domingo, 12 de agosto de 2018

A primeira das Damas Pobres da Ordem dos Menores


Celebra a Igreja Católica, a 11 de agosto, a memória litúrgica de Santa Clara, virgem, a primeira das Damas Pobres da Ordem dos Menores, que, no seguimento da via espiritual de Francisco, abraçou em Assis uma vida austera, mas rica em obras de caridade e piedade. Amou de tal modo a pobreza, voluntariamente assumida, que nunca mais quis dela separar-se, nem sequer na extrema indigência e na enfermidade.
Imitando o exemplo do concidadão Francisco de Assis – filho de um rico comerciante, a cuja riqueza renunciou livremente para despojadamente abraçar a pobreza –, quis institucionalizar o ramo feminino daquele carisma fundando a Ordem monástica das Clarissas.  
Clara, cujo nome significa “aquela que resplandece”, nasceu em Assis com o nome de Chiara d’Offreducci, no ano 1193, a 16 de julho, no seio duma família da nobreza italiana, muito rica, que lhe deu uma educação à altura da sua elevada condição social e onde possuía de tudo. Porém, o que a donzela, que desde cedo se sentiu vocacionada para a vida de oração e para as obras de caridade, mais queria era seguir os ensinamentos de Francisco, com quem entabulou conhecimento na Quaresma de 1212. Aliás, foi a primeira mulher da Igreja a entusiasmar-se com o ideal franciscano, contrariando a família.
Depois de ver e ouvir Francisco, escolheu-o para seu orientador espiritual. E, cada vez que conversava com Francisco, voltava para casa determinada a romper com as coisas do mundo e a entregar-se totalmente a Deus. O grande empecilho, contudo, era a família. Bela, nobre e prendada, os pais queriam a todo custo vê-la casada com alguém da sua condição social. Mas Clara era mulher firme, que sabia o que queria.
E, a 18 de março de 1212, domingo de Ramos, com 18 anos de idade, fugiu de casa e, humilde, apresentou-se na Porciúncula, na igreja de Santa Maria dos Anjos, onde era aguardada por Francisco e seus confrades. Ele cortou-lhe o cabelo, pediu que vestisse um modesto hábito de lã e emitisse os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência.
Os parentes, inconformados, foram buscá-la, mas ela refugiou-se na igreja e, quando a iam arrastar, ela agarrou-se ao altar, retirou o véu, mostrou a cabeça rapada e declarou publicamente ser Jesus seu único esposo. A partir desse momento, deixaram-na em paz.
Depois, a conselho de Francisco, ingressou no Mosteiro beneditino de São Paulo das Abadessas para ir se familiarizando com a vida em comum. Pouco depois, foi para a Ermida de Santo Ângelo de Panço, onde Inês, sua irmã de sangue, se lhe juntou. Passado algum tempo, Francisco levou-as para o humilde e paupérrimo Convento de São Damião, destinado à Ordem Segunda Franciscana, das monjas. Em agosto, quando ingressou Pacífica de Guelfúcio, Francisco deu-lhes a sua primeira forma de vida religiosa. Primeiramente, foram chamadas de “Damianitas”, mas, depois, Clara escolheu a designação de “Damas Pobres”. Finalmente, como sempre, foram chamadas de “Clarissas”.
Em 1216, sempre orientada por Francisco, que não deu às religiosas uma regra escrita, mas lhes incutiu no coração um verdadeiro espírito de pobreza e confiança na solicitude divina, Clara aceitou para a Ordem as regras beneditinas e o título de abadessa, mas conseguiu do Papa Inocêncio III o “privilégio da pobreza”, mantendo, assim, o carisma franciscano. O testemunho de fé de Clara foi tão grande que a sua mãe, Ortolana, e mais uma das suas irmãs, Beatriz, abandonaram os seus ricos palácios e foram viver ao seu lado, ingressando na nova Ordem.
