Na tarde do
dia 22 de fevereiro, a informação do Vaticano sobre o estado de Francisco, hospitalizado,
há nove dias (desde o dia 14), primeiro com o diagnóstico de infeção respiratória
polimicrobiana e, depois, com pneumonia bilateral, dava nota que o Papa está em
estado crítico, após ter sofrido longa crise respiratória asmática, na manhã do
dia 22.
“O estado do
Santo Padre continua crítico, como explicado ontem, o Papa não está fora de
perigo. Esta manhã, o Papa Francisco apresentou uma crise respiratória asmática
de longa duração, que exigiu terapia de alto fluxo de oxigénio”, referia o portal Vatican News, acrescentando: “Os
exames de sangue de hoje também mostraram uma plaquetopenia, associada a uma
anemia, que exigiu a administração de hemotransfusões. O Santo Padre continua
vigilante e passou o dia na poltrona, embora mais debilitado do que ontem. No
momento o prognóstico é reservado.”
Entretanto, a
Sala de Imprensa fez saber, que o Papa não rezará o Angelus, no domingo, dia 23, que será transmitido e não lido, como
sucedeu no dia 16. Aliás, Francisco já se fez representar pelo cardeal
Tolentino de Mendonça, na celebração eucarística do Jubileu dos Artistas e do
Mundo da Cultura, nesse dia 16, tal como não pronunciou o texto da catequese
geral de quarta-feira (dia 19), que a Sala de Imprensa fez publicar.
No dia 19, o
professor Sergio Alfieri, que acompanha o Pontífice, disse que “o Papa não está
fora de perigo”, acrescentando que, depois, se dirigira à capela para rezar. “O
Papa sempre quis que disséssemos a verdade”, continuou Alfieri, durante o primeiro briefing
entre os médicos e a imprensa realizado na entrada do hospital, explicando que
a doença crónica se mantém e que o Papa sabe disso. “Com efeito, disse: ‘Compreendo
que a situação é grave’”, revelou Alfieri, acrescentando: “Por vezes, sente
falta de ar e essa sensação não é agradável para ninguém.”
Também no dia
23, Francisco não preside à celebração eucarística do Jubileu dos Diáconos, com
a ordenação diaconal de novos, sob a presidência do pró-prefeito do
Dicastério para a Evangelização, Secção para Questões Fundamentais da
Evangelização no Mundo, Dom Rino Fisichella, que lerá a homilia preparada por Francisco,
tal como fizera o cardeal Tolentino de Mendonça, no dia 16.
***
Desde que a
situação se tornou mais preocupante, aumentar o rumor sobre a renúncia do
Pontífice. “Todos eles me parecem
especulações inúteis. Agora estamos a pensar na saúde do Santo
Padre, na sua recuperação, no seu regresso ao Vaticano: estas são as únicas
coisas que importam”, afirmou o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do
Vaticano, em entrevista ao Corriere della
Sera. “Graças a Deus, as notícias que chegam de Gemelli são encorajadoras, está
a recuperar. Foi-lhe enviada documentação, o que significa que está a evoluir
bem”, dizia Parolin, comentando, em seguida, sobre os “corvos” em torno do
Vaticano que querem que Francisco se demita: “Honestamente, devo dizer que não
sei se existem tais manobras e tento, em todo o caso, manter-me afastado. Por
outro lado, penso que é normal que, nestas situações, se espalhem rumores descontrolados ou
que se faça algum comentário inadequado: não é certamente a primeira vez que
acontece. No entanto, não creio que haja um movimento específico e, até à data,
não ouvi nada do género.”
O cardeal Pietro
Parolin, que retornou de Burkina Faso, há alguns dias, informou o Papa de que
está disponível para o encontrar no hospital, se ele o julgar necessário, “mas,
até agora, não houve necessidade”. A este respeito, sustenta que é melhor ele
permanecer protegido e receber o mínimo de visitas possível, para descansar e
serem mais eficazes as terapias.
