domingo, 1 de novembro de 2015

Despenhamento de avião russo na península do Sinai

O dia um de novembro de 2015 é de luto nacional na Rússia. Com efeito, as bandeiras foram colocadas a meia-haste nos edifícios públicos e foi pedido às estações de televisão que não passassem programas de entretenimento, de acordo com um decreto do Presidente Vladimir Putin divulgado em comunicado do Kremlin, citado pela agência AFP. O próprio futebol russo fez também o habitual minuto de silêncio. Assim se rende homenagem às vítimas do despenhamento de avião na península do Sinai e se respeita a tristeza lutuosa das suas famílias.
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O avião russo, que efetuava o voo 9268 a partir de Sharm el Sheik, um dos destinos favoritos dos turistas russos, na fronteira com o Mar Vermelho, e rumo ao aeroporto Pulkovo, em São Petersburgo, onde deveria aterrar pouco depois do meio-dia, caiu, com 224 pessoas a bordo, a sul da cidade egípcia de Al Arish, capital da província do Norte de Sinai, no Egito, pouco tempo após ter levantado voo, no início da manhã do dia 31 de outubro. Infelizmente, apesar de uma secção do aparelho, que ficou partido ao meio, ainda deixar ouvir vozes até muito tarde, teve de concluir-se que não houve sobreviventes.
A correspondente da BBC adiantou que mais de 100 corpos e a caixa negra do avião já tinham sido encontrados, referindo ainda que o piloto tentara fazer uma aterragem de emergência, mas que não conseguiu chegar ao aeroporto mais próximo.
Segundo um porta-voz da Rosaviatsia, agência estatal da aviação russa, a aeronave perdeu o contacto com os radares às 7,14 horas (hora russa), 23 minutos depois de levantar voo, quando sobrevoava a cidade de Larnaca.
Sabe-se que o aparelho – que antes operava pela companhia turca Onu Air e, mais tarde, pela libanesa Middle East Airlines – era pertença da companhia russa MetroJet (Kogalimavia), fundada em 1993 e com base no aeroporto moscovita de Domodedovo, que realiza habitualmente voos charter (fretados).
Por sua vez, a agência oficial RIA Novosti considera que os tripulantes do avião já tinham chamado a atenção da companhia durante várias semanas para problemas nos motores do aparelho, ao serviço há mais de 18 anos.
A mesma agência RIA Novosti noticiou que o avião perdeu altura de forma brusca pouco depois de levantar voo, e logo de seguida, o piloto terá pedido à torre de controlo permissão para realizar uma aterragem de emergência no Cairo, mas não teve tempo para lá chegar.
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Enquanto as autoridades egípcias afirmam que se tratou de uma falha técnica, um grupo jiadista afiliado com o Estado Islâmico apressou-se a reivindicar a responsabilidade pela queda do avião russo, no Egito, que matou 224 pessoas, indicando ter agido como represália à intervenção russa na Síria. Do seu lado, a Rússia considera que a reivindicação “não pode ser considerada precisa”.
A este respeito a agência noticiosa Reuters revelou que uma declaração do grupo está a circular em várias contas do Twitter de militantes islamitas e também foi divulgada pelo site Aamaq, que funciona como agência de notícia semioficial do Estado Islâmico. Pode mesmo ler-se na Internet: “Os guerreiros do Estado Islâmico conseguiram fazer cair um avião russo sobre a província do Sinai com 220 cruzados russos a bordo. Todos foram mortos, graças a Deus.”.
Mas uma fonte dos serviços de segurança do norte do Sinai disse à agência Reuters que uma primeira análise aos destroços sugeria que a queda tenha sido causada por problemas técnicos, mas que o grau de destruição era muito grande para se tirarem conclusões, para já. Adiantou, no entanto, que o avião se partiu em dois: “uma pequena parte na cauda, que ardeu; e uma parte maior, que colidiu com uma zona rochosa”.
Por seu turno, a embaixada da Rússia no Cairo informou que todas as 224 pessoas que estavam a bordo do avião russo que se despenhou na península do Sinai, no Egito, morreram nessa tragédia, pelo que foi pronta a enviar condolências às famílias e amigos. E um porta-voz do exército russo diz que a investigação já estava em curso e que ainda não era possível saber as causas da queda do aparelho.