Porém, em 1224, Clara adoeceu e, aos poucos, foi definhando. E, em 1226, Francisco de Assis morreu e Clara teve visões projetadas na parede da sua pequena cela. Nelas, via Francisco e os ritos das solenidades do seu funeral que decorriam na igreja. Anteriormente, tivera esse mesmo tipo de visão numa noite de Natal, quando viu projetado o presépio podendo, assim, assistir ao santo ofício que se desenvolvia na igreja de Santa Maria dos Anjos. Por essas visões, que pareciam filmes projetados numa tela, Santa Clara é considerada Padroeira da Televisão e de todos os seus profissionais – e obviamente dos telespectadores que a queiram assumir.
Após a morte de Francisco, Clara viveu mais 27 anos, dando continuidade à obra que aprendera e iniciara com ele. Outro feito seu ocorreu em 1240, quando, trazendo nas mãos o Santíssimo Sacramento, defendeu a Cidade do ataque do exército dos turcos muçulmanos.
No dia 11 de agosto de 1253, algumas horas antes de morrer, recebeu das mãos dum enviado do Papa Inocêncio IV a aguardada bula de aprovação canónica, deixando, assim, asseguradas as suas “irmãs clarissas”. Dois anos depois da sua morte, o Papa Alexandre IV proclamou-a como Santa Clara de Assis. (vd site Paulinas e https://pt.wikipedia.org/wiki/Clara_de_Assis).
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Clara deu novo sopro de vida, não apenas às religiosas do seu tempo, mas à Igreja. A sua resposta ao ideal franciscano foi total.
Ao falarmos da santa do dia 11 de agosto, relembramos a história de Santa Clara. O seu nome foi-lhe dado devido a uma inspiração dada a sua fervorosa mãe, que acabou por lhe revelar que a filha haveria de iluminar todo o mundo por meio de sua santidade: “Clara de nome, mais clara de vida e claríssima de virtudes!”.
A santa italiana pertencia, como se disse, a uma nobre família, destacando-se desde nova pela caridade e pelo respeito para com os pequenos. Por isso, quando Clara se deparou com a pobreza evangélica vivida por Francisco, apaixonou-se pelo estilo de vida franciscano. E, aos 18 anos de idade, quase a fazer os 19, decidiu seguir Jesus mais radicalmente. Por esta razão, Santa Clara foi ao encontro de Francisco de Assis na Porciúncula. Lá renunciou aos seus lindos cabelos, que então lhe foram cortados, o que representava a sua entrega total ao Cristo pobre, obediente e casto.
A partir do momento em que se dirigiu para a igreja de São Damião, começou a Ordem contemplativa e feminina, das Clarissas, da Família Franciscana. Clara tornou-se mãe e modelo da Ordem, principalmente no longo tempo de enfermidade, quando permaneceu em paz e se manteve totalmente resignada à vontade divina.
Nada podia contra a fé de Clara na Eucaristia. Com o Santíssimo Sacramento no ostensório, Clara pôde, como se disse, ainda se levantar para expulsar os turcos muçulmanos, então conhecidos como homens violentos, que desejam invadir o Convento em Assis.
A sua escolha para padroeira da televisão acentua que a missão da Igreja é evangelizar. Mas como fazer a Palavra chegar mais rápido ao povo? E é Santa Clara de Assis, a padroeira da televisão, que inspira a resposta: através dos meios de comunicação. Usar, portanto, os meios de comunicação para revelar ao mundo a face misericordiosa do Pai, converter os meios de comunicação em meios geradores de verdade, justiça e paz, é tarefa para todos, nomeadamente para os missionários deste terceiro milénio, como tem sido sublinhado pelos Sumos Pontífices das últimas décadas. É um tempo de grandes desafios, em que a premência dos sinais dos tempos cuja leitura é urgente contrasta com um mundo de divisões, exploração, opressão, repressão, império do capitalismo sem rosto – empresarial ou de Estado –, deslocação forçada das terras de origem, deixando para trás bens e haveres pessoais e familiares, guerra mundial aos pedaços e assim por diante. Cada vez mais a Igreja se assume como Igreja em saída qual hospital de campanha num mundo que ameaça desfazer-se. Porém, Deus terá a última palavra!
