Na manhã
do dia 14, a parte central da ponte Morandi (um troço de 100
metros), que tem um
viaduto
com
1,182 quilómetros sobre uma zona urbana, com um bom número de centros
comerciais, edifícios residenciais e áreas industriais, na autoestrada 10 (A10) em Génova, no noroeste da
Itália, desabou e dezenas de automóveis e alguns camiões acabaram por cair. A manhã era de tempestade e visibilidade reduzida na
região, que estava sob aviso laranja, mas as autoridades ainda não determinaram
as causas para a derrocada.
Um jovem
casal que atravessou a ponte antes da tragédia de pouco antes do meio-dia (hora de
Itália) contou:
“Cruzámos a ponte por volta das 11,15 horas da manhã, havia muito
tráfego, carros e especialmente camiões alinhados, estava a chover, mas não
notámos nada de estranho”.
Um camionista,
que se julga salvo por milagre, contou que viu desaparecer um camião como que numa
espécie de nuvem e parou a tempo.
Segundo a
RAI, que citava as equipas de resgate no local, existiam “vítimas mortais”.
Havia dezenas de mortos “entre aqueles que caíram e os que foram apanhados na
queda dos escombros”. Os bombeiros, servindo-se de cães nas buscas, descreviam
um cenário macabro: encontraram carros esmagados com pessoas sem vida no
interior. Tinham sido retiradas com vida 7 pessoas de entre os
escombros e transferidas de helicóptero para os hospitais da cidade.
“Há quatro códigos vermelhos:
múltiplas lesões traumáticas, na cabeça e coluna vertebral, e ainda três
vítimas com fraturas” – disse à
RAI Carlo Bottaro, diretor da Proteção Civil de Génova. E há várias pessoas traumatizadas, como “mulheres e
crianças que testemunharam o colapso da ponte”, acrescentou. Por isso, foi a
caminho uma unidade psicológica e psiquiátrica. E, como medida
de precaução, alguns edifícios próximos da ponte foram evacuados. Contam-se 432
pessoas deslocadas. Na verdade, com adiantou a RAI, sob o viaduto da ponte
existem centros comerciais e armazéns industriais, bem como alguns edifícios
residenciais.
Os
bombeiros encontraram vários carros esmagados com pessoas sem vida no interior,
às quais deram o devido encaminhamento e continuaram à procura de desaparecidos
por baixo dos destroços e nas águas do Rio Polcevera. De
facto, são as margens deste rio locais onde
a assenta ponte, que foi construída entre 1963 e 1967 (o grosso da
obra foi em 1969), atingindo
uma altura de 45 metros, para ligar as duas partes da cidade de Génova.
O balanço oficial de mortos está em 39, a que se juntam
dezenas de feridos – alguns em estado grave – e desaparecidos, o que leva o
Governo a admitir a possibilidade de aumento do número de vítimas mortais. Uma
das vítimas mortais é uma criança, que seguia num dos carros que caiu quando a
ponte colapsou. Há, pelo menos, mais duas crianças vitimadas mortalmente.
Giovanni
Toti, presidente da região italiana da Ligúria, cuja capital é Génova, chegou a
apontar, no próprio dia do acidente, um número de vítimas mortais superior – na
altura, 25 – e alertou que esse “número irá aumentará consideravelmente”. Os
bombeiros avançaram um novo balanço de vítimas mortais, 35, que agora está
provisoriamente em 39.
Por sua
vez, a
Proteção Civil italiana revelava, em conferência de imprensa, que tinham caído
da ponte 35 carros e três camiões (números
provisórios).
***
As
reações não tardaram. Assim, o presidente
da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, enviou condolências ao povo
italiano, declarando num comunicado citado pela agência Efe:
“Estou profundamente entristecido pelo colapso de hoje de uma ponte em
Génova que tirou muitas vidas. Em nome da Comissão Europeia, exprimo as minhas
mais sinceras condolências às famílias e amigos das vítimas mortais e ao povo
italiano.”.
O
Presidente da República de Portugal telefonou ao homólogo italiano, Sergio
Mattarella, e deixou as condolências pela morte das pessoas. A este respeito,
lê-se na nota enviada por Marcelo Rebelo de Sousa e que foi divulgada na página
da Presidência da República:
“Neste momento difícil, quero enviar sentidas condolências aos
familiares das vítimas e também expressar a Vossa Excelência, em meu nome e no
do povo português, toda a solidariedade para com o povo italiano e, em
particular, para com todos os que foram afetados, a quem envio os votos de
rápida recuperação”.
Fonte
da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas assegurou que não
havia portugueses entre as vítimas da queda de parte da ponte em Génova.
Na sequência do desastre no viaduto de Génova, a CNR
explicou, em comunicado, que as pontes foram construídas com as melhores
técnicas conhecidas na época, mas que a sua vida útil é de 50 anos. E em muitos
casos, acrescentou a empresa, o custo de atualizar e reforçar as pontes é
superior ao que custaria destruí-las e construí-las de novo.
O Ministro
das Infraestruturas, Danilo Toninelli, falou à RAI a garantir que os
responsáveis serão chamados a “pagar até
às últimas consequências”. E declarou ao telejornal da hora de almoço em
Itália, ainda no dia 14, que “as primeiras informações apontavam para que a
manutenção tinha sido feita, mas isso não pode ser verdade”. Com efeito, “estas
tragédias não podem acontecer num país civilizado como Itália”, pois a
manutenção vem antes de qualquer coisa e os responsáveis devem pagar até às
últimas consequências”.
Entretanto,
Toninelli revelou que a manutenção da ponte é responsabilidade da
concessionária Autostrade per l’Italia. E revelou que, nos 60 dias de governo, deram ordem para que se fizesse a manutenção e
monitorização de todos os viadutos. E quase todos os que foram construídos
entre as décadas de 1950 e 1970 precisam de manutenção regular.