Por sua vez, o prefeito do
Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Manuel Fernández, entrevistado
pelo jornal argentino La
Nación, afirma que “não faz sentido que alguns grupos façam pressão pela
renúncia. Já o fizeram, várias vezes, nos últimos anos, e esta só pode ser uma
decisão completamente livre do Santo Padre para que seja válida”. E
acrescentou: “Não vejo um clima pré-conclave, não vejo falar de um possível
sucessor mais do que se falou há um ano, ou seja, nada de especial.” E concluiu:
“Para mim, é importante que o organismo do Papa tenha reagido bem à terapia
atual.”
***
Na primeira
conferência de imprensa, no dia 21, os médicos que tratam Francisco, no Hospital
Gemelli, disseram que ele não está fora de perigo, apesar de, habitualmente,
estar a respirar sozinho e trabalhar. O risco é que, a partir dos pulmões, as
bactérias cheguem ao sangue. “O Papa não está fora de perigo, mas se perguntam
se ele está em perigo de vida, a resposta é que não está”, afirmou o professor Sergio
Alfieri, em conferência de imprensa sobre o estado de saúde do pontífice,
acrescentando não ser possível fazer previsões, a curto prazo, mas é certo que permanecerá
hospitalizado no Gemelli, pelo menos, durante toda a próxima semana.
Alfieri
confirmou que “o Papa não está ligado a nenhuma máquina”. “Quando precisa,
coloca as almofadas nasais para receber oxigénio, mas respira espontaneamente e
alimenta-se sozinho”.
O Papa tem
atualmente uma infeção pulmonar. “Se, por acidente, um destes germes passasse
para a corrente sanguínea, haveria sépsis”, explicou Alfieri, para quem “o
verdadeiro risco é se os germes passarem para o sangue”.
Atualmente,
não existem tais germes no sangue, a infeção está apenas no pulmão”. “Este é o
verdadeiro risco que uma pessoa da sua idade pode correr”, afirmou Alfieri,
sobre a hipótese de sépsis. A infeção “está contida, de momento”, acrescentou o
médico Luigi Carbone.
***
No dia 20, Matteo
Bruni, porta-voz da Santa Sé, em atualização do estado de saúde do Papa, após a
confirmação, no dia 19, de que as análises ao sangue revelaram ligeira melhoria, em algumas áreas, informava
que estava a recuperar de pneumonia bilateral, tendo tomado o pequeno-almoço
fora da cama, na manhã desse dia, na sequência de noite tranquila.
O Papa Francisco
recebeu, nesse dia, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni – a primeira
visita de alto nível conhecida que teve desde que foi internado. Depois do
encontro de 20 minutos, Meloni referiu que o Papa estava bem-disposto e “brincou como sempre”.
O Papa foi
internado na policlínica Gemelli, em Roma, no dia 14, após uma crise de
bronquite. Depois, foi-lhe diagnosticada pneumonia nos dois pulmões, para lá de infeção polimicrobiana nas
vias respiratórias (a princípio, não se sabia se era infeção virosal se era
bacteriana). Está a tomar uma combinação de antibióticos e cortisona para o que
os médicos também diagnosticaram como sendo uma bronquite asmática. O pontífice
de 88 anos, que teve um caso agudo de pneumonia, em 2023, é propenso a infeções
respiratórias no inverno.
Os médicos
dizem que a pneumonia em doentes idosos pode torná-los particularmente propensos a complicações, dada
a dificuldade em expulsar eficazmente o líquido dos pulmões. Para lá da idade,
a preocupação com a saúde do Papa resultam de o atual diagnóstico poder causar
problemas adicionais, já que lhe foi retirada parte de um pulmão, em jovem.
***
Da
Conferência Episcopal Italiana aos fiéis filipinos e à Igreja Anglicana, chegam,
de toda a parte, mensagens de proximidade e orações pela saúde de Francisco,
que está internado no Hospital Gemelli de Roma desde 14 de fevereiro, devido a
uma pneumonia bilateral. O cardeal vigário de Roma, cardeal Baldassare Reina,
convida as pessoas a “uma hora de adoração silenciosa, antes da missa”, e a
rezar pela saúde do Pontífice.