Por outro lado, vários especialistas militares questionados pela agência de notícias AFP disseram que os insurgentes do Estado Islâmico, que tem o seu bastião no norte da península do Sinai, não dispõem de mísseis capazes de atingir um avião a 30 mil pés, mas não excluem a possibilidade de uma bomba a bordo do avião, ou que tenha sido atingido por um foguete ou míssil quando descia na sequência de falhas técnicas na aeronave.
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Como consequência imediata do acidente/atentado, a Lufthansa e a Air France deixarão de sobrevoar a zona onde avião russo caiu até que as circunstâncias se alterem ou esclareçam.
Segundo declarações de um porta-voz da companhia aérea ao jornal alemão Die Welt, a transportadora alemã Lufthansa invoca “razões de segurança” para deixar de sobrevoar a região, decisão que se manterá até que as causas do acidente sejam clarificadas.
Também a companhia aérea francesa Air France não sobrevoará a península do Sinai até obter esclarecimentos sobre o sucedido com o Airbus A321 que se despenhou, causando a morte dos seus 224 ocupantes (todos cidadãos russos), em que se incluem 17 crianças e 7 tripulantes.
Fonte oficial desta companhia aérea adiantou que a decisão é uma medida de precaução face a informações contraditórias sobre o envolvimento do grupo Estado Islâmico no acidente.
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O Presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o envio de um avião com equipas de resgate para o local onde estão os destroços do avião russo despenhado e decretou um dia de luto nacional para hoje, domingo. Uma nota do Kremlin refere que o Chefe de Estado “deu ordem ao ministro das Situações de Emergências (...), Vladimir Putchov, para enviar imediatamente, em articulação com as autoridades egípcias, aviões do ministério de Situações de Emergências para o Egito para trabalhar no local da queda”. A mesma nota informa que o Presidente já expressara “profundas condolências” aos parentes das vítimas e pediu ao Governo para organizar “ajuda às famílias”.
Por seu turno, o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, afirmou que estas perdas são irreparáveis e ordenou ao ministro dos Transportes, Maxim Sókolov, que viajasse com urgência para o Egito. E a Comissão de Investigação, encarregada das principais investigações na Rússia, anunciou que abriu uma investigação para avaliar as eventuais violações das regras de segurança aérea.
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Este acidente/atentado junta-se à larga lista de desastres aéreos ocorridos no mundo na última década. O último acidente aéreo desta gravidade ocorreu em 24 de março deste ano, quando um Airbus A320 da Germanwings se despenhou em França e morreram 150 pessoas.
Entretanto, aqui fica a memória dos principais acidentes aéreos ocorridos na última década, uma verdadeira necrologia aérea, extraída com adaptações do JN on line, de 31-10-2015:
- A 3 de janeiro de 2004, 148 pessoas, das quais 135 turistas franceses, morreram na queda de Boeing 737, da companhia egípcia Air Flash, no Mar Vermelho, depois de descolar de Sharm el Sheikh (Egito), o mesmo ponto de embarque de 31 de outubro de 2015.
- A 16 de agosto de 2005, morreram os 161 ocupantes de MD-82 da companhia West Caribbean Airways, despenhado sobre Machiques (Venezuela), fronteiriça com a Colômbia, sendo franceses os 152 passageiros.
- A 5 de setembro de 2005, foram 150 os mortos na queda de Boeing 737-200 da linha aérea indonésia low cost Mandala, após a descolagem de Medan (Sumatra).
- A 9 de julho de 2006, foram 150 os mortos na colisão de Airbus A-310 com 200 passageiros contra um edifício durante a aterragem no aeroporto de Irkutsk (Sibéria, Rússia).
- A 22 de agosto de 2006, um avião de passageiros Tu-154 com 169 pessoas, incluindo 45 crianças, despenhou-se na Ucrânia quando tentava realizar uma aterragem de emergência.
- A 30 de setembro de 2006, morreram 154 pessoas ao despenhar-se na selva amazónica um Boeing 737-800 das linhas aéreas GOL, no Mato Grosso (Brasil), após o choque contra uma avioneta cujos ocupantes saíram ilesos.
- A 17 de julho de 2007, um Airbus A320 das linhas aéreas brasileiras TAM saiu da pista ao aterrar no aeroporto de Congonhas (São Paulo, Brasil) e chocou contra um edifício – a considerada a maior tragédia aérea do Brasil em que perderam a vida 200 pessoas.
