No dia em que completaria 70 anos,
Dom António Francisco dos Santos foi homenageado em Tendais, sua terra natal,
no concelho de Cinfães, da diocese de Lamego. É a homenagem póstuma que foi anunciada como “um ato
de gratidão pela vida e missão do pastor”.
Com efeito, a “vida
e missão” deste insigne prelado, falecido a 11 de setembro de 2017, fica
simbolicamente perpetuada num monumento que foi benzido e inaugurado no dia 29
de agosto na sua terra-berço. Ali acorreram as Igrejas diocesanas em que o
antigo Bispo do Porto serviu os interesses de Deus e os direitos das pessoas:
desde Lamego, diocese em que nasceu e a cujo presbitério pertenceu e serviu de
forma eminente, passando por Braga, em que, sob a égide do metropolita Dom
Jorge Ortiga, exerceu ação pastoral como Bispo Auxiliar e com o título de Bispo
de Meinedo, por Aveiro, cujo pastor foi durante quase sete anos, até ao Porto,
que pastoreou durante pouco mais de três anos. Marcaram presença, oriundos destas
dioceses e da vizinha diocese de Viseu, muitos sacerdotes e fieis, com os
respetivos Bispos (Ubi
episcopus ibi Ecclesia) – Dom Jorge
Ortiga, Arcebispo de Braga, Dom Francisco Senra-Coelho, Auxiliar de Braga, mas
já eleito Arcebispo de Évora, Dom Nuno Almeida, Auxiliar de Braga, Dom António
Luciano, Bispo de Viseu, Dom António Moiteiro, Bispo de Aveiro, Dom Manuel Linda,
Bispo do Porto, Dom António Taipa, Dom Pio Alves e Dom António Augusto Azevedo,
Auxiliares do Porto, Dom Jacinto Botelho, Bispo emérito de Lamego, e Dom
António José Rocha Couto, Bispo de Lamego, que presidiu à Celebração Eucarística,
da Memória Litúrgica do Martírio de São João Batista, e benzeu o monumento,
antes do seu descerramento pelo Presidente da Câmara Municipal de Cinfães, Armando
Mourisco.
Juntaram-se à celebração amigos, familiares, vários
autarcas, autoridades civis e desportivas, como o Presidente do Futebol Clube
do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa.
Do monumento disse o Bispo de Lamego que “é um testemunho importante para as gerações
que vierem e vão ter oportunidade de conhecer um homem de corpo inteiro, de
alma inteira”.
Em declarações aos jornalistas, Dom António Couto
disse pensar que o monumento “não seria muito do agrado do Senhor Dom António
Francisco”, que não era homem destas coisas, mas “mais como os passarinhos,
poisava aí em qualquer lado”. Contudo, realça que as pessoas ao terem acesso à
figura e às quatro frases, uma de cada diocese onde trabalhou – Lamego, Braga,
Aveiro e Porto – vão ter de perguntar “quem é este bispo, quem é este homem e vão
chegar mais ao coração de Dom António Francisco dos Santos”.
Como refere a agência Ecclesia hoje, 30 de agosto, o monumento é um complexo constituído
por uma estátua em bronze, com dois metros e 20 centímetros de altura, no topo
de quatro patamares que evocam as referidas dioceses – em que se revê e sente
honrada “a Paróquia de Santa Cristina de Tendais, a terra natal do bispo que
faleceu a 11 de setembro de 2017, aos 69 anos, na Casa Episcopal da Diocese do
Porto, devido a uma complicação cardíaca”.
São dois metros e vinte centímetros
em bronze que “não chegam” para retratar a “grandeza do coração” de Dom António
Francisco dos Santos. A conclusão é do escultor Hélder de Carvalho que assina a
estátua de homenagem. Nela quis esculpir a “figura e a alma” do Bispo do Porto.
E o artista explicou:
“Há
um leve sorriso a tentar fazer passar a sua bondade, ponderação e serenidade. O
que se pretendeu é que as pessoas se aproximassem o mais possível de forma a
poderem interagir podendo ver ao pormenor ou à distância.”.
