O
Papa Francisco empreendeu hoje, dia 10 de novembro, uma viagem de onze horas
pelas cidades de Prato e Florença, situadas no centro da Itália, na Toscânia. O
pretexto para esta visita pastoral é o V Congresso Eclesial Nacional organizado
pela Conferência Episcopal Italiana sob o lema “Em Jesus Cristo o novo humanismo”. Neste contexto afirmou-se como
peregrino, “um peregrino de passagem”, “mas com boa vontade”.
Na
cidade de Prato, o Pontífice encontrou o mundo do trabalho na Praça da Catedral
onde pronunciou o seu primeiro discurso em que afirmou a “dignidade” do
trabalho e saudou também aqueles que não puderam estar no local, como os
“doentes, os idosos e os presos”. A respeito do que viu nesta cidade, declarou
que “a sacralidade de cada ser humano exige respeito por todos, acolhimento e
um trabalho digno”.
No
contexto das condições de trabalho, nem sempre condicentes com os postulados da
dignidade do trabalho e do trabalhador, em que os imigrantes viviam em
condições precárias, dentro do seu local de trabalho, Francisco recordou a
morte de 7 imigrantes chineses nesta cidade italiana – 5 homens e 2 mulheres –
na sequência de um incêndio na zona industrial, há dois anos. À situação de trabalho
em condições de excessivo peso e criador de condições de insegurança e via para
a morte o Papa chama “tragédia da exploração e das condições de vida desumanas”
e clama que “isto não é trabalho digno”.
Ao mesmo tempo, alertou para as consequências da “mentira” ou
da “falta de transparência” na vida das pessoas e da sociedade, denunciou os
vícios sociais e apelou à luta incessante pela verdade:
“A vida de cada comunidade exige que se combata até ao
fim o cancro da corrupção, o cancro da exploração humana e laboral e o veneno
da ilegalidade. Dentro de nós e juntamente com os outros, que nunca nos cansemos
de lutar pela verdade”.
Desafiando os habitantes de Prato – cidade a 15 Km de
Florença com uma forte presença estrangeira (123 nacionalidades diferentes) com especial relevo para a presença
chinesa – a não ficarem “fechados na indiferença”, mas a abrirem-se a todos, e assegurou
que os católicos têm a obrigação de “arriscar” para anunciar a sua fé aos
outros, seguindo pelos “caminhos acidentados de hoje”. Mais defendeu que a
Igreja tem de “acolher quem está ferido e não espera mais nada da vida”, já que
“para um discípulo de Jesus, nenhum vizinho pode tornar-se afastado”.
Francisco deixou ainda palavras de estímulo a iniciativas que
visem a inclusão dos mais desfavorecidos, “num tempo assinalado por incertezas
e medos”, promovendo “pactos de proximidade” e concluiu a sua intervenção pública
na Praça da Catedral com uma saudação-apelo aos jovens a que não cedam “ao
pessimismo e à resignação”.
***
No encontro com os representantes do V Congresso
Nacional da Igreja Italiana na Catedral de Santa
Maria da flor, o Papa falou expressamente do tema do Congresso, para o que se
deixou inspirar pelo ícone de Cristo, o Ecce
Homo que está ao centro do painel que representa o Juízo Final na cúpula
daquele templo. E chamou a atenção para “a transformação do Cristo julgado por
Pilatos no Cristo sentado no trono do juiz. Jesus não assume a espada – símbolo
da justiça – que um anjo lhe apresenta, mas levanta a mão direita e mostra os
sinais da Paixão em que se entregou por todos”. É o Cristo da misericórdia que
o Pai enviou ao mundo para o salvar e não para o condenar (cf Jo 3,17).
Por isso, à
luz do juiz misericordioso, Francisco, de joelhos dobrados em adoração e de
mãos e pés revigorados, fala de um humanismo a partir da centralidade de Jesus,
nossa luz, que nos revela “os traços do rosto autêntico do homem”. E afirma que
“Jesus é o nosso humanismo” e que devemos sempre interrogar-nos com aquela sua
pergunta: “E vós quem dizeis que Eu sou?”
(Mt 16,15). É contemplando o rosto de Cristo
que se desenham os contornos de um novo humanismo, não em abstrato, mas
apresentável aos homens do nosso tempo.
O rosto de
Cristo – diz o Pontífice – mostra-nos um Deus despojado “que assumiu a condição
de servo humilhado até à morte”, semelhante a tantos irmãos nossos “humilhados,
rendidos, despojados”.
Passo em
revista a sua pertinente alocução, de que respigo os dados essenciais.
