segunda-feira, 17 de julho de 2017

Os peregrinos hão de ser “semeadores como Cristo”

Esse é o desejo paternal e o desafio eclesial que o Bispo da diocese de Leiria-Fátima deixou aos peregrinos que participaram na celebração da Eucaristia dominical a que presidiu, no Recinto de Oração do santuário de Fátima, o prelado fatimita.
Dom António Marto presidiu à peregrinação dos dias 15 e 16 na condição de assistente geral do Movimento da Mensagem de Fátima (MMF), desejando que estes peregrinos e servidores da Mensagem se inspirem na parábola do semeador do Evangelho.
Com efeito, a passagem do Evangelho (Mt 13,1-23) proclamada e meditada na Eucaristia do 15.º domingo do Tempo Comum (Ano A) apresenta-nos a parábola do semeador cujo prólogo refere que, tendo Jesus saído de casa, se sentou à beira-mar e a Ele se juntou tão grande multidão que teve que subir para um barco, conservando-se na praia toda a multidão a ouvi-Lo (cf 1-2).
E, falando em parábolas, disse que “o semeador saiu para semear”. E a sorte da semente era múltipla consoante o terreno em que era lançada pela mão do semeador: se caía à beira do caminho, as aves comiam-na; se caía em sítio pedregoso, sem grande terra, brotava, mas secava, por falta de raízes, mal o sol se erguesse; se caía entre espinhos, era sufocada com o crescimento destes, mas se caía em bom terreno, dava muito fruto. Neste caso, umas sementes produziam cem por um; outras, sessenta; e outras, trinta. (cf 3-8). E o versículo 9 configura um desafio bastante atrevido e interpelante: “Quem tem ouvidos ouça!”.
O desafio de Cristo reforça a necessidade de prestar atenção àquilo que se ouve para compreender o ensinamento e abrir-se à sua realização. Com efeito, Jesus pretende que as pessoas reflitam nas atitudes mesquinhas que tomam face à largueza das mãos de Deus que semeiam e espalham na abundância. O semeador da semente divina semeia com abundância e sem olhar ao terreno, cabendo ao lavrador cuidar o terreno e amoldá-lo à importância da semente e da sementeira. Por outro lado, é preciso ter em consideração que a parábola é narrada num momento difícil da vida de Jesus: fora expulso de Nazaré, tomado por louco em Cafarnaum, odiado de morte pelos fariseus, abandonado por muitos dos discípulos. Até parece que toda a sua pregação foi em vão: as condições são tão desfavoráveis que a sua palavra parece destinada a morrer. Com a parábola, Jesus quer lançar uma mensagem aos discípulos que, desencorajados, o interrogavam acerca do trabalho que estava a desenvolver: apesar de todas as dificuldades e contradições, a sua palavra viria a dar fruto abundante porque tem em si uma força de vida irresistível e Cristo não desiste nem das pessoas nem do desígnio de salvação.
Por isso, é relevante pregar em parábolas, mas dispor dum núcleo de pessoas com acesso ao pleno significado das mesmas. Assim, àqueles discípulos era dado conhecer os mistérios do Reino, mas não às multidões para já. Como disse Isaías, cuja profecia está a cumprir-se “veem, sem ver, e ouvem, sem ouvir nem compreender”, pois “o coração deste povo se tornou duro, e duros os seus ouvidos; fecharam os olhos, não fossem ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, compreender com o coração, e converter-se, para Eu os curar” (cf 10-15; Is 6,9-10).
Porém, são ditosos os olhos dos discípulos, porque veem, e os seus ouvidos, porque ouvem. Na verdade muitos profetas e justos desejaram estar hoje como os discípulos para verem e ouvirem, mas não lhes foi possível ver e ouvir o que vem e ouvem os discípulos, que é um efeito da Graça (cf 16-17).
