Foi o tema das
Jornadas de Comunicação Social promovidas pelo SNCS (Secretariado Nacional das
Comunicações Sociais) da
CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), que
decorreram de 23 a 24 de setembro, presencialmente em Fátima e online.
Na sessão de
abertura, Dom João Lavrador, presidente da Comissão Episcopal responsável pelo
setor dos media, disse que a pandemia provocou “ruturas comunitárias” que
importa superar no futuro imediato. Depois, Isabel Figueiredo, diretora do SNCS
apresentou o programa e os trabalhos continuaram com uma partilha de
experiências das várias dioceses, a que se seguiram as diversas conferências e
subsequentes debates.
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O Padre José Gabriel Vera, secretário da Comissão
Episcopal das Comunicações Sociais da Conferência Episcopal de Espanha disse
que a “comunicação da Igreja não pode fechar” e sublinhou as “aprendizagens”
proporcionadas pela pandemia, que, tendo sido “um tempo difícil para a vida da
Igreja, para muitas pessoas e também difícil para a comunicação da Igreja”,
ensinou muito e criou “muitas oportunidades”. Com efeito, “muita gente podia
fechar os trabalhos, os escritórios, mas a porta fechada da Igreja parecia uma
ofensa”.
O sacerdote relatou que as primeiras duas semanas de
confinamento foram passadas a tentar “aprender a trabalhar em casa”, vendo
nesse ensinamento uma “oportunidade de aprender para o presente e futuro”. E
passou em revista várias das iniciativas levadas a cabo para contrariar a ideia
de Igreja de “portas fechadas”, as quais ajudaram a mudar a perceção da opinião
pública sobre a ação das comunidades católicas em resposta à crise provocada
pela covid-19.
O conferencista vincou a importância duma “comunicação
que conta histórias”, para lá da transmissão das Missas, que “ajudou” a tornar
visível que a Igreja continuava a celebrar.
O eclesiástico da Diocese de Pamplona, na conferência
‘Zoom out: Análise e perspetivas’, afirmou
que, quando chega uma crise, alguém tem de ocupar-se em “manter a luz”, porque
a “Igreja não pode fechar as portas e a comunicação da Igreja não pode fechar”.
E acrescentou:
“A comunicação em tempo de crise é muito mais importante, tem de
crescer. Uma aprendizagem que nos obrigou a estar sempre disponíveis para os
meios de comunicação social e também para a comunicação interna – as
instituições, os sacerdotes, delegações –, que é muito importante que continuem
a comunicar.”.
O também professor de Comunicação Social disse que as
transmissões são “uma oportunidade de evangelização” e há “públicos novos” que
podem ajudar as comunidades católicas a crescer, a vários níveis. Quanto à
utilização de recursos digitais, sustentou que a “Igreja deu um alto de 10
anos” durante a pandemia, referindo que, em Espanha, “todas as instituições
diocesanas, todos os bispos estão nas redes sociais”. E incentivou à produção
de “podcasts”, mesmo com comunicações institucionais, e salientou, no âmbito da
revolução digital e das publicações em papel, que “não há respostas
definitivas”, pelo que têm de conviver “os dois modelos” como “portas de
entrada” para as pessoas, que procuram conteúdos diversificados, na Igreja
Católica.
Sobre o trabalho do seu gabinete de comunicação,
observou que os meios de comunicação social “têm cada vez menos meios” e
precisam de mais conteúdo que as dioceses podem propor, oferecendo textos,
áudios, vídeos, fotografias. E realçou que é preciso contar histórias com
“rostos concretos” e que os jornalistas “todos os dias” procuram “histórias
bonitas da Igreja”.
Sobre o problema das ‘fake news’ (notícias falsas), o
sacerdote espanhol, que é doutor em Comunicação Pública, explica que a Igreja
tem de “trabalhar mais, trabalhar antes, trabalhar mais rápido”, para, quando
essa notícia chegar, já ter comunicado “o que é a realidade” e alertou para as
“deepfake”, isto é, os vídeos falsos, que parecem ser conteúdos verdadeiros.
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No segundo dia, as Jornadas deixaram um desafio à
promoção da inclusão” nas narrativas mediáticas, em particular no atinente às
pessoas com deficiência. A este respeito, Carmo Diniz, diretora do Serviço de
Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa, afirmou:
“Além das denúncias, há mais que importa trazer, há pessoas com
deficiência que têm dificuldade de mostrar as suas capacidades e aí a
comunicação social pode fazer mais e melhor”.
