sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Se caminharmos juntos com Cristo, Ele mesmo realizará a unidade

 

Neste dia 4 de dezembro, pelas 11,30 horas, foi apresentado, em conferência imprensa a partir da Sala de Imprensa da Santa Sé, em transmissão ao  vivo, o documento “O Bispo e a Unidade Cristã: Vademecum Ecuménico”, do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cujo objetivo, em última análise, é dar corpo ao enunciado em epígrafe proferido pelo Papa Francisco, que aprovou o texto no passado dia 5 de junho.  

Com efeito, o Papa afirma recorrentemente que a unidade se faz caminhando, “não virá como um milagre no final”, mas “vem a caminho, o Espírito Santo a faz a caminho” (vd Homilia na Oração de Vésperas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, a 25 de janeiro de 2014).