Os dois chefes de Estado norte-americano
e russo conversaram, durante uma hora e meia, por telefone, no dia 12 de
fevereiro, e concordaram em visitar-se um ao outro, no âmbito das negociações
para colocar ponto final à guerra na Ucrânia, bem como em dar ordens às
respetivas equipas para que “iniciassem negociações, imediatamente”.
“Concordámos
em trabalhar juntos, muito próximos, inclusive visitando os países um do
outro”, escreveu o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), nas redes
sociais, acrescentando: “Vamos começar por ligar ao presidente Zelensky, da
Ucrânia, para o informar sobre a conversa, algo que farei agora.”
Trump, que
descreveu a conversa telefónica como “altamente produtiva”, anunciou que estarão
a liderar as negociações, do lado dos EUA, o secretário de Estado Marco Rubio,
o diretor da CIA [Central
Intelligence Agency], John
Ratcliffe, o conselheiro de segurança nacional Michael Waltz e o embaixador
Steve Witkoff.
Putin e
Trump terão concordado em “impedir que milhões de mortes ocorram na guerra”. “Quero
agradecer ao presidente Putin pelo seu tempo e esforço, em relação a esta
chamada e pela libertação, ontem [dia 11], de Marc Fogel, homem maravilhoso que
cumprimentei pessoalmente, ontem à noite, na Casa Branca”, afirmou o líder dos
EUA, referindo-se ao professor da Pensilvânia libertado de uma prisão russa, no
âmbito de um acordo entre os dois países.
Entretanto, o
presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse ter falado ao telefone com o
homólogo norte-americano sobre as possibilidades de obter a paz na Ucrânia,
após um telefonema entre Donald Trump e o líder russo, Vladimir Putin. “Falámos
longamente sobre as possibilidades de alcançar a paz”, declarou Zelensky,
acrescentando que Trump partilhou com ele os “pormenores da sua conversa com
Putin”, numa chamada telefónica que durou cerca de uma hora.
Nela,
debateram os próximos passos conjuntos para deter a guerra e atingir “uma paz
duradoura e sólida”, indicou o chefe de Estado ucraniano. “Como disse o
presidente Trump, vamos a isso”, escreveu Zelensky, nas suas redes sociais, ao
relatar o conteúdo da conversa, que aconteceu pouco depois de Trump ter
acordado, por telefone, com Vladimir Putin, impulsionar o processo de paz que o
novo governo norte-americano está a promover, para acabar com a guerra na
Ucrânia.
Por sua vez,
Trump afirmou que Zelensky “quer fazer a paz”, quando estão prestes a
completar-se três anos de guerra, desde que a Rússia invadiu a vizinha Ucrânia,
a 24 de fevereiro de 2022.
Já numa
entrevista concedida ao diário britânico The
Guardian, publicada no dia 11, o presidente ucraniano se tinha declarado
disposto a “uma troca” de territórios com a Rússia, no contexto de eventuais
negociações de paz mediadas pelos EUA, sustentando que a Europa sozinha não
conseguirá garantir a sua segurança.
De acordo
com o que Zelensky afirmou na entrevista, se o presidente norte-americano levar
a Ucrânia e a Rússia à mesa das negociações, trocarão “um território por outro”.
Porém, o presidente ucraniano não soube dizer que território pediria Kiev em
troca. “Não sei, veremos. Mas todos os nossos territórios são importantes, não
há nenhuma prioridade”, considerou.
Volodymyr
Zelensky rejeitou, durante muito tempo, a ideia de negociações, afirmando
querer vencer a Rússia no campo de batalha. Contudo, a Ucrânia está a ter
dificuldades em deter o Exército russo, que está a conquistar terreno no Leste
do seu território.
Ao diário
britânico The Guardian, o presidente
ucraniano declarou-se disposto a negociar, mas sublinhando que quer fazê-lo “a
partir de uma posição de força”.
***
Em artigo de
12 de fevereiro, publicado na Euronews,
sob o título “Trump fala com Putin e depois liga a Zelensky para iniciar
conversações de paz”, Abby Chity pormenoriza o ocorrido.
O inquilino
da Casa Branca publicou o teor detalhado da conversa com o líder do Kremlin, na
sua plataforma de comunicação, Truth
Social, e telefonou, a seguir, ao homólogo ucraniano.
Donald Trump
afirma ter tido “longa e altamente produtiva conversa telefónica” com Vladimir
Putin, na qual discutiram o início de conversações com a Ucrânia. E, na rede Truth Social, escreveu: “Pedi ao
Secretário de Estado Marco Rubio, ao diretor da CIA, John Ratcliffe, ao
Conselheiro de Segurança Nacional Michael Waltz e ao Embaixador e Enviado Especial
Steve Witkoff para liderarem as negociações que, estou convencido, serão
bem-sucedidas.”
