sábado, 22 de fevereiro de 2025

Papa Francisco em estado crítico e com prognóstico reservado

 

Na tarde do dia 22 de fevereiro, a informação do Vaticano sobre o estado de Francisco, hospitalizado, há nove dias (desde o dia 14), primeiro com o diagnóstico de infeção respiratória polimicrobiana e, depois, com pneumonia bilateral, dava nota que o Papa está em estado crítico, após ter sofrido longa crise respiratória asmática, na manhã do dia 22.

“O estado do Santo Padre continua crítico, como explicado ontem, o Papa não está fora de perigo. Esta manhã, o Papa Francisco apresentou uma crise respiratória asmática de longa duração, que exigiu terapia de alto fluxo de oxigénio”, referia o portal Vatican News, acrescentando: “Os exames de sangue de hoje também mostraram uma plaquetopenia, associada a uma anemia, que exigiu a administração de hemotransfusões. O Santo Padre continua vigilante e passou o dia na poltrona, embora mais debilitado do que ontem. No momento o prognóstico é reservado.”

Entretanto, a Sala de Imprensa fez saber, que o Papa não rezará o Angelus, no domingo, dia 23, que será transmitido e não lido, como sucedeu no dia 16. Aliás, Francisco já se fez representar pelo cardeal Tolentino de Mendonça, na celebração eucarística do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, nesse dia 16, tal como não pronunciou o texto da catequese geral de quarta-feira (dia 19), que a Sala de Imprensa fez publicar.  

No dia 19, o professor Sergio Alfieri, que acompanha o Pontífice, disse que “o Papa não está fora de perigo”, acrescentando que, depois, se dirigira à capela para rezar. “O Papa sempre quis que disséssemos a verdade”, continuou Alfieri, durante o primeiro briefing entre os médicos e a imprensa realizado na entrada do hospital, explicando que a doença crónica se mantém e que o Papa sabe disso. “Com efeito, disse: ‘Compreendo que a situação é grave’”, revelou Alfieri, acrescentando: “Por vezes, sente falta de ar e essa sensação não é agradável para ninguém.”

Também no dia 23, Francisco não preside à celebração eucarística do Jubileu dos Diáconos, com a ordenação diaconal de novos, sob a presidência do pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, Secção para Questões Fundamentais da Evangelização no Mundo, Dom Rino Fisichella, que lerá a homilia preparada por Francisco, tal como fizera o cardeal Tolentino de Mendonça, no dia 16.   

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Desde que a situação se tornou mais preocupante, aumentar o rumor sobre a renúncia do Pontífice. “Todos eles me parecem especulações inúteis. Agora estamos a pensar na saúde do Santo Padre, na sua recuperação, no seu regresso ao Vaticano: estas são as únicas coisas que importam”, afirmou o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, em entrevista ao Corriere della Sera. “Graças a Deus, as notícias que chegam de Gemelli são encorajadoras, está a recuperar. Foi-lhe enviada documentação, o que significa que está a evoluir bem”, dizia Parolin, comentando, em seguida, sobre os “corvos” em torno do Vaticano que querem que Francisco se demita: “Honestamente, devo dizer que não sei se existem tais manobras e tento, em todo o caso, manter-me afastado. Por outro lado, penso que é normal que, nestas situações, se espalhem rumores descontrolados ou que se faça algum comentário inadequado: não é certamente a primeira vez que acontece. No entanto, não creio que haja um movimento específico e, até à data, não ouvi nada do género.”

O cardeal Pietro Parolin, que retornou de Burkina Faso, há alguns dias, informou o Papa de que está disponível para o encontrar no hospital, se ele o julgar necessário, “mas, até agora, não houve necessidade”. A este respeito, sustenta que é melhor ele permanecer protegido e receber o mínimo de visitas possível, para descansar e serem mais eficazes as terapias.

Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Manuel Fernández, entrevistado pelo jornal argentino La Nación, afirma que “não faz sentido que alguns grupos façam pressão pela renúncia. Já o fizeram, várias vezes, nos últimos anos, e esta só pode ser uma decisão completamente livre do Santo Padre para que seja válida”. E acrescentou: “Não vejo um clima pré-conclave, não vejo falar de um possível sucessor mais do que se falou há um ano, ou seja, nada de especial.” E concluiu: “Para mim, é importante que o organismo do Papa tenha reagido bem à terapia atual.”

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Na primeira conferência de imprensa, no dia 21, os médicos que tratam Francisco, no Hospital Gemelli, disseram que ele não está fora de perigo, apesar de, habitualmente, estar a respirar sozinho e trabalhar. O risco é que, a partir dos pulmões, as bactérias cheguem ao sangue. “O Papa não está fora de perigo, mas se perguntam se ele está em perigo de vida, a resposta é que não está”, afirmou o professor Sergio Alfieri, em conferência de imprensa sobre o estado de saúde do pontífice, acrescentando não ser possível fazer previsões, a curto prazo, mas é certo que permanecerá hospitalizado no Gemelli, pelo menos, durante toda a próxima semana.

Alfieri confirmou que “o Papa não está ligado a nenhuma máquina”. “Quando precisa, coloca as almofadas nasais para receber oxigénio, mas respira espontaneamente e alimenta-se sozinho”.

O Papa tem atualmente uma infeção pulmonar. “Se, por acidente, um destes germes passasse para a corrente sanguínea, haveria sépsis”, explicou Alfieri, para quem “o verdadeiro risco é se os germes passarem para o sangue”.

Atualmente, não existem tais germes no sangue, a infeção está apenas no pulmão”. “Este é o verdadeiro risco que uma pessoa da sua idade pode correr”, afirmou Alfieri, sobre a hipótese de sépsis. A infeção “está contida, de momento”, acrescentou o médico Luigi Carbone.

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No dia 20, Matteo Bruni, porta-voz da Santa Sé, em atualização do estado de saúde do Papa, após a confirmação, no dia 19, de que as análises ao sangue revelaram ligeira melhoria, em algumas áreas, informava que estava a recuperar de pneumonia bilateral, tendo tomado o pequeno-almoço fora da cama, na manhã desse dia, na sequência de noite tranquila.

O Papa Francisco recebeu, nesse dia, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni – a primeira visita de alto nível conhecida que teve desde que foi internado. Depois do encontro de 20 minutos, Meloni referiu que o Papa estava bem-disposto e “brincou como sempre”.

O Papa foi internado na policlínica Gemelli, em Roma, no dia 14, após uma crise de bronquite. Depois, foi-lhe diagnosticada pneumonia nos dois pulmões, para lá de infeção polimicrobiana nas vias respiratórias (a princípio, não se sabia se era infeção virosal se era bacteriana). Está a tomar uma combinação de antibióticos e cortisona para o que os médicos também diagnosticaram como sendo uma bronquite asmática. O pontífice de 88 anos, que teve um caso agudo de pneumonia, em 2023, é propenso a infeções respiratórias no inverno.

Os médicos dizem que a pneumonia em doentes idosos pode torná-los particularmente propensos a complicações, dada a dificuldade em expulsar eficazmente o líquido dos pulmões. Para lá da idade, a preocupação com a saúde do Papa resultam de o atual diagnóstico poder causar problemas adicionais, já que lhe foi retirada parte de um pulmão, em jovem.

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Da Conferência Episcopal Italiana aos fiéis filipinos e à Igreja Anglicana, chegam, de toda a parte, mensagens de proximidade e orações pela saúde de Francisco, que está internado no Hospital Gemelli de Roma desde 14 de fevereiro, devido a uma pneumonia bilateral. O cardeal vigário de Roma, cardeal Baldassare Reina, convida as pessoas a “uma hora de adoração silenciosa, antes da missa”, e a rezar pela saúde do Pontífice.

