Carla Alves Ribeiro dá-nos conta, a 9 de
fevereiro, no Diário de Notícias (DN) online, de que, de
acordo com a revelação feita ao jornal norte-americano New York Post, em declarações exclusivas a bordo do
avião presidencial Air Force One, no dia 7, Donald Trump, presidente dos Estados
Unidos da América (EUA), já falou por telefone, por várias vezes, com Vladimir
Putin, presidente da Rússia, para negociar o fim da guerra na Ucrânia.
Porém, ao ser questionado sobre quantas vezes conversou com o líder russo, o presidente norte-americano respondeu que “é melhor não dizer”, mas disse acreditar que Vladimir Putin se preocupa com as mortes no campo de batalha na Ucrânia. “Ele quer ver as pessoas a parar de morrer”, frisou Donald Trump, em declarações ao New York Post, acrescentando, em jeito quase romântico: “Todas essas pessoas mortas – jovens, jovens, pessoas lindas. Elas são como seus filhos, dois milhões delas – e sem razão alguma.”
Também
porfiou que, se tivesse sido eleito presidente, em 2022, “a guerra nunca teria acontecido” e que tem “um
plano concreto para
acabar a guerra”. “Espero que seja rápido.
Todos os dias estão a morrer pessoas. Essa guerra é tão
ruim na Ucrânia. Quero acabar com essa maldita coisa”, adiantou.
De acordo com o New York Post, Donald Trump confessou que sempre
teve bom relacionamento com Putin, ao contrário do seu antecessor, de quem
disse: “Biden foi uma vergonha para nossa nação. Uma vergonha completa.”
Dirigindo-se a Mike Waltz, conselheiro de
Segurança Nacional, que se lhe juntou na comunicação a bordo do Air Force One,
o presidente disse: “Vamos começar essas reuniões. Eles querem encontrar-se.
Todos os dias, pessoas estão a morrer. Jovens soldados bonitos estão a ser
mortos. Homens jovens, como meus filhos. Em ambos os lados. Por todo o campo de
batalha.”
É um arrazoado um pouco diferente do indicado no DN.
Informando que o vice-presidente, James David Vance, se encontrará com Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, na Conferência de Segurança de Munique, na semana em curso, o presidente Donald Trump disse querer fechar um acordo de 500 milhões de dólares com Zelensky, para aceder a minerais de terras raras e a gás, na Ucrânia, em troca de garantias de segurança, em qualquer possível acordo de paz.
Sobre o Irão, Trump disse ao New York Post: “Gostaria de um acordo com o Irão sobre o não nuclear. Eu
preferiria isso a bombardeá-lo. […] Eles não querem morrer. Ninguém quer
morrer. […] Se fizéssemos o acordo, Israel não os bombardearia.”
Porém, disse não revelar detalhes de nenhuma
negociação potencial com o Irão: “De certa forma, não gosto de contar-vos o que
vou dizer-lhes a eles. Sabeis, não é legal. […] “Eu poderia dizer o que tenho a
dizer-lhes a eles, e espero que eles decidam que não farão o que estão a pensar
em fazer, no momento. E acho que eles ficarão realmente felizes. […] “Eu dir-lhes-ia
a eles que faria um acordo.” E, quanto ao que ofereceria ao Irão, em troca, sustentou:
“Não posso dizer isso, porque é muito desagradável. Não vou bombardeá-los.”
***
Porém, de acordo com a agência TASS, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que não poderia confirmar nem negar publicações sobre contactos entre o líder russo, Vladimir Putin, e o presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a Ucrânia.
Anteriormente, o The New York Post escrevera que Trump havia relatado que tinha discutido, por telefone, com Putin uma solução para o conflito na Ucrânia.
A uma pergunta da TASS sobre se Putin e Trump tiveram uma conversa telefónica, após a posse do líder americano, o alto funcionário do Kremlin replicou: “O que pode ser dito sobre essas notícias: à medida que a administração em Washington desdobra o seu trabalho, surgem muitas comunicações diferentes. Essas comunicações são conduzidas por diferentes canais. E, claro, face à multiplicidade dessas comunicações, eu, pessoalmente, posso não saber de algo, não estar ciente de algo. Portanto, neste caso, não posso confirmar nem desmentir.”
