Celebrou-se hoje, dia 2 de julho, na Sé
Catedral de Lamego, a ordenação sacerdotal (presbiteral) de três jovens diáconos: Ângelo Santos, Diogo Rodrigues e Luís Rafael.
Felizmente, não é rara a celebração do
Sacramento da Ordem na diocese de Lamego – de diáconos, presbíteros e, mesmo,
bispos. E este é sempre um acontecimento notável e momento de oferta da graça
divina. E, porque desde 26 de julho de 1942 a paróquia de Vila da Ponte, apesar
de várias tentativas, não foi coberta eficazmente pelo dom da oferta de um
sacerdote à Igreja, este é um dia extremamente festivo para esta comunidade de
fé viva e intensa. E, mais do que se interrogar porque só agora isto acontece,
apesar do zelo dos pastores (cuja preocupação pela organização paroquial poderá de certo modo ter-se
sobreposto ao incremento pastoral da fé, só Deus o sabe!) e dos catequistas e da piedade de tanta gente da paróquia, o dia é de
ação de graças pelo dom de Deus. Agora, com efeito, o Padre Luís Rafael é
testemunho vivo duma comunidade sacerdotal, povo de Deus, nação santa, plantada
à beira do Távora.
Dos quatro sacerdotes que foram ordenados
naquele ano de 1942, na igreja paroquial de Vila Ponte – um deles era o
excecional Cónego José Cardoso de Almeida, dali natural – e daqueles dois que
lá receberam a ordem de diácono, um, e subdiácono, o outro, já nenhum se conta
fisicamente entre nós. Mas agora, o dia, sem deixar de ser de memória por todos
os que partiram, é sobretudo de festa por quem agora surge como servidor de Deus e
dos homens!
***
Comecemos por falar do Luís Rafael. Diz-nos ele
próprio que é “aquele menino que cresceu junto às águas do Távora, em Vila
da Ponte”; a “criança irrequieta que nem sempre se portava bem na catequese”,
mas que “gostava muito de vestir a alva e ajudar o Senhor Padre na Missa”; o “adolescente
aventureiro que encontrou no Seminário de Resende uma nova casa”; o “Jovem Sem Fronteiras que sempre procurou
‘estar perto dos que estão longe, sem estar longe dos que estão perto’”; e o “estudante
de teologia, seminarista, filho, amigo, diácono, discípulo-missionário,
embalado pelo Amor de Deus”. Muito Bom!
Refere que o estágio
pastoral na Paróquia de Santa Maria Maior de Almacave tem sido “uma
oportunidade para aprender”, já que “todas as semanas surgem novos desafios”,
tendo tentado “encontrar em cada um deles algo que, em breve”, o possa “ajudar
a ser um ‘melhor’ sacerdote”. E “o contacto diário com o povo de Deus tem sido
a maior riqueza deste tempo”: “conhecer as pessoas, as famílias, as histórias,
partilhar a mesa, as alegrias e as tristezas…”.
Sobre a formação recebida no Seminário e na
Faculdade de Teologia, assegura que “o tempo de formação é essencial”,
pois “ninguém nasce ensinado”. Diz que sente na vida “a importância de cada
passo dado, cada ano de seminário, cada disciplina estudada”. Porém, nem sempre
lhe “foi fácil compreender o porquê de algumas normas formativas do seminário ou
vislumbrar automaticamente a ‘utilidade prática’ de determinadas temáticas
estudadas na Faculdade”. Entretanto, o passar do tempo, foi-lhe dando a “resposta
para a maior parte dessas inquietações, mas certamente existem alguns aspetos
que devem ser alvo de uma reflexão profunda à luz do contexto atual”. E aos seminaristas e aos que estão a pensar entrar no Seminário declara:
“Ao
longo dos vários anos em que estive no seminário sempre gostei de me sentir
acompanhado, principalmente pelos sacerdotes. Amigos, nunca estive sozinho… e
nenhum de vós percorrerá este caminho sozinho! Contem comigo… Abraço.”. (cf Voz
de Lamego, ano 87/33, n.º 4418, 27 de junho 2017).