O presidente
norte-americano lamentou que milhões de pessoas tenham morrido numa guerra que
“não teria acontecido”, se ele fosse presidente, quando o conflito começou, mas
acrescentou que “aconteceu, por isso tem de acabar”. Enfim, repete o seu
hipotético mérito em evitar uma guerra que nunca sabemos se teria sido evitada
ou a que preço.
Além da paz
na Ucrânia, o líder da administração norte-americana disse ter discutido outros
temas com o líder do Kremlin, incluindo o Médio Oriente, a energia, a
inteligência artificial, “o poder do dólar” e a “grande História” das duas
nações. E agradeceu-lhe a libertação do professor americano Marc Fogel, em
troca da saída do russo Alexander Vinnik das prisões dos EUA.
Trump já
tinha dito, há dias, que manteve várias conversas telefónicas sobre o fim da
guerra na Ucrânia. Não revelou quantas vezes falou com Putin, mas diz que os
dois mantêm “boa relação”.
Durante o
telefonema de 12 de fevereiro, Vladimir Putin convidou Donald Trump para viajar até Moscovo. E,
como informou o Kremlin, através do porta-voz, Dimitry Peskov, o presidente
russo “manifestou disponibilidade” para receber funcionários americanos e
apoiou a afirmação do presidente dos EUA de que chegou o momento de os dois
países “trabalharem juntos”.
Dimitry Peskov
disse que Donald Trump expressou o desejo de pôr fim “às hostilidades na
Ucrânia, o mais rapidamente possível”.
Além do
presidente russo, Donald Trump manteve, no mesmo dia, uma conversa telefónica
com Zelenskyy. “Acabei de falar com Donald Trump. Uma longa conversa. Sobre as
possibilidades de alcançar a paz. Sobre a nossa vontade de trabalhar em
conjunto. Sobre as nossas capacidades tecnológicas, incluindo drones e outros
produtos modernos”, disse Zelensky, após a chamada telefónica, numa publicação
nas redes sociais, acrescentando: “A Ucrânia quer a paz mais do que qualquer
outra pessoa. Estamos a definir as nossas medidas conjuntas com os Estados
Unidos para travar a agressão russa e garantir uma paz fiável e duradoura.”
***
Entretanto, o
secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, também a 12 de fevereiro, excluiu,
categoricamente, a possibilidade de conceder à Ucrânia a adesão à Organização do
Tratado do Atlântico Norte (NATO), como garantia de segurança para acabar com a
guerra da Rússia.
Como disse Pete
Hegseth aos aliados, ao vincar a intenção de Donald Trump de pôr fim à guerra
da Rússia “pela diplomacia”, o regresso da Ucrânia às fronteiras anteriores a
2014 e a adesão à NATO são objetivos irrealistas que devem ser excluídos de
qualquer acordo de paz.
As
declarações de Hegseth ocorreram, em Bruxelas, numa reunião do Grupo de
Contacto de Defesa da Ucrânia, composto por 46 nações. “Queremos, tal como vós,
uma Ucrânia soberana e próspera. Mas temos de começar por reconhecer que o
regresso às fronteiras da Ucrânia anteriores a 2014 é um objetivo irrealista.
Perseguir este objetivo ilusório só vai prolongar a guerra e causar mais
sofrimento”, disse Hegseth aos homólogos, defendendo que “uma paz duradoura
para a Ucrânia deve incluir garantias de segurança sólidas para assegurar que a
guerra não recomeça” e não é “Minsk 3.0” (referência ao acordo que não pôs fim
à guerra do Donbas.
Assim, os
EUA, segundo Hegseth, não acreditam que a adesão da Ucrânia à NATO seja resultado
realista de um acordo negociado. “Em vez disso, qualquer garantia de segurança
deve ser apoiada por tropas europeias e não europeias capazes”, sustentou,
frisando que as tropas dos EUA não farão parte de qualquer missão de manutenção
da paz na Ucrânia, para garantir a estabilidade do futuro acordo de paz e que
tal missão “não deve ser abrangida” pelo artigo 5.º da NATO sobre defesa coletiva.
Colocar
“botas no terreno” na Ucrânia ganhou força nos últimos meses, com França a
protagonizar a ideia. Porém, a questão continua por resolver e poderá tomar
novo rumo, após os comentários de Hegseth, pois a falta de garantias de defesa
coletiva deixaria as tropas ocidentais vulneráveis a ataques russos. “A nossa
mensagem é clara: o derramamento
de sangue tem de acabar e esta guerra tem de terminar”, disse Hegseth.
Há muito que
Kiev pretende aderir à NATO, argumentando que o artigo 5.º da defesa coletiva
seria a garantia de segurança mais eficaz para impedir o Kremlin de lançar novo
ataque. Embora o objetivo seja apoiado pela Polónia e pelos Estados Bálticos,
outros, como a Alemanha, têm mostrado maior relutância. Já a Hungria e a
Eslováquia opõem-se firmemente.