Financiam a predita estátua, da autoria do escultor Hélder de Carvalho a
Irmandade dos Clérigos do Porto, a Associação Comercial do Porto (Palácio da
Bolsa) e a Santa Casa da Misericórdia do
Porto. A base – da autoria do arquiteto Carlos Martins, constituída por quatro
patamares e quatro painéis evocativos da ação desenvolvida por Dom António
Francisco dos Santos nas dioceses de Lamego, Braga, Aveiro e Porto – é financiada
pela Câmara Municipal de Cinfães e pela Junta de Freguesia de Tendais.
***
O escultor Hélder de Carvalho lembrou que esteve com o
bispo português apenas duas vezes e aproveitou a circunstância para ler sobre a
sua vida e “o papel que foi desempenhando ao longo de uma vida” que gostaríamos
“que tivesse sido mais longa”. E referiu:
“Discutiu-se muito a questão do sorriso,
sendo muitas vezes rasgado, achei por bem deixar um sorriso leve. Independentemente
do sorriso, era uma pessoa ponderada, em que naturalmente para lá do sorriso
transparecia aquela serenidade e aquela calma.”.
E acrescentou que “os traços e a fisionomia” deste
prelado não lhe “eram estranhos”.
O escultor também adiantou que se tiveram em atenção
aspetos ligados ao posicionamento da escultura, a localização onde ia ficar e o
espaço disponível. Assim, Dom António Francisco dos Santos está representado
“numa situação de quem benze quem o contemplar”, com o sorriso leve onde existe
“o pormenor da mão direita numa cruz”. Por outro lado, disse que se chegou “à
conclusão de que podia ser aquela cruz com que esteve no último dia que veio a
Tendais”, sendo este um pormenor que “ajudou a representar”, espera que
condignamente, “a figura do nosso Dom António”.
Por seu turno o Reverendo Padre Adriano Alberto Pereira,
Pároco de Tendais, acrescenta que, no aspeto pastoral, o bispo “desenvolvia
toda uma ação em que procurava que as pessoas se envolvessem e se sentissem
acolhidas”.
Para o dinâmico sacerdote, o monumento na terra natal
de Dom António Francisco dos Santos evoca “a sua vida e a sua missão”, fazendo
com que se continue sensibilizado e desperto para “o testemunho que ele
deixou”. E explicitou:
“Com a frase dita em cada uma das dioceses
vamos ao encontro deste pensamento e riqueza de vida. O próprio monumento em
subida, patamares, com uma mão na cruz e outra a levantar-nos para mais alto:
‘Vamos lá, vamos em frente, continuamos a caminhar juntos’.”.
O Bispo de Lamego enfatiza que “o testemunho dele é
que soube dizer Deus e passar Deus de uma forma direta, rápida, incisiva ao
encontro das pessoas, sobretudo dos mais pobres e dos desvalidos”.
Por sua vez, o Arcebispo de Braga revelou que, ao
pensar em Dom António Francisco, “a palavra mais espontânea que surge é a do
amigo” com quem era fácil estabelecer amizade:
“Ele não só era o amigo como tinha grande
capacidade de fazer amigos, isso é que sempre me impressionou sempre.
Verificava que a sua passagem pelas paróquias, nas visitas pastorais, era um
deixar ficar alguma coisa com esta capacidade grande de criar amigos.”.
Fora o Papa São João Paulo II que o nomeou bispo
auxiliar de Braga, a 21 de dezembro de 2004, tendo a sua ordenação episcopal ocorrido
a 19 de março de 2005, na Sé lamecense.
Dom António Moiteiro, seu sucessor em Aveiro, realça
que, naquela diocese, onde passou metade do episcopado, por nomeação do agora
Papa emérito Bento XVI a 21 de setembro de 2006 (tomou posse da diocese a 8 de
dezembro), “deixou uma marca de proximidade, clarividência, amizade muito grande no
povo de Deus e, “hoje, continua a ser recordado com muito carinho”. Depois,
Dom António Francisco – diz Dom António Moiteiro – subiu na geografia do país e
foi para a diocese vizinha quando o Papa Francisco o nomeou Bispo do Porto em
21 de fevereiro de 2014, tendo tomado posse a 5 de abril desse ano e entrado solenemente
no dia 6.