***
O que são os sacerdotes/presbíteros?
O Concílio Vaticano II esclarece-nos: “Os
Presbíteros, embora não possuam o fastígio do pontificado e dependam dos Bispos
no exercício do seu poder, estão-lhes, contudo, associados na dignidade
sacerdotal e, por força do sacramento da Ordem, são consagrados, à imagem de
Cristo sumo e eterno Sacerdote (cf Heb 5, 1-10; 7, 24; 9, 11-28), para pregar o
Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros
sacerdotes do Novo Testamento” (Conc.
Vat. II, Const. Lumen Gentium, n. 21). São, pois, consagrados para a pregação,
celebração do culto divino e apascentamento dos fiéis.
“Pela
sagrada Ordenação alguns fiéis são instituídos em nome de Cristo e recebem o
dom do Espírito Santo para apascentarem a Igreja pela palavra e pela graça de
Deus” (Conc. Vat. II, Const. LG, n.
28).
São,
assim, destacados do comum dos fiéis, para receberem pela Ordem o dom de
apascentar a Igreja pela Palavra e pela Graça.
E em outro lugar, pode ler-se: “Os
Presbíteros, em virtude da sagrada Ordenação e da missão que recebem das mãos
dos Bispos, são promovidos ao serviço de Cristo, Mestre, Sacerdote e Rei, de
cujo ministério participam, e mediante o qual a Igreja é continuamente
edificada, neste mundo, como Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito
Santo”. (Conc. Vat. II, Decr. Presbyterorum
Ordinis, n. 1).
São
destinados ao serviço de Cristo e edificação da Igreja.
Aos presbíteros, pela
sagrada Ordenação é conferido um sacramento por força do qual eles são
assinalados, “pela unção do Espírito Santo, com um caráter particular e, de tal
modo ficam configurados a Cristo sacerdote, que podem agir na pessoa de Cristo
Chefe” (Vat. II, PO, n. 2). Por isso, os
presbíteros têm parte no sacerdócio e missão do Bispo. Zelosos cooperadores da
Ordem episcopal, chamados a servir o povo de Deus, constituem com o seu Bispo
um único presbitério com diversas funções. (cf
Vat. II, LG, n. 28). É um sacramento que imprime o
caráter particular de configuração com Cristo
sacerdote.
Também o Pontifical Romano
(de Paulo VI, revisto por João Paulo II), retomando a
doutrina conciliar nos elucida sobre os presbíteros:
Participantes, segundo o grau do seu ministério, do múnus de
Cristo, único Mediador (1Tm 2, 5), anunciam a todos a
palavra de Deus e principalmente na celebração eucarística exercem a sua função
sagrada. São, para com os fiéis penitentes ou enfermos, ministros da
reconciliação e do conforto e apresentam a Deus Pai as necessidades e súplicas
dos fiéis (cf Heb 5,1-4). Desempenhando,
segundo a sua condição, o múnus de Cristo Chefe e Pastor, reúnem a família de
Deus como fraternidade animada num só todo e, por Cristo, no Espírito Santo,
conduzem-na a Deus Pai. No meio do rebanho adoram o Pai em espírito e verdade (cf João 4,24). Trabalham, enfim, pregando e ensinando (cf 1Tim 5,17), acreditando o que leram e meditaram na lei do Senhor, ensinando
o que creem e vivendo o que ensinam.” (vd
PR, Preliminares da Ordenação dos Presbíteros, n. 102). São, pois, ministros da Palavra e
da Eucaristia, da Reconciliação e do Conforto; são fatores da unidade e
convocantes da comunidade; e são crentes e orantes exemplares que ensinam o que
creem e vivem o que ensinam.
