A nota é do
Bispo de
Leiria-Fátima, Dom António Marto, que denominou de “memorável” e “histórico” este
dia 13 de julho vivido na Cova da Iria, com a presença de representantes da
“Igreja Católica nos países de língua russa”. Com efeito, 100 anos depois da
3.ª aparição da Senhora na Cova da Iria, foi esta a 1.ª vez que os bispos
destes países estiveram no Santuário para “dar graças a Nossa Senhora pela
consolação, pela fortaleza e pela paz que lhes concedeu”.
Na verdade, o testemunho dos três videntes de Fátima regista
que, na aparição de 13 de julho de 1917, Nossa Senhora lhes disse: “Para impedir a guerra virei pedir a
consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos
primeiros sábados”.
Foi ainda nesta aparição que
se deu a visão do inferno, a revelação do sofrimento da Igreja e de um bispo
vestido de branco – a trilogia que constitui o chamado Segredo de Fátima.
O prelado do Lis, que se
dirigiu aos peregrinos no final da peregrinação internacional aniversária de
julho, na Cova da Iria, quis realçar que “o chamado e conhecido Segredo de
Fátima” se referia aos sofrimentos da humanidade “ameaçada na sua sobrevivência”,
devido à guerra e à perseguição contra a Igreja “por regimes totalitários e
ateus”. Porém, citando a promessa da Virgem Maria, “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”, afiançou que “o Senhor
é mais forte do que o mal e que Nossa Senhora é para nós a garantia visível e
materna de que a bondade de Deus é a última palavra sobre a história”. E insistiu
dizendo que a promessa de Maria “é uma promessa de consolação e de esperança de
Nossa Senhora para a humanidade e para a Igreja”.
Agradecendo aos peregrinos de língua russa, vindos desde
países da antiga União Soviética, “pela presença, pela mensagem e pelo
testemunho”, saudou em particular o Arcebispo de Moscovo, Dom Paolo Pezzi, que
presidiu à Missa conclusiva da peregrinação.
As celebrações da peregrinação
de 12 e 13 de julho, que contaram com mais de 6300 peregrinos inscritos no
Serviço de Peregrinos do Santuário de Fátima, num total de 140 grupos oriundos
de 27 nações (os mais numerosos voltam a ser os italianos, polacos, norte-americanos e
espanhóis.), tiveram
como tema “A Virgem Maria, Mãe da
Consolação” e evidenciaram a ligação da Rússia a Fátima.
***
O Arcebispo
de Moscovo lembrou, na tarde do dia 12, na abertura da Peregrinação
Internacional Aniversária de julho, que peregrinar tem subjacente a intenção de
conversão. De facto, os peregrinos “não são vagabundos”, mas têm o desejo intrínseco
de se converter.
O prelado de
língua russa, que veio acompanhado de seis bispos católicos de língua
russa – o administrador apostólico do Turquemenistão e cerca de 80 peregrinos,
45 dos quais jovens, oriundos de vários países como Bielorrússia, Cazaquistão e
Turquemenistão – lembrou que esta peregrinação “tem um significado particular”
porque ocorre no centenário das aparições e, em Fátima, Nossa Senhora falou aos
pastorinhos anunciando-lhes as maravilhas de Deus. E frisou:
“Cada um de
nós tem uma imagem de Nossa Senhora que lhe é mais querida, e que traz sempre
consigo. Penso, hoje, de um modo particular, na imagem de Nossa Senhora de
Fátima, na qual encontro uma síntese da beleza da criação e um sorriso cheio de
ternura para comigo, pecador.”.
Depois,
acrescentou no âmbito do estatuto do peregrino cristão:
“Estamos
aqui como peregrinos, e os peregrinos sabem bem para onde vão, a quem se
dirigem. Não somos vagabundos sem uma meta nesta terra, mas peregrinos, filhos
de Deus a caminho do Reino dos Céus.”.
Prosseguindo
na sua alocução, disse em linguagem peregrinacional:
“Sentirmo-nos
filhos, numa relação humilde e segura com Deus, e pormo-nos a caminho são os
sinais do verdadeiro peregrino. E cada peregrino, como o publicano no templo,
sabe que ainda não está preparado, sabe que é pecador, sabe que tem necessidade
da misericórdia, da ternura, do perdão de Deus”.
E fazendo
eco das palavras do Papa Francisco, o prelado moscovita explicitou:
“A resposta
do peregrino é um rio de amor ilimitado, como podemos contemplar nos
pastorinhos de Fátima, recentemente canonizados: pelo seu amor sem reservas,
por terem acolhido na simplicidade dos seus corações o amor de Deus que se
derramava nos seus corações através da Senhora do Rosário”.
Por outro
lado, sobre a importância do Rosário, arma do peregrino, o Arcebispo disse:
“O Rosário é
a companhia do peregrino, o seu apoio ao longo de todo o caminho. Através do
rosário vamo-nos identificando paulatinamente, passo a passo, mistério após
mistério, com a vida de Jesus e de Maria, com o mistério da salvação. E, desta
forma, descobrimos toda a beleza, a atração, o gosto por uma vida de santidade.