Lamentando a
falta de manutenção nestas estruturas prometeu que “este governo investirá
nessa área, para evitar que aconteçam mais tragédias deste tipo”.
Além disso, Toninelli usou a sua conta na rede social
Facebook para, numa mensagem acutilante, dizer que “os diretores da Autostrade per l’Italia devem demitir-se
antes de tudo” e adiantou que o Governo “ativou
todos os procedimentos para a possível revogação das concessões e a imposição
de multa até 150 milhões de euros”, pois, como disse, “se não são capazes de administrar as nossas autoestradas, o Estado o
fará”. E reiterou que, “num país civilizado não se pode morrer por uma
ponte que desaba” e reiterou que os culpados “desta tragédia injustificável
devem ser punidos”.
Stefano
Marigliani, diretor em Génova da concessionária responsável pela manutenção da ponte,
assegurou à imprensa que, na altura do acidente, a base da ponte Morandi estava
a ser alvo de “obras de reforço”. E disse que “o colapso foi inesperado e
imprevisível”, sendo que “a ponte era constantemente monitorizada, até mais
vezes do que o previsto na lei”. No entanto, a Proteção Civil, através do seu
líder, Angelo Borrelli, disse não ter qualquer informação sobre essa
intervenção.
Por
seu turno, o Primeiro-Ministro, Giuseppe Conte, que, ao final da tarde do dia
14, viajou para a cidade portuária e visitou o local, classificou a derrocada
da Ponte como “uma imensa tragédia”. E disse, citado pela televisão pública RAI:
“É chocante ver o metal retorcido e a ponte desmoronada, com as vítimas
a serem de lá retiradas”.
No dia 15, o Ministro do Interior, Matteo
Salvini, que se deslocara durante à tarde ao local do acidente em Génova, dizia
em declarações aos jornalistas à margem duma viagem que realizava à Calábria,
no sul de Itália:
“Estamos com 38 mortos confirmados e vários
desaparecidos”.
***
Como foi
dito, as autoridades ainda não sabem dizer as razões do colapso da Ponte. Mas o
Governo, bem como a Proteção Civil, não acredita que a manutenção tenha sido
feita naquela estrutura,
que foi considerada à época uma obra-prima da engenharia.
Por outro lado, já há quem recorde as críticas feitas à estrutura, há dois anos, pelo
engenheiro e professor universitário Antonio Brencich, que alertava para
problemas estruturais. Segundo este especialista, o viaduto Morandi apresentou
desde o início diversos aspetos problemáticos, além de ter ficado acima dos
custos inicialmente estimado”. Era, pois esta a avaliação feita por aquele professor
associado de construção em cimento armado da Universidade de Génova e agora recordada
a propósito da queda da ponte, sob a autoestrada 10. E Brencich apontou ainda:
“Ainda no início dos anos 1980 quem percorria a ponte era obrigado a um
percurso irritante de altos e baixos provocados supostamente pelas mudanças na
estrutura, que não estavam previstas inicialmente. Só as repetidas correções de
elevação permitiram ter o atual aspeto [em julho de 2016] semi-horizontal.”.
Numa outra
entrevista à Universidade de Génova, o mesmo especialista, defendia que a ponte
Morandi (que recebeu
o nome do seu arquiteto Riccardo Morandi), era “um
erro da engenharia e deve ser reconstruída em breve porque os custos de
manutenção serão exorbitantes e superarão os da construção”. E explicara à página de notícias da
comunidade de engenheiros civis Ingegneri:
“Pouco após a sua construção, o viaduto Morandi já apresentava
problemas. Não foram tidos em consideração, por exemplo, os efeitos da
deterioração do betão, que acabaram por resultar num plano de estrada
não-horizontal.”.
Como
se disse, a ponte Morandi atravessa o rio Polcevera, em Génova, e liga os dois
lados da cidade. Foi construída em 1969 e o seu nome é uma homenagem ao seu
arquiteto, Riccardo Morandi, celebrado em Itália como um dos mais visionários
arquitetos do século XX e que ficou famoso precisamente pelas suas pontes de
betão.
***
O
colapso de pontes e de outras grandes estruturas tem de ser evitado. Ora, como
estão em causa vidas humanas, mal se notem problemas que denotem insuficiente
sustentabilidade das estruturas, devem as mesmas estruturas ser vedadas ao
público e, no caso, ao tráfego e, de imediato, obter soluções alternativas,
ainda que menos cómodas.
Caiu
a ponte de Entre-os-Rios, quando havia, anos antes, relatório que revelava “desenrocamento”
de pilares, mas ela continuou aberta ao tráfego. Nada resolveu a demissão de
Jorge Coelho, tão aplaudida. Caiu a estrutura dos passadiços de Vigo por falta
de manutenção e ameaça de ruína e a administração portuária não quis assumir
responsabilidades. Lembro-me de que a ponte ferroviária Dona Maria sobre o
Douro ultrapassou largamente o prazo de validade, mas o comboio continuou a
passar, embora a + 10 Km/hora. Que solução segura! Porque não partiam os
comboios de e até Gaia e a travessia do rio não se fazia de barco ou rodovia?
Se fossem pontes municipais, os edis seriam crucificados…
Em
Itália responsabiliza-se a concessionária, que foge com o rabo à seringa. Mas
os fiscais dos departamentos do Estado e das Regiões não podem ficar ilibados. São
vidas e haveres perdidos.
Cada
grupo político, técnico ou fiscal (da área)
tem de assumir a sua quota-parte de culpa.
2018.08.16 – Louro de Carvalho
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