segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Reescrita da história dos dados estatísticos do INE

De acordo com informação veiculada pela agência Lusa, o INE (Instituto Nacional de Estatística) confirmou hoje, dia 30 de novembro, o facto de uma variação nula do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre do ano corrente face ao trimestre anterior e um aumento de 1,4% em termos homólogos.
O mesmo INE refere que a estimativa provisória da taxa de desemprego para o passado mês de outubro se situa em 12,4%, mantendo-se inalterada face à estimativa definitiva obtida para o passado mês de setembro. Já a estimativa provisória da população desempregada para o mês de outubro é de 632,7 mil pessoas, o que significa um decréscimo de 0,3% em relação ao valor definitivo obtido para o mês anterior (menos 1,7 mil pessoas). Por outro lado, a estimativa da população empregada para o mês de outubro é de 4474 mil pessoas, menos 1,9 mil pessoas que no mês de setembro, o que representa uma variação quase nula.
Esclarece o INE que estas estimativas consideraram a população dos 15 aos 74 anos, tendo o complexo dos valores sido previamente ajustado de sazonalidade.
Noutra ocasião, em finais de outubro, soube-se que o número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego do IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) subira em cadeia pelo segundo mês consecutivo, cifrando-se na taxa dos 12,4%, embora continuasse abaixo do período homólogo. As novas inscrições subiram 40% (mais 74,4 mil pessoas).
Em setembro, havia 631 mil pessoas registadas como desempregadas nos centros de emprego, o que representava um aumento de 0,4% em relação ao mês de agosto mas uma quebra de 12,6% em relativamente ao tempo homólogo do ano anterior. Trata-se, entretanto, do valor e do crescimento mais elevado no período de um ano, apesar de estar abaixo do que foi registado em setembro de 2014.
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As percentagens e os números acima referidos levaram PS, PCP e BE, em declarações separadas, a acusar o anterior Governo de ter dado uma imagem errada e fictícia da economia portuguesa e da situação social do país.
O deputado João Galamba, pelo PS, entende que estes dados, que apontam para uma estagnação da economia portuguesa, demonstram a falsidade da “narrativa vendida” antes das eleições legislativas por PSD e CDS sobre a “retoma económica”.
Por seu turno, o PCP, pela voz do deputado António Filipe, foi mais longe e condenou os partidos da direita por terem promovido um “grande embuste” sobre a situação da economia portuguesa.
Também Mariana Mortágua, do BE, afirmou à agência Lusa que estes dados, que revelam uma estagnação da economia, mostram que “foi criada uma imagem fictícia da recuperação económica” pelo Governo PSD/CDS.
Obviamente que o PSD e o CDS tinham de contestar. Assim, o PSD acusou os “partidos das esquerdas” de fazerem uma “tentativa não séria de reescrever a história” sobre os dados do INE, insistindo na tendência da economia de 2015, que é de crescimento, segundo o entendimento da coligação, havendo apenas variações entre os diversos trimestres do ano de 2015. Mais: na ótica do partido socialdemocrata, a economia portuguesa está a crescer com relação ao ano de 2014.
A este respeito, António Amaro Leitão Amaro, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, assegurando que a avaliação do estado de uma economia tem de considerar “a trajetória” e “a tendência” declarou à Lusa:
“Nós ouvimos já hoje vários partidos das esquerdas a pronunciarem-se e acho que é evidente para todos, perante estes números, que temos aqui uma tentativa não séria de reescrever a história ao dizer que não estamos a crescer. A economia portuguesa face a 2014 está a crescer. A tendência do ano 2015 é uma tendência de crescimento”.
O mencionado deputado socialdemocrata concede que “é verdade que há variações entre os trimestres”, mas trata-se de uma realidade já verificada o ano passado. Segundo o político, quando a economia portuguesa começou a entrar numa dinâmica de crescimento, teve o ano a crescer e uns trimestres com um crescimento mais forte do que noutros.
Porém, insiste em declarar que “a trajetória não se inverteu, o país não está a decrescer, o país estava a crescer no final do terceiro trimestre de 2015”, sustentando que este é um “crescimento assinalável” para o passado recente de Portugal. E sintetizou:
“Temos a economia a crescer 1,4% face a 2014, temos o desemprego que continua a cair, temos a produção industrial que teve mais um bom momento, as exportações que continuam a subir e também o investimento, sendo que dentro de um ano há trimestres que são mais fortes do que outros”.
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Ora, do meu ponto de vista, não vale a pena anatematizar a governação de quase quatro anos e meio. Foram tempos difíceis, porque o país estava como estava. E os sacrifícios pesaram brutalmente sobre muitos, por via dos cortes cegos no rendimento que estivesse à vista e da excessiva oneração fiscal e contributiva – isto além da troika. Porém, das eleições legislativas resultaram dois elencos governativos – um que a Assembleia da República rejeitou e outro que a mesma Assembleia da República legitimou. O primeiro, apesar de breve, lançou para o espectro sociopolítico atoardas e atitudes pouco plausíveis. Recordo, a título de exemplo, as afirmações erráticas do meteórico Ministro da Administração Interna no Algarve, a propósito das inundações e do papel de Deus ou da relação das seguradoras com os sinistros e a ultimação apressada da venda da TAP, sem a salvaguarda de garantias em prol do Estado.
Quanto aos detentores da maioria parlamentar e aos titulares do Governo que dela emanou, a ver vamos o que poderão e ousarão fazer, se as circunstâncias se tornam mais propícias ou mais adversas e como se comportará o terrífico vigilante da governação – aquele que detém todos os poderes constitucionais, menos um.    
É natural que as esquerdas, olhando para os números do INE, julguem desconfortável a situação económica e social do país. Exageram? É a vida, mas a descida do desemprego de ano para ano é ténue e a tendência dos trimestres do corrente ano não está nada almofadada. Algo parecido se deve dizer da economia e do PIB. Os números até permitem concluir como o faz a esquerda ou como o faz a direita. Tudo cresce pouco, apesar de a troika já cá não estar (?!).
Acresce dizer que nem sempre os dados do INE e do IEFP são coincidentes. Mais: quem não se lembra da indisposição do ex-Primeiro-Ministro em relação ao INE? Ademais, não sei se quem escondeu dados relevantes durante o período pré-eleitoral ou adiou a sua divulgação para o período pós-eleitoral tem muita autoridade moral e política para criticar as esquerdas. Investimento, travagem dos despedimentos e exportação em grande – onde está isso?
Talvez devamos todos puxar pela liberalidade da paciência e da tolerância democráticas!

2015.11.30 – Louro de Carvalho

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