***
Ao apresentar
os traços do humanismo cristão, Francisco não pretende expor “uma certa ideia
do homem”, mas um conjunto coerente dos “sentimentos de Jesus Cristo”, não como
sensações passageiras de espírito, que nos dão “a quente força interior que nos
torna capazes de viver e tomar decisões”. Esses sentimentos podem sintetizar-se
em três: humildade, desinteresse e
bem-aventurança.
Pela humildade,
cada um deve considerar os outros superiores a si mesmo (cf Fl 2,3), pois, o próprio Cristo não
considera um privilégio ser como Deus. Assim, em vez de vivermos na obsessão de
preservar a própria glória, dignidade e influência, devemos procurar a glória
de Deus, que pode não coincidir com a nossa. O expoente máximo da
desconcertação divina é o facto de a glória de Deus resplandecer “na humildade
do presépio de Belém ou na desonra da cruz de Cristo”.
Pelo desinteresse,
cada um deve procurar, não o seu interesse, mas sobretudo o do outro (cf Fl 2,4). Porém, mais do que o desinteresse,
devemos procurar a felicidade daqueles que estão próximos de nós. Depois, “a
humanidade do cristão consiste em estar sempre em saída” e não se refugia no
narcisismo e na autorreferencialidade. Um coração rico e cheio de si próprio
tem dificuldade em encher-se de Deus. Com base nestes pressupostos, o Papa vem
pedir-nos que não ponhamos a nossa confiança “nas estruturas que nos dão uma falsa
proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis”. Trabalhar e
lutar por um mundo melhor é uma exigência da nossa fé revolucionária que nos é
infundida pelo Espírito Santo – o que implica sairmos de nós mesmos para sermos
homens segundo o Evangelho.
Pela bem-aventurança,
o cristão sente que tem em si a alegria do Evangelho. Percorrendo o caminho das
bem-aventuranças, podemos chegar “à felicidade mais autenticamente humana e
divina”. Jesus fala da felicidade que resulta da pobreza em espírito e da
humildade – que nos levam à prática da solidariedade, da partilha do pouco que
se possui, do sacrifício quotidiano dum trabalho, por vezes duro e mal pago,
mas desenvolvido por amor às pessoas queridas, e da aceitação das próprias
necessidades vividas com a confiança na providência e na misericórdia do Pai, o
que se consegue apenas se tivermos um coração aberto ao Espírito Santo.
***
A partir
daqueles três elementos do humanismo cristão assim entendido e nascido da
“humanidade do Filho de Deus”, o Papa passa à reflexão sobre a Igreja italiana
ora reunida para caminhar em conjunto, numa dinâmica de sinodalidade. E adverte
que estes traços humanistas implicam a não obsessão pelo poder, mesmo que ele
tome o cariz de um poder útil e funcional para a imagem social da Igreja, a
qual, se não assumir os sentimentos de Jesus, desorienta-se, perde o sentido,
mas, se os assumir, saberá estar à altura da sua missão.
Igreja que
pense em si mesma e nos seus interesses – diz Francisco – torna-se triste, mas,
se dispuser do espelho das bem-aventuranças – espelho que não engana –, sabe
que está a trilhar o rumo certo. Igreja que é humilde, desinteressada e
bem-aventurada – sabe reconhecer “a ação do Senhor no mundo, na cultura e na
vida quotidiana das pessoas”. E repete-nos:
“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada a
uma Igreja doente pelo enclausuramento e pela comodidade de agarrar-se às suas
próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro e que
termine fechada numa teia de obsessões e procedimentos”.
A seguir,
chama a atenção para as muitas tentações que existem. Porém, ao invés do que
fez junto da Cúria Romana a quem deu conta de 15 tentações, aqui fica-se por
referir as duas mais pertinentes em seu entender: a pelagiana e a do gnosticismo.
Sobre a primeira,
que induz, sob a aparência de bem, a Igreja a não ser humilde, desinteressada e
bem-aventurada, o Pontífice discorre:
“O
pelagianismo leva-nos à confiança nas estruturas, organizações e planificações
– perfeitas porque abstratas. Leva-nos a assumir um estilo de controlo, dureza
e normatividade. A norma dá ao pelagiano a segurança de quem se sente superior
e tem uma orientação precisa. É nisto que encontra a sua força e não na leveza
do Espírito.”.
E contra o pelagianismo,
diz-nos que “face aos males e problemas da Igreja torna-se inútil procurar
soluções no conservadorismo e fundamentalismo, na recuperação de condutas e
formas superadas que já nem têm capacidade de ser significativas”. E ensina
peremptoriamente:
“A doutrina cristã não é um sistema fechado e incapaz
de gerar questões, dúvidas, interrogações; é, antes, viva, sabe inquietar e
animar. Tem uma face não rígida, tem um corpo que se move se desenvolve, tem
carne tenra: a doutrina cristã chama-se
Jesus Cristo.”.
