quinta-feira, 9 de setembro de 2021

“Maria, a voz dos sem voz para dar à luz um mundo novo”

 

Está a decorrer, em edição online, de 8 a 11 deste mês de setembro, 25.° Congresso Mariológico Mariano Internacional subordinado ao tema “Maria entre teologia e cultura hoje. Modelos, comunicações e perspetiva” – uma iniciativa da Pontifícia Academia Mariana Internationalis (PAMI), que, há mais de sessenta anos se dedica ao estudo de Maria reunindo cultores de mariologia no mundo inteiro.

Entre outros, como referia, a 26 de agosto, Dom Rafael Maria OSB, ressalta o objetivo de iluminar as devoções populares e particulares para bem se venerar a Mãe de Jesus através da Bíblia, da Tradição do Padres da Igreja, do Magistério e da Liturgia.

O Congresso deseja, pois aprofundar as seguintes questões: “Qual visão a comunidade eclesial e outros possuem de Maria de Nazaré? Onde podemos considerar e valorizar o papel da Mãe do Senhor na Teologia nas diversas culturas? Quais os seus modelos e comunicações chegam ao povo de Deus e como delinear as suas perspetivas?”.

Efetivamente, “a Mariologia hoje sofre uma crise de identidade sem precedentes, onde todos acham que sabem falar em modo teológico, assim como, se debruçam na cátedra do ensino a respeito” – diz o religioso beneditino observando que “outra feita é o choque entre a prática devocional e a Mariologia, em que uma percorre o campo da simplicidade, até escorregando para o simplório,  e a outra, deseja iluminar tais devoções populares e particulares para bem se venerar a Mãe de Jesus através da Bíblia, da Tradição do Padres da Igreja, do Magistério e da Liturgia”.

Em sua mensagem aos congressistas, o Papa Francisco assegura que, “no caminho da cultura da fraternidade, o Espírito nos chama a acolher mais uma vez o sinal de consolação e esperança segura que tem o nome, o rosto e o coração de Maria”.

Neste sentido, a mensagem pontifícia reforça que a “nossa alegria não deve esquecer o grito silencioso de tantos irmãos e irmãs que vivem em condições de grande dificuldade” e que “Maria, na beleza de seu seguimento evangélico e em seu serviço ao bem comum da humanidade e do planeta, sempre nos ensina a escutar estas vozes, e ela mesma se torna a voz dos sem voz para dar à luz um mundo novo, onde todos sejamos irmãos, onde haja lugar para cada descartado das nossas sociedades”.

Recorda o Papa que “a celebração dos Congressos Marianos Internacionais, ofereceu debates, intuições, ideias e aprofundamentos numa época que transforma ‘rapidamente’ o modo de viver, de se relacionar, de comunicar e elaborar o pensamento, de comunicar entre as gerações humanas e de compreender e viver a fé”. E o considera que “estes Congressos são um claro testemunho de como a Mariologia é uma presença necessária de diálogo entre culturas, capaz de alimentar a fraternidade e a paz”.

Ao observar que a teologia e a cultura de inspiração cristã estiveram à altura da sua missão quando souberam, de forma arriscada e fiel, viver na fronteira, o Santo Padre explicitou que a Mãe do Senhor tem uma sua específica presença nas fronteiras:

É a Mãe de todos, independentemente de etnia ou nacionalidade. Assim, a figura de Maria torna-se um ponto de referência para uma cultura capaz de superar as barreiras que podem criar divisões. Portanto, no caminho desta cultura da fraternidade, o Espírito chama-nos a acolher mais uma vez o sinal de consolação e esperança segura que tem o nome, o rosto e o coração de Maria, mulher, discípula, mãe e amiga. É ao longo deste caminho que o Espírito continua nos dizendo "que os tempos em que vivemos são os tempos de Maria.”.

Francisco, na sua mensagem, fez suas as palavras do Papa emérito Bento XVI ao dizer que o mistério contido na pessoa de Maria é o mistério da Palavra de Deus encarnada:

Ela sente-Se verdadeiramente em casa na Palavra de Deus, dela sai e a ela volta com naturalidade. Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta torna-se Palavra d’Ela, e a sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, fica assim patente que os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus, que o d’Ela é um querer juntamente com Deus. Vivendo intimamente permeada pela Palavra de Deus, Ela pôde tornar-Se mãe da Palavra encarnada.”.

Depois, o Papa Francisco pediu que não esqueçamos que “é precisamente esta mesma Palavra que alimenta a piedade popular, que se inspira naturalmente em Nossa Senhora”, expressando e transmitindo “a vida teologal presente na piedade dos povos cristãos, especialmente nos pobres, uma vida teologal animada pela ação do Espírito Santo, fruto do Evangelho inculturado”. E concluiu recordando uma citação de São Boaventura Bagnoregio ao afirmar que “São Francisco de Assis circundava a Virgem Maria de imenso amor porque tinha feito Deus nosso irmão”.

É, pois verdade que a Mariologia está umbilicalmente ligada à força da Palavra de Deus, de que a Virgem Se fez eminente serva, tal como está intimamente conexa com o Espírito Santo, que fez de Maria a Mãe do Senhor e guia a Igreja pelos caminhos da História.

Sendo estes tempos os tempos de Deus, eles são também inquestionavelmente “os tempos de Maria.

E o Congresso, na convicção de que não é lícito subvalorizar a fé dos pobres, entendeu por bem considerar que ela deve ser iluminada pela sã teologia e vivificada pela boa liturgia.

Palavra do Senhor, ensinamento de Cristo, impulso do Espírito – eis o caminho que Maria aponta e é a primeira, na linha a fé, a percorrer.

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Em adenda, é de recordar que a fundação da PAMI – formada por formada por membros, homens e mulheres, de várias confissões cristãs, ordinários, correspondentes e honorários – se deve ao Padre Carlo Balić, OFM, que a criou em 1946, com o objetivo de promover os estudos científicos, especulativos e histórico-críticos sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria. Tornou-se, por conseguinte, um centro internacional de coordenação dos estudos marianos promovidos pelas várias Sociedades Mariológicas de todo o mundo, sobretudo através da organização periódica dos Congressos Internacionais Mariológico-Marianos e da edição das respetivas Atas e outras séries mariológicas. 

Por esta obra, a 8 de dezembro de 1959, São João XXIII , com o Motu Proprio Maiora nos more, atribuiu à Academia o título de “Pontifícia”, dando assim um reconhecimento oficial à sua atividade, como organismo internacional e central de coordenação do trabalho mariológico dos vários académicos e dos Institutos ou Associações Marianas presentes nas várias nações. Além da fundação de novas Sociedades ou Institutos Marianos em várias nações, um dos seus objetivos principais é também o compromisso de fomentar e promover o diálogo ecumênico, especialmente por ocasião dos Congressos Mariológico-Marianos Internacionais.

Os Estatutos aprovados em 1964 por São Paulo VI, foram revistos ​​em 1995 e aprovados definitivamente por São João Paulo II a 9 de janeiro de 1997. Desde 1972 foi agregada à Pontifícia Universidade Antonianum na qual, desde 1999, dirige a Cátedra de Estudos Mariológicos “Beato Giovanni Duns Scotus” e a “Biblioteca Padre Carlo Balić” incluídos na Biblioteca da mesma Universidade.

2021.09-09 – Louro de Carvalho

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