Mensagens de
proximidade e apelos à oração são compartilhados nas redes sociais e na
imprensa internacional pela saúde do Papa. “Ao confiar ao Senhor o trabalho dos
médicos e da equipa de saúde, abraçamos o Santo Padre com afeto”, diz, por
exemplo, um comunicado da Conferência Episcopal Italiana, publicado a 19 de
fevereiro. Os bispos convidam as comunidades eclesiais a apoiar o Pontífice
“com a oração, neste momento de sofrimento”, e renovam a sua “proximidade”.
O cardeal vigário para a
diocese de Roma, Baldassare Reina, enfatizou que os fiéis da capital estão a
acompanhar, “com atenção e confiança, as condições de saúde do nosso Bispo”. Em
seguida, pediu a todas as comunidades da capital que vivam “uma hora de
adoração silenciosa, antes da missa vespertina de hoje” (dia 19), para rezar
pela saúde do Papa. “Como uma grande família, pedimos que o Senhor dê ao nosso
bispo a força necessária para enfrentar este momento delicado”, acentuou.
Do outro lado
do Mundo, nas Filipinas, o cardeal Pablo Virgilio David, bispo de Kalookan e
presidente da Conferência Episcopal do país, pediu aos fiéis que rezassem pela
“cura e recuperação” do Pontífice, “neste momento difícil”. O núncio
apostólico, Dom Charles Brown, reiterou o mesmo pedido nos microfones da rádio
católica filipina, Radio
Veritas, acrescentando que rezassem pela equipa médica que cuida do Papa.
O Patriarca
de Lisboa, Dom Rui Valério, no dia 19, enviou uma carta a todas as paróquias e
comunidades do patriarcado, pedindo-lhes que acrescentassem uma intenção
especial de oração pela saúde do Papa, na celebração da missa. “Pelo Papa
Francisco, Pastor da Igreja Universal”, escreve o patriarca Valério, a título
de exemplo, “para que seja fortalecido e consolado, neste momento de
fragilidade, e possa retomar os seus compromissos anteriores, rezemos, irmãos”.
“Neste Ano Jubilar, dedicado ao tema da esperança, continuemos firmes na nossa
peregrinação de fé, fortalecidos pelo testemunho dedicado de nosso” Pontífice,
concluiu o prelado.
A Igreja Anglicana expressa proximidade. Quero “assegurar-lhe” as “minhas orações e as de
tantos fiéis anglicanos pela saúde do Papa Francisco durante este tempo”,
enfatizou o arcebispo anglicano de York, no Reino Unido, Stephen Cottrell, em
carta ao cardeal arcebispo de Londres, Vincent Nichols. “Continuamos a rezar
para que Sua Santidade seja nutrido pela esperança do Evangelho”, continuou o
prelado anglicano, “e conheça o amor e a cura de nosso Senhor Jesus Cristo,
nestes dias”. Na sua carta de resposta, o cardeal Nichols agradeceu ao
arcebispo, pela sua “bondade e preocupação”, e enfatizou que o “Santo Padre é
revigorado pelo apoio das orações de tantos”. “As suas palavras, cheias de
caridade e preocupação fraterna são”, escreveu, “um testemunho dos profundos
laços que nos unem em Cristo”.
***
As crianças enviam-lhe desenhos (uma criança que teve
pneumonia bilateral enviou-lhe carta a encorajá-lo), os reclusos escrevem-lhe
cartas, os chefes de Estado publicam mensagens nas redes sociais, as
conferências episcopais convocam momentos de oração, e dezenas de fiéis vão-se
revezando, em vigília ininterrupta junto ao hospital Gemelli, em frente da
estátua de São João Paulo II. É como uma “onda de carinho pelo Papa”, a quem
foi, ao final do 18, diagnosticada uma pneumonia bilateral, um quadro mais
complexo do que se esperava e que requer que continue internado. E Francisco
agradece as manifestações de afeto e continua igual a si próprio: “de bom
humor” e preocupado com quem está, de certa forma, pior do que ele.
“A tomografia computadorizada (TAC) no tórax a que foi
submetido “mostrou o aparecimento de uma pneumonia bilateral que exigiu uma
terapia farmacológica adicional”, explica o relatório vespertino do quinto
dia de internamento, divulgado pela Sala de Imprensa do Vaticano. “Não
obstante, Francisco está de bom humor. Esta manhã, recebeu a Eucaristia e,
durante o dia, alternou o repouso com a oração e a leitura. Agradece a
proximidade que sente, neste momento, e pede, com coração agradecido, que se
continue a rezar por ele”, reza o comunicado.