Contra o
pelagianismo, a constante reforma da Igreja não se realiza plenamente na
alteração das estruturas; significa, antes, o configurar-se com Cristo e
radicar-se nele deixando-se conduzir pelo Espírito. Neste pressuposto,
Francisco incita a Igreja italiana a assumir “sempre o espírito dos seus
grandes exploradores que, em seus navios, se apaixonaram pela navegação em mar
aberto e não tiveram medo das fronteiras e das tempestades”. Quer que seja uma
Igreja livre e aberta aos desafios do presente, assumindo o propósito paulino:
“Fiz-me débil pelos débeis, para ganhar
os débeis; fiz-me tudo por todos, para salvar a cada um a todo o custo” (1 Cor 9,22).
Em relação ao
gnosticismo,
o Papa adverte para o facto de a confiança no raciocínio lógico e claro
fazer-nos “perder a sensibilidade da carne do irmão”. Embora o seu fascínio
seja o de uma fé apoiada no subjetivismo em que o grande interesse é o da
experiência do conforto e da iluminação racional, o gnosticismo não permite que
saiamos do enclausuramento nas nossas razões e sentimentos. É a contemplação do
mistério da encarnação que nos faz entender a transcendência cristã e superar
qualquer forma de espiritualismo. Não pôr em prática a Palavra ou não a levar
para a realidade significará construir na areia e degenerar em intimismos que
não dão fruto e tornam estéril o dinamismo cristão.
Francisco, a
este propósito, aponta os grandes vultos de humildade, desinteresse e alegria
na Igreja italiana, como Francisco de Assis e Filipe de Néri, mas não deixa de
referir a proximidade dos verdadeiros pastores espelhada na criação de
personagens como o padre de aldeia Dom Camilo a contracenar com Peppone, o
líder local dos comunistas – adversários, lutadores, amigos.
E, voltando
ao cenário do Ecce Homo acima
evocado, o insigne preletor chama a atenção para o que exige Jesus em ordem ao
Juízo Final – a tal proximidade efetiva e afetiva de pastores e fiéis junto de
quem não tem, não sabe ou não pode (cf. Mt 25,34-36).
***
O programa de
vida cristã proposto por Bergoglio compreende o movimento entre as
Bem-aventuranças e as Palavras de Cristo quanto ao juízo final – “poucas
palavras, mas práticas”. E o modelo a seguir é o próprio Cristo com seu rosto e
gestos de misericórdia e de proximidade, como atestam os casos da samaritana (Jo 4,7-26), de Nicodemos (Jo 3,1-21), da unção de seus pés pela mulher
pública (Lc 7,36-50), da abertura dos olhos aos cegos (cf. Mc 7,33) ou de comer e beber com os
pecadores (Mc 2,16; Mt
11,19). É este perfil de
Jesus que atrai a simpatia do povo e nos faz sentir a alegria e simplicidade de
coração (cf At 2,46-47).
Nestes termos,
o Papa quer que os bispos sejam pastores que se movam entre as pessoas e nada
mais: que seja esta a sua alegria, alegria que ninguém lhe possa tirar. Em vez
de pregadores de uma complexa doutrina, importa que sejam anunciadores de
Cristo morto e ressuscitado por nós. É este o essencial do quérigma.
Depois, vem a
veemente recomendação papal a toda a Igreja italiana, despida de poder, imagem
e dinheiro: “a inclusão social dos pobres, que têm um lugar privilegiado no povo de
Deus, e a capacidade de encontro e de diálogo para favorecer a amizade social
no país, na busca do bem comum”. E fundamenta esta opção pelos pobres
na primazia que lhe dá a caridade cristã testemunhada por toda a Tradição da
Igreja, como refere João Paulo II na SRS,42 (Sollicitudo rei socialis), no facto de Deus se ter feito pobre por nós para
nos enriquecer com a sua pobreza, como recorda Bento XVI (Discurso à V CELAMC, 2007) e na convicção de que os pobres,
pela sua própria experiência de sofrimento, conhecem bem os sentimentos de
Cristo. Por isso, reitera:
“Somos chamados a descobrir Cristo
neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser
seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria
que Deus nos quer comunicar através deles” (EG, 198).
Na convicção
de que a pobreza evangélica é criativa, acolhedora, protetora e rica de
esperança, o Papa lança uma outra recomendação: a capacitação para o diálogo e para
o encontro.
Não se trata
de negociar, ou seja, procurar extrair a fatia do bolo comum que deva caber a
cada um. Trata-se de procurar o bem comum para todos, discutir em conjunto, pensar
nas melhores soluções para todos. É certo que muitas vezes o diálogo envolve o conflito,
mas é preciso “aceitar suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo num elo
de ligação de um novo processo” de diálogo (cf. EG,227).
