quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Donald Trump e Vladimir Putin querem acabar com a guerra na Ucrânia

 

Os dois chefes de Estado norte-americano e russo conversaram, durante uma hora e meia, por telefone, no dia 12 de fevereiro, e concordaram em visitar-se um ao outro, no âmbito das negociações para colocar ponto final à guerra na Ucrânia, bem como em dar ordens às respetivas equipas para que “iniciassem negociações, imediatamente”.

“Concordámos em trabalhar juntos, muito próximos, inclusive visitando os países um do outro”, escreveu o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), nas redes sociais, acrescentando: “Vamos começar por ligar ao presidente Zelensky, da Ucrânia, para o informar sobre a conversa, algo que farei agora.”

Trump, que descreveu a conversa telefónica como “altamente produtiva”, anunciou que estarão a liderar as negociações, do lado dos EUA, o secretário de Estado Marco Rubio, o diretor da CIA [Central Intelligence Agency], John Ratcliffe, o conselheiro de segurança nacional Michael Waltz e o embaixador Steve Witkoff.

Putin e Trump terão concordado em “impedir que milhões de mortes ocorram na guerra”. “Quero agradecer ao presidente Putin pelo seu tempo e esforço, em relação a esta chamada e pela libertação, ontem [dia 11], de Marc Fogel, homem maravilhoso que cumprimentei pessoalmente, ontem à noite, na Casa Branca”, afirmou o líder dos EUA, referindo-se ao professor da Pensilvânia libertado de uma prisão russa, no âmbito de um acordo entre os dois países.

Entretanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse ter falado ao telefone com o homólogo norte-americano sobre as possibilidades de obter a paz na Ucrânia, após um telefonema entre Donald Trump e o líder russo, Vladimir Putin. “Falámos longamente sobre as possibilidades de alcançar a paz”, declarou Zelensky, acrescentando que Trump partilhou com ele os “pormenores da sua conversa com Putin”, numa chamada telefónica que durou cerca de uma hora.

Nela, debateram os próximos passos conjuntos para deter a guerra e atingir “uma paz duradoura e sólida”, indicou o chefe de Estado ucraniano. “Como disse o presidente Trump, vamos a isso”, escreveu Zelensky, nas suas redes sociais, ao relatar o conteúdo da conversa, que aconteceu pouco depois de Trump ter acordado, por telefone, com Vladimir Putin, impulsionar o processo de paz que o novo governo norte-americano está a promover, para acabar com a guerra na Ucrânia.

Por sua vez, Trump afirmou que Zelensky “quer fazer a paz”, quando estão prestes a completar-se três anos de guerra, desde que a Rússia invadiu a vizinha Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022.

Já numa entrevista concedida ao diário britânico The Guardian, publicada no dia 11, o presidente ucraniano se tinha declarado disposto a “uma troca” de territórios com a Rússia, no contexto de eventuais negociações de paz mediadas pelos EUA, sustentando que a Europa sozinha não conseguirá garantir a sua segurança.

De acordo com o que Zelensky afirmou na entrevista, se o presidente norte-americano levar a Ucrânia e a Rússia à mesa das negociações, trocarão “um território por outro”. Porém, o presidente ucraniano não soube dizer que território pediria Kiev em troca. “Não sei, veremos. Mas todos os nossos territórios são importantes, não há nenhuma prioridade”, considerou.

Volodymyr Zelensky rejeitou, durante muito tempo, a ideia de negociações, afirmando querer vencer a Rússia no campo de batalha. Contudo, a Ucrânia está a ter dificuldades em deter o Exército russo, que está a conquistar terreno no Leste do seu território.

Ao diário britânico The Guardian, o presidente ucraniano declarou-se disposto a negociar, mas sublinhando que quer fazê-lo “a partir de uma posição de força”.

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Em artigo de 12 de fevereiro, publicado na Euronews, sob o título “Trump fala com Putin e depois liga a Zelensky para iniciar conversações de paz”, Abby Chity pormenoriza o ocorrido.

O inquilino da Casa Branca publicou o teor detalhado da conversa com o líder do Kremlin, na sua plataforma de comunicação, Truth Social, e telefonou, a seguir, ao homólogo ucraniano.

Donald Trump afirma ter tido “longa e altamente produtiva conversa telefónica” com Vladimir Putin, na qual discutiram o início de conversações com a Ucrânia. E, na rede Truth Social, escreveu: “Pedi ao Secretário de Estado Marco Rubio, ao diretor da CIA, John Ratcliffe, ao Conselheiro de Segurança Nacional Michael Waltz e ao Embaixador e Enviado Especial Steve Witkoff para liderarem as negociações que, estou convencido, serão bem-sucedidas.”