Trump expressou o desejo e a prontidão para conversar com Putin, muitas vezes, nas últimas semanas. Todavia, não há relato oficial de quaisquer contactos. A última conversa de Putin com Trump, cujas informações estão disponíveis no site do Kremlin, é de 23 de julho de 2020.
Porém, Leonid Slutsky, chefe do Comité de Assuntos Internacionais da Duma Estatal, referiu que o trabalho de preparação desses contactos “está em estádio avançado”. E Dmitry explicou, mais tarde, que a Rússia e os EUA ainda não começaram a discutir um possível encontro entre os líderes russo e americano, mas que o Kremlin informaria sobre o progresso da organização dos contatos, assim que estivessem disponíveis informações substanciais.
Antes, a Rússia tinha reivindicado a destruição de 36 drones ucranianos, em nove regiões do país, incluindo um na região de Leninegrado, perto de São Petersburgo, o que obrigou a suspender as operações no aeroporto local.
Porém, Daniel
Bellamy questiona-se sobre qual é a probabilidade
de as negociações acabarem com a guerra na Ucrânia, pois, apesar de Trump ter
afirmado que quer ver negociações sobre a Ucrânia, não é claro que Putin
realmente as queira. Na verdade, quase três anos depois de a Rússia ter
invadido a Ucrânia, as suas tropas estão a fazer progressos constantes no campo
de batalha, Kiev debate-se com a escassez de homens e de armas e Donald Trump,
em breve, poderá suspender o fornecimento maciço de ajuda militar à Ucrânia.
Sustenta o articulista
que Vladimir Putin está mais perto do que nunca de atingir os seus objetivos
num país cansado da batalha, e que, por isso, terá poucos incentivos para se
sentar à mesa das negociações, por muito que o líder norte-americano o possa
persuadir ou ameaçar, de acordo com especialistas russos e ocidentais
entrevistados pela Associated Press (AP).
Ambos estão a sinalizar discussões sobre a Ucrânia – por telefone ou pessoalmente – usando elogios e ameaças. Assim, o presidente russo disse que Trump era “inteligente e pragmático” e replicou as suas alegações de ter vencido as eleições de 2020. E a primeira tirada do líder da Casa Branca foi chamar Putin de “esperto” e ameaçar a Rússia com tarifas e cortes no preço do petróleo, o que Moscovo ignorou.
Segundo Donald Trump, os EUA estão a falar com o Kremlin sobre a Ucrânia, sem a participação de Kiev, dizendo que a sua administração já teve discussões “muito sérias”. A sua sugestão é de que ele e Vladimir Putin poderiam, em breve, tomar medidas “significativas” para pôr fim à guerra, na qual a Rússia está a sofrer pesadas baixas diárias, enquanto a sua economia enfrenta duras sanções ocidentais, inflação e uma grave escassez de mão-de-obra.
Todavia, o presidente norte-americano esquece que a economia russa não colapsou e que o Kremlin desencadeou a mais dura repressão contra a dissidência, desde os tempos soviéticos, não sendo objeto de qualquer pressão interna para pôr fim à guerra.
A este respeito, Fyodor Lukyanov, anfitrião de um fórum com Putin, em novembro passado, e presidente do Conselho de Política Externa e de Defesa de Moscovo, considerou: “No Ocidente, veio de algures a ideia de que é importante, para Putin, chegar a um acordo e acabar com as coisas. Não é esse o caso.”
Por seu turno, o presidente ucraniano diz que Putin quer negociar diretamente com Trump, excluindo Kiev, o que vai contra a posição da administração Biden, que ecoou o apelo de Volodymyr Zelenskyy: “Nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia.”
Zelenskyy, vincando que a Rússia quer a “destruição da liberdade e da independência da Ucrânia”, declarou à AP: “Não podemos deixar que alguém decida algo por nós.”
Mais sugeriu que qualquer acordo de paz enviaria aos líderes autoritários da China, Coreia do Norte e Irão o perigoso sinal de que o aventureirismo compensa.