Pela imposição das mãos do Bispo e a Oração de Ordenação é
conferido aos candidatos o dom do Espírito Santo para o múnus de presbíteros – os
presbíteros também impõem as mãos aos candidatos juntamente com o Bispo, para
significarem a receção no presbitério. As palavras seguintes, enquanto
nucleares desta Oração, pertencem à natureza da Ordenação, de tal modo que são
exigidas para a sua validade:
“Nós
Vos pedimos, Pai todo-poderoso, constituí estes vossos servos na dignidade de
presbíteros; renovai em seus corações o Espírito de santidade; obtenham, ó
Deus, o segundo grau da Ordem sacerdotal que de Vós procede, e a sua vida seja
exemplo para todos”. (cf id, n.112).
***
Nas palavras sugeridas pelo
Pontifical para a homilia da Missa da ordenação dos presbíteros, refere-se que,
pelo Batismo, “todo o povo santo de Deus se torna, em Cristo, um sacerdócio
real”. Porém, Cristo “escolheu alguns discípulos para desempenharem na Igreja,
em seu nome, o ministério sacerdotal em favor dos homens”. E, “enviado pelo
Pai, Ele mesmo enviou os Apóstolos por todo o mundo” para continuar, por meio
deles e dos Bispos, seus sucessores, “a sua missão de Mestre, Sacerdote e
Pastor”. E os presbíteros, constituídos cooperadores dos Bispos e associados a
eles na missão sacerdotal, “são chamados ao serviço do povo de Deus”.
Assim, os presbíteros servem a “Cristo,
Mestre, Sacerdote e Pastor” e, pelo seu ministério, a Igreja, Corpo de Cristo,
“cresce e edifica-se como templo santo e povo de Deus”. E, sendo configurados
com Cristo e associados aos Bispos, são “consagrados como verdadeiros
sacerdotes da Nova Aliança para anunciarem o Evangelho, apascentarem o povo de
Deus e celebrarem o culto divino, principalmente no sacrifício do Senhor”.
Pelo sacramento da Ordem, os presbíteros,
exercem, no que lhes compete, o “múnus de ensinar em nome de Cristo, nosso
Mestre”; distribuem “a todos a palavra de Deus” que receberam com alegria; e,
“meditando na lei do Senhor”, procuram crer o que leem, ensinar o que creem e
viver o que ensinam.
Há de ser o seu “ensino alimento para
o povo de Deus” e o seu “viver motivo de alegria para os fiéis”, para
edificarem, “pela palavra e pelo exemplo, a casa que é a Igreja de Deus”.
Exercem também o múnus de santificar.
Com efeito, pelo seu ministério, “se realiza plenamente o sacrifício espiritual
dos fiéis, unido ao sacrifício de Cristo, que, juntamente com eles, é oferecido”
pelas suas mãos sobre o altar, de modo sacramental, na celebração dos santos
mistérios. Hão de, pois, tomar consciência do que fazem e imitar o que realizam.
Celebrando “o mistério da morte e da ressurreição do Senhor”, esforçam-se por
fazer morrer em si “todo o mal e por caminhar na vida nova”. E, fazendo “entrar
os homens no povo de Deus pelo Batismo”, perdoando “os pecados em nome de
Cristo e da Igreja no sacramento da Penitência”, aliviando “os enfermos com o
óleo santo”, celebrando “os ritos sagrados” ou oferecendo, “nas horas do dia, o
louvor com ações de graças e súplicas, não só pelo povo de Deus, mas também por
todo o mundo”, lembram-se de que foram “assumidos de entre os homens e postos
ao serviço dos homens” nas coisas Deus. Realizam, pois, “com verdadeira
caridade e alegria constante, o ministério de Cristo Sacerdote”, não procurando
os seus interesses, mas os de Jesus Cristo.
Enfim,
unidos e atentos ao Bispo, congregam os fiéis numa só família para os poderem
conduzir a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo; e trazem sempre diante de si
o exemplo do Bom Pastor que veio, não para ser servido mas para servir e buscar
e salvar o que estava perdido.
Assim, desprovidos
de si mesmos, enchem-se de Deus e dedicam-se de corpo e alma ao serviço dos
homens através da Igreja.
