quinta-feira, 30 de agosto de 2018

“Reservas” sobre abertura tranquila do ano letivo


Às 15,49 horas do dia 30 de agosto, o site do DN assinalava que “pais e diretores têm «reservas» sobre abertura tranquila do ano letivo”.
Neste sentido, a Confap (Confederação Nacional das Associações de Pais) sublinhava as “perturbações graves” nos preparativos do próximo ano letivo, lembrando que houve problemas mesmo em anos mais tranquilos. Por seu turno, os diretores pediam a divulgação urgente das colocações de professores. E, enquanto era dito tudo isto, o Ministro da Educação garantia à TSF que há condições para tudo começar a tempo.
A Confap dizia-se “contente” com o otimismo do Ministro, que garantia estarem reunidas as condições para o próximo ano letivo começar “com normalidade e tranquilidade”. Não obstante, esta estrutura associativa representativa dos encarregados de educação não escondia as suas “reservas” relativamente à convicção de Tiago Brandão Rodrigues, frisando que os meses de verão ficaram marcados por “perturbações” nos preparativos do regresso às aulas, em particular devido à greve às reuniões de avaliação, que atrasou, mas não anulou, o lançamento de classificações finais e o processo de constituição de turmas.
Jorge Ascensão, presidente da Confap, declarava a este respeito:
Não sei se as condições estão reunidas. Sei que percebemos, por parte das escolas e das pessoas que têm essas responsabilidades, algumas das quais não gozaram ainda férias, que o processo de preparação do próximo ano letivo começou tardiamente.”.
Por outro lado, dizia esperar que “tenha corrido bem, que esteja tudo organizado, que os professores estejam todos colocados a tempo, que as autarquias tenham resolvido problemas de pessoal, que estejam asseguradas as atividades de enriquecimento curricular”. No entanto, admitia ter havido “um esforço, nomeadamente na constituição de turmas”, para ultrapassar os atrasos causados pelas greves. E dá o benefício da dúvida a Tiago Brandão Rodrigues:
Ficamos contentes [com] que o Ministro esteja tão confiante. Tem mais informação do que nós e, seguramente, tem dados que o levam a ter essa confiança.”.
Todavia, deixa uma ressalva: “Obviamente que todos os factos nos levam a ter alguma reserva”.
Este dirigente associativo parece dar uma no cravo, outra na ferradura e parece querer tudo: que não haja greves, que haja classificações e turmas a tempo e horas, que os professores sejam colocados e que tenham as suas reivindicações de colocação resolvidas.
Ora, não se pode querer tudo. Como é do conhecimento público, a Assembleia da República (AR) legislou, contra a vontade do Governo, no sentido de uma emenda ao processo de concurso dos professores e educadores de infância e o Presidente da República, na sequência da mensagem tácita que deixou quando recebeu os professores reivindicantes, promulgou o decreto parlamentar. O Governo, apesar da sua discordância, plasmada no requerimento ao Tribunal Constitucional a solicitar a apreciação sucessiva da constitucionalidade do diploma parlamentar, assumiu o preceito sobre os concursos. E, somente após a publicação da legislação adequada é que a Diretora-Geral de Administração Escolar exarou o aviso de abertura dos concursos, sendo que, em cada um dos procedimentos concursais, se têm em conta aspetos relevantes: prazo de oposição a concurso, organização das listas provisórias, tempo de reclamação/desistência, resposta à reclamação/desistência, listas definitivas, colocação/não colocação. A seguir à colocação dos professores de nomeação definitiva, vem a oposição a concurso para as necessidades não permanentes (mobilidade interna e contratação inicial), cujo processo é análogo. Entretanto, há os caos de pedido de aproximação à residência por motivos especiais, tal como houve concursos específicos para professores do ensino artístico. Ora este ano, tudo se atrasou por efeito da publicação necessariamente tardia da legislação. E, após a referida tomada de posição de pais e diretores, foram publicadas as listas de colocação e de não colocação de mobilidade interna e contratação inicial – muito a tempo de as aulas começarem (entre 12 e 17 de setembro).  Porém, o presidente da Confap, escudado na experiência de anos anteriores, reforça:
Mesmo quando não existem condicionalismos, como existiram no final deste último ano letivo, muito graves e perturbadores, normalmente os inícios de anos letivos têm sempre algumas questões. Este ano é preciso haver um esforço redobrado para que, pelo menos, as coisas não corram pior do que normalmente já acontece.”.
E reitera que existe a convicção de que “houve esse esforço”, nomeadamente por parte do Ministério da Educação e das escolas. Até frisou que algumas pessoas nem gozaram férias, devendo saber que, embora os professores sejam aquele grupo de profissionais que dispõe de um tempo muito curto para gozo de férias, só em casos verdadeiramente excecionais é que não se podem gozar as férias, a não ser por má gestão de recursos ou por falta de delegação de competências.  
Ora, se o líder da Confap pensa que houve o esforço que enfatiza, porque não acredita no futuro?
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Já os diretores esperavam sobretudo que fossem rapidamente divulgadas as listas de colocação dos professores. E o secretário-geral da Fenprof, minutos antes da divulgação das listas, criticara o facto de “a um dia útil” do termo do prazo, não terem sido feitas estas colocações.
A este respeito, Filinto Lima, presidente da ANDAEP (Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas) estarem globalmente ultrapassadas as dificuldades relativas à constituição de turmas e lançamento de horários para o próximo ano, muito por mérito das escolas. E explicitou: 