O seu pedido
tem sido atendido e replicado, a começar pela Argentina, o seu país de origem,
onde os bispos pediram a todas as comunidades que se unam em oração pela saúde
do Papa, e os “curas villeros” (padres que trabalham nos bairros mais pobres)
convidam a organizar um tríduo de missas pela sua recuperação. Até na Nicarágua,
onde os católicos são perseguidos, nos últimos meses, pelo regime de Ortega e
Murillo, o cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, convidou os fiéis a
organizarem encontros de oração pelo Papa.
Nas redes sociais, várias personalidades da política e da
religião (não só a Católica), manifestaram a sua proximidade. O presidente
brasileiro, Lula da Silva, assegurou que “o Mundo está em oração pela
recuperação” de Francisco, a quem se referiu como “querido amigo” e “uma
referência na luta contra as desigualdades”. De Itália, chegou a mensagem do
Rabino-chefe da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Di Segni, que se diz
“preocupado com as notícias sobre a saúde do Papa”, e deseja “uma rápida e
completa recuperação”. E “o grande imã de Al-Alzar, Ahmad al-Tayyeb, está a
rezar, diariamente, pela recuperação do Papa Francisco”, disse uma fonte
próxima do imã à revista dos jesuítas America.
Particularmente
tocantes são os desenhos e postais feitos pelas crianças da unidade de
oncologia pediátrica do hospital, bem como as missivas que Francisco recebeu
dos reclusos da prisão de San Vittore, em Milão, que haviam preparado um
concerto especial para apresentar ao Papa nos históricos estúdios Cinecittà de
Roma, no Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura.
Após receberem a confirmação do cancelamento, alguns reclusos
decidiram escrever cartas ao Papa. “Foi um gesto espontâneo pelo qual quiseram
expressar o seu afeto”, explicou à Catholic
Newa Agency Eliana Onofrio, presidente da associação Amici della Nave,
que dinamiza um programa de reabilitação, através da música, nas prisões. “Foi
difícil para eles aceitarem, porque [o concerto] também representava uma
oportunidade de saírem para tomarem ar fresco, verem a luz do sol e respirarem
liberdade por algumas horas”, referiu Eliana Onofrio.
Ainda assim, um dos reclusos lamenta não poder encontrar o
Papa, mas diz compreender que esta é “uma pausa necessária, devido à sua
dedicação e esforços constantes”. E enfatiza que a saúde é primordial,
prometendo orações por uma rápida recuperação e pedindo-lhe que não se sinta
“angustiado com o cancelamento do evento”. Outro expressa a sua tristeza,
dizendo que “tudo havia sido organizado em grande detalhe”, para oferecer ao
Papa um concerto no qual haviam colocado todo seu esforço e carinho. Mas
acrescenta que o Papa é “uma figura central”, expressa a sua proximidade e
assegura as suas orações.
Francisco está num quarto do 10.º andar do Hospital Gemelli,
com recomendação médica de “repouso completo”. Ainda assim, procura não faltar
ao habitual “encontro diário” com a Paróquia da Sagrada Família, em Gaza.
Francisco ligou para o pároco, padre Gabriel Romanelli. Perguntou-nos como estavam,
como estava a situação e concedeu a sua bênção.
O próprio Francisco admitiu, no passado, que é um paciente
“não muito cooperativo”, e esta terá sido mais uma das vezes em que se esforçou
de mais, depois do diagnóstico de bronquite, há duas semanas. Recusou-se a
diminuir a sua agenda e ignorou o conselho médico de ficar em casa, no inverno
frio de Roma, tendo insistido em participar na missa ao ar livre, no Jubileu das
Forças Armadas, a 9 de fevereiro, mesmo com dificuldade em respirar.
***
Mais do que a preocupação por renúncia ou por conclave (com o
concurso dos papabili), os crentes
devem manifestar a sua proximidade pela oração e todos a solidariedade com uma
voz que não pode calar-se pela paz e pela justiça.
2025.02.22
– Louro de Carvalho
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