Putin parece esperar que Trump enfraqueça a determinação europeia, em relação à Ucrânia, pois, considerando os líderes europeus como vassalos de Trump, o presidente da Rússia disse, a 9 de fevereiro, que estarão, em breve, “sentados obedientemente aos pés do dono e a abanar docemente as caudas”, enquanto o chefe, rapidamente, os põe ordem com o seu “caráter e persistência”. Trump gaba-se da capacidade de fazer acordos, mas Putin não abdicará facilmente do que sente serem as terras ancestrais da Rússia na Ucrânia, nem desperdiçará o ensejo de punir o Ocidente, minando as suas alianças e segurança e obrigando Kiev a uma política de neutralidade.
Trump quer um legado como pacificador, mas “a História não o verá com bons olhos, se for o homem que dá tudo isto por perdido”, disse Kim Darroch, embaixador britânico nos EUA, de 2016 a 2019. E Oana Lungescu, antiga porta-voz da Organização do Atlântico Norte (NATO), disse que um acordo que favorecesse Moscovo enviaria uma mensagem de “fraqueza americana”.
Trump e Putin encontraram-se, pela última vez, em Helsínquia, em 2018, quando havia “respeito mútuo” entre eles, disse o ex-presidente finlandês Sauli Niinistö, anfitrião da cimeira, vincando que “não são muito semelhantes”, com Putin a ser um pensador “sistemático”, ao passo que Trump age como um homem de negócios que toma decisões “rápidas”.
Daí pode resultar um confronto, se Trump mantiver a pretensão de uma resolução rápida da guerra e Putin procurar uma resolução mais lenta, que reforce a sua posição militar e enfraqueça a vontade política de Kiev e do Ocidente.
Segundo Daniel Bellamy, Zelenskyy declarou à AP que Putin “não quer negociar” e que “vai sabotar a negociação”. Na verdade, Putin já levantou obstáculos, incluindo obstáculos legais, e afirmou que Zelenskyy perdeu a sua legitimidade como presidente.
Putin espera que Trump
se “aborreça” ou se distraia com outra questão, disse Boris Bondarev, antigo
diplomata russo em Genebra, que abandonou o seu posto, após a invasão.
Os especialistas russos apontam para o primeiro mandato de Trump, ao dizerem que Putin se apercebeu de que essas reuniões pouco conseguiam. Uma delas foi uma vitória de relações públicas para Moscovo, em Helsínquia, onde Trump ficou do lado de Putin, em vez das suas próprias agências de inteligência, a propósito da possível interferência da Rússia nas eleições de 2016. Outra foi em Singapura, em 2019, com o líder norte-coreano Kim Jong Un, quando não conseguiu chegar a acordo para travar o programa nuclear de Pyongyang.
No ano passado, o Kremlin disse que um projeto de acordo de paz – rejeitado por Kiev – poderia ser a base para as conversações. Exigiu a neutralidade da Ucrânia, estipulou que a NATO lhe negasse a adesão, impôs limites às forças armadas de Kiev, adiou as conversações sobre o estatuto de quatro regiões ocupadas pela Rússia que Moscovo anexou ilegalmente, mais tarde, e rejeitou a exigência de retirar as suas tropas, pagar uma indemnização à Ucrânia e para enfrentar um tribunal internacional pela sua ação.
Putin não indicou que irá ceder, mas sugeriu que, “se houver vontade de negociar e [de] encontrar uma solução de compromisso, que alguém conduza essas negociações”. “O envolvimento não é o mesmo que negociação”, disse Laurence Bristow, embaixador britânico na Rússia, de 2016 a 2020, inserindo a estratégia russa numa lógica de “o que é meu é meu, e o que é vosso pode ser negociado”.
Bondarev observou que Putin vê as negociações apenas como veículo “para lhe entregar o que ele quer”, sublinhando a surpresa de os líderes ocidentais ainda não terem entendido as táticas do Kremlin. Isto significa que, provavelmente, Putin aceitará, de bom grado, qualquer reunião com Trump, já que promove a Rússia como uma força global e joga bem a nível interno, mas oferecerá pouco em troca.
Trump disse que Zelenskyy deveria ter feito um acordo com Putin, para evitar a guerra, salientando que não teria permitido que o conflito começasse, se ele estivesse no cargo.