***
É
de considerar com muita atenção a oração
consecratória, que, a seguir à imposição das mãos pelo Bispo, como matéria
sacramental (e de outros sacerdotes como receção no presbitério), serve de forma da Ordenação
Sacerdotal.
Invoca-se o “Senhor, Pai
santo, Deus eterno e omnipotente”, para que esteja connosco.
Por Ele, “autor da
dignidade humana” e “distribuidor de todas as graças”, “crescem e se tornam
firmes todas as coisas”. É Ele que, “para formar o povo sacerdotal”, lhe dá e
estabelece “em diversas Ordens, os ministros de Cristo”, seu Filho, “pelo poder
do Espírito Santo”.
Depois, faz-se uma
resenha orante da história da Salvação no Antigo Testamento:
Para mostrar que “já na
antiga Aliança se desenvolveram funções sagradas que eram sinais do sacramento
novo”, a Oração refere que Moisés e
Aarão foram postos por Deus “à frente do povo para o conduzirem e santificarem”
e a eles foram associados por Deus, como colaboradores daqueles, outros homens;
que, no deserto, o Senhor comunicou “o espírito de Moisés a setenta homens
prudentes, com o auxílio dos quais ele governou mais facilmente” o povo de
Deus. também, “as graças abundantes concedidas a Aarão”, o Senhor as transmitiu
a seus filhos, para não faltarem sacerdotes que oferecessem “os sacrifícios do
templo, sombra dos bens futuros”.
Nos últimos tempos, o Pai
Santo, enviou ao mundo o seu Filho Jesus, Apóstolo e Pontífice da nossa fé”, o
qual “Se ofereceu” ao Pai, pelo Espírito Santo, como vítima imaculada, e tornou
participantes da sua missão, os seus Apóstolos, santificados na verdade”. A
eles o Senhor juntou “outros companheiros, para anunciarem e realizarem, por
todo o mundo, a obra de salvação”.
Depois de rezado este
historial de salvação, vem o núcleo da Oração Consecratória:
Agora, Senhor, concedei
também, à nossa fragilidade, estes cooperadores, pois deles carecemos no
desempenho do sacerdócio apostólico. Nós
Vos pedimos, Pai todo-poderoso, constituí estes vossos servos na dignidade de
presbíteros; renovai em seus corações o Espírito de santidade; obtenham, ó
Deus, o segundo grau da Ordem sacerdotal que de Vós procede, e a sua vida seja
exemplo para todos.
A seguir, vêm em termos de petição as caraterísticas
de que se devem revestir os presbíteros na sua vida e ministério:
Sejam cooperadores
zelosos da Ordem (episcopal), a fim de que, pela sua pregação, as palavras do Evangelho frutifiquem,
pela graça do Espírito Santo, nos corações dos homens, e cheguem até aos
confins do mundo.
Sejam (juntamente com os bispos), fiéis dispensadores
dos divinos mistérios, para que o povo que a Deus pertence renasça pelo banho
da regeneração e se alimente do altar, os pecadores se reconciliem e os
enfermos encontrem alívio.
Unam-se (aos bispos) para invocar a
misericórdia do Senhor pelo povo a eles confiado e em favor do mundo inteiro. Assim
todas as nações, congregadas em Cristo, se hão de converter num só povo que
pertença a Deus e consumar-se no seu Reino.
***
É uma missão
hercúlea, não é? O Pontifical Romano não o esquece e recorda (vd n. 103):
“É dever de todos os fiéis da diocese orar pela perseverança dos
candidatos ao presbiterado, o que devem fazer principalmente na oração
universal da Missa e nas preces das Vésperas”.
Depois,
é imperativo continuar a rezar pela multiplicação e santificação dos sacerdotes
e para que o Coração Sacerdotal de Jesus atue através deles. E, finalmente, cada
cristão deve assumir as suas responsabilidades e tarefas na Igreja e no mundo,
em sentido e estilo de cooperação e fraternidade. Prosit! Parabéns à JSF de Vila da Ponte!
2017.07.02 – Louro de
Carvalho
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