Tornou-se
moda o desejo de Páscoa doce para todos. E não vejo nada de mal nesse voto
desde que esteja aberto à mistura com uns salgadinhos e que não se fique pelo materialismo
da vida.
Passando
da metáfora à realidade, é de atentar na Semana Santa prestes a desembocar no seu
ponto culminante, o Oitavo Dia, o da Ressurreição do Senhor, que nos faz voltar
ao episódio da entrada triunfal de Jesus na sua cidade de Jerusalém. Na
verdade, a Semana Maior ou Semana Santa é aquela em que celebramos a síntese do
Mistério Pascal. Jesus, que ama os Seus até ao fim do fim, deixa-Se manietar
para sofrer a morte cruenta para remissão de toda a humanidade, não querendo
deixar ninguém para trás.
Há
nesta realidade redentora a doçura do amor divino por nós, mas também o fel
amargo, salgadíssimo, do sofrimento do Crucificado. Já neste aspeto a Páscoa
comporta doçura que podemos e devemos degustar. Contudo, não deixa de nos interpelar
e convocar para a imitação do amor-serviço ou afeto serviçal – não servil – em prol
dos irmãos que sofrem e, em última análise, em prol do Cristo que sofre neles. E,
se é um serviço salgado e doloroso, que vá repleto da doçura da autodoação amorosa
à imitação do que sentiu, fez e viveu o Senhor.
E,
como todos sabemos, o plano redentor não se ficou na ignomínia do atroz
sofrimento da cruz. Ao invés, o Redentor fintou o espírito do mal e impôs o
reino da Verdade. A cruz saiu do reino da escravidão e da maldição e tornou-se bênção,
liberdade e sabedoria para os crentes. O Ressuscitado, que depois de morto foi
descido do patíbulo e convenientemente tumulado, britou as amarras da morte e evadiu-se
do sepulcro.
Ganhando
uma vida outra, a gloriosa, apareceu às mulheres e aos discípulos, que passaram
a ser tratados como irmãos, que o são efetivamente com o Filho Unigénito do Pai.
A uns explicou, durante a caminhada para casa, tudo quanto era referido ao Messias
em Moisés e nos Profetas; a outros veio dissipar-lhes o medo, comunicar-lhes a
paz, constituí-los apóstolos, enviados ou missionários e dar-lhes o poder de
perdoar os pecados. Depois, a todos confiou-lhes o encargo de ir por todo o
mundo fazer discípulos em todas as nações, ensinando a toda a criatura quanto Ele
lhes ensinou e garantiu a sua presença e apoio nesta missão ou a força que
iriam receber do Alto.
Assim,
a Páscoa de Jesus torna-se a nossa Páscoa erigida no dia da Ressurreição de
Cristo como base da nossa fé e garantia da nossa ressurreição. Porém, o seu
fundamento está na noite de Quinta-Feira Santa, com a instituição da Eucaristia
– no mistério do Corpo e sangue do Senhor sob a aparência de pão e de vinho entregues
em sacrifício ao Pai e em doação a nós em banquete de comunhão – mergulhada no
mistério do amor indefetível do Senhor posto ao serviço da fraternidade. Embarcados
nesta Páscoa de Cristo, dela desfrutamos como a nossa Páscoa.
Por
isso, é legítimo, é imperativo celebrar a Páscoa da doçura do amor de Deus e do
amor do próximo, feito salgadinho de serviço em prol de todos, especialmente de
quem mais sofre.
20202.04.16 – Louro de Carvalho
A todas as pessoas amigas e a todos os familiares votos de Santa e Doce Páscoa!
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