Diz-se
comummente, e a própria wikipédia o
refere, que a origem do período de 7 dias para constituição da semana está
intimamente conexa com a sua proximidade em duração com as fases da Lua,
que acabaram por gerar os primeiros calendários anuais, hoje conhecidos como
calendários lunares, e que, a nível global, também deram origem aos calendários
semanais. Ou seja, cada uma das 4 fases da lua fica praticamente circunscrita a
essa fase de cerca de 7 dias. Ora, 29 : 4 = mais ou menos 7. Daí os 7 dias da
semana.
Porém, o
conceito de divisão não era conhecido dos povos mais antigos. Contar, somar e
subtrair eram operações aritméticas recorrentes; ao invés, dividir não era
algo que as primeiras civilizações fizessem.
***
Sendo assim,
a razão tem de ser outra. E, como explica Neil de Grasse Tyson no seu
livro “Just Visiting This Planet”, a semana (de 7 dias) deve-se ao facto de os antigos saberem da existência
de 7 astros errantes (ou volantes) no céu.
Com efeito, à vista desarmada, podem-se ver muitos astros no céu, mas 7
deles movem-se pelo firmamento: Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus e
Saturno. Os próprios Sumérios em 3000 a.C. já registavam e estudavam estes
astros. E, durante 4700 anos, mais nenhum astro errante foi descoberto. Só em
1781 foi descoberto Úrano. E, em 1930, Clyde Tombaugh descobriu Plutão, que até 2006 foi
considerado o 9.º planeta do Sistema Solar.
Com efeito, a partir de 1992, com a descoberta de vários
outros objetos similares a ele no Sistema Solar externo, começou a
questionar-se a sua classificação como planeta, sobretudo após a descoberta, em
2005, de Éris, 27% mais massivo que Plutão, Em 2006, a UAI (União Astronómica Internacional) criou a definição formal do termo
“planeta”, que fez Plutão deixar de ser planeta e ganhar a classificação
de “planeta anão”, com Éris e Ceres. Há cientistas que sustentam que
Plutão, como outros planetas anões e candidatos, deveriam ser classificados
como planetas.
Anos após a
deliberação, a AIU reclassificou o mundo gelado e restabeleceu Plutão de volta
à sua posição como planeta. Disse o Dr. Amy Joggy, professor do Instituto de
Estudos Planetários e chefe da Força Tarefa de Nomenclatura e Classificação
Planetária da IAU:
“Simplesmente subestimamos o apego do público a Plutão. Percebemos o nosso
erro logo após a decisão de o rebaixar. Nós não achamos que alguém
realmente se importaria se um pequeno grupo de gelo e rocha nos arredores do
sistema solar fosse reclassificado. Claramente, nós erramos, o que me deixa
triste. Hoje, tomamos medidas para corrigir esses erros graves”.
Além da
reclassificação de Plutão, o Dr. Joggy propôs que a UAI crie uma nova categoria
de planeta chamada “hiperplaneta”. Estes hiperplanetas são como planetas
regulares, mas pelo menos duas vezes mais Impressionantes. Também foi
proposto que Plutão fosse membro honorário desta nova classe planetária. “Com
toda a honestidade, declarou, sentimo-nos mal pela maneira como nós tratamos
Plutão e, mais importante do que isto, todos aqueles que se importaram tanto –
o público – mostraram o erro. Esperançosamente, a nova classe de planeta será
criada; e Plutão será adicionado como o seu primeiro membro.
***
Os Antigos
pensavam que os preditos astros errantes eram deuses a voar pelos céus. Por
isso, cada um desses astros está associado a um deus. E a forma de eles
“voarem” continha mensagens divinas para os terrestres (um dado da
geocentralidade) – falsidade
que foi aproveitada por alguns para vigarização das pessoas. E esta vigarice
subsiste na forma da pseudociência da astrologia, como diz Isaac Asimov no seu
livro “Guia da Terra e do Espaço”.
E o costume
de atribuir nomes de deuses a estes astros terá começado com os Sumérios, sendo
perpetuado por Babilónios, Egípcios, Gregos, Romanos, Incas, Maias, etc.