A oração do Rosário faz-nos desejar ser como Jesus e Maria, estarmos com eles,
caminhar com eles, oferecer as nossas vidas como Jesus e Maria as ofereceram
pela salvação do mundo.”.
Também, em
declarações à sala de imprensa do Santuário, Pezzi referiu que esta
peregrinação “é muito importante para aprofundar de modo particular a mensagem
de Fátima e levar esse conhecimento para a Rússia”. E revelou o que disse aos 45
jovens que integram o seu grupo:
“O que
disse, em particular aos jovens que nos acompanham, é que estejam atentos à
mensagem de esperança para a sua vida, para a vida da igreja e do povo russo em
geral”.
E o Bispo da
diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto, saudou os peregrinos; e, em
particular aos de língua russa, sublinhou a sua presença, que exprime “de forma
significativa” a ligação da Rússia à Mensagem de Fátima e o “consolo” que esta
mensagem representou para este povo no período mais marcante do ateísmo na 1.ª
metade do século XX. E, recordando os “problemas e dramas do mundo”, em
particular as vítimas da catástrofe dos incêndios de Pedrógão e concelhos
limítrofes, convidou à oração pela paz Médio Oriente, sobretudo na Síria,
Líbano e Iraque, frisando a “tragédia” dos refugiados e do “sofrimento dos
cristãos perseguidos no mundo”, que foram colocados no coração da Virgem Maria,
“mãe espiritual da humanidade”.
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Para o Bispo de Saratov, um dos 6
bispos de língua russa que
acompanharam o Arcebispo de Moscovo, Fátima “não é uma mensagem do passado”. Na
verdade, este prelado, que presidiu à
Procissão das Velas da Peregrinação e à missa da noite, disse que Fátima não é
um “capítulo encerrado” nem uma “mensagem do passado”; precisa é de ser “traduzida
na nossa vida”. Sublinhando que, apesar de centenários, o acontecimento e a mensagem de
Fátima têm atualidade, questionou:
Na homilia da missa de encerramento da peregrinação, a 13 de julho, o Arcebispo de Moscovo recordou as perseguições contra cristãos no século XX e lembrou a vulnerabilidade de uma sociedade sem Deus, sustentando que o perigo do totalitarismo não está afastado e alertando para as consequências dos totalitarismos na vida das sociedades. Disse Dom Paolo Pezzi:
Na homilia da missa de encerramento da peregrinação, a 13 de julho, o Arcebispo de Moscovo recordou as perseguições contra cristãos no século XX e lembrou a vulnerabilidade de uma sociedade sem Deus, sustentando que o perigo do totalitarismo não está afastado e alertando para as consequências dos totalitarismos na vida das sociedades. Disse Dom Paolo Pezzi:
“Será que agora tudo é passado? Será
Fátima um capítulo de 100 anos na história da Igreja e da humanidade, que agora
encerramos solenemente com este Jubileu?”.
E, desafiou
os peregrinos presentes no Santuário de Fátima a transporem o que se reza no
Rosário para as suas vidas. Com efeito, Dom Clemens Pickel (na homilia lida em português pelo
vice-reitor do Santuário de Fátima, Padre Vítor Coutinho) explicitou:
“Faz hoje 100 anos, onde
agora estamos, que a Mãe de Deus ensinou aos Pastorinhos uma oração que tem
hoje o mesmo significado que teve naquele tempo. É conhecida em todo o mundo.
Dirige-se a Jesus e é habitualmente dita na recitação do Rosário. Quando a
rezamos, pedimos o perdão dos nossos pecados, a salvação do fogo do Inferno, o
Céu para todos e a misericórdia para os pecadores.”.
Olhando-a como “oração de
reparação”, sustenta que a podemos traduzir em diferentes línguas, mas sobretudo
que a podemos traduzir na vida. E fazem-no muitos dos que, ajoelhados, se aproximam
da Capelinha e, regressados a suas casas, mudam de vida para bênção do mundo”.
Sobre a ligação
Fátima/Rússia, frisou a “grande emoção interior” dos peregrinos russos em
Fátima, pois, apesar de hoje não estar aqui em aparição, “Maria está igualmente
próxima de nós, como aconteceu há cem anos”.
De facto, segundo
o prelado, o encontro com a “Senhora”, a 13 de Julho de 1917, teve um significado
especial, pois “Maria comunicou um segredo e falou da Rússia”. E concluiu:
“Hoje diz-se que a Rússia
se converteu. E a própria Irmã Lúcia confirmou que a consagração ao Imaculado
Coração de Maria feita por São João Paulo II correspondeu completamente ao que
a Mãe de Deus tinha pedido”.
Todavia, a advertência
fica de pé, pois a necessidade de conversão da Rússia e dos demais países é
permanente e a Igreja tem de fazer o seu caminho por entre um mundo de contradições:
“Se atenderem aos meus pedidos, a
Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo,
promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo
Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu
imaculado coração triunfará.”.