O presidente norte-americano lamentou que milhões de pessoas tenham morrido numa guerra que “não teria acontecido”, se ele fosse presidente, quando o conflito começou, mas acrescentou que “aconteceu, por isso tem de acabar”. Enfim, repete o seu hipotético mérito em evitar uma guerra que nunca sabemos se teria sido evitada ou a que preço.

Além da paz na Ucrânia, o líder da administração norte-americana disse ter discutido outros temas com o líder do Kremlin, incluindo o Médio Oriente, a energia, a inteligência artificial, “o poder do dólar” e a “grande História” das duas nações. E agradeceu-lhe a libertação do professor americano Marc Fogel, em troca da saída do russo Alexander Vinnik das prisões dos EUA.

Trump já tinha dito, há dias, que manteve várias conversas telefónicas sobre o fim da guerra na Ucrânia. Não revelou quantas vezes falou com Putin, mas diz que os dois mantêm “boa relação”.

Durante o telefonema de 12 de fevereiro, Vladimir Putin convidou Donald Trump para viajar até Moscovo. E, como informou o Kremlin, através do porta-voz, Dimitry Peskov, o presidente russo “manifestou disponibilidade” para receber funcionários americanos e apoiou a afirmação do presidente dos EUA de que chegou o momento de os dois países “trabalharem juntos”.

Dimitry Peskov disse que Donald Trump expressou o desejo de pôr fim “às hostilidades na Ucrânia, o mais rapidamente possível”.

Além do presidente russo, Donald Trump manteve, no mesmo dia, uma conversa telefónica com Zelenskyy. “Acabei de falar com Donald Trump. Uma longa conversa. Sobre as possibilidades de alcançar a paz. Sobre a nossa vontade de trabalhar em conjunto. Sobre as nossas capacidades tecnológicas, incluindo drones e outros produtos modernos”, disse Zelensky, após a chamada telefónica, numa publicação nas redes sociais, acrescentando: “A Ucrânia quer a paz mais do que qualquer outra pessoa. Estamos a definir as nossas medidas conjuntas com os Estados Unidos para travar a agressão russa e garantir uma paz fiável e duradoura.”

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Entretanto, o secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, também a 12 de fevereiro, excluiu, categoricamente, a possibilidade de conceder à Ucrânia a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), como garantia de segurança para acabar com a guerra da Rússia.

Como disse Pete Hegseth aos aliados, ao vincar a intenção de Donald Trump de pôr fim à guerra da Rússia “pela diplomacia”, o regresso da Ucrânia às fronteiras anteriores a 2014 e a adesão à NATO são objetivos irrealistas que devem ser excluídos de qualquer acordo de paz.

As declarações de Hegseth ocorreram, em Bruxelas, numa reunião do Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia, composto por 46 nações. “Queremos, tal como vós, uma Ucrânia soberana e próspera. Mas temos de começar por reconhecer que o regresso às fronteiras da Ucrânia anteriores a 2014 é um objetivo irrealista. Perseguir este objetivo ilusório só vai prolongar a guerra e causar mais sofrimento”, disse Hegseth aos homólogos, defendendo que “uma paz duradoura para a Ucrânia deve incluir garantias de segurança sólidas para assegurar que a guerra não recomeça” e não é “Minsk 3.0” (referência ao acordo que não pôs fim à guerra do Donbas.

Assim, os EUA, segundo Hegseth, não acreditam que a adesão da Ucrânia à NATO seja resultado realista de um acordo negociado. “Em vez disso, qualquer garantia de segurança deve ser apoiada por tropas europeias e não europeias capazes”, sustentou, frisando que as tropas dos EUA não farão parte de qualquer missão de manutenção da paz na Ucrânia, para garantir a estabilidade do futuro acordo de paz e que tal missão “não deve ser abrangida” pelo artigo 5.º da NATO sobre defesa coletiva.

Colocar “botas no terreno” na Ucrânia ganhou força nos últimos meses, com França a protagonizar a ideia. Porém, a questão continua por resolver e poderá tomar novo rumo, após os comentários de Hegseth, pois a falta de garantias de defesa coletiva deixaria as tropas ocidentais vulneráveis a ataques russos. “A nossa mensagem é clara: o derramamento de sangue tem de acabar e esta guerra tem de terminar”, disse Hegseth.

Há muito que Kiev pretende aderir à NATO, argumentando que o artigo 5.º da defesa coletiva seria a garantia de segurança mais eficaz para impedir o Kremlin de lançar novo ataque. Embora o objetivo seja apoiado pela Polónia e pelos Estados Bálticos, outros, como a Alemanha, têm mostrado maior relutância. Já a Hungria e a Eslováquia opõem-se firmemente.