- A 20 de agosto de 2008, foram 154 os mortos e 18 os feridos na queda de um avião MD-82 da companhia Spanair, que transportava 172 pessoas, no aeroporto de Barajas (Madrid).
- A 1 de junho de 2009, um Airbus A-330 da Air France caiu no Atlântico quando voava do Rio de Janeiro (Brasil) para Paris, com 228 pessoas, a maioria brasileiros e franceses.
- A 30 de junho de 2009um Airbus 310-300 da Air Yemenia despenhou-se no Oceano Índico com 153 pessoas a bordo (66 dos quais franceses), quando voava de Saná para as Ilhas Comores, tendo sido resgatada com vida uma menina.
- A 15 de julho de 2009, morreram os 168 ocupantes de um Tupolev da iraniana Caspian Airlines que se despenhou, após descolar do aeroporto de Teerão rumo a Ereva (Irão).
- A 22 de maio de 2010, foram 158 os mortos e 8 os sobreviventes na queda de um Boeing-737 da Air India Express, procedente de Dubai, no aeroporto de Mangalore (Índia).
- A 8 de julho de 2010, morreram os 153 ocupantes do Airbus A321 da companhia Air Blue, que se despenhou numas colinas perto de Islamabad (Paquistão).
- A 20 de abril de 2012, morreram 138 pessoas, 127 ocupantes de um Boeing 737 da companhia aérea paquistanesa Bhoja e 11 pessoas em terra, na queda do avião que fazia a rota Karachi-Islamabad, numa zona residencial de Hussainabad, próxima de Islamabad.
- A 3 de junho de 2012, morreram os 153 ocupantes de um avião das linhas aéreas Dana Airair, e outras sete pessoas em terra, que colidiu contra um edifício em Iju (Lagos, Nigéria).
- A 8 de março de 2014, desapareceu um Boeing 777-200 da Malaysia Airlines, que descolou de Kuala Lumpur (Indonésia) com destino a Pequim, com 239 pessoas a bordo.
- A 17 de julho de 2014, morreram os 298 ocupantes, a maioria holandeses (173), do avião Boeing 777 da Malaysian Arilines, abatido por um míssil no leste da Ucrânia, numa zona de combates entre separatistas pró-russos e forças governamentais, quando efetuava a ligação entre Amesterdão e Kuala Lumpur.
- A 28 de dezembro de 2014, morreram os 162 ocupantes de um Airbus 320-200 da AirAsia, a maioria indonésios, que tinha descolado de Surabaia, na Indonésia, com destino a Singapura e caiu no mar de Java, a sudoeste da ilha de Bornéu
- A 24 de março de 2015, um Airbus A320 da companhia alemã Germanwings, que fazia o voo 4U 9525, de ligação entre Barcelona (Espanha) e Düsseldorf (Alemanha), despenhou-se perto da cidade de Barcelonette, a cerca de 100 quilómetros a norte de Nice, no sul de França, tendo morrido os 150 ocupantes, 50 dos quais espanhóis.
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Os factos relatados levam-me a questionar como é que, face a tantos acidentes aéreos, de que praticamente não resultam sobreviventes, se continua a sustentar da tese da segurança do transporte aéreo.
Depois, pergunto-me qual é a pressa em vir um grupo reivindicar um facto como atentado por si perpetrado em represália e, ao mesmo tempo, a diplomacia do país objeto da alegada represália vem a desmentir de forma ambígua, considerando que a reivindicação “não pode ser considerada precisa”.
Por fim, devo exprimir o incómodo, o inconformismo e o protesto por se utilizar a morte de civis como medida de represália contra uma intervenção militar que não agrada ao alegado grupo terrorista afiliado num Estado e, por outro lado, a invocação do nome de Deus para atentar contra a vida humana, sobretudo de seres humanos desarmados.
Onde param os preceitos do decálogo Não matarás e Não tentarás o Senhor teu Deus invocando-O em vão? Onde se escondem os frutos da Civilização do século XXI e do encontro de culturas ou da Terra como aldeia global em que os homens se sentem irmãos e clamam à sua maneira Pai Nosso?

2015.11.01 – Louro de Carvalho

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