O Presidente
da República agraciou, no Palácio de Belém, a Associação de Servitas de Nossa
Senhora de Fátima como Membro Honorário da Ordem do Mérito. Recebeu as
insígnias, no passado dia 26 de junho, no Palácio de Belém, o Presidente da
Direção, Pedro Santa Marta, que assumiu que a condecoração representa “uma
responsabilidade e será um estímulo para nos mantermos sempre humildes e fiéis
à nossa missão”.
Dado o
caráter excecional e lacónico da notícia como vem referenciada no site da
Presidência da República e na agência Ecclesia,
parece-me oportuna uma referência mais desenvolvida a esta entidade.
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Os Servitas
É no
contexto da multiplicidade de grupos que prestam serviço em Fátima que se
integram, sendo o primeiro corpo de Voluntários, constituído logo em 13 de
junho de 1924, ainda antes do reconhecimento das Aparições pela Carta Pastoral
do Senhor Dom José Alves Correia da Silva, então sob a designação de “Associação dos Servos de Nossa Senhora do
Rosário de Fátima”, pois interessava acompanhar de perto as necessidades
espirituais e logísticas dos peregrinos.
A Associação
dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima, que se colocou sob a proteção de Nossa
Senhora e que trabalha desde a sua fundação ao serviço dos peregrinos no
Santuário de Fátima, é uma associação pública de fiéis, constituída por leigos,
religiosos, diáconos e sacerdotes, católica, ereta canonicamente pelo Bispo de
Leiria-Fátima, sob a proteção de Nossa Senhora, no Santuário de Fátima, onde
tem a sua sede. Enquanto associação de Igreja, submete-se à autoridade do
prelado da diocese de Leiria-Fátima e, no exercício da sua atividade no
Santuário, integra-se na sua orgânica, na dependência direta do Reitor. Hoje a
associação tem cerca de 450 membros. A média de idades dos servitas ronda os 45
anos. Parece um tempo longo, mas há uma explicação que José António Santos, de
67 anos, que foi Presidente da Associação, aduz:
“Existe uma equipa que faz a triagem dos candidatos. Há os que pensam ter
vocação, mas, depois de começarem a trabalhar, percebem que não a têm.”.
A Associação
tem, atualmente, os seguintes setores de atividade: Oração, Secretaria,
Serviços de Saúde, Recinto, Confissões, Informações, Retiro de Doentes, Fins de
semana e Formação.
Considerando que se trata de uma vocação simples ou uma vocação à
simplicidade, pode dizer-se que os
Servitas têm crescido servindo, obedecendo e rezando. No atinente ao serviço,
autossurpreendem-se a aceitar e amar o sacrifício, não por especial heroísmo,
mas porque as circunstâncias o ditam e o amor aos peregrinos é mais forte que
todas as dificuldades; no capítulo da obediência, há de dizer-se que
obedecem, não por serem reverentes ou incapazes de raciocinar, mas porque é
conatural à sua vocação de serviço a alegria de aceitar o que a cada momento
lhes é destinado e a humildade de se reconhecerem pequena parte de um todo; e
no concernente à oração, asseguram-nos que rezam, não por serem particularmente
místicos, mas pela avidez de aproveitar a “atmosfera de sobrenatural” fatimita e
por uma consciência implícita e segura de que todo o seu serviço radica na
identificação e conformação com a Mensagem de Nossa Senhora que nos visitou na
Cova da Iria.
Os Servitas
vivem assim, em respeito da mensagem fatimita e em sentido de Evangelho e de
Igreja, na fidelidade e obediência ao Magistério da Igreja e, de modo peculiar,
aos ensinamentos do Santo Padre; vivem a Mensagem de Fátima fazendo da sua vida
instrumento de divulgação; rezam o Terço todos os dias e fazem a devoção
reparadora dos cinco primeiros sábados de cada mês, tal como foi pedido por
Nossa Senhora de Fátima; e servem os Peregrinos em Fátima.
Para ser
membro da Associação dos Servitas o
candidato – leigo, religioso, diácono e sacerdote de qualquer Diocese – têm de
reunir as seguintes condições: ter atingido 18 anos e não ter atingido ainda os
50 anos de idade, podendo a Direção tomar outra deliberação, em casos
especiais; ser membro e apóstolo da Igreja Católica e querer cumprir
generosamente os deveres dos Servitas; ter disponibilidade para servir os
Peregrinos no Santuário de Fátima; e aceitar as disposições constantes dos
Estatutos e Regulamentos da Associação.
O candidato servita deve cumprir as seguintes etapas antes de ser
admitido como servita: receber a
formação adequada para o pleno desempenho da sua missão; conhecer e aceitar
plenamente os Estatutos e Regulamentos da Associação dos Servitas; ter recebido
a decisão da Direção, em que esta o(a) considera apto(a); e solicitar, por
escrito, à Direção, a sua admissão à Promessa.
Com efeito, O Servita só o será
formalmente depois de fazer a Promessa,
que é feita perante o Bispo de Leiria-Fátima, com a presença dos Servitas,
no Santuário de Fátima.