De facto, as escolas tiveram um mês de agosto muito trabalhoso – foi dos mais trabalhosos dos últimos anos –, no sentido de colaborar para o arranque positivo do ano letivo..
No entanto, acrescentou que, para a tranquilidade prometida pelo Ministro poder ser uma realidade, é “urgente” que sejam conhecidos os resultados do concurso nacional, pois, “faltam chegar às escolas milhares de professores” e, por conseguinte, “neste momento, milhares de professores não conhecem as suas colocações”.
Refere que, no ano passado, ano que assume ter sido “excecional” e “muito positivo”, as listas dos concursos nacionais foram divulgadas a 25 de agosto (parece esquecer o nacional descontentamento dos que ficaram muito longe da sua residência). Mas, neste ano, ainda não são conhecidas. O prazo é o final do mês, ou seja: esta sexta-feira. Porém, segundo Filinto Lima, idealmente as colocações já deveriam ser conhecidas, até porque existe um prazo de dois dias úteis para a sua aceitação pelos docentes. E diz acreditar que, se a divulgação for feita até esta sexta-feira, que a maioria dos professores estará nas escolas a 3 de setembro. Confessa querer ser otimista, mas que o seu otimismo está condicionado à colocação dos professores, e lembra que muitos destes docentes “serão colocados a centenas de quilómetros das suas áreas de residência”.
Não obstante, não esquece o que se passou no ano passado, por si dito excecional e muito positivo. Com efeito, sublinha que, em circunstâncias normais, o concurso deste ano teria servido apenas para assegurar contratações a termo, destinadas a cobrir horários para os quais as escolas não tinham resposta com os docentes dos quadros ou alvo de colocações plurianuais, o que implicaria “números residuais” de novas colocações. Todavia, devido à polémica relativa aos destacamentos de professores dos quadros nos concursos do ano passado, a AR ordenou a repetição do concurso nacional, que habitualmente decorre apenas de quatro em quatro anos. Assim, explica, Filinto Lima, o número de lugares em aberto é, neste momento, muito significativo, dando o exemplo do seu Agrupamento: 
No caso concreto do meu Agrupamento, pedi cerca de 40 professores novos. O grosso deverão ser QZP [quadros de zona pedagógica]. Já os tinha cá mas deixei de ter, porque os QZP têm todos de ir a concurso.”.
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Entretanto, o mesmo DN, às 18,56 horas do dia 30 de agosto, um dia antes do termo do prazo dado, anunciava os “20 mil professores colocados nos concursos”, sublinhando que as “listas foram publicadas há momentos no portal da Direção-Geral da Administração Escolar” e que “apenas seis mil colocações são de professores contratados, metade dos quais em horário incompleto”. Isto a somar a alguns (os que não concorreram à mobilidade interna) dos 3.500 que vincularam no concurso externo extraordinário.
Segundo o DN, concretiza-se a aspiração dos diretores de verem as listas divulgadas antes do fim do mês, de modo que os docentes podem apresentar-se nas escolas a partir do dia 3.
O aludido diário diz que, este ano, se realizaram sete concursos distintos: concurso interno antecipado, concurso externo ordinário, concurso externo extraordinário, concurso interno e concurso externo do ensino artístico, mobilidade interna e contratação inicial. Segundo o ME (Ministério da Educação), “foram vinculados cerca de 3500 professores, que se vão somar aos também cerca de 3500 docentes que vincularam no ano passado, o que representa um número de vinculações sem precedentes”. Por outro lado, “na mobilidade interna, foram distribuídos cerca de 14 000 horários a docentes do quadro [quadros de escola ou agrupamento e de zona pedagógica], dos quais cerca de 11 000 em horários completos e cerca de 3 000 em horários incompletos”. E, “na contratação inicial [contratos anuais], ficaram colocados perto de 6000 docentes contratados, dos quais cerca de 3000 em horários completos”.
Além disso, conclui-se que a repetição de concurso para os docentes dos quadros acabou por favorecer os contratados, pois sobraram mais horários completos. Na verdade, o número de contratos anuais com horário completo, como vem a suceder nos últimos anos na chamada contratação inicial, não é muito significativo. No entanto, o ME dá a entender que poderia ter sido bastante mais baixo. Os docentes sem vínculo permanente com o ME acabaram por beneficiar da decisão da AR, que ordenou a repetição dos concursos da mobilidade interna do ano passado, por não ter sido então permitido aos docentes do quadro concorrerem a horários incompletos. Com efeito, o ME confirma que, em cumprimento da Lei n.º 17/2018, de 19 de abril, “foram distribuídos horários completos e horários incompletos na mobilidade interna aos professores do quadro” que “esta circunstância explica a necessidade de contratar cerca de 3000 docentes externos para ocupar horários completos, apesar de terem vinculado aos quadros 7000 professores nos últimos dois anos”.
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Ora, a haver perturbações no arranque do ano letivo, estas ou serão residuais ou se deverão ao braço de ferro entre os professores, que não desistem da contagem integral do tempo de serviço e de outras condições, e o Governo que reinterpreta a cláusula orçamental de “o tempo de serviço”.
Depois, enquanto se mantiver o regime concursal baseado na equidade, haverá sempre pequenas falhas de não impossível colmatação.  
2018.08.30 – Louro de Carvalho

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