***
Na homilia da missa de encerramento
da peregrinação, a 13 de julho, o Arcebispo de Moscovo recordou as perseguições
contra cristãos no século XX e lembrou a vulnerabilidade de uma sociedade sem
Deus, sustentando que o perigo do totalitarismo não está afastado e alertando
para as consequências dos totalitarismos na vida das
sociedades. Disse Dom Paolo Pezzi:
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“O século XX ficou marcado por uma
perseguição particularmente sangrenta. Infelizmente, quando uma sociedade
renuncia ao anúncio do Evangelho, torna-se facilmente vítima de totalitarismos,
do poder do homem sobre o homem.”.
A milhares de peregrinos
reunidos no Recinto de Oração do Santuário, sobretudo estrangeiros, entre os
quais se destacavam os italianos, polacos e russos, o responsável pela
Arquidiocese de Mãe de Deus, em Moscovo, vincou, (na homilia lida em português, embora
com algumas palavras finais em russo), que a ação missionária católica é rejeitada “pela mentira,
pela calúnia, pela perseguição”. E, sublinhando que “não existe uma época da
história que não tenha tido os seus mártires”, evocou os cristãos perseguidos e
martirizados nos primeiros séculos.
Contudo, segundo
Dom Pezzi, aos olhos da fé, existe a consolação de saber que a “Cruz de Cristo
pode vencer o ódio do mundo”. E foi claro ao afirmar:
“Sim, caríssimos irmãos e
irmãs, é consolador saber que existe um modo de vencer o ódio do mundo, é a
Cruz de Cristo. Isto mesmo nos recordaram os mártires do século XX: o
testemunho de um amor gratuito vence mesmo o ódio mais irracional.”.
O Presidente da Celebração
Eucarística frisou que hoje, face à “perseguição dos cristãos”, que não
diminuiu, mas parece crescer a cada dia, a convivência entre pessoas e
comunidades “só é possível num testemunho até ao martírio da fé e da caridade
gratuita”. E questionou:
“Ao longo destes últimos
meses tenho pensado frequentemente nas vítimas do ódio dos homens, em todos
aqueles que morrem destruídos pelo mal, pelo ódio de outros homens, seus
irmãos: quem, de entre eles, pôde ao menos pressentir o conforto do amor de
Cristo?”.
E Dom Pezzi, que se fez
acompanhar dum grupo de 45 jovens estudantes, além da comitiva eclesiástica (bispos, sacerdotes e fiéis), apelou aos mais novos para que
procurem a sua vocação de missionários, radicada no Batismo, dizendo:
“O anúncio da Boa Nova
insere-se na vocação que todo o homem recebe de Cristo. A comunicação
missionária do dom que recebemos não é assim um dever reservado só aos
sacerdotes ou às religiosas; não é uma questão de ofício ou profissão: ‘a minha
profissão é a de ser missionário’, não, o anúncio cristão diz respeito a todos,
homens, mulheres, crianças, jovens, idosos.”.
Destacando a necessidade
de uma entrega livre e plena a Deus como o único caminho da conversão, apresentou
Nossa Senhora como a testemunha e dócil serva do Senhor cujo exemplo deve ser
imitado pelos homens, pois Ela justamente “viveu as Bem-aventuranças porque foi
a testemunha, a dócil Serva do Senhor” e n’Ela “Deus fez uma casa para si,
construiu um templo”. Assim – prosseguiu o prelado moscovita, apelando à
confiança na proteção da Virgem Maria para “vencer o medo” e superar a
distância que separa as pessoas – “Nossa
Senhora é o primeiro lugar onde plenamente, misteriosamente habita Deus. É o
primeiro templo, é a primeira igreja, mas também nós somos, juntamente com a
Virgem Maria, igreja. Também nós somos chamados a dilatar este mesmo
acontecimento da incarnação”. E sugeriu:
“Peçamos à Senhora de Fátima, a graça
da conversão a Seu Filho, peçamos ao Espírito que faça voltar o nosso olhar
para Cristo, fonte de toda a paz, conforto, e de criatividade para a nossa vida
e para a vida dos nossos irmãos”.
***
A encerrar a
peregrinação, antes da Procissão do Adeus e saudação final a Nossa Senhora, o Bispo
de Leiria-Fátima, como já foi dito assegurou que hoje, passados cem anos “é um
dia memorável, histórico para a celebração deste Santuário” porque “temos pela
primeira vez connosco a igreja católica russa, com os seus bispos a dar graças
a Nossa Senhora pela paz que lhe deu e a lembrar-nos essa promessa de
consolação e de esperança para a humanidade e para a Igreja”. E, neste
contexto, proferiu um sentido “Obrigado!” pelo eloquente testemunho daqueles
peregrinos russos “sobre o dom da consolação divina”; e referiu-se à Igreja
russa como uma Igreja “pobre e sofredora, mas rica em fé e esperança”.
É assim a
comunhão e a solidariedade das comunidades eclesiais alimentadas e juradas aos
pés da Virgem em prol do bem comum, mormente dos mais pobres, dos descartados!
2017.07.13 – Louro de Carvalho
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