Os
Babilónios, aproveitando este conhecimento dos 7 astros errantes, criaram a
semana dos 7 dias de modo a homenagear cada um dos 7 deuses, homónimos dos 7
astros. Os Hebreus, muito mais tarde, importaram esse conhecimento dos
Babilónios, adotaram a sua semana, mas deram-lhe um cunho religioso dentro do
itinerário que os conduziu ao monoteísmo.
Já os
Gregos, de forma mais científica, tentaram detetar e perceber padrões naturais
de comportamento nesses astros. E inventaram esferas cristalinas,
transparentes, onde esses astros se moviam cada um no seu céu (eram 7 os céus
circunscritos sucessivamente no firmamento, no cristalino, no 1.º móbil e no empíreo
– máquina do mundo de Ptolomeu). Assim,
apesar de haver culturas antigas com semanas de 5, 6 ou 11 dias, a mais normal
era a de 7 dias, em que a cada astro móvel vinha associado um dia. Ainda hoje,
em várias línguas, se vê esta ligação entre os astros e os dias da semana, como
se verá a seguir:
Domingo (Dia do Senhor no cristianismo) era para os romanos dies Solis (dia do Sol). Sunday é o dia do Sol, em inglês, que, em
alemão, se diz Sonntag, em francês Dimanche, em espanhol Domingo e em italiano, Domenica; segunda-feira, dies Lunae (para os
romanos), dia da Lua, é para os ingleses Monday, Montag em alemão, Lundi
em francês, Lunes em espanhol e Lunedi em italiano; terça-feira, dies Martis (para os
romanos), dia de Marte, é para os ingleses Tuesday (era Teutons Tiu: deus da guerra), em
alemão, Dienstag, Mardi em francês, Martes em espanhol e Martedi
em italiano; quarta-feira, dies
Mercurii (para os romanos), dia de
Mercúrio, é para os ingleses Wednesday, para os
alemães Mittwoch e para os franceses Mercredi,
Miércoles em espanhol e Mercoledi em italiano; quinta-feira,
dies Iovis (para os
romanos), dia de Júpiter, é para os
ingleses Thursday, para os
alemães Donerstag, para os franceses Jeudi,
Jueves em espanhol e Giovedi em italiano; sexta-feira,
dies Veneris (para os
romanos), dia de Vénus, é Friday em inglês, Freitag em alemão, Vendredi
em francês, Viernes em espanhol e Venerdi em italiano; e sábado,
dies Saturni (para os
romanos), dia de Saturno, é Saturday em inglês, Samstag em alemão, Samedi em francês, Sábado em espanhol e Sabato em
italiano.
Segue o
quadro com os nomes dos planetas (no sentido de astros errantes) e os dias da semana:
Língua
|
Planetas
ou astros errantes
|
||||||
Sumério
|
Nanna
|
Enki
|
Innana
|
Utu
|
Gugalanna
|
Enlil
|
Ninurta
|
Babilónio
|
Sin
|
Nabû
|
Ishtar
|
Shamash
|
Nargal
|
Marduk
|
Ninurta
|
Grego
|
selénê
|
Hermes
|
Aphodítê
|
Hélios
|
Ares
|
Zeus
|
Krónos
|
Latim
|
Luna
|
Mercurius
|
Venus
|
Sol
|
Mars
|
Iuppiter
|
Saturnus
|
Inglês
|
Moon
|
Mercury
|
Veneus
|
Sun
|
Mars
|
Jupiter
|
Saturn
|
Língua
|
Dias da
semana
|
||||||
Latim
|
Lunae
|
Mercurii
|
Veneris
|
Solis
|
Martis
|
Iovis
|
Saturni
|
Inglês
|
Monday
|
Wednesday
|
Friday
|
Sunday
|
Tuesday 1
|
Thursday 1
|
Saturday
|
Alemão
|
Montag
|
Mittwoch 2
|
Freitag
|
Sonntag
|
Dienstag
|
Donnerstag
|
Samstag
|
Francês
|
Lundi
|
Mercredi
|
Vendredi
|
Dimanche +
|
Mardi
|
Jeudi
|
Samedi
|
Espanhol
|
Lunes
|
Miércoles
|
Viernes
|
Domingo +
|
Martes
|
Jueves
|
Sábado *
|
Italiano
|
Lunedi
|
Mercoledi
|
Venerdi
|
Domenica +
|
Martedi
|
Giovedi
|
Sabato *
|
1
O equivalente na mitologia nórdica a Marte é o deus Týr, de onde derivaram as
palavras equivalentes à terça-feira em inglês e alemão. 2 Palavra
alemã que significa “meio da semana”. + Denominação de origem
cristã – (dies) Dominicus ou dominica
(dies no singular era masculino ou
feminino). * Denominação de origem judaica: sétimo dia, dia do
repouso.