Mensagens de proximidade e apelos à oração são compartilhados nas redes sociais e na imprensa internacional pela saúde do Papa. “Ao confiar ao Senhor o trabalho dos médicos e da equipa de saúde, abraçamos o Santo Padre com afeto”, diz, por exemplo, um comunicado da Conferência Episcopal Italiana, publicado a 19 de fevereiro. Os bispos convidam as comunidades eclesiais a apoiar o Pontífice “com a oração, neste momento de sofrimento”, e renovam a sua “proximidade”.

O cardeal vigário para a diocese de Roma, Baldassare Reina, enfatizou que os fiéis da capital estão a acompanhar, “com atenção e confiança, as condições de saúde do nosso Bispo”. Em seguida, pediu a todas as comunidades da capital que vivam “uma hora de adoração silenciosa, antes da missa vespertina de hoje” (dia 19), para rezar pela saúde do Papa. “Como uma grande família, pedimos que o Senhor dê ao nosso bispo a força necessária para enfrentar este momento delicado”, acentuou.

Do outro lado do Mundo, nas Filipinas, o cardeal Pablo Virgilio David, bispo de Kalookan e presidente da Conferência Episcopal do país, pediu aos fiéis que rezassem pela “cura e recuperação” do Pontífice, “neste momento difícil”. O núncio apostólico, Dom Charles Brown, reiterou o mesmo pedido nos microfones da rádio católica filipina, Radio Veritas, acrescentando que rezassem pela equipa médica que cuida do Papa.

O Patriarca de Lisboa, Dom Rui Valério, no dia 19, enviou uma carta a todas as paróquias e comunidades do patriarcado, pedindo-lhes que acrescentassem uma intenção especial de oração pela saúde do Papa, na celebração da missa. “Pelo Papa Francisco, Pastor da Igreja Universal”, escreve o patriarca Valério, a título de exemplo, “para que seja fortalecido e consolado, neste momento de fragilidade, e possa retomar os seus compromissos anteriores, rezemos, irmãos”. “Neste Ano Jubilar, dedicado ao tema da esperança, continuemos firmes na nossa peregrinação de fé, fortalecidos pelo testemunho dedicado de nosso” Pontífice, concluiu o prelado.

A Igreja Anglicana expressa proximidade. Quero “assegurar-lhe” as “minhas orações e as de tantos fiéis anglicanos pela saúde do Papa Francisco durante este tempo”, enfatizou o arcebispo anglicano de York, no Reino Unido, Stephen Cottrell, em carta ao cardeal arcebispo de Londres, Vincent Nichols. “Continuamos a rezar para que Sua Santidade seja nutrido pela esperança do Evangelho”, continuou o prelado anglicano, “e conheça o amor e a cura de nosso Senhor Jesus Cristo, nestes dias”. Na sua carta de resposta, o cardeal Nichols agradeceu ao arcebispo, pela sua “bondade e preocupação”, e enfatizou que o “Santo Padre é revigorado pelo apoio das orações de tantos”. “As suas palavras, cheias de caridade e preocupação fraterna são”, escreveu, “um testemunho dos profundos laços que nos unem em Cristo”. 

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As crianças enviam-lhe desenhos (uma criança que teve pneumonia bilateral enviou-lhe carta a encorajá-lo), os reclusos escrevem-lhe cartas, os chefes de Estado publicam mensagens nas redes sociais, as conferências episcopais convocam momentos de oração, e dezenas de fiéis vão-se revezando, em vigília ininterrupta junto ao hospital Gemelli, em frente da estátua de São João Paulo II. É como uma “onda de carinho pelo Papa”, a quem foi, ao final do 18, diagnosticada uma pneumonia bilateral, um quadro mais complexo do que se esperava e que requer que continue internado. E Francisco agradece as manifestações de afeto e continua igual a si próprio: “de bom humor” e preocupado com quem está, de certa forma, pior do que ele.

“A tomografia computadorizada (TAC) no tórax a que foi submetido “mostrou o aparecimento de uma pneumonia bilateral que exigiu uma terapia farmacológica adicional”, explica o relatório vespertino do quinto dia de internamento, divulgado pela Sala de Imprensa do Vaticano. “Não obstante, Francisco está de bom humor. Esta manhã, recebeu a Eucaristia e, durante o dia, alternou o repouso com a oração e a leitura. Agradece a proximidade que sente, neste momento, e pede, com coração agradecido, que se continue a rezar por ele”, reza o comunicado.