A Promessa “é um compromisso público, consciente e livre, com
Cristo e a Igreja, fruto da sua resposta ao chamamento de Nossa Senhora, tal
como foi confiada aos Pastorinhos”.
Os
servitas fazem o bem em silêncio e docemente, prestando assistência material e
espiritual aos peregrinos do Santuário de Fátima. São homens e mulheres que
perguntam a cada momento o que a Senhora quer deles. Dizem o seu “sim”, como o
fez Maria, porque também Ela se disponibilizou como a “serva do Senhor” pela fé
e pela aceitação do mistério – pelo que as gerações A aclamam Bem-aventurada.
Servir é, pois, um verbo que se
constitui como um programa de vida. É assim que os Servitas de Fátima encaram a
sua ação específica. Eles, que também são peregrinos, têm como missão acolher
os peregrinos de Fátima. E Maria é a mestra dos servos, discípula com os discípulos
e peregrina com os peregrinos, que os ajuda a responder aos apelos que lhes são
dirigidos. A mensagem de Fátima é a bússola que norteia estes peregrinos
peculiares no serviço de cada dia.
***
Como
se reconhecem os Servitas?
Exteriormente,
facilmente se identificam os servitas no Santuário. Os homens envergam as
correias (que, no passado, serviam para facilitar o transporte
das macas) e as
mulheres a farda branca, o véu e a Cruz de Cristo. É gente proveniente de todo
o país (há
também alguns espanhóis)
e até do resto do mundo, nomeadamente muitos portugueses da diáspora que
utilizam alguns dias das suas férias em Portugal para estarem ao serviço do Santuário.
São diferentes dos guardas, que têm um uniforme diferente e que prestam um
serviço profissional permanente no Santuário.
Especificamente,
os Servitas lavam os pés aos peregrinos, dão água aos que têm sede, ajudam os
que levam a cabo o cumprimento de promessas de joelhos, dirigem a organização
da bênção dos doentes e das procissões. Estão presentes em Fátima nas
peregrinações aniversárias de maio a outubro, em todos os fins de semana de
maio a novembro e nos retiros de doentes organizados pelo Santuário. É um
serviço que se prolonga há 93 anos.
Em
12 de junho de 2014 assinalaram a celebração oficial do 90.º aniversário. No final da Missa celebrada do dia 13 de manhã no
recinto do Santuário, o Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Marto, que
concelebrou, deixou, em nome do Santuário de Fátima e dos peregrinos deste
lugar, uma palavra de “parabéns e de gratidão” à Associação dos Servitas de
Nossa Senhora de Fátima, que celebrava os 90 anos de existência ao serviço dos
peregrinos deste santuário, de modo especial no acolhimento aos doentes, e da
divulgação e vivência da mensagem de Fátima.
Cada
Servita tem de estar disponível em três peregrinações por ano e num fim de
semana ou num retiro de doentes. É uma entrega que exige um compromisso de
grande responsabilidade. Por ano, cerca de dez pessoas fazem a “Promessa dos
novos” para serem admitidas como servitas. São homens e mulheres de todas as
profissões, casados ou solteiros, leigos ou religiosos, que estão dispostos a
oferecer-se a Deus, servindo os peregrinos. Sentem-se diariamente interpelados
pela Mensagem de Fátima – oração, penitência e conversão – mas reconhecem a
dificuldade em realizar cabalmente os pedidos de Nossa Senhora. De facto, Ela
lança-nos muitos desafios e deixa-nos a pensar em muitas coisas, de tal modo
que hoje é, para os cristãos, muito difícil o caminho para a perfeição e, por
consequência, a santidade perfeita só existe no céu. Por isso, o fundamental é
a atitude de disponibilidade total e a interrogação permanente de cada um a si
próprio – em cada pensamento, ato e emoção – sobre qual é a vontade de Deus e o
desejo de Maria a respeito de cada um.
A Associação
dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima tem 93 anos e colabora ativamente com o
Santuário no acolhimento aos peregrinos de modo especial no acolhimento aos
doentes e na divulgação e vivência da mensagem de Fátima – uma estrutura e um
serviço eclesiais.
O 2.º
Congresso dos Servitas
A Associação
de Servitas de Nossa Senhora de Fátima concluiu em Fátima, nos dias 16 e 17 de
março de 2007, no ano em que decorria o 90.º aniversário das Aparições, o seu 2.º
Congresso. No último dia deste momentoso encontro, na presença do Bispo da
Diocese de Leiria-Fátima, Dom António Marto, e também do Emérito da mesma
diocese, Dom Serafim Ferreira e Silva, foram lidas as conclusões deste encontro
no Santuário de Fátima, o qual, para além das sessões de trabalho, integrou
momentos de oração e a visita à exposição patente no Centro Pastoral Paulo VI
até ao final de abril, intitulada “Fátima
no Coração da História”.