No dizer de Richard Connolly, especialista militar e económico russo do Royal United Services Institute de Londres, Donal Trump ameaçou a Rússia com mais tarifas, sanções e cortes no preço do petróleo, mas não existe “arma maravilhosa” económica que acabe com a guerra. E o Kremlin ignora as ameaças, provavelmente, porque o Ocidente já sancionou fortemente a Rússia.
Trump também não pode garantir que a Ucrânia nunca se junte à NATO, nem pode levantar todas as sanções ocidentais, forçar facilmente a Europa a retomar a importação de energia russa ou fazer com que o Tribunal Penal Internacional (TPI) anule o mandado de captura contra Putin, por crimes de guerra. Contudo, pode pressionar a Rússia, apoiando a indústria petrolífera norte-americana, com subsídios, e levantando as tarifas comerciais de 10% impostas à China, em troca de Pequim limitar os laços económicos com Moscovo, o que poderia deixar a Rússia “verdadeiramente isolada”, salientou Richard Connolly.
Por sua vez, a Europa pode reiterar o seu compromisso com Kiev e agradar a Trump, “comprando equipamento militar dos EUA, para dar à Ucrânia”, asseverou Peter Ricketts, antigo conselheiro de segurança nacional do Reino Unido.
Porém, ao ser questionado sobre quantas vezes conversou com o líder russo, o presidente norte-americano respondeu que “é melhor não dizer”, mas disse acreditar que Vladimir Putin se preocupa com as mortes no campo de batalha na Ucrânia. “Ele quer ver as pessoas a parar de morrer”, frisou Donald Trump, em declarações ao New York Post, acrescentando, em jeito quase romântico: “Todas essas pessoas mortas – jovens, jovens, pessoas lindas. Elas são como seus filhos, dois milhões delas – e sem razão alguma.”
É um arrazoado um pouco diferente do indicado no DN.
Informando que o vice-presidente, James David Vance, se encontrará com Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, na Conferência de Segurança de Munique, na semana em curso, o presidente Donald Trump disse querer fechar um acordo de 500 milhões de dólares com Zelensky, para aceder a minerais de terras raras e a gás, na Ucrânia, em troca de garantias de segurança, em qualquer possível acordo de paz.
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Porém, de acordo com a agência TASS, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que não poderia confirmar nem negar publicações sobre contactos entre o líder russo, Vladimir Putin, e o presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a Ucrânia.
Anteriormente, o The New York Post escrevera que Trump havia relatado que tinha discutido, por telefone, com Putin uma solução para o conflito na Ucrânia.
A uma pergunta da TASS sobre se Putin e Trump tiveram uma conversa telefónica, após a posse do líder americano, o alto funcionário do Kremlin replicou: “O que pode ser dito sobre essas notícias: à medida que a administração em Washington desdobra o seu trabalho, surgem muitas comunicações diferentes. Essas comunicações são conduzidas por diferentes canais. E, claro, face à multiplicidade dessas comunicações, eu, pessoalmente, posso não saber de algo, não estar ciente de algo. Portanto, neste caso, não posso confirmar nem desmentir.”
Trump expressou o desejo e a prontidão para conversar com Putin, muitas vezes, nas últimas semanas. Todavia, não há relato oficial de quaisquer contactos. A última conversa de Putin com Trump, cujas informações estão disponíveis no site do Kremlin, é de 23 de julho de 2020.
Porém, Leonid Slutsky, chefe do Comité de Assuntos Internacionais da Duma Estatal, referiu que o trabalho de preparação desses contactos “está em estádio avançado”. E Dmitry explicou, mais tarde, que a Rússia e os EUA ainda não começaram a discutir um possível encontro entre os líderes russo e americano, mas que o Kremlin informaria sobre o progresso da organização dos contatos, assim que estivessem disponíveis informações substanciais.
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Entretanto, no terreno, a Rússia lançou cerca
de 150 drones contra a Ucrânia, durante a noite, dos quais 70 foram abatidos.
Outros 74 aparelhos foram perdidos no local, sem causarem qualquer dano, de
acordo com a Força Aérea Ucraniana, citada pela agência espanhola EFE.Antes, a Rússia tinha reivindicado a destruição de 36 drones ucranianos, em nove regiões do país, incluindo um na região de Leninegrado, perto de São Petersburgo, o que obrigou a suspender as operações no aeroporto local.