O processo de
diálogo deve ter em conta que não existe humanismo autêntico que não contemple o
amor como vínculo entre os seres humanos, seja a nível pessoal, íntimo e social,
seja a nível político e intelectual. Sobre este postulado, contra o aforismo de
Hobbes homo homini lupus, se funda a necessidade do diálogo e do
encontro para a construção conjunta da sociedade civil.
E o Bispo de
Roma dá como exemplo o da sociedade italiana, que se constrói quando podem
dialogar de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: a popular, a
académica, a juvenil, a artística, a tecnológica, a política, a dos meios de comunicação
social… E nesta construção a Igreja há de ser “fermento de diálogo, de encontro, de unidade”. Até as nossas
formulações de fé são fruto do diálogo e do encontro entre culturas, comunidades
e instâncias diferentes. Por isso, não há que temer o diálogo, dado que o
confronto e a crítica ajudam a preservar a teologia evitando que ela se
transforme em ideologia.
Porém, adverte
o Pontífice, dialogar não é só falar e discutir, mas trabalhar conjuntamente em
projetos comuns e em obras comuns – entre católicos e entre todos os de boa vontade.
Por outro
lado, a Igreja deve saber dar uma resposta clara face às ameaças que emergem no
seio do debate público, já que os crentes são cidadãos e como crentes e cidadãos
podem dar um contributo específico para a construção da sociedade comum. E o
Papa aponta o exemplo de Florença em que arte,
fé e cidadania se entrecruzam num equilíbrio dinâmico entre a denúncia e a
proposta. Em vez de museu, a nação é obra coletiva em constante construção pondo
em comum o que diferencia, incluindo as pertenças políticas e religiosas.
E vem, neste
contexto de diálogo nas diferenças, o apelo sobretudo aos jovens para que
superem a apatia, munindo-se da fortaleza e jovialidade no falar e no agir (cf. 1Jo 1,14; 1Tm 4,12). Na construção de uma Itália melhor,
é preciso não olhar da varanda da vida, mas empenhar-se, envolver-se no amplo
diálogo social e político; é preciso levantar as mãos da fé para o céu, mas simultaneamente
edificar uma cidade construída sobre relações fundamentadas no amor de Deus. É assim
que se aceitarão os desafios de hoje e se viverão as mudanças e transformações.
***
E, na certeza
de que o nosso tempo requer a vivência dos problemas como desafios e não como
obstáculos e de que é o Senhor quem opera no mundo, o Papa apela de Evangelho na
mão:
“Ide, pois, às saídas dos caminhos e
convidai para as bodas todos quantos encontrardes, não excluindo ninguém.’
(Mt 22,9). Acompanhai sobretudo quem está deixado
à beira da estrada, “coxos, aleijados,
cegos, surdos” (Mt 15,30).
E, enquanto discorre
que lhe apraz uma Igreja italiana inquieta, cada vez mais próxima dos abandonados,
dos esquecidos, dos imperfeitos – uma Igreja alegre com o rosto de mãe, que compreende,
acompanha e acaricia e em que vale a pena acreditar – recorda-nos:
“O humanismo cristão a que sois chamados afirma radicalmente
a dignidade de cada pessoa como Filha de Deus, estabelece entre todos os seres
humanos uma fundamental fraternidade, ensina a compreender o trabalho, a habitar
o mundo criado como casa comum, proporciona razões para a alegria e para o
humorismo, mesmo no meio de uma vida por vezes dura”.
Finalmente, com
vista à realização deste sonho que induz a inovar na liberdade, solicita a que
se proceda de modo sinodal, em todas as circunscrições eclesiásticas, a um aprofundamento
da sua exortação apostólica Evangelii
Gaudium, para dela extrair critérios práticos e operacionalizar as suas disposições,
com destaque para 3 ou 4 prioridades selecionadas no congresso. Confia na capacidade
de estudo e reflexão de todos, até porque se trata de “uma Igreja adulta,
antiquíssima na fé, sólida nas raízes e abundante nos frutos”. E entrega os
congressistas ao cuidado de Maria, venerada em Florença como a Santíssima Anunciada,
à semelhança de quem o Pontífice pretende que toda a Igreja diga com
disponibilidade e alegria: Eis a serva do
Senhor.
***
Talvez não
seja descabido todas as Igrejas acolherem as recomendações feitas à Igreja
italiana, no contexto da sociedade que enfrenta cada vez maiores e mais complexos
desafios, através do aprofundamento oportuno e importuno da Evangelii Gaudium.
2015.11.10 – Louro de Carvalho
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