Esse é o desejo paternal e o desafio eclesial que o Bispo
da diocese de Leiria-Fátima deixou aos peregrinos que participaram na
celebração da Eucaristia dominical a que presidiu, no Recinto de Oração do
santuário de Fátima, o prelado fatimita.
Dom António
Marto presidiu à peregrinação dos dias 15 e 16 na condição de assistente geral
do Movimento da Mensagem de Fátima (MMF), desejando que estes peregrinos e servidores da Mensagem se inspirem na
parábola do semeador do Evangelho.
Com efeito,
a passagem do Evangelho (Mt 13,1-23) proclamada
e meditada na Eucaristia do 15.º domingo do Tempo Comum (Ano A) apresenta-nos a parábola do semeador cujo prólogo refere
que, tendo Jesus saído de casa, se sentou à beira-mar e a Ele se juntou tão
grande multidão que teve que subir para um barco, conservando-se na praia toda
a multidão a ouvi-Lo (cf 1-2).
E, falando
em parábolas, disse que “o semeador saiu para semear”. E
a sorte da semente era múltipla consoante o terreno em que era lançada pela mão
do semeador: se caía à beira do caminho, as aves comiam-na; se caía em sítio
pedregoso, sem grande terra, brotava, mas secava, por falta de raízes, mal o
sol se erguesse; se caía entre espinhos, era sufocada com o crescimento destes,
mas se caía em bom terreno, dava muito fruto. Neste caso, umas sementes
produziam cem por um; outras, sessenta; e outras, trinta. (cf 3-8). E o versículo 9
configura um desafio bastante atrevido e interpelante: “Quem tem ouvidos ouça!”.
O desafio de Cristo reforça a necessidade de prestar atenção àquilo que se
ouve para compreender o ensinamento e abrir-se à sua realização. Com efeito,
Jesus pretende que as pessoas reflitam nas atitudes mesquinhas que tomam face à
largueza das mãos de Deus que semeiam e espalham na abundância. O semeador da
semente divina semeia com abundância e sem olhar ao terreno, cabendo ao
lavrador cuidar o terreno e amoldá-lo à importância da semente e da sementeira.
Por outro lado, é preciso ter em consideração que a parábola é narrada num
momento difícil da vida de Jesus: fora expulso de Nazaré, tomado por louco em
Cafarnaum, odiado de morte pelos fariseus, abandonado por muitos dos
discípulos. Até parece que toda a sua pregação foi em vão: as condições são tão
desfavoráveis que a sua palavra parece destinada a morrer. Com a parábola,
Jesus quer lançar uma mensagem aos discípulos que, desencorajados, o
interrogavam acerca do trabalho que estava a desenvolver: apesar de todas as dificuldades
e contradições, a sua palavra viria a dar fruto abundante porque tem em si uma
força de vida irresistível e Cristo não desiste nem das pessoas nem do desígnio
de salvação.
Por isso, é relevante pregar em parábolas, mas
dispor dum núcleo de pessoas com acesso ao pleno significado das mesmas. Assim, àqueles discípulos era dado
conhecer os mistérios do Reino, mas não às multidões para já. Como disse
Isaías, cuja profecia está a cumprir-se “veem, sem ver, e ouvem, sem ouvir nem
compreender”, pois “o coração deste povo se tornou duro, e
duros os seus ouvidos; fecharam os olhos, não
fossem ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, compreender
com o coração, e converter-se, para Eu os curar” (cf
10-15; Is 6,9-10).
Porém, são ditosos os olhos dos discípulos, porque veem, e os seus ouvidos,
porque ouvem. Na verdade muitos profetas e justos desejaram estar hoje como
os discípulos para verem e ouvirem, mas não lhes foi possível ver e ouvir o que
vem e ouvem os discípulos, que é um efeito da Graça (cf 16-17).
***
Nestes
termos, o Bispo de Leiria-Fátima sublinha que “esta parábola ajuda-nos a
compreender como nasce cresce, amadurece e dá frutos a nossa fé”, lembrando que
“o semeador é Cristo, um semeador generoso e incansável porque semeia com
abundância, confiante que a semente que lança dará fruto”. E afirma que “a Sua
palavra é cheia de amor, energia e luz, misericórdia e perdão, esperança e
vida, é palavra que cura e salva e dá vida”; e o terreno onde Cristo semeia
“somos nós e o nosso próprio coração”. Por consequência, o prelado do Lis
questionou os peregrinos: “Com que
disposição acolhemos a palavra do Senhor?”. E incitou-os a seguir o
“exemplo da Virgem Maria”, desafiando os peregrinos a serem “semeadores como
Cristo”.