Dom Manuel Linda, o seu sucessor na diocese
portucalense, também presente em Tendais, explicou que a sessão era de alguma
maneira aquilo que pregam “e às vezes não se dá conta”, ou seja, “o que fica é
o bem”. E sublinhou que “o bem fica numa
memória gravado de forma indelével”, comentando que, como legado do seu
antecessor, ficou a “obrigação de
continuar fiel a uma sensibilidade humana, a uma relação que se baseia não no
poder, na autoridade, mas na conquista dos corações”.
Dom António Couto realçou:
“Era um homem de uma inteligência ingénua,
no sentido melhor da palavra, a inteligência das crianças, intuitiva, não é
tanto uma inteligência dedutiva e analítica mas é aquela que chega lá muito
antes de mim através do raciocínio”.
Amândio Fontes, da Comissão de Honra para a edificação
do monumento e empresário na Diocese do Porto, revelou que, no início, “não se
pensava num monumento tão grande, mas as ideias foram crescendo” e conseguiram
“fazer um projeto digno de Dom António”.
Na verdade, como justificou fonte da organização, a partida precoce de Dom
António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, gerou a consternação geral na sua
Terra Natal, bem como nas dioceses onde, no exercício das suas funções,
espalhou a mensagem humanista, solidária e fraterna. Assim, um Homem desta
dimensão humana merece o reconhecimento de todos. E Dom António Couto, durante a
homilia da Eucaristia de homenagem a Dom António Francisco, explicou:
“Há
em Dom António Francisco uma proximidade nova que não se mede a metro, pela distância,
muito ou pouco entre as pessoas. […] Não é essa a verdadeira proximidade. Não é
estar encostadinho ao meu irmão ao lado, mas a responsabilidade pelo outro.”.
***
É de recordar que o Bispo de Aveiro, na homilia da Missa de
7.º dia do sue falecimento, disse que as “bem-aventuranças” foram o programa de
vida do falecido Bispo do Porto. E explicitou:
“As bem-aventuranças foram na vida de Dom
António Francisco essa pérola pela qual vale a pena deixar tudo ou o diamante
precioso que é necessário adquirir”.
Mais dissera que as Bem-Aventuranças “não são a expressão de
um ideal abstrato”, mas são como que “o rosto” onde se pode “contemplar o
próprio Jesus”, “um autorretrato do Jesus dos Evangelhos”. E acrescentou que
o falecido Bispo do Porto era um “homem próximo, amigo, pastor atento e sempre
disponível”, onde as palavras de Jesus – “há mais alegria em dar do que em
receber” – “tiveram uma extraordinária concretização”. Por isso, “a diocese (Aveiro) não pode esquecer a sua paixão pela caridade, o
ardor pela evangelização dos praticantes e dos não crentes e o seu espírito de
oração”, pois “já em Aveiro foi construtor de «uma Igreja bela, como uma casa de família»”. E sublinhou que o
prelado então sufragado “acreditava na bondade das pessoas” porque também era
um homem bom e essa bondade tinha origem na “sua fé em Cristo ressuscitado, que
se manifestava na sua maneira bondosa de ser pastor”.
Por tudo,
a 29 de agosto de 2018, foi um Dia Santo
em Tendais, que não pode esquecer o exemplo do Bispo que nesta paróquia de Santa
Cristina viu a luz do dia e que ele sempre a acarinhou por entre as malhas da
sua solicitude humana e pastoral. O Bispo homenageado poderia não gostar do monumento,
mas gostava, sim, daquela magna reunião eclesial e humana em redor da igreja
paroquial de Santa Cristina, sobretudo se foi rampa de lançamento para o compromisso
sério para com os mais pobres, os que “não podem esperar”.
2018.08.30 –
Louro de Carvalho
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