A conferencista apresentou uma reflexão sobre as
capacidades e barreiras de pessoas sem deficiência e com deficiência, pedindo
comunicação social de inclusão. E apontou:
“A exclusão diminui-nos e torna-nos mais pobres. Na escola, incomodam a
educação dos outros meninos, no trabalho ninguém acredita nas suas capacidades,
na igreja incomodam as celebrações.”.
A responsável, mãe de cinco filhos, sendo um portador
de deficiência profunda, convidou a “aprender a humildade e alegria” com as
pessoas com deficiência, destacando que elas “precisam de mais tempo para
mostrar as suas capacidades”.
Depois, os participantes nas Jornadas Nacionais
ouviram um conjunto de intervenções subordinadas a cinco verbos: “apoiar,
aprender, aproximar, conhecer e incluir”.
Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa,
agradeceu à comunicação social a “escuta ativa e de propósito” neste tempo de
pandemia, antes de assinalar que essa atitude “fez a diferença neste ano e meio”.
“Nos tempos de pandemia, cumprir a nossa missão à distância foi difícil,
criativo e muito desafiante, o meu obrigado porque o papel da comunicação
social foi muito claro, de todo o tipo, dos meios regionais aos nacionais, e a
forma como nos alinhámos na informação fez toda a diferença”, referiu a
dirigente daquele organismo nacional, para quem a comunicação não pode servir
só para denunciar injustiças mas também tem de servir para “anunciar e
informar”.
Por sua vez, Jaime Barbosa, irmão marista, abordou o
contraste da educação em países em vias de desenvolvimento, como Moçambique,
onde esteve recentemente, e nos países com mais capacidades tecnológicas. Este
professor de educação Moral e Religiosa Católica referiu a grande transformação
que os professores sofreram, durante a crise provocada pela covid-19, por
caminhos diferentes e com “maior abertura à comunicação com os pais”. E
admitiu:
“Tivemos de nos adaptar, surgiu um movimento de partilha entre
professores e, a dada altura, estávamos com novas facetas de professor a
aprender a dar aulas no online, desde o pivô televisivo, a sermos editor de
vídeos, informáticos ou psicólogos”.
O religioso apontou que “os professores não podiam
estagnar” e houve a necessidade de se atualizarem, “desde ferramentas, a
metodologias, mudando regras e sabendo ler muito bem a realidade”.
Por seu turno, Luís Jacob, presidente da Direção da
Rede das Universidades Seniores, trouxe o verbo “aproximar” e contou que,
perante as limitações da pandemia, foi necessário “passar para outro modelo
para manter o contacto”. E realçou:
“Este é um projeto social de contacto, de afeto e de proximidade; houve
universidades que apostaram no contacto telefónico, outras foram pessoalmente a
casa dos seniores, o online inicialmente muitos não aderiram, mas depois quem
aderiu evitou a sensação de isolamento, mas outras instituições que resolveram
voltar às cartas”.
Recordou que, em pandemia, surgiu a criação da
universidade sénior virtual, um “projeto universal” que conseguiu chegar a
“outros públicos, como cuidadores informais, pessoas doentes ou seniores que
residiam nas aldeias”. Reafirmou o papel das Universidades Seniores acreditando
que, com a aprendizagem pós-pandemia, o verbo “aproximar” vai passar por um
“sistema híbrido”, conjugando o presencial e o online, “permitindo chegar a outras
pessoas”.
O verbo “conhecer” foi da responsabilidade de
Margarida Franca e Sandra Moreira, da ONPT (Obra Nacional da Pastoral do
Turismo), que destacaram a área que “tanto
sofreu no tempo de pandemia” e que tem de ser vista através de outra perspetiva.
E Sandra Moreira assumiu:
“O turismo não pode ser visto só na questão dos postos de trabalho, mas
também na perspetiva da casa comum, de manter as tradições e da
sustentabilidade”.
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Nelson Ribeiro, diretor da FCH (Faculdade
de Ciências Humanas) da UCP (Universidade
Católica Portuguesa), a partir
do tema da sua conferência “Comunicar
encontrando as pessoas onde estão e como são”, advertiu que a comunicação
está “permanentemente ameaçada pela desinformação”, e alertou para o facto de
“inconscientemente” cada cidadão participar nela, pelo que urge promover a
literacia informativa. E, neste sentido, afirmou:
“Hoje há instrumentos ao nosso dispor para desmascarar a desinformação.
Como sociedade precisamos de apostar na formação dos cidadãos, no pensamento
crítico para distinguir a desinformação da informação.”.