O seu pedido tem sido atendido e replicado, a começar pela Argentina, o seu país de origem, onde os bispos pediram a todas as comunidades que se unam em oração pela saúde do Papa, e os “curas villeros” (padres que trabalham nos bairros mais pobres) convidam a organizar um tríduo de missas pela sua recuperação. Até na Nicarágua, onde os católicos são perseguidos, nos últimos meses, pelo regime de Ortega e Murillo, o cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, convidou os fiéis a organizarem encontros de oração pelo Papa.

Nas redes sociais, várias personalidades da política e da religião (não só a Católica), manifestaram a sua proximidade. O presidente brasileiro, Lula da Silva, assegurou que “o Mundo está em oração pela recuperação” de Francisco, a quem se referiu como “querido amigo” e “uma referência na luta contra as desigualdades”. De Itália, chegou a mensagem do Rabino-chefe da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Di Segni, que se diz “preocupado com as notícias sobre a saúde do Papa”, e deseja “uma rápida e completa recuperação”. E “o grande imã de Al-Alzar, Ahmad al-Tayyeb, está a rezar, diariamente, pela recuperação do Papa Francisco”, disse uma fonte próxima do imã à revista dos jesuítas America.

Particularmente tocantes são os desenhos e postais feitos pelas crianças da unidade de oncologia pediátrica do hospital, bem como as missivas que Francisco recebeu dos reclusos da prisão de San Vittore, em Milão, que haviam preparado um concerto especial para apresentar ao Papa nos históricos estúdios Cinecittà de Roma, no Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura.

Após receberem a confirmação do cancelamento, alguns reclusos decidiram escrever cartas ao Papa. “Foi um gesto espontâneo pelo qual quiseram expressar o seu afeto”, explicou à Catholic Newa Agency Eliana Onofrio, presidente da associação Amici della Nave, que dinamiza um programa de reabilitação, através da música, nas prisões. “Foi difícil para eles aceitarem, porque [o concerto] também representava uma oportunidade de saírem para tomarem ar fresco, verem a luz do sol e respirarem liberdade por algumas horas”, referiu Eliana Onofrio.

Ainda assim, um dos reclusos lamenta não poder encontrar o Papa, mas diz compreender que esta é “uma pausa necessária, devido à sua dedicação e esforços constantes”. E enfatiza que a saúde é primordial, prometendo orações por uma rápida recuperação e pedindo-lhe que não se sinta “angustiado com o cancelamento do evento”. Outro expressa a sua tristeza, dizendo que “tudo havia sido organizado em grande detalhe”, para oferecer ao Papa um concerto no qual haviam colocado todo seu esforço e carinho. Mas acrescenta que o Papa é “uma figura central”, expressa a sua proximidade e assegura as suas orações.

Francisco está num quarto do 10.º andar do Hospital Gemelli, com recomendação médica de “repouso completo”. Ainda assim, procura não faltar ao habitual “encontro diário” com a Paróquia da Sagrada Família, em Gaza. Francisco ligou para o pároco, padre Gabriel Romanelli. Perguntou-nos como estavam, como estava a situação e concedeu a sua bênção.

O próprio Francisco admitiu, no passado, que é um paciente “não muito cooperativo”, e esta terá sido mais uma das vezes em que se esforçou de mais, depois do diagnóstico de bronquite, há duas semanas. Recusou-se a diminuir a sua agenda e ignorou o conselho médico de ficar em casa, no inverno frio de Roma, tendo insistido em participar na missa ao ar livre, no Jubileu das Forças Armadas, a 9 de fevereiro, mesmo com dificuldade em respirar.

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Mais do que a preocupação por renúncia ou por conclave (com o concurso dos papabili), os crentes devem manifestar a sua proximidade pela oração e todos a solidariedade com uma voz que não pode calar-se pela paz e pela justiça.

2025.02.22 – Louro de Carvalho

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