(cf Carlos Oliveira, in http://www.astropt.org/2011/08/17/dias-da-semana).
Carlos F.
Oliveira, astrónomo e educador científico, concluiu a licenciatura em Gestão de
Empresas e a licenciatura em Astronomia, Ficção Científica e Comunicação
Científica. Fez o doutoramento em
Educação Científica com especialização em Astrobiologia, na Universidade
do Texas em Austin, EUA, onde criou e lecionou durante vários anos um
inovador curso de Astrobiologia.
Foi Research Affiliate-Fellow em Astrobiology Education na dita
Universidade do Texas. Trabalhou no Maryland
Science Center, EUA, e no Astronomy
Outreach Project, UK; recebeu dois prémios da ESA e realizou várias
palestras e entrevistas nos media.
***
O grego
moderno e o português têm cristãmente o 1.º dia, como o dia do Senhor, domingo (adjetivo, que em grego se diz Kyriakê, subentendendo-se êméra – dia do Senhor); e o 7.º dia como sábado e sábbato, respetivamente,
à maneira hebraica. Os dias são denominados pelo numeral ordinal (hoje,
adjetivo numeral), acrescentando-se,
em português, o nome feira (do latim: feria) – eram dias comuns, não de festa – e subentendendo-se, em grego, o nome êméra. Assim, em português, é segunda-feira, terça-feira, quarta-feira,
quinta-feira e sexta-feira; e, em grego, é deutéra,
tríti (ou trítê), terátê, pémptê e paraskevê (preparação) – sendo
que este também é de origem hebraica.
Ora, se víssemos no céu apenas dois
planetas, ou víssemos 20 planetas ou apenas dois sóis (como
têm grande parte dos planetas),
ou 5 luas, ou… etc…, ou se não fosse a influência religiosa, então o nosso
calendário seria bem diferente.
***
Os dias já são contados há muito tempo. O nascer e o pôr do sol
são eventos muito imponentes para que passassem batidos, sobretudo quando não se
sabia iluminar a noite. A natureza separava-os e os humanos marcavam-nos num
tronco, o precursor rudimentar do relógio.
Os primeiros calendários estavam vinculados aos fenómenos
astronómicos, como a Lua Nova, de
forma que o número de dias em cada calendário variava. Se se regiam pela Lua,
por exemplo, os ciclos duravam entre 29 e 30 dias. No primeiro milénio a.C. os
judeus introduziram o novo sistema: o Sabbat
seria cada 7.º dia ad infinitum,
independentemente da posição dos planetas. Ao contrário de outras culturas, em
hebraico os dias da semana não têm nomes de deuses, de festas, de elementos ou de
planetas, mas de números (representáveis
por letras), com exceção
de sábado, Yom Shabbat (ou dia
Sabbat). Assim, emanciparam-se
das leis da natureza, colocando a regularidade numérica no centro da prática
religiosa e da organização social e política. E a semana de 7 dias tornou-se a
tradição de calendário ininterrupta mais antiga da história.
O 7 já era um número místico quando os judeus declararam que
Deus levou seis dias para fazer o mundo e que ao sétimo dia descansou da sua
obra que “julgou muito boa” (cf Gn 1,31; 2,1-4).
Outros povos mais antigos também haviam organizado os
calendários em períodos de 7 dias, mas nunca in perpetuum. A explicação comummente aceite para o predomínio do 7
no contexto religioso é que os antigos viam 7 ‘planetas’ ou astros voadores no
céu (Sol, Lua, Vénus,
Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno). Os babilónios foram um dos povos que associaram o número 7
aos corpos celestes. E o 7.º dia passou a ser marcado com rituais. E o número influenciou
os agrupamentos de anos. Assim, de 7 em 7 heptanas (conjuntos de 7 anos), celebrava-se entre os judeus o
jubileu.