A questão do território é delicada para a Ucrânia. Zelenskyy defendeu a recuperação total de todos os territórios ocupados pela Rússia, incluindo a península da Crimeia e o Donbas. Porém, na última entrevista ao The Guardian, disse-se disposto a oferecer à Rússia uma troca territorial, cedendo a parte da região de Kursk que a Ucrânia detém atualmente.

Na sua intervenção, Hegseth fez eco de muitas das mensagens anteriores de Donald Trump, instando os aliados a aumentar a despesa com a defesa até 5% do seu produto interno bruto (PIB) – percentagem que nem os EUA cumprem – e a “assumir a responsabilidade” pela segurança, a longo prazo, da Europa. Assim, apelou aos Europeus para que “forneçam a maior parte da futura ajuda letal e não letal à Ucrânia” e para que aumentem as doações de munições e de equipamento militar, de que o país necessita para repelir as tropas russas (desde o início da invasão, os estados-membros da UE forneceram a Kiev um apoio de 134 mil milhões de euros).

Segundo Hegseth, os EUA continuam empenhados na aliança da NATO e na parceria de defesa com a Europa, mas não tolerarão uma relação desequilibrada que encoraja a dependência. Por outro lado, propõem uma “divisão de trabalho”, em que os aliados europeus assegurariam a segurança da Europa, enquanto os EUA se voltariam para a região do Pacífico, para impedir uma guerra com a China. “Os aliados europeus devem liderar a partir da frente”, afirmou Hegseth.

Por sua vez, o secretário da Defesa do Reino Unido, John Healey, manifestou simpatia pelas preocupações de Hegseth e prometeu que a Europa aumentaria as suas despesas com a defesa. “Sabemos quais são as nossas responsabilidades. Estamos a fazer mais do trabalho pesado, partilhando mais do fardo”, afirmou Healey.

Também Mark Rutte, secretário-geral da NATO, em conferência de imprensa antes da reunião ministerial, instou a Europa e o Canadá a aumentarem, “consideravelmente”, as suas despesas militares, alertando para o facto de as lacunas de capacidade serem “simplesmente demasiado grandes” para o atual objetivo de 2% do PIB. “Se nos mantivermos nos 2%, não poderemos defender-nos em quatro ou cinco anos”, afirmou Rutte, sabendo que, atualmente, oito dos 32 membros da NATO não cumprem o objetivo.

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Comentando a proposta do presidente ucraniano expressa em entrevista ao The Guardian, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, afirmou: “Na região de Kursk, os ‘neonazis’ que lá operam estão à espera de territórios sem qualquer troca com uma área de cerca de um metro por dois e um metro e meio de profundidade. Zelensky faz tais declarações para esconder a verdadeira dimensão do desastre para as forças ucranianas nesta direção.”

A Duma reagiu, de forma ainda mais incisiva, citando “As Doze Cadeiras”, de Evguéni Petrov e Iliá Ilf: “A negociação é inadequada, neste caso.”

Zelenskyy anunciou planos para propor, nas conversações de paz com a Rússia, a troca de parte da região de Kursk, controlada pela Ucrânia, por parte do território ucraniano anexado pela Rússia. E diz estar pronto para negociar com a Rússia, mas quer que Kiev fale com Moscovo a partir de uma posição de força. Na referida entrevista, disse que ofereceria às empresas americanas contratos de reconstrução e incentivos ao investimento. E, de acordo com os meios de comunicação social, tentará convencer, assim, o presidente dos EUA a sentar-se à mesa das negociações e a pôr fim à guerra.

O presidente ucraniano também criticou a proposta de que apenas os países europeus devem fornecer garantias de segurança à Ucrânia. “Há vozes que dizem que a Europa poderia oferecer garantias de segurança, sem os americanos, e eu digo sempre que não. As garantias de segurança sem os EUA não são verdadeiras garantias de segurança”, afirmou Zelenskyy.

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Conseguir a paz na Ucrânia torna-se difícil, pois verdadeiramente ninguém quer ceder. Zelenskyy parece hesitar – cede território, mas não sabe que território requer em troca – e Moscovo não quer largar território. Ficar tudo como está significa uma guerra que, realmente ninguém vence. Ceder todos os territórios ocupados, para a Rússia é ter feito uma guerra inútil. E, obviamente, Donald Trump, em vez de manter o auxílio infindo à Ucrânia, prefere voltar-se para o Pacífico e impedir uma invasão de Taiwan pela China.  

2025.02.12 – Louro de Carvalho

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