A questão do
território é delicada para a Ucrânia. Zelenskyy defendeu a recuperação total de
todos os territórios ocupados pela Rússia, incluindo a península da Crimeia e o
Donbas. Porém, na última entrevista ao The
Guardian, disse-se disposto a oferecer à Rússia uma troca territorial,
cedendo a parte da região de Kursk que a Ucrânia detém atualmente.
Na sua
intervenção, Hegseth fez eco de muitas das mensagens anteriores de Donald
Trump, instando os aliados a aumentar a despesa com a defesa até 5% do seu produto
interno bruto (PIB) – percentagem que nem os EUA cumprem – e a “assumir a
responsabilidade” pela segurança, a longo prazo, da Europa. Assim, apelou aos Europeus
para que “forneçam a maior parte da futura ajuda letal e não letal à Ucrânia” e
para que aumentem as doações de munições e de equipamento militar, de que o
país necessita para repelir as tropas russas (desde o início da invasão, os estados-membros
da UE forneceram a Kiev um apoio de 134 mil milhões de euros).
Segundo Hegseth,
os EUA continuam empenhados na aliança da NATO e na parceria de defesa com a
Europa, mas não tolerarão uma relação desequilibrada que encoraja a
dependência. Por outro lado, propõem uma “divisão de trabalho”, em que os
aliados europeus assegurariam a segurança da Europa, enquanto os EUA se
voltariam para a região do Pacífico, para impedir uma guerra com a China. “Os
aliados europeus devem liderar a partir da frente”, afirmou Hegseth.
Por sua vez,
o secretário da Defesa do Reino Unido, John Healey, manifestou simpatia pelas
preocupações de Hegseth e prometeu que a Europa aumentaria as suas despesas com
a defesa. “Sabemos quais são as nossas responsabilidades. Estamos a fazer mais
do trabalho pesado, partilhando mais do fardo”, afirmou Healey.
Também Mark
Rutte, secretário-geral da NATO, em conferência de imprensa antes da reunião
ministerial, instou a Europa e o Canadá a aumentarem, “consideravelmente”, as
suas despesas militares, alertando para o facto de as lacunas de capacidade
serem “simplesmente demasiado grandes” para o atual objetivo de 2% do PIB. “Se
nos mantivermos nos 2%, não poderemos defender-nos em quatro ou cinco anos”,
afirmou Rutte, sabendo que, atualmente, oito dos 32 membros da NATO não cumprem
o objetivo.
***
Comentando a
proposta do presidente ucraniano expressa em entrevista ao The Guardian, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros
russo, Maria Zakharova, afirmou: “Na região de Kursk, os ‘neonazis’ que lá
operam estão à espera de territórios sem qualquer troca com uma área de cerca
de um metro por dois e um metro e meio de profundidade. Zelensky faz tais
declarações para esconder a verdadeira dimensão do desastre para as forças
ucranianas nesta direção.”
A Duma
reagiu, de forma ainda mais incisiva, citando “As Doze Cadeiras”, de Evguéni
Petrov e Iliá Ilf: “A negociação é inadequada, neste caso.”
Zelenskyy anunciou
planos para propor, nas conversações de paz com a Rússia, a troca de parte da
região de Kursk, controlada pela Ucrânia, por parte do território ucraniano
anexado pela Rússia. E diz estar pronto para negociar com a Rússia, mas quer
que Kiev fale com Moscovo a partir de uma posição de força. Na referida entrevista,
disse que ofereceria às empresas americanas contratos de reconstrução e
incentivos ao investimento. E, de acordo com os meios de comunicação social, tentará
convencer, assim, o presidente dos EUA a sentar-se à mesa das negociações e a
pôr fim à guerra.
O presidente
ucraniano também criticou a proposta de que apenas os países europeus devem
fornecer garantias de segurança à Ucrânia. “Há vozes que dizem que a Europa
poderia oferecer garantias de segurança, sem os americanos, e eu digo sempre
que não. As garantias de segurança sem os EUA não são verdadeiras garantias de
segurança”, afirmou Zelenskyy.
***
Conseguir a
paz na Ucrânia torna-se difícil, pois verdadeiramente ninguém quer ceder. Zelenskyy
parece hesitar – cede território, mas não sabe que território requer em troca –
e Moscovo não quer largar território. Ficar tudo como está significa uma guerra
que, realmente ninguém vence. Ceder todos os territórios ocupados, para a
Rússia é ter feito uma guerra inútil. E, obviamente, Donald Trump, em vez de
manter o auxílio infindo à Ucrânia, prefere voltar-se para o Pacífico e impedir
uma invasão de Taiwan pela China.
2025.02.12 – Louro de Carvalho
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