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Não será despicienda a reflexão com base num excerto da Carta de Santa Clara, virgem, à Beata Inês de Praga – (Escritos de S. Clara, ed. 1 Omaecheverría, Madrid 1970, pp. 339-341) (Sec. XIII), que recomenda a imitação da pobreza, da humildade e da caridade de Cristo, e surge como proposta de 2.ª leitura para o ofício de leitura do próprio de Santa Clara de Assis (11 de agosto):
Feliz de quem pode gozar as delícias do sagrado banquete e unir se intimamente ao coração de Cristo, cuja beleza os Anjos admiram sem cessar, cujo afeto atrai os corações, cuja contemplação nos reconforta, cuja benignidade nos sacia, cuja suavidade enche a alma, cuja lembrança nos inunda de luz suave, cuja fragrância ressuscita os mortos, cuja visão gloriosa constitui a felicidade de todos os habitantes da Jerusalém celeste. Ele é o esplendor da luz eterna, o espelho puríssimo da ação divina. Olha continuamente para este espelho, rainha e esposa de Cristo; contempla nele o teu rosto e procura adornar-te interior e exteriormente com as mais variadas flores das virtudes e com as vestes formosas que convêm à filha e à esposa castíssima do Rei dos reis. Neste espelho se reflete esplendidamente a ditosa pobreza, a santa humildade e a inefável caridade, como podes observar, com a graça de Deus, em todas as suas partes. Ao começo do espelho, repara na pobreza d’Aquele que foi colocado no presépio e envolvido em panos. Oh admirável humildade, oh espantosa pobreza! O Rei dos Anjos, o Senhor do céu e da terra deitado num presépio! No centro do espelho, observa como a humildade ou a santa pobreza, suporta tantos trabalhos e tormentos para remir o género humano. E, no fim do espelho, contempla a caridade inefável que O levou à cruz e à morte mais infamante. 
Por isso, o próprio espelho, suspenso na cruz, exortava os transeuntes a considerar estas coisas, dizendo: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor semelhante à minha dor. 
Respondamos nós aos seus clamores e gemidos, com uma só alma e um só coração: A minha alma sempre o recorda e desfalece de tristeza dentro de mim. Abrasa-te cada vez mais neste amor, ó rainha do Rei celeste. Contempla ao mesmo tempo as delícias inefáveis do Rei dos Céus e as suas riquezas e honras perpétuas e, suspirando de amor ardente, proclama no íntimo do teu coração: Leva-me contigo; correrei seguindo o aroma dos teus perfumes, ó Esposo celeste. Correrei sem desfalecer, até que me introduzas na sala do festim, até que na tua mão esquerda descanse a minha cabeça e a tua direita me abrace com terno amor
No meio destas piedosas contemplações, lembra te desta pobrezinha, tua mãe, sabendo que te levo inseparavelmente gravada no meu coração como filha predileta.”. (vd Liturgia das Horas – 11 de agosto).
Uma carta que se centra no mistério da Eucaristia como banquete para alimento das almas e da comunidade – Cristo exposto à adoração como na manjedoura de Belém – e antecipação da gloria celeste, mas a lançar do alto da Cruz o apelo a uma resposta de adesão pessoal em contexto comunitário.  
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Porém, como os demais dias, o 11 de agosto não se esgota na memória de Santa Clara. Outros santos e beatos são apresentados para comemoração em conformidade com as comunidades com eles mais relacionadas, como consta do Martirológio.
Assim, em Comana, no Ponto, hoje Gumenek (Turquia), Santo Alexandre (falecido no século III), bispo chamado o Carvoeiro, que, passando da eminente erudição na filosofia à ciência da humildade cristã, foi elevado por São Gregório, o Taumaturgo, à sé episcopal desta Igreja, que ilustrou com a pregação e com o martírio consumado nas chamas da fogueira.
Em Roma, no cemitério “Ad Duas Lauros”, junto à Via Labicana, São Tibúrcio, mártir (falecido no séculos III-IV), cujos louvores foram celebrados pelo Papa São Dâmaso; e também em Roma, a comemoração de Santa Susana (falecida em data desconhecida), a cujo nome, celebrado entre os mártires nos antigos memoriais, foi dedicada a Deus no século VI uma basílica no título de Gaio junto das Termas de Diocleciano. Em Assis, na Úmbria, hoje Toscana (região da Itália), São Rufino (falecido cerca do século IV), considerado o primeiro bispo desta cidade e mártir. E, em Benevento, na Campânia (região da Itália), São Cassiano (falecido no século IV), bispo.
Em Évreux, na Gália (hoje França), São Taurino (falecido cerca do século IV), venerado como o primeiro bispo desta cidade.
Na Irlanda, Santa Atracta (falecida no século V), abadessa, que, segundo a tradição, recebeu das mãos de São Patrício o véu das virgens.
Na província de Valéria, hoje Úmbria (região da Itália), Santo Equício (falecido no ano 571), abade, que, segundo o Papa São Gregório Magno, pela sua santidade, foi pai de muitos mosteiros e abria a fonte da Sagrada Escritura onde quer que chegasse.  
Em Cambrai (Austrásia), atualmente na França, São Gaugerico (falecido cerca do ano 625), bispo, insigne pela piedade e caridade para com os pobres, ordenado diácono por Magnerico de Tréveris e eleito depois para a sé episcopal de Cambrai, exercendo o ministério 39 anos.
Em Arles, na Provença (atual França), Santa Rustícola (falecida no ano 632), abadessa, que dirigiu santamente as monjas durante quase 60 anos.
Em Gloucester (Inglaterra), beatos mártires João Sandys e Estêvão Rowsham, presbíteros, e Guilherme Lampley, alfaiate (falecidos nos anos 1586, 1587, 1588 – respetivamente), que, no reinado de Isabel I, em dias diversos e não conhecidos, sofreram o mesmo suplício por Cristo.
Num barco-prisão ancorado ao largo de Rochefort (França), Beato João (Tiago Jorge Rhem), presbítero da Ordem dos Pregadores e mártir (falecido em 1794), que, encarcerado durante a perseguição contra a fé, exortava à esperança os companheiros de cativeiro duramente atribulados, até que ele próprio, atingido por doença incurável, morreu por Cristo.
Em Milão (Itália), Beato Luís Birághi (falecido em 1789), presbítero da diocese de Milão, fundador da Congregação das Irmãs de Santa Marcelina.
Em Agullent, povoação do território de Valência (Espanha), Beato Rafael Afonso Gutiérrez (falecido em 1936), mártir, pai de família, que, na violenta perseguição contra a fé, derramou o seu sangue por Cristo; com ele comemora-se o beato mártir Carlos Díaz Gandia (Espanha), que, na mesma localidade e dia, venceu o combate da fé e alcançou a vida eterna. Em Prat de Compte, perto de Tarragona (Espanha), Beato Miguel Domingos Cendra (falecido em 1936), religioso salesiano e mártir, que, na mesma perseguição, mereceu receber a sublime palma do martírio.
Nos confins do Tibete, Beato Maurício Tornay (falecido em 1949), presbítero e mártir, cónego regular da Congregação dos Santos Nicolau e Bernardo de Mont-Joux, que anunciou ardorosamente o Evangelho na China e no Tibete e foi assassinado pelos inimigos em ódio ao nome de Cristo.
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Enfim, dá para louvar a Deus em seus anjos e santos e rogar: “Todos os santos e santas de Deus, intercedei por nós”.
2018.08.11 – Louro de Carvalho

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