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Também
a 9 de fevereiro, Daniel Bellamy, em artigo publicado pela Euronews, sob o título “Trump revela que já falou com Putin sobre
guerra na Ucrânia”, sintetiza as declarações de Donald Trump ao New York Post, bem como a reação do porta-voz do Kremlin, e lembra que
o presidente dos EUA, antes de voltar a assumir o cargo, tinha prometido que
acabaria com a guerra em 24 horas, quando fosse presidente.Ambos estão a sinalizar discussões sobre a Ucrânia – por telefone ou pessoalmente – usando elogios e ameaças. Assim, o presidente russo disse que Trump era “inteligente e pragmático” e replicou as suas alegações de ter vencido as eleições de 2020. E a primeira tirada do líder da Casa Branca foi chamar Putin de “esperto” e ameaçar a Rússia com tarifas e cortes no preço do petróleo, o que Moscovo ignorou.
Segundo Donald Trump, os EUA estão a falar com o Kremlin sobre a Ucrânia, sem a participação de Kiev, dizendo que a sua administração já teve discussões “muito sérias”. A sua sugestão é de que ele e Vladimir Putin poderiam, em breve, tomar medidas “significativas” para pôr fim à guerra, na qual a Rússia está a sofrer pesadas baixas diárias, enquanto a sua economia enfrenta duras sanções ocidentais, inflação e uma grave escassez de mão-de-obra.
Todavia, o presidente norte-americano esquece que a economia russa não colapsou e que o Kremlin desencadeou a mais dura repressão contra a dissidência, desde os tempos soviéticos, não sendo objeto de qualquer pressão interna para pôr fim à guerra.
A este respeito, Fyodor Lukyanov, anfitrião de um fórum com Putin, em novembro passado, e presidente do Conselho de Política Externa e de Defesa de Moscovo, considerou: “No Ocidente, veio de algures a ideia de que é importante, para Putin, chegar a um acordo e acabar com as coisas. Não é esse o caso.”
Por seu turno, o presidente ucraniano diz que Putin quer negociar diretamente com Trump, excluindo Kiev, o que vai contra a posição da administração Biden, que ecoou o apelo de Volodymyr Zelenskyy: “Nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia.”
Zelenskyy, vincando que a Rússia quer a “destruição da liberdade e da independência da Ucrânia”, declarou à AP: “Não podemos deixar que alguém decida algo por nós.”
Mais sugeriu que qualquer acordo de paz enviaria aos líderes autoritários da China, Coreia do Norte e Irão o perigoso sinal de que o aventureirismo compensa.
Putin parece esperar que Trump enfraqueça a determinação europeia, em relação à Ucrânia, pois, considerando os líderes europeus como vassalos de Trump, o presidente da Rússia disse, a 9 de fevereiro, que estarão, em breve, “sentados obedientemente aos pés do dono e a abanar docemente as caudas”, enquanto o chefe, rapidamente, os põe ordem com o seu “caráter e persistência”. Trump gaba-se da capacidade de fazer acordos, mas Putin não abdicará facilmente do que sente serem as terras ancestrais da Rússia na Ucrânia, nem desperdiçará o ensejo de punir o Ocidente, minando as suas alianças e segurança e obrigando Kiev a uma política de neutralidade.
Trump quer um legado como pacificador, mas “a História não o verá com bons olhos, se for o homem que dá tudo isto por perdido”, disse Kim Darroch, embaixador britânico nos EUA, de 2016 a 2019. E Oana Lungescu, antiga porta-voz da Organização do Atlântico Norte (NATO), disse que um acordo que favorecesse Moscovo enviaria uma mensagem de “fraqueza americana”.
Trump e Putin encontraram-se, pela última vez, em Helsínquia, em 2018, quando havia “respeito mútuo” entre eles, disse o ex-presidente finlandês Sauli Niinistö, anfitrião da cimeira, vincando que “não são muito semelhantes”, com Putin a ser um pensador “sistemático”, ao passo que Trump age como um homem de negócios que toma decisões “rápidas”.
Daí pode resultar um confronto, se Trump mantiver a pretensão de uma resolução rápida da guerra e Putin procurar uma resolução mais lenta, que reforce a sua posição militar e enfraqueça a vontade política de Kiev e do Ocidente.