Advertindo
que “a nossa palavra pode fazer muito bem ou muito mal, pode curar ou ferir,
pode transmitir vida ou matar, encorajar e dar ânimo ou deprimir”, não deixou
de felicitar cada mensageiro de Fátima, no momento da saudação final pela sua
missão de “levar a Mensagem de Fátima aos quatro cantos de Portugal”.
E, tal como
os discípulos, por graça divina, tiveram acesso à explicação da parábola,
também hoje todos os mensageiros do Evangelho, alcandorados a este estatuto
pelo Batismo – e alguns pela ordenação diaconal, sacerdotal e episcopal e
outros pelo compromisso decorrente da consagração pessoal em instituto
religioso ou secular ou por compromisso associativo – têm acesso ao significado
da parábola. Mas têm que a escutar de novo.
Com efeito,
quando uma pessoa ouve a Palavra e não a compreende, o
maligno vem apoderar-se do que foi semeado no seu coração (Este é o que recebeu a semente à beira do caminho). Recebeu a semente em sítios pedregosos
o que ouve a palavra e a acolhe com alegria, mas sem raiz em si mesmo, sucumbe
inconstante à tribulação ou à perseguição, por causa da palavra. O que
recebeu a semente entre espinhos é quem ouve a palavra, mas o cuidado do mundo
e a sedução da riqueza sufocam-na; e ela não produz fruto. Mas quem recebe
a semente em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende: e dá fruto e
produz ora cem, ora sessenta, ora trinta (cf 18-23).
***
O Santuário
de Fátima acolheu este fim-de-semana a Peregrinação Nacional a Fátima do
Movimento da Mensagem de Fátima (MMF). Ora, o MMF está ao serviço da Mensagem de Fátima, com a Igreja e para a
Igreja. É uma associação pública de fiéis, ereta, com caráter nacional, pela
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que, por sua vez, delega no Bispo de Leiria-Fátima, com título de
assistente geral.
O MMF
rege-se pelo Código de Direito Canónico, pelos seus estatutos, pelas Normas
Gerais das Associações de Fiéis da Conferência Episcopal Portuguesa e pela
legislação civil e canónica aplicáveis. E procura viver mais intensamente a
Mensagem de Fátima ao jeito dos Pastorinhos Lúcia, Jacinta e Francisco, na
tríplice dimensão: conversão, reparação e adoração eucarística – sendo que, para
melhor responder aos seus objetivos, dá especial atenção aos seguintes campos
de pastoral – oração, peregrinações, doentes e portadores de deficiência.
Foi este movimento
que protagonizou a peregrinação fatimita dos dias 15 e 16. Foi uma jornada peregrinacional que
juntou Mensageiros de todas as dioceses de Portugal. Iniciou no Centro Pastoral
de Paulo VI com a assembleia onde o reitor do Santuário, o Padre Carlos
Cabecinhas mostrou a sua “gratidão” para com todos os “Mensageiros que, pela
sua ação, dão continuidade à missão do Santuário de Fátima, levando a mensagem
aos lugares e ambientes das dioceses e paróquias” e prosseguiu com as ações litúrgicas
e devocionais próprias das peregrinações, a que não faltaram a recitação do
Rosário, a Via-Sacra, a Procissão de Velas, a Adoração Eucarística e a Celebração
da Missa e o Ato de Consagração, Adeus e Saudação Final a Nossa Senhora.
O Padre Carlos Cabecinhas lembrou a efeméride do Ano jubilar do Centenário
das Aparições, cujo pórtico jubilar, o itinerário jubilar do peregrino e a
Oração jubilar de Consagração a Nossa Senhora são sinais visíveis da “festa”,
marcada pela vinda do Papa, nos dias 12 e 13 de maio, com a canonização dos
Santos Francisco e Jacinta, que vieram coroar esta singular celebração”.