O documento
final, entre outros aspetos refere:
A Assembleia
Geral Ordinária, de dezembro de 2001, da Associação aprovou por unanimidade a
realização do segundo Congresso da sua história para repensar a sua missão à
luz da realidade atual de Fátima e das perspetivas da sua evolução. A opção por
esta reflexão sob a forma de Congresso teve como pressuposto a vontade de que
ele decorresse de forma participada por todos os Servitas. E considerou-se que
a sua urgência não deveria pôr em causa a necessária ponderação dos inúmeros
temas e fatores a analisar e avaliar, das fontes a consultar e das
participações a solicitar.
E, para que
se focar no essencial, adotou um tema, um método e um modelo. O Tema “Renovar o Coração, para Acolher o
Futuro” fixava a atenção no essencial da mudança que nasça do coração e nele se
enraíze, que o torne capaz de abraçar a realidade da Missão, sempre diferente e
sempre nova. O Método propunha, em
duas grandes etapas, quatro passos indispensáveis: no primeiro, “Redescobrir o nosso Carisma”, os
Servitas olharam para si próprios, refazendo o percurso, desde as origens até à
atualidade; no segundo, “Conhecer a
realidade”, percorreram a realidade de Fátima (o que é,
como é e quem a serve). Era a
primeira etapa, que pretendia ser de observação e aprofundamento. Uma segunda
etapa, mais voltada para a concretização, incluiu o terceiro passo, “Renovar o Coração”, em que se tentou
encontrar os passos de mudança a dar para se abraçar com determinação o que o
futuro pedia; e o quarto passo, “Acolher
o futuro”, levava à procura da descoberta dos novos caminhos para o serviço
dos peregrinos. O Modelo – porque o
caminho se previa duro e difícil – postulava a égide de quem ajudasse a colocar
o coração em posição disponível e sustentasse a vontade. E assim se decidiu que
tudo seria feito “Com os olhos em Maria”,
aquela que foi sempre dócil ao Espírito, fiel à vontade de Deus e atenta aos
sinais do tempo e aos anseios dos homens. Nestes termos, se encadeou o trabalho
de “Com
os Olhos em Maria, Renovar o Coração, para Acolher o Futuro”. A certeza
de que as mudanças verificadas na realidade de Fátima impunham uma
transformação na maneira de ser, estar e realizar a Missão dos Servitas não
evitou alguma perplexidade perante a interpretação dos fenómenos e das mutações
com que se deparavam. O tempo que decorreu desde dezembro de 2001 até ao Congresso
foi tempo de mudança para Fátima: a Diocese de Leiria-Fátima recebeu um novo
Bispo; no Santuário, foi renovada a equipa de Capelães, passou a haver novos
Servidores, a estrutura física do Recinto foi alterada e a construção da nova
Igreja da Santíssima Trindade (ora Basílica) estava em
fase conclusiva. Enquanto isto acontecia, os Servitas receberam um novo
Assistente Espiritual e foram, também eles, mudando. Partiram uns e chegaram
outros, ajustaram-se métodos e alteraram-se serviços, aperfeiçoaram-se
critérios e exigiu-se maior rigor na resposta ao compromisso. E continuaram a
suceder-se os tempos de serviço a que dão resposta, em Peregrinações
Aniversárias, Retiros de Doentes e Fins de semana. E o esforço de reflexão e
discussão desenvolveu-se a par do Serviço, o que quer dizer que não o fizeram
em “tempo sabático”, mas assegurando todos os compromissos que lhes estavam
confiados. Não parando, foram servindo enquanto refletiam. Se a fórmula “Congresso”
não atingiu totalmente o objetivo de participação coletiva, teve a virtude de
manter sempre atualizado o objeto da reflexão. E o primeiro crédito conseguido
foi o de estarem hoje muito mais conscientes daquilo que o Santuário é e do que
não é. Ainda que presentes neste lugar desde há mais de 80 anos e agora em
ritmo quase diário durante metade do ano, não foram poucas as novidades
encontradas, as relações aprofundadas e as ideias germinadas. Como seria de
esperar, as conclusões não apontaram para uma “revolução”, mas deixaram claro
que muito teria que mudar para que a ação corresponda de modo adequado e
atempado às reais necessidades de Fátima, no concreto do Santuário e dos
Peregrinos.
O documento final adotou a estrutura
seguinte: caraterização da realidade de Fátima, dos Peregrinos, do Santuário,
bem como dos Servidores que hoje ali acolhem os peregrinos, caraterizando de
modo especial a Associação dos Servitas; as conclusões propriamente ditas, que apontam
o Serviço Voluntário como a resposta mais adequada para o serviço dos peregrinos
no Santuário, onde se incluem os Servitas, e desenvolvem algumas das suas caraterísticas
essenciais; e o caminho a prosseguir na contínua renovação do coração, para
todos e de cada um dos Servitas, a fim de sustentar o esforço de mudança que o
futuro nos guarda.
***
O itinerário
do Congresso é um exemplo inspirador para outros congressos em Igreja. E esta
condecoração constitui um forte reconhecimento público dum serviço discreto e eficaz
ao povo.
2017.07.01 – Louro de Carvalho
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