No seu primeiro discurso como Ministro da Economia, Costa Silva (não é o antigo presidente do Brasil, que não há notícia de que haja ressuscitado) vincou o “momento extremamente difícil” que o país atravessa, mas indicou seis “alavancas” para mudar a trajetória de crescimento. Deverá ser a resposta os críticos ao clamor de que estamos a crescer pouco à visto dos países do leste na UE.
António Costa Silva falou no Parlamento, no pretérito dia 8, e reconheceu um
país com uma economia “fustigada”, mas garantiu que vai “lutar”
para reperspetivar a dinâmica do crescimento, referindo que a estratégia
económica do Governo passa por seis alavancas e
enfatizando, por exemplo, que Sines pode ter “não uma, mas
duas Autoeuropas”.
Estando a economia a ser “fustigada”, quer nas empresas, quer nos cidadãos,
é necessário definir uma estratégia, que passa por “fazer chegar mais dinheiro à
economia e estimulando as empresas que prestam bens e serviços
competitivos”.
Diz o novel governante, mas veterano gestor, que vai “lutar” para mudar a
trajetória de crescimento da economia portuguesa, apostando nas empresas que
produzem bens “mais competitivos no mercado global”. Admite que “é um esforço
extraordinário que temos de fazer” e sublinha a necessidade de aumentar a
“eficácia” da execução dos fundos europeus.
Anunciou que, a 13 de abril, as empresas vão apresentar os projetos finais
das agendas mobilizadoras. E o ministro, que espera ter os contratos assinados
antes do verão, confessou-se “muito esperançado”, elogiando
os projetos a concurso, no alinhamento com o Primeiro-Ministro, que disse, a 8
de abril, que a verba adicional do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), no valor de 1,6 mil milhões de euros, será dedicada
às agendas mobilizadoras.
António Costa Silva definiu, assim, as seis “alavancas” em que vai repousar
a estratégia económica do Governo para o país:
- Qualificações e
competências dos trabalhadores: “o país tem feito um esforço significativo,
mas temos de fazer muito mais”;
- Capitalização
das empresas: “o nível de capital das empresas portuguesas é dos mais
baixos da UE”;
- Inovação tecnológica: “temos de mudar o modelo de desenvolvimento do
país”, disse referindo a descida seletiva do IRC para as empresas que
reinvestem os lucros na sua atividade económica;
- Literacia
financeira e digital: “temos de
melhorar as nossas instituições a todos os níveis”, disse o ministro,
esclarecendo que a ideia é “fazer acordos com escolas de negócio e gestão para
haver pacotes de formação em termos de gestão financeira para as empresas”;
- Ecossistema de inovação: o sistema científico e de inovação (Universidades,
Politécnicos, etc.) tem de
interagir com o tecido empresarial para produzir produtos de alto valor
acrescentado;
- Exportações e importações: “temos de continuar a fazer um esforço admirável”
que tem sido feito “para alargar a penetração nos mercados internacionais” e
“aumentar o volume”, sendo preciso gizar uma estratégia “inteligente” da
substituição das importações por causa do “conteúdo importado” das exportações.
Ao pormenorizar os seis pilares fundamentais, o ministro falou da
importância do Porto de Sines, assegurando que “Sines pode ser um dos grandes
polos de desenvolvimento do país para o futuro, já que “pode ser um
porto ligado a toda a rede internacional, pode ser um hub das tecnologias verdes”. E enfatizou, como se disse,
que “podemos ter em Sines não uma, mas duas Autoeuropas”.
Não obstante o mérito do discurso de um dos mais esperançosos novéis
governantes em terra e mar, é de questionar como é que o governante,
reconhecendo que a economia está fustigada nas empresas e nos cidadãos, só
pensa na alavancagem económica do lado das empresas e nada apresentando para
fazer chegar dinheiro aos cidadãos. Ora, se estes não ficarem com maior poder
de compra, o objetivo fulcral das empresas são será atingido e os governantes,
todos eles (cada um através das suas áreas de governação), devem zelar pelo bem-estar dos cidadãos e das famílias.
Por outro lado, o ministro quer incrementar a qualificação dos trabalhadores,
resta saber porque não aposta na melhor organização do trabalho, na melhor formação
de empresários e gestores e na harmonização fiscal a nível da UE ou porque
temos IRC e IVA em patamares ultra UE.
***
Também o Ministro da Economia e do Mar admitiu, no
dia 9, que o Estado poderá taxar, numa base pontual, os lucros acrescidos que
as energéticas venham a ter com o aumento dos preços, dizendo que o Governo
pode seguir essa recomendação da Comissão Europeia e a da OCDE (Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento),
mas não revelou pormenores sobre o formato que esta medida pode vir a ter, caso
a ideia avance. Efetivamente, em resposta à questão de Mariana Mortágua, que
tinha criticado a distribuição de dividendos da EDP e da Galp Energia, frisou:
“Quando se preocupa com a questão dos
impostos, sobretudo com os lucros aleatórios que as empresas têm, nós em
primeiro lugar não podemos hostilizar as empresas. O que vamos fazer é falar
com elas e provavelmente considerar um imposto, um windfall tax, para os lucros aleatórios e
inesperados que elas estão a ter.”.
Numa intervenção posterior, Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do
Bloco de Esquerda, elogiou essa afirmação de Costa Silva, mas pediu detalhes
sobre qual taxa, para que setores, em que dimensão e
qual a duração. São as questões essenciais cujas respostas as pessoas precisam
de saber, segundo o deputado bloquista, que desafiou o Governo
a esclarecer os deputados “até ao final deste debate”, bem como pediu ao
Executivo para esclarecer se há ou não “lucros abusivos”.
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