Na sua intervenção, o reitor do Santuário desafiou os Mensageiros a ler e
meditar as palavras do Santo Padre, em Fátima, a “assumir como tarefa a
divulgação dos traços de santidade dos Santos Francisco e Jacinta” e ainda a “viver
este ano como grande oportunidade para divulgar o Movimento da Mensagem de
Fátima e para revitalizar as várias estruturas do Movimento”.
Por seu turno, o Padre Manuel Antunes, assistente nacional do MMF, deixou
um apelo a que “todos os Mensageiros se sintam em família como os três
pastorinhos”, porque “não basta ser Mensageiro de nome, é necessário ser
Mensageiro de vida, ir ao encontro das pessoas”. E reiterou: “Continuemos unidos em oração e na ação com
os três pastorinhos”.
Também Nuno Neves, Presidente do Secretariado Nacional do MMF, reconheceu
que a “estreita união com o Santuário de Fátima, é uma ajuda fundamental na
nossa missão”. E afirmou:
“Queremos ser um braço do Santuário de
Fátima para chegar às paróquias”.
***
O
MMF remonta a 1926 quando o Dr. Manuel Nunes Formigão, sacerdote que acompanhou
Fátima a partir da 4.ª Aparição de Nossa Senhora e os Pastorinhos Lúcia,
Francisco e Jacinta, decidiu criar a Associação
de Nossa Senhora de Fátima para ajudar a conhecer e viver a Mensagem de
Fátima. E, em 1934 os bispos portugueses aprovaram os primeiros estatutos
transformando a Associação em Pia União
dos Cruzados de Fátima, como obra auxiliar da Ação Católica, tendo com órgão
oficial o jornal “Voz da Fátima”. Em
1981, foi constituída uma comissão para rever os atuais estatutos, presidida
por Dom Manuel Falcão, ao tempo Bispo de Beja, como delegado da CEP. Após dois
anos de trabalho e reflexão, foram entregues, para apreciação à CEP os novos
estatutos, com o nome de Associação do
Movimento dos Cruzados de Fátima, tendo sido aprovados em 5 de julho de 1984.
Foi a partir desta aprovação que se constituiu o Secretariado Nacional,
aprovado por Dom Alberto Cosme do Amaral, ao tempo Bispo de Leiria-Fátima, como
delegado da CEP. A seguir, começaram a constituir-se os Secretariados
Diocesanos aprovados pelos respetivos Bispos. Em 1990, havia Secretariados
Diocesanos em todas as dioceses. A partir da constituição dos Secretariados
Diocesanos, começaram a surgir Secretariados Paroquiais.
Pode ser mensageiro todo o cristão de boa vontade que
deseje conhecer a mensagem de Fátima, vivê-la na sua vida consoante o seu
estado e difundi-la, podendo inscrever-se na sua paróquia se lá houver MMF e, se
não houver, na paróquia próxima em que exista. O mensageiro é o continuador da
missão que a Senhora confiou aos Pastorinhos, os primeiros mensageiros.
E,
porque se trata duma associação, pede-se ao mensageiro uma oferta anual (como
quota) para ajudar
nas despesas. O mensageiro recebe todos os meses o jornal “Voz da Fátima” e beneficia dos méritos de cerca de 900 missas que
são celebradas todos os anos no Santuário de Fátima e nas dioceses, pelos
mensageiros vivos e falecidos.
A
quota é oferta simbólica e simples, pois o objetivo do Movimento é a vivência e
a difusão da mensagem. Os Pastorinhos, para matarem a fome aos pobrezinhos,
ofereciam a sua merenda. E o mensageiro que pague a sua quota anual, após a sua
morte, continuará a beneficiar das missas celebradas, sem compromissos para os
seus familiares.
O
MMF é uma família empenhada na vivência e mensagem de Fátima, unida no Amor a
Nossa Senhora e aos irmãos, sobretudo os mais frágeis humana e espiritualmente.
Assim foram também os Pastorinhos de Fátima.
***
Recordo
que foi integrado num encontro do MMF que fui pela primeira vez a Fátima e pude
perceber como o Santuário, além da dimensão religiosa e da fé, servia de palco
alargado para a aprendizagem multidisciplinar, dimensão que aproveitei em
várias outras circunstâncias nesta escola de vida.
2017.07.16 – Louro de Carvalho
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