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Nestes termos, o Bispo de Leiria-Fátima sublinha que “esta parábola ajuda-nos a compreender como nasce cresce, amadurece e dá frutos a nossa fé”, lembrando que “o semeador é Cristo, um semeador generoso e incansável porque semeia com abundância, confiante que a semente que lança dará fruto”. E afirma que “a Sua palavra é cheia de amor, energia e luz, misericórdia e perdão, esperança e vida, é palavra que cura e salva e dá vida”; e o terreno onde Cristo semeia “somos nós e o nosso próprio coração”. Por consequência, o prelado do Lis questionou os peregrinos: “Com que disposição acolhemos a palavra do Senhor?”. E incitou-os a seguir o “exemplo da Virgem Maria”, desafiando os peregrinos a serem “semeadores como Cristo”.
Advertindo que “a nossa palavra pode fazer muito bem ou muito mal, pode curar ou ferir, pode transmitir vida ou matar, encorajar e dar ânimo ou deprimir”, não deixou de felicitar cada mensageiro de Fátima, no momento da saudação final pela sua missão de “levar a Mensagem de Fátima aos quatro cantos de Portugal”.
E, tal como os discípulos, por graça divina, tiveram acesso à explicação da parábola, também hoje todos os mensageiros do Evangelho, alcandorados a este estatuto pelo Batismo – e alguns pela ordenação diaconal, sacerdotal e episcopal e outros pelo compromisso decorrente da consagração pessoal em instituto religioso ou secular ou por compromisso associativo – têm acesso ao significado da parábola. Mas têm que a escutar de novo.
Com efeito, quando uma pessoa ouve a Palavra e não a compreende, o maligno vem apoderar-se do que foi semeado no seu coração (Este é o que recebeu a semente à beira do caminho). Recebeu a semente em sítios pedregosos o que ouve a palavra e a acolhe com alegria, mas sem raiz em si mesmo, sucumbe inconstante à tribulação ou à perseguição, por causa da palavra. O que recebeu a semente entre espinhos é quem ouve a palavra, mas o cuidado do mundo e a sedução da riqueza sufocam-na; e ela não produz fruto. Mas quem recebe a semente em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende: e dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta (cf 18-23).
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O Santuário de Fátima acolheu este fim-de-semana a Peregrinação Nacional a Fátima do Movimento da Mensagem de Fátima (MMF). Ora, o MMF está ao serviço da Mensagem de Fátima, com a Igreja e para a Igreja. É uma associação pública de fiéis, ereta, com caráter nacional, pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que, por sua vez, delega no Bispo de Leiria-Fátima, com título de assistente geral. 
O MMF rege-se pelo Código de Direito Canónico, pelos seus estatutos, pelas Normas Gerais das Associações de Fiéis da Conferência Episcopal Portuguesa e pela legislação civil e canónica aplicáveis. E procura viver mais intensamente a Mensagem de Fátima ao jeito dos Pastorinhos Lúcia, Jacinta e Francisco, na tríplice dimensão: conversão, reparação e adoração eucarística – sendo que, para melhor responder aos seus objetivos, dá especial atenção aos seguintes campos de pastoral – oração, peregrinações, doentes e portadores de deficiência.
Foi este movimento que protagonizou a peregrinação fatimita dos dias 15 e 16. Foi uma jornada peregrinacional que juntou Mensageiros de todas as dioceses de Portugal. Iniciou no Centro Pastoral de Paulo VI com a assembleia onde o reitor do Santuário, o Padre Carlos Cabecinhas mostrou a sua “gratidão” para com todos os “Mensageiros que, pela sua ação, dão continuidade à missão do Santuário de Fátima, levando a mensagem aos lugares e ambientes das dioceses e paróquias” e prosseguiu com as ações litúrgicas e devocionais próprias das peregrinações, a que não faltaram a recitação do Rosário, a Via-Sacra, a Procissão de Velas, a Adoração Eucarística e a Celebração da Missa e o Ato de Consagração, Adeus e Saudação Final a Nossa Senhora.
O Padre Carlos Cabecinhas lembrou a efeméride do Ano jubilar do Centenário das Aparições, cujo pórtico jubilar, o itinerário jubilar do peregrino e a Oração jubilar de Consagração a Nossa Senhora são sinais visíveis da “festa”, marcada pela vinda do Papa, nos dias 12 e 13 de maio, com a canonização dos Santos Francisco e Jacinta, que vieram coroar esta singular celebração”.
