É
uma lancinante asserção do Papa em mensagem datada de 23 de setembro e
conhecida a 29, enviada aos participantes no evento de alto nível da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa em torno do
tema “Meio Ambiente e Direitos Humanos:
Direito à Segurança, Meio Saudável e Sustentável” a decorrer em
Estrasburgo.
Na
mensagem, referiu o convite do Presidente Rik Daems para falar do cuidado
com o meio ambiente, nesta nossa casa comum, “presente que recebemos e que
devemos cuidar, preservar e levar por adiante”. E reiterou que a Santa Sé, como
país observador, acompanha com atenção e interesse todas as atividades do
Conselho a este respeito, certa de que todas as iniciativas e decisões
concretas desta Organização que melhorem a dramática situação da saúde do
planeta devem ser apoiadas e valorizadas.
Recordou
que, naquele hemiciclo, a 25 de novembro de 2014, sublinhara a estreita colaboração
entre a Santa Sé e o Conselho da Europa e reiterou que “entre os temas que
requerem reflexão e colaboração está a defesa do meio ambiente da terra que é o
grande recurso que Deus nos deu e pôs à nossa disposição, não para ser
desfigurada, explorada e degradada, mas para nela vivermos com dignidade, “desfrutando
da sua imensa beleza”. Também frisou que, na encíclica Laudato si’, relevou a importância de “cuidar da casa comum,
princípio universal que envolve não só os fiéis cristãos, mas toda a pessoa de
boa vontade que se preocupa com a proteção do meio ambiente”. E mostrou-se
convicto de que este evento – que ocorre em vésperas da próxima cimeira mundial
da ONU sobre as alterações climáticas (COP26), em que Papa tenciona participar – oferecerá,
por força do multilateralismo, cada vez mais valorizado, uma contribuição
válida também para a próxima reunião das Nações Unidas.
Por
outro lado, a Santa Sé está convicta de que qualquer iniciativa do Conselho da
Europa não se deve limitar ao espaço geográfico do continente, mas chegar a
todo o mundo.
Nesse
sentido, vê-se com interesse a decisão de criar um novo instrumento jurídico que ligue o cuidado do meio ambiente com o respeito
dos direitos humanos fundamentais. E, vincando que “não há mais tempo para esperar, devemos agir”,
Francisco entende que “qualquer instrumento que respeite os direitos humanos e
os princípios da democracia e do Estado de direito” será “útil para enfrentar
este desafio global”. Efetivamente, como adverte o Pontífice, ninguém pode
negar o direito fundamental de cada ser humano “a viver com dignidade e a desenvolver-se
integralmente”; e se todos nós, seres humanos, nascemos com a mesma dignidade,
temos obrigação, como comunidade, de garantir a cada pessoa que “viva com
dignidade e tenha oportunidades adequadas para o seu
desenvolvimento integral”. E, se o ser humano se julga senhor do universo e
não seu administrador responsável, não reconhece a sua posição correta em
relação ao mundo, justifica qualquer tipo de desperdício, tanto ambiental e
humano, e trata as outras pessoas e a natureza como meros objetos.
Parafraseando
o dizer dos antigos “Esse oportet ut vivas, non vive ut edas” (é preciso comer para
viver, não viver para comer), o Papa assenta em que “é preciso consumir para viver, não
viver para consumir” e, sobretudo, nunca se deve consumir descontroladamente, devendo
todos “usar a terra para seu sustento”. E, como tudo está interligado, a
família das nações deve, segundo o Pontífice, a preocupação comum de “fazer com
que o meio ambiente seja mais limpo, puro e conservado”, cuidando da natureza, “para
que ela cuide de nós”. Porém, isto postula “uma verdadeira mudança de rumo, uma
nova consciência da relação do ser humano consigo mesmo, com os outros, com a
sociedade, com a criação e com Deus”.
