quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

O crescimento trilha caminhos irregulares em contexto de grande incerteza


De acordo com a Euronews, circulam, nas redes sociais, asserções enganosas que sugerem que o Reino Unido será a economia com o crescimento mais rápido da Europa, o que não corresponde à verdade. Assim, publicações, no X, mostram pessoas a celebrar a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) segundo a qual o produto interno bruto (PIB) do Reino Unido crescerá 1,6%, em 2025, à frente dos vizinhos. Esta previsão consta das Perspetivas Económicas Globais para os próximos dois anos, que preveem um crescimento global de 3,3%, para 2025 e para 2026.

Efetivamente, o FMI previu que o Reino Unido será o membro europeu do G7 com o crescimento mais rápido, mas não que seja a economia com o crescimento mais rápido entre todos os países europeus. “A previsão para 2025 está praticamente inalterada, em relação à do World Economic Outlook (WEO) de outubro de 2024, principalmente, devido a uma revisão em alta nos Estados Unidos compensando as revisões em baixa em outras economias importantes”, diz o FMI.

Muitas das publicações nas redes sociais partilham uma ligação ou captura de ecrã para um artigo do The Independent, que, originalmente, exibia tal afirmação, mas que foi alterado. Elogiam a forma como o governo trabalhista, de centro-esquerda, tem gerido a economia e menosprezam os apoiantes dos partidos reformistas e conservadores de direita, o último dos quais esteve no poder, durante 14 anos, antes da vitória esmagadora dos trabalhistas, no verão passado.

Todavia, a asserção de que se prevê que o Reino Unido seja a economia europeia com o crescimento mais rápido está errada. Com efeito, as projeções apontam para um crescimento do PIB do Reino Unido de 1,6%, em 2025, e de 1,5%, em 2026, mas há outros países europeus com melhores previsões. Especificamente, o PIB da Polónia deverá aumentar 3,5% e 3,3%, neste ano e no próximo, respetivamente. Em Espanha, aumentará 2,3% e 1,8%, e nos Países Baixos, 1,6% e 1,8%, de acordo com as projeções do FMI.

O que as publicações nas redes sociais deveriam dizer, e o que se reflete no título alterado do The Independent, depois de ter sido detetado pelos verificadores de factos, é que o Reino Unido deverá ser a “grande” economia europeia com o crescimento mais rápido. Por “grande”, entende-se entre os outros membros europeus do G7: a França, a Alemanha e a Itália. Prevê-se que cresçam 0,8%, 0,3% e 0,7%, respetivamente, neste ano. Para 2026, a França e a Alemanha preveem um crescimento de 1,1%, enquanto a Itália se situará nos 0,9%.

A Zona Euro, no seu conjunto, deverá crescer 1%, em 2025, e 1,4%, no próximo ano, enquanto a Rússia deverá crescer 1,4% e 1,2%. E, na Turquia, um dos países selecionados para análise, prevê-se um crescimento do PIB de 2,6% e de 3,2%, em 2025 e em 2026, respetivamente.

Na sequência da divulgação da projeção global, Rachel Reeves, chanceler do Reino Unido, equivalente a ministro das Finanças, saudou a notícia pelo que significa para a economia britânica. “Prevê-se que o Reino Unido seja a principal economia europeia com o crescimento mais rápido, nos próximos dois anos, e a única economia do G7, além dos EUA, a ver a sua previsão de crescimento atualizada para este ano”, afirmou, considerando: “Irei mais longe e mais depressa na minha missão de crescimento, através de um investimento inteligente e de uma reforma implacável, e cumprirei a nossa promessa de melhorar o nível de vida, em todas as regiões do Reino Unido, através do plano de mudança.”

Segundo o Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE), do governo português, citando o FMI, o PIB mundial deverá aumentar 3,3%, em 2025, e 3,3%, em 2026. A previsão para 2025 foi revista em alta em 0,1% e a previsão para 2026 mantém-se, face ao Outlook de outubro.

Relativamente à Zona Euro, o FMI reviu em baixa a previsão, para 2025, em 0,2%, e a de 2026 em 0,1%, sendo agora as previsões de 1,0%, para 2025, e de 1,4%, para 2026.

Prevê-se, ainda que, para os anos de 2025 e 2026, a Alemanha tenha variações do PIB de 0,3% e 1,1%, que a França tenha variações de 0,8% e de 1,1%, que a Itália tenha variações de 0,7% e 0,9%, e que a Espanha tenha variações de 2,3% e 1,8%, respetivamente.

Para os Estados Unidos da América (EUA), o FMI prevê um aumento de 2,7%, para 2025, e de 2,1%, para 2026 (previsões revistas em alta em 0,5% e em 0,1%, respetivamente, face a outubro).

Porém, o FMI não fica pela apresentação de números percentuais. Tenta fazer uma reflexão crítica de que podem tirar-se ilações.