O responsável afirmou ser necessário “credibilizar as
fontes” e valorizar a “função nobre do jornalismo”. E acrescentou:
“O agradecimento [aludido]é sobretudo um reconhecimento da importância
que o jornalismo tem nas sociedades contemporâneas e a missão de impedir a
proliferação de discursos de ódio e dos medos a inculcar nos cidadãos”.
Nelson Ribeiro vê o repto deixado pelo Papa Francisco
aos jornalistas para “gastarem a sola dos sapatos” como um investimento nas
relações interpessoais, pelo que frisou:
“As relações interpessoais influenciam o nosso dia a dia, precisamos de
estar com os outros para criar comunidade e para desenvolvermos o nosso
potencial cognitivo”.
Em defesa da liberdade de imprensa, disse que é
essencial para um “debate público esclarecido” e “um antídoto para o
aparecimento de ditaduras”.
De acordo com o tema da sua intervenção, o professor
Nelson Ribeiro afirmou que a comunicação tem um nível “de conteúdo e também de
relação”: “quando descuramos a dimensão da relação, a comunicação deixa de
acontecer”, facto que pode estar a abrir espaço para os influenciadores
digitais. E questionou:
“Os influenciadores digitais, que são produtores de conteúdos, constroem
relação com os seus seguidores – na forma como comunicam, como se preocupam com
os seguidores, como querem melhorar o seu estilo de vida. Até que ponto os
jornalistas estão a descurar a sua capacidade de relação e, nesse sentido, a
perder para os influenciadores digitais?”.
O conferencista valorizou a imprensa católica pela
proximidade que estabelece e criticou a “referência” votada à imprensa
nacional: “a imprensa local tem a capacidade de criar relações que deve ser
aproveitada e potenciada”.
O professor Nelson Ribeiro, criticando o “copy paste”
nas redações que investem tempo em noticiar “o que se encontra em outros
locais” e não investem em contar histórias, sublinhou:
“Se as redações têm hoje menos recursos, também é verdade que perdem
muito tempo a fazer informação fotocópia que em pouco interessa o serviço
público. Os meios que terão futuro são os que vão investir em contar histórias
e não a contar as notícias que teremos acesso em outros locais.”.
E alertando para uma mudança de paradigma na comunicação:
se antes era o cidadão que procurava a informação, hoje é informação que vai ao
seu encontro, com “conteúdos elaborados por algoritmos, adequados ao tamanho
dos telemóveis”, apontou o facto de os “media sociais” potenciarem a perceção de
uma opinião unânime e potenciadora de “desinformação”.
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Por
fim, Dom João Lavrador, presidente da presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações
Sociais Comissão Episcopal, entidade responsável pelo setor dos media,
disse que é necessária uma comunicação “corajosa, muito oportuna”, para
“desafazer ou contrariar as falsas notícias”.
O também bispo eleito de Viana do Castelo assumiu a intenção
de alargar um núcleo de pessoas ligadas à comunicação, para estar na
“vanguarda” sobre os acontecimentos. “Que a verdade consiga desfazer o erro, o
que é falso”, augurou.
O presidente da
Comissão Episcopal da Cultura, Bens
Culturais e Comunicações Sociais prestou
homenagem aos jornalistas que estiveram “na linha da frente” durante a
pandemia, “altura em que foi tão difícil comunicar”.
O prelado evocou o “trabalho de aproximação” com as
comunidades católicas, perante a experiência “dolorosa” da suspensão das
celebrações comunitárias, bem como a evolução digital destes últimos meses,
considerando-a “uma conquista extraordinária para enriquecer a comunicação”,
mas destacando a consciência dos seus limites.
Dom João Lavrador sublinhou que a comunidade é “fundamental”
para a Igreja e a sociedade, assinalando a importância de escutar as várias realidades
e experiências locais, pois “é necessário que nós cresçamos na sinodalidade, na
comunicação”.
E a diretora do Secretariado Nacional das Comunicações
Sociais, Isabel Figueiredo, passou em revista as várias intervenções dos dois
dias, destacando que a consciência das limitações é “o caminho para começar” e
alterar as situações.
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Comunicar é um ato essencial à pessoa, quer pelo conteúdo,
quer pela atitude como tal, pois é uma categoria relacional. Portanto, a comunicação
deve ser promovida, valorizada, multiplicada, enobrecida. Mal anda quem a
desvirtua, falseia ou dela abusa. Seja como for o ensimesmamento é contrário ao
devir humano. É no diálogo, na relação que o ser humano se realiza em
comunidade, se eleva e expande.
2021.09.25 – Louro de Carvalho
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