A semana de 7 dias ligada aos astros foi adotada até no
Extremo Oriente. Mas pode haver outras explicações para sua importância
simbólica. Uma das explicações é que os egípcios usavam a cabeça humana para
representar o 7, porque há nela 7 orifícios: olhos, ouvidos, nariz e boca.
Psicologicamente há outra explicação: 6 dias seria o período
ótimo de tempo que a pessoa pode trabalhar sem descansar. Por outro lado, 7
pode ser o número mais apropriado da nossa memória, o número de coisas que a
pessoa média pode manter em mente é 7, mais ou menos 2.
Depois, o 7 entrou no imaginário popular, na ciência e artes,
na doutrina cristã e na simbólica.
Por exemplo, são 7 os anões da Branca de Neve. Porque não 6?
Seriam suficientes, mas poderiam separar-se em 3 + 3 e em 3 x 3, dividir-se em
grupos de dois. Se são 7, têm de ser vistos como um grupo. Assim, o 7 é
poderoso: faz com que todos sejam iguais.
Também as notas musicais são 7: dó, ré, mi, fá, sol,
lá, si. As cores do arco-íris são 7. E são 7 as chacras ou xacras (centros
energéticos) no corpo
humano.
São 7 os sacramentos e 7 os dons do Espírito Santo; 7
são as obras de misericórdia corporais e 7 as obras de misericórdia
espirituais; são 7 os pecados capitais e 7 as virtudes que se lhes opõem; 7 são
os pecados contra o Espírito Santo e 7 os Espíritos que estão diante de Deus; 7
são as Igrejas a que se dirige o Anjo do Apocalipse, como 7 são as suas
trombetas, os selos e os livros (do Juízo Final).
Apesar de os números existirem desde sempre por razões
práticas, eles também revelam padrões abstratos, o que fez com que passassem a
objeto de estudo (numerologia).
Cada número tem um significado em si: o 1, por
exemplo, é o mais popular de todos como 1.º dígito (num
conjunto de dados, cerca de 30% dos números começam com 1) e o 5, no Oriente Médio, repele o mal. Mas o 7 ocupa
um lugar privilegiado.
Quando se escolhe um número favorito, é provável que se
escolha um número ímpar, porque parecerá mais interessante – dizem alguns. Com
efeito, “os pares parecem mais cómodos – 2, 4, 6, 8 –, enquanto o 3, 7, 9 fazem
pensar um pouco mais. E o 7 é o mais perigoso, porque mais difícil. Dizem que um
dos testes de demência ou para pessoas que saíram de um coma que se faz é pedir
que, partindo do 100, subtraíam de 7 em 7 até ao 0. Fazem-no porque é muito
mais difícil. O 5 seria bastante mais fácil. E, se fosse 6 ou 8, como os números
se repetem bastante mais ou bastante menos do que com 7, então não seria tão
complicado.
Há quem refira que mesmo pessoas avessas à matemática ou que
acham impossível a tabuada de 7 o elegem como preferido. Mas não é só um número
de que as pessoas gostam: também tem história. Ao longo da história, de todos
os números, o 7 é o que tem mais simbolismo cultural, místico e religioso,
aliás como se entreviu em cima. Os 7 mares (que foram de reais a imaginados ao longo dos séculos e
através das culturas),
as 7 idades do homem de Shakespeare, os 7 metais da Alquimia, as 7 maravilhas
do mundo ou as 7 partidas que os portugueses calcorrearam.
A razão por que se conferem tantas qualidades ao 7 tem a ver
com a sua unicidade numérica. O 7 é o único dos primeiros 10 números que não é multiplicável
ou divisível dentro do grupo. Se se multiplica por 2 algum dos números 1, 2, 3,
4 ou 5, o resultado é menor que 10 ou igual, ou seja, multiplicados por um do
grupo, não saem dele. Os números 6, 8 e 10 podem dividir-se por 2 e 9, por 3, e
seguem dentro do grupo. É 7 o único que não produz nem é produzido.
Grande
Sete!
2017.07.05 – Louro de Carvalho
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