Na sua intervenção, o reitor do Santuário desafiou os Mensageiros a ler e meditar as palavras do Santo Padre, em Fátima, a “assumir como tarefa a divulgação dos traços de santidade dos Santos Francisco e Jacinta” e ainda a “viver este ano como grande oportunidade para divulgar o Movimento da Mensagem de Fátima e para revitalizar as várias estruturas do Movimento”.
Por seu turno, o Padre Manuel Antunes, assistente nacional do MMF, deixou um apelo a que “todos os Mensageiros se sintam em família como os três pastorinhos”, porque “não basta ser Mensageiro de nome, é necessário ser Mensageiro de vida, ir ao encontro das pessoas”. E reiterou: “Continuemos unidos em oração e na ação com os três pastorinhos”.
Também Nuno Neves, Presidente do Secretariado Nacional do MMF, reconheceu que a “estreita união com o Santuário de Fátima, é uma ajuda fundamental na nossa missão”. E afirmou:
“Queremos ser um braço do Santuário de Fátima para chegar às paróquias”.
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O MMF remonta a 1926 quando o Dr. Manuel Nunes Formigão, sacerdote que acompanhou Fátima a partir da 4.ª Aparição de Nossa Senhora e os Pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta, decidiu criar a Associação de Nossa Senhora de Fátima para ajudar a conhecer e viver a Mensagem de Fátima. E, em 1934 os bispos portugueses aprovaram os primeiros estatutos transformando a Associação em Pia União dos Cruzados de Fátima, como obra auxiliar da Ação Católica, tendo com órgão oficial o jornal “Voz da Fátima”. Em 1981, foi constituída uma comissão para rever os atuais estatutos, presidida por Dom Manuel Falcão, ao tempo Bispo de Beja, como delegado da CEP. Após dois anos de trabalho e reflexão, foram entregues, para apreciação à CEP os novos estatutos, com o nome de Associação do Movimento dos Cruzados de Fátima, tendo sido aprovados em 5 de julho de 1984. Foi a partir desta aprovação que se constituiu o Secretariado Nacional, aprovado por Dom Alberto Cosme do Amaral, ao tempo Bispo de Leiria-Fátima, como delegado da CEP. A seguir, começaram a constituir-se os Secretariados Diocesanos aprovados pelos respetivos Bispos. Em 1990, havia Secretariados Diocesanos em todas as dioceses. A partir da constituição dos Secretariados Diocesanos, começaram a surgir Secretariados Paroquiais.
Pode ser mensageiro todo o cristão de boa vontade que deseje conhecer a mensagem de Fátima, vivê-la na sua vida consoante o seu estado e difundi-la, podendo inscrever-se na sua paróquia se lá houver MMF e, se não houver, na paróquia próxima em que exista. O mensageiro é o continuador da missão que a Senhora confiou aos Pastorinhos, os primeiros mensageiros.
E, porque se trata duma associação, pede-se ao mensageiro uma oferta anual (como quota) para ajudar nas despesas. O mensageiro recebe todos os meses o jornal “Voz da Fátima” e beneficia dos méritos de cerca de 900 missas que são celebradas todos os anos no Santuário de Fátima e nas dioceses, pelos mensageiros vivos e falecidos.
A quota é oferta simbólica e simples, pois o objetivo do Movimento é a vivência e a difusão da mensagem. Os Pastorinhos, para matarem a fome aos pobrezinhos, ofereciam a sua merenda. E o mensageiro que pague a sua quota anual, após a sua morte, continuará a beneficiar das missas celebradas, sem compromissos para os seus familiares.
O MMF é uma família empenhada na vivência e mensagem de Fátima, unida no Amor a Nossa Senhora e aos irmãos, sobretudo os mais frágeis humana e espiritualmente. Assim foram também os Pastorinhos de Fátima.
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Recordo que foi integrado num encontro do MMF que fui pela primeira vez a Fátima e pude perceber como o Santuário, além da dimensão religiosa e da fé, servia de palco alargado para a aprendizagem multidisciplinar, dimensão que aproveitei em várias outras circunstâncias nesta escola de vida.

2017.07.16 – Louro de Carvalho 

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