Segundo Daniel Bellamy, Zelenskyy declarou à AP que Putin “não quer negociar” e que “vai sabotar a negociação”. Na verdade, Putin já levantou obstáculos, incluindo obstáculos legais, e afirmou que Zelenskyy perdeu a sua legitimidade como presidente.
Os especialistas russos apontam para o primeiro mandato de Trump, ao dizerem que Putin se apercebeu de que essas reuniões pouco conseguiam. Uma delas foi uma vitória de relações públicas para Moscovo, em Helsínquia, onde Trump ficou do lado de Putin, em vez das suas próprias agências de inteligência, a propósito da possível interferência da Rússia nas eleições de 2016. Outra foi em Singapura, em 2019, com o líder norte-coreano Kim Jong Un, quando não conseguiu chegar a acordo para travar o programa nuclear de Pyongyang.
No ano passado, o Kremlin disse que um projeto de acordo de paz – rejeitado por Kiev – poderia ser a base para as conversações. Exigiu a neutralidade da Ucrânia, estipulou que a NATO lhe negasse a adesão, impôs limites às forças armadas de Kiev, adiou as conversações sobre o estatuto de quatro regiões ocupadas pela Rússia que Moscovo anexou ilegalmente, mais tarde, e rejeitou a exigência de retirar as suas tropas, pagar uma indemnização à Ucrânia e para enfrentar um tribunal internacional pela sua ação.
Putin não indicou que irá ceder, mas sugeriu que, “se houver vontade de negociar e [de] encontrar uma solução de compromisso, que alguém conduza essas negociações”. “O envolvimento não é o mesmo que negociação”, disse Laurence Bristow, embaixador britânico na Rússia, de 2016 a 2020, inserindo a estratégia russa numa lógica de “o que é meu é meu, e o que é vosso pode ser negociado”.
Bondarev observou que Putin vê as negociações apenas como veículo “para lhe entregar o que ele quer”, sublinhando a surpresa de os líderes ocidentais ainda não terem entendido as táticas do Kremlin. Isto significa que, provavelmente, Putin aceitará, de bom grado, qualquer reunião com Trump, já que promove a Rússia como uma força global e joga bem a nível interno, mas oferecerá pouco em troca.
Trump disse que Zelenskyy deveria ter feito um acordo com Putin, para evitar a guerra, salientando que não teria permitido que o conflito começasse, se ele estivesse no cargo.
No dizer de Richard Connolly, especialista militar e económico russo do Royal United Services Institute de Londres, Donal Trump ameaçou a Rússia com mais tarifas, sanções e cortes no preço do petróleo, mas não existe “arma maravilhosa” económica que acabe com a guerra. E o Kremlin ignora as ameaças, provavelmente, porque o Ocidente já sancionou fortemente a Rússia.
Trump também não pode garantir que a Ucrânia nunca se junte à NATO, nem pode levantar todas as sanções ocidentais, forçar facilmente a Europa a retomar a importação de energia russa ou fazer com que o Tribunal Penal Internacional (TPI) anule o mandado de captura contra Putin, por crimes de guerra. Contudo, pode pressionar a Rússia, apoiando a indústria petrolífera norte-americana, com subsídios, e levantando as tarifas comerciais de 10% impostas à China, em troca de Pequim limitar os laços económicos com Moscovo, o que poderia deixar a Rússia “verdadeiramente isolada”, salientou Richard Connolly.
Por sua vez, a Europa pode reiterar o seu compromisso com Kiev e agradar a Trump, “comprando equipamento militar dos EUA, para dar à Ucrânia”, asseverou Peter Ricketts, antigo conselheiro de segurança nacional do Reino Unido.
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Como se vê, a
inteligência e o pragmatismo de Trump têm muitos limites, podendo ceder o passo
ao seu agir truculento, inconstante e hipócrita, enquanto Putin, no seu
discorrer sistemático e autoritário, ganha pontos na arte de levar a água ao
seu moinho. E a paz teimará em não surgir, porque não a querem ou a querem à
maneira de cada uma das partes envolvidas.2025.02.09 – Louro de Carvalho
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