quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Período eleitoral não pode ser caixa de pandora de benefícios

 

Há dias, quis dizer que os anos de eleições não podem nem devem parar o país. E é por isso que julgo desadequadas as críticas que alguns fazem ao presidente do PSD por se deslocar à residência oficial do Primeiro-Ministro a participar na homenagem ao antigo Primeiro-Ministro Dr. Francisco José Pereira Pinto Balsemão, que foi cofundador e líder do PSD, pelo facto de ter sido Chefe do Governo há 40 anos e pelo facto de alegadamente ter libertado a sociedade civil.

De igual modo, devo dizer que me parece algo oportunista, a não ser que a pandemia tudo justifique, a cerimónia não ter ocorrido em janeiro ou num dos meses subsequentes. Porquê no aniversário do 9.º mês do seu governo? Nove meses são o tempo normal da gestação humana! Será de desconfiar de que se trata dum bónus eleitoralista de António Costa, de modo que o seu partido fique em boa pose fotográfica neste cenário eleitoral autárquico.

Na verdade, este período eleitoral, à semelhança de outros, apresenta uma caixa de pandora com duas saídas de todo insustentáveis.

Por um lado, como diz Jorge Morais, na mais recente edição do “Tal & Qual”, o espectro eleitoral está crivado de inanidades discursivas e de carantonhas que, se não tivéssemos a noção de que se trata de seres humanos, ficaríamos verdadeiramente aterrorizados. “Metem medo ao susto”.

Efetivamente, a disputa eleitoral é suportada por diversos tipos de pantalha de tamanhos de diferente dimensionamento, mas com duas coisas em comum: fotos geralmente mal conseguidas e frases balofas.

Não se ganhou em confiar a produção destes materiais a empresas de marketing tidas por especializadas. Ou não sabem fazer marketing eleitoral ou as candidaturas não abrem os cordões à bolsa ou os/as candidatos/as não primam pela fotogenia. Quando os materiais eram elaborados por amadores, a espontaneidade era mestra.      

Quanto a fraseado, que deveria ser mobilizador, temos as banalidades costumeiras do género: mais cidade; melhor cidade; confiança; o concelho merece que ganhe o melhor; competência; honestidade; a mudança; a diferença; …

Por outro lado, a segunda saída ca caixa de pandora oferece, da parte dos candidatos que almejam a conquista do poder, um chorrilho de promessas explícitas e linhas de atuação, muitas vezes, sem a conveniente medida das consequências e das possibilidades; e, outras vezes, com a noção de que não podem cumprir o que prometem. Não raro, até prometem fazer o que já está feito. Da parte dos autarcas em exercício, temos o compêndio das obras feitas (por vezes, sem datação), das obras em curso e das obras em projeto, como dos convenientes e apetecíveis programas e serviços de apoio às populações. Nada se diz daquilo que foi prometido e não se fez, a não ser que as oposições levantem essa lebre, caso em que se multiplicam as razões.

Porém, as eleições autárquicas são, frequentemente, estribadas em promessas não públicas de vantagens para este ou para aquele, incluindo iniciativas que dependem de apoio governamental. E, da parte de quem está na governança de autarquias, o combate passa para a consolidação e alargamento da malha de influências e dependências. A pari, em ano eleitoral autárquico, as ruas, praças e jardins são um verdadeiro estaleiro de obras!

Depois, há coisas bem patuscas. Por exemplo, embora eu tenha alguma simpatia por determinados partidos, se residisse em Almada, estaria bem oscilante sobre se devia votar ou não no partido socialista para a Câmara e para a assembleia municipal. Na verdade, como a candidata disse que António Costa lhe garantiu a extensão do Metro até à Costa da Caparica, mas não lhe garantiu a nova ponte sobre o Tejo, apetecia-me votar PS por causa do Metro, mas apetecia-me a votar noutro partido por não haver garantia de nova ponte.  

E pergunto-me porquê esta promiscuidade entre o investimento municipal e o investimento da administração central. Será que tinha razão o antigo candidato municipal que dizia que quem está com o poder come e que está com a oposição cheira? Não deve o poder central tratar com equanimidade todas as autarquias?

Por fim, continuamos com a dança de candidaturas: de partido para partido, de partido para independentes, de independentes para partido, de freguesia para freguesia, de município para município. Acabem com a atual lei de limitação de mandatos ou façam uma lei decente! As eleições são para escolhermos líderes, não chico-espertos…

2021.09.02 – Louro de Carvalho

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