Ora,
sendo esta crise ecológica “uma crise socioambiental única e complexa”, ela
impele-nos ao diálogo interdisciplinar e operacional a todos os níveis, do
local ao internacional, do individual ao coletivo. Por conseguinte, devemos
equacionar os deveres de cada ser humano de viver em ambiente saudável,
saudável e sustentável; e, em vez de falarmos apenas de direitos que nos são
devidos, devemos também pensar na responsabilidade que temos para com as
gerações futuras e com o mundo que queremos deixar às crianças e jovens.
Por
isso, Francisco espera desta assembleia a capacidade de identificar, promover e
implementar, com determinação, todas as iniciativas necessárias para construir
um mundo mais saudável, mais justo e mais sustentável, pois, uma vez que “recebemos
das mãos de Deus um jardim, não podemos deixar um deserto aos nossos filhos”.
E
o repto final do Papa Francisco é que “ajamos com esperança, coragem e vontade,
tomando decisões concretas”, pois, se o objetivo é proteger a casa comum e a dignidade de todo o ser humano,
as decisões não podem ser deixadas para amanhã.
***
Por
seu turno, o seminário de jovens que decorre em Milão sobre a promoção da educação
sustentável do ‘Youth4Climate’ recebeu e apreciou uma videomensagem papal de
apoio a esta iniciativa e a todas as iniciativas que as novas gerações
empreendam na luta contra as alterações climáticas. Por outro lado, Francisco preocupações
para a COP26, que se realiza em novembro na cidade de Glasgow (Escócia), e alerta para eminência da pobreza energética.
O Papa
agradece os sonhos e projetos de bem que os jovens acalentam, bem como a importância
que dão às relações humanas e ao cuidado com o meio ambiente – visão que “pode
colocar o mundo adulto em crise”, pois o mundo juvenil está disponível para a ação
e para “a escuta paciente, o diálogo construtivo e a compreensão mútua”.
Depois,
encoraja os jovens a unirem forças numa ampla aliança educativa para “formar
gerações de bons, maduros, capazes de superar as fragmentações e reconstruir o
tecido das relações” de modo a chegarmos “a uma humanidade mais fraterna”. E
considera que dizer que os jovens são o futuro é pouco: eles são o presente,
pois estão “no presente a construir o futuro”.
Recorda
que o Global Education Compact,
lançado em 2019, indo nessa direção, “tenta dar respostas compartilhadas à
mudança histórica que a humanidade está a experimentar e que a pandemia tornou
ainda mais evidente”. E sustenta que “não bastam as soluções técnicas e
políticas, se não estiverem ancoradas na responsabilidade de cada integrante e
por um processo educativo que favoreça um modelo cultural de desenvolvimento e
sustentabilidade voltado para a fraternidade e a aliança do ser humano com o
meio ambiente”. Com efeito, na ótica do Pontífice, tantas vezes expressa,
“deve haver harmonia entre as pessoas, homens e mulheres e o meio ambiente”,
pois não somos inimigos nem indiferentes”, antes “fazemos parte dessa
harmonia cósmica”. Mais podem, com ideias e projetos comuns, encontrar-se “soluções
que superem a pobreza energética e ponham o cuidado dos bens comuns no centro
das políticas nacionais e internacionais, favorecendo a produção sustentável, a
economia circular, a agregação de recursos energéticos, as tecnologias
adequadas”. E adverte que “é tempo de tomar decisões acertadas para que
saibam aproveitar as muitas experiências adquiridas nos últimos anos, para
tornar possível uma cultura do cuidado, uma cultura da partilha responsável”. Por
isso, o Santo Padre acompanha esta caminhada e encoraja os jovens “a
desenvolverem o seu trabalho pelo bem da humanidade.
***
São,
enfim, preocupações do líder máximo duma Igreja que se revela atenta aos dramas
da humanidade nos tempos que correm e que está pronta a dar a mão, não para
anatematizar, mas para abençoar, encorajar e entrar em cooperação, pois as
grandes causas do ser humano são a prioridade, pois onde estão os dramas do
homem está o coração de Deus em lancinante apelo.
2021.09.30 – Louro de
Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário