciona como o
sustentáculo da vida pessoal, familiar e eclesial. Por isso mesmo, este
encontro mundial viu na oração o verdadeiro motor dos seus trabalhos. Por conseguinte,
foram montadas duas grandes áreas dedicadas à oração comunitária e pessoal e à
adoração eucarística; e todos os dias, às 16,30 horas, é celebrada a Santa
Missa.
***
O IX Encontro
Mundial das Famílias tem
como tema “a alegria do amor nas famílias
é também a alegria da Igreja”, é caraterizado pela oração com uma
particular dimensão ecuménica e suscita a participação de famílias (37 mil participantes) de 116 países dos 5 continentes.
O Congresso
Pastoral de três dias, a que se aludiu acima, desenvolve, na
Royal Dublin Society (RDS), mais de 60 workshops e debates, todos inspirados no documento pós-Sinodal “Amoris laetitia”. Com efeito, na sua
Carta de Convocação para o Encontro Mundial das Famílias, o Papa expressou o desejo
de que o Encontro pudesse oferecer às famílias uma “oportunidade de compartilhar e aprofundar os ensinamentos da Exortação Pós-Sinodal”.
O Padre Douglas de Freitas afirmou que sempre foi uma preocupação
constante do magistério deste Papa a realidade familiar. E menciona uma
entrevista de Francisco quando voltava da Terra Santa, em que, interpelado
porque um Sínodo sobre as famílias, respondera que gostaria de saber o que
Jesus traz às famílias hoje. Por isso, o convite do Papa para o encontro considera
essas três palavras-chave do magistério do Papa e coloca-nos ao centro e em
comunhão colaborativa com os temas importantes para Francisco.
O desejo do Papa, como ele o exprime na carta-convocatória do
Encontro, é: “[...] que as
famílias tenham modo de aprofundar as próprias reflexões e as próprias
partilhas sobre os conteúdos da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris
Laetitia”. E para a preparação formulou duas perguntas: “O
Evangelho continua a ser alegria para o mundo?”; e
a família: “Continua a ser uma
boa notícia para o mundo de hoje?”. O Papa adianta uma resposta
dizendo que sim, pois acredita que a família, que tenha o fundamento na Rocha
do Evangelho de Jesus, segundo o projeto de Deus, é evangelho para o mundo e
parte da nova evangelização que comunica o amor e a misericórdia de Deus aos
homens.
Assim,
não admira que o encontro de Dublin seja marcado pela “fé, amor e esperança na
família” e os temas em debate tenha entusiasmado os participantes.
***
De acordo
com a edição de 23 de agosto do L’Osservatore
Romano, as famílias, na capital da Irlanda, em dezenas de encontros,
mesas-redondas e conferências diárias, discutem e refletem, a partir da
Exortação apostólica, as três virtudes teologais da fé, esperança e caridade, “não
de modo abstrato, não como tratado teológico”, mas na referência “à vida
concreta que nós, famílias, vivemos diariamente, onde habitamos, no contexto em
que nos encontramos”, tal como explicou Linda Ghisoni, subsecretária do
Dicastério vaticano para os leigos, a família e a vida. E o ambiente de
trabalho é marcado pelo diálogo,
comparação, testemunhos, bem como por aquela parresia (coragem,
audácia, destemor) a
que o Papa não se cansa de apelar. Paralelamente aos conteúdos, emerge um
estilo, um modo de ser Igreja, como frisou Ghisoni aos participantes do grupo
por ela coordenado, que discutiu o trecho da Carta aos Coríntios em que Paulo
recorda que, das virtudes, a “maior de
todas é a caridade”. Segundo as declarações de Ghisoni, as famílias vivem
todos os dias mil dificuldades e, como “nem tudo se transformará magicamente
após Dublin 2018, não estaremos isentos dos desafios e dos problemas diários”. Porém,
garante:
“Se tivermos vivido uma experiência de Igreja, de comunhão, sem
preconceitos, em que cada um enriquece o outro com o próprio testemunho de
vida, então poderemos levar para casa um método eclesial baseado no viver a
comunhão, a partilha, além de alguns instrumentos para sermos fiéis à nossa
vocação e sermos verdadeiramente felizes”.
Após o
Arcebispo Primaz da Irlanda (a quem competiu fazer as honras da casa) ter aberto o Congresso com o tema a que se fez
referência, os trabalhos foram iniciados na manhã do dia 22 pelo arcebispo de
Viena, o Cardeal Christopher Schönborn, que guiou o grupo de debate e discussão
dedicado à celebração da família na tradição judaico-cristã. Foi uma ocasião
para reiterar o tema da indissolubilidade do matrimónio, fundada na relação
pessoal com Deus, e o tema da tutela do interesse das crianças. Idealmente,
cada momento do dia de uma família é examinado, buscando, nas experiências
pessoais e nas reflexões da Amoris
laetitia, as respostas às dúvidas, as sugestões para superar dificuldades,
as indicações para uma vida mais plena e consciente. E passa-se do papel dos
pais à oração doméstica, do empenho na sociedade e no lugar de trabalho ao
compromisso nas comunidades paroquiais, da importância de encontrar medidas contra
a cultura do desperdício à fascinante, mas por vezes também perigosa, relação
com o mundo digital. E ainda: o diálogo entre pais e filhos, a vida sacramental
(relevando o significado
e importância da celebração do matrimónio na igreja), a sexualidade, a saúde e a doença,
o dom dos filhos, o papel fundamental dos avós. Presente também no debate foi o
modo como as famílias cristãs devem comportar-se ante os grandes problemas que
afligem o planeta: dos fenómenos migratórios, com os sofrimentos de deslocados
e refugiados, ao criminoso tráfico de seres humanos, da crise económica à
dignidade a ser salvaguardada no mundo do trabalho.
E chegou-se
ao grande tema da defesa do ambiente e do cuidado da Casa comum. Em tudo isso, como
recordou Linda Ghisoni, é possível conjugar as sugestões do hino à caridade de Paulo,
que “não é uma receita para pessoas perfeitas”, mas, como vem explicado no
capítulo IV da Amoris
laetitia com sugestões muito concretas, um verdadeiro “projeto de
amor” que, a partir do amor de Deus por cada um de nós, não prevê fechamentos
ou individualismos. Com efeito, “nós
somos, como uma família, somente se amamos, se nos amamos e se doamos este
amor, que desse modo se multiplica e gera vida”.
***
Não é,
pois de estranhar que Dublin seja, nesta semana, uma cidade em festa. Na verdade,
o seu verão está entrelaçado, nestas horas, com a festiva mistura de bandeiras
e rostos que coloram de esperança o Encontro
Mundial das Famílias. Ecoam, em particular, as palavras do Papa: “A família é o berço da vida e escola de
acolhida e de amor; é uma janela aberta sobre o mistério de Deus”. Entre a
multidão de turistas contam-se numerosos grupos de peregrinos, acompanhados por
bispos e sacerdotes. As famílias testemunham a fé e aguardam ansiosamente a
chegada, no dia 25 de agosto, do Papa Francisco a Dublin para a festa das famílias
no Croke Park Stadium (depois da visita ao Presidente na residência oficial, encontro
com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, no Castelo de Dublin,
visita à Catedral e visita privada ao Centro de acolhimento para Famílias sem-casa). Depois, no dia 26, será a recitação
do Angelus na esplanada do Santuário
de Knock, a Santa Missa no Phoenix Park e o encontro com os Bispos no Convento das Irmãs Dominicanas.
Entretanto, cânticos,
orações e o entusiasmo das crianças marcam estas horas de alegre espera. Ao
longo do trajeto que o Papa vai percorrer, já foram colocadas bandeiras
irlandesas e do Vaticano. Em várias áreas da cidade, protegidas por enorme
dispositivo de segurança, podem ver-se filas de voluntários – referência
preciosa para chegar ao centro de Dublin e aos eventos programados. Numerosas
famílias com pessoas portadoras de deficiência, por exemplo, vindas da África e
da Índia, manifestam necessidades diversas e específicas. Mas todas são animadas
pela luz da Palavra de Deus. Nos eventos que animaram até agora o Encontro
Mundial das Famílias, muitos os temas aprofundados, ligados às experiências quotidianas
e aos factos atuais.
Não admira,
assim, que, apesar das feridas provocadas pelos abusos sexuais de por parte de clérigos
e de alguma tentativa localizável de boicote à vinda do Papa, o pulsar das
famílias e o Vaticano vejam no encontro o signo da esperança e da
reconstituição da Igreja no país.
2018.08.24 –
Louro de Carvalho
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