O crescimento global projetado para 3,3%, em 2025 e 2026, fica abaixo da média histórica (2000-2019), que foi de 3,7%. A previsão para 2025 permanece, praticamente inalterada, em relação ao WEO de outubro de 2024, em grande parte porque a revisão para cima, nos EUA, compensa as revisões para baixo, em outras grandes economias. A inflação global deverá cair para 4,2%, em 2025, para e 3,5%, em 2026, convergindo para o nível-alvo, mais cedo nas economias avançadas do que nas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento.

O balanço de risco de médio prazo comparado com o cenário de base é dominado por fatores adversos, enquanto a perspetiva de curto prazo é caraterizada por riscos com efeitos divergentes. Nos EUA, são observadas melhorias que podem impulsionar o já forte crescimento no curto prazo, enquanto, em outros países, a perspetiva, provavelmente, será revista para baixo, no contexto da maior incerteza política. Choques políticos no processo de desinflação em andamento podem interromper a mudança em direção à flexibilização da política monetária, com implicações para a sustentabilidade fiscal e para a estabilidade financeira. Para gerir tais riscos, as políticas devem concentrar-se em equilibrar as compensações entre inflação e atividade real, restaurando o espaço de manobra e melhorando as perspetivas de crescimento de médio prazo, acelerando as reformas estruturais e fortalecendo as regras e a cooperação multilaterais.

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Convém, agora, deixar uma resenha sobre as 10 grandes economias do Mundo, em 2024 na ótica do FMI. Para determinar quais são as maiores economias, considera-se o PIB de cada país – indicador que representa a somatório dos bens e dos serviços produzidos em um ano.

Considerado apenas o PIB dos países das 10 maiores economias, elas correspondem a dois terços da economia mundial, enquanto as 20 maiores economias correspondem a mais de 80% de toda produção mundial. Como cada país (ou grupo de países) possui a sua moeda, para fazer a comparação, é necessário fazer a conversão para uma mesma moeda. Porém, as instituições usam a conversão ao dólar ou ao euro (na Europa) por taxas de câmbio oficiais.

* Os EUA possuem a maior economia, em termos de PIB nominal. O valor estimado, em 2024, é de cerca de 28,78 triliões de dólares. Uma das principais razões é o acesso abundante a recursos naturais, como o petróleo, o gás natural, o minério de ferro e o carvão. Além disso, o país tem infraestrutura interna muito bem desenvolvida, alta produtividade e força de trabalho altamente qualificada e com bons índices de educação, bem como uma economia altamente diversificada, que se beneficia de setores fortes e inovadores, como a tecnologia, as finanças, a saúde e a educação. Outro fator importante é a estabilidade política e jurídica, que atrai investimentos internacionais e estimula o crescimento económico. De facto, a existência de uma democracia consolidada, no atinente ao respeito pelo Estado de Direito (do que se duvida cada vez mais), e um ambiente empresarial favorável também relevam para explicar o sucesso económico dos EUA.

* A China tem o 2.º maior PIB, com um valor de 18,53 triliões de dólares, que foi construído, ao longo de anos, com o forte crescimento económico. Tem investido, pesadamente, na economia e, com o incentivo do governo a investir em infraestrutura e em tecnologia, tornou-se uma das principais potências. Porém, desde o início da pandemia de covid-19, enfrenta desafios na economia. Após a queda no crescimento do PIB, em 2020, para 3%, abaixo da meta de 5,5%, as projeções tornaram-se menos otimistas, vindo o país a trabalhar com cenários mais modestos de crescimento. Ainda assim, a China é tida como uma economia em ascensão.

* A Alemanha tornou-se a 3.ª maior economia, em termos de PIB nominal, que chegou à casa dos 4,59 triliões de dólares, porque a economia é diversificada e tem vários setores importantes. É o país mais industrializado da Europa e com forte indústria automóvel, sendo o maior setor económico. E possui outros setores especializados, como equipamentos elétricos e eletrónicos, engenharia mecânica, produtos químicos, turismo, finanças, construção civil e agricultura.

* O Japão é a 4.ª maior economia (PIB 4,11 triliões de dólares), perdendo a 3.ª posição para a Alemanha, e é uma potência regional, mas a sua economia enfrenta desafios, incluindo o declínio natalidade e o envelhecimento rápido da população. Além disso, tem dívida pública muito alta, em relação ao PIB, estimada em 265,95%, em 2023. Apesar disso, o Japão, com um setor tecnológico avançado, é um dos principais produtores automóveis, eletrónicos e maquinários do Mundo, com uma cultura empresarial forte, tendo empresas como a Toyota, a Sony e a Nintendo.

* A Índia tem um PIB dos maiores (o 5.º), atingindo 3,94 triliões de dólares. O país mais populoso do Mundo ultrapassou o Reino Unido e a França, em comparação com o ranking de 2023.

Devido ao rápido crescimento económico, nas últimas décadas, foi impulsionada pelas reformas estruturais e políticas, bem como pelo seu grande potencial de mercado. Além disso, a taxa de desemprego é relativamente baixa, em comparação com outros países, estando em torno de 4,7%, em 2023. Já o PIB cresceu mais de 7,5%, em 2023.

É de ressaltar que o PIB nominal se calcula à taxa de câmbio oficial do mercado ou governamental, considerando a produção de bens e de serviços, num determinado ano.

* O Reino Unido é a 6.ª maior economia, em termos do PIB, com 3,50 triliões de dólares. Além disso, em 2022, o PIB per capita da região foi de cerca de 46125,26 dólares e o PIB desse ano ficou em 3,089 triliões de dólares, o que é considerado um valor bastante relevante não só no cenário europeu, mas global.

A economia do Reino Unido é a 2.ª maior na Europa, atrás apenas da Alemanha, e faz parte do G8, atuando como fundador. No entanto, é de mencionar que a economia do Reino Unido caiu 9,9%, em 2020, a maior contração anual da produção, em mais de 300 anos, como resultado dos impactos da pandemia da covid-19.

* A França ocupa a 7.ª posição no ranking das maiores economias, com um PIB estimado em cerca 3,13 triliões de dólares. Desse modo, no primeiro trimestre de 2024, a terceira maior economia da Europa registou um crescimento de 0,2% e uma taxa de desemprego de 7,5%.

A iniciativa privada é um dos principais motores da sua economia, enquanto o governo atua com incentivos e investimentos relevantes, para impulsionar o crescimento económico do país. Porém, vale a pena destacar que, em 2020, a França sofreu uma das mais agudas contrações económicas entre os países da União Europeia (UE), devido à pandemia da covid-19, mas começou a recuperar em 2021, com um crescimento estimado em 6,3% do PIB.

* O Brasil, que era a 9.ª maior economia, em 2023, em 2024, ultrapassou a Itália e tornou-se a 8.ª maior economia (PIB 2,33 triliões de dólares). Ganhou tal destaque, devido a diversos fatores. Primeiro, é o 5.º maior país em extensão territorial e tem grande variedade de recursos naturais, como o petróleo, o minério de ferro, a soja, o café, entre outros. Segundo, possui mais de 215 milhões de habitantes, o que lhe confere grande mercado consumidor e abundante mão-de-obra. Terceiro, o setor de serviços, que representa cerca de 70% do seu PIB, contribui para a posição do Brasil como uma das maiores economias. Quarto, possui indústria forte, responsável por cerca de 24% do PIB, e é um grande exportador de commodities agrícolas e minerais.

É de relevar que enfrenta desafios económicos, como o alto juro (para combater a inflação) e a falta de investimento em infraestrutura e em educação, o que afetará o desempenho económico, a longo prazo. Apesar disso, em 2022, o teve o 7.º melhor desempenho entre as principais economias no 2.º trimestre. Além do agronegócio, mostra força no minério e no petróleo.

* A Itália é uma das maiores economias (a 9.ª), com um PIB nominal de 2,33 triliões de dólares. A sua economia é diversificada, com mais de 70% do PIB proveniente do setor de serviços e 24,1% do PIB proveniente da indústria, que tem relevância no país. Porém, a Itália tem enfrentado desafios económicos, nos últimos anos. Por exemplo, a pandemia de covid-19 teve significativo impacto na economia, com o PIB a sofrer a variação negativa de 9%, em 2020. E, em 2023, a Itália foi o país com o maior défice fiscal, entre todos os que integram a UE. O défice italiano ficou em 7,4% do PIB.

* O Canadá tem o 10.º maior PIB de 2,24 triliões de dólares. É um país desenvolvido, com um dos maiores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Mundo (0,935) e uma economia de serviços, que responde por cerca de 70% do PIB canadense. O setor de serviços é composto, sobretudo, pelas áreas de finanças, de tecnologia, de comércio, de transporte e de turismo.

O setor manufatureiro é outro importante componente da economia, especialmente, na produção de equipamentos de transporte, de tecnologia, de produtos químicos e de equipamentos eletrónicos. Também favorecem a economia canadense a proximidade com os EUA e diversos tratados comerciais, como o Tratado Automobilístico (Canada-United States Automotive Agreement) de 1965, o Tratado de Livre Comércio (FTA), de 1989, e o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), de 1994.

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Uma economia forte não significa não coexistência com acentuada crise financeira (caso da Itália e, sobretudo, da Alemanha), fortes desafios económicos (casos da China e do Japão), contrações económicas (casos do Reino Unido e da França), défice fiscal (caso da Itália). Além disso, o crescimento económico disfarça, muitas vezes, o calvário provocado pelo crescente fosso entre os poucos muito ricos e muitos que são muitíssimo pobres.

Acresce referir as incertezas que assolam o Mundo com as políticas desencadeadas pela nova administração da Casa Branca pela ascensão da extrema-direita, que podem colocar em risco muitas da previsões em referência.

2025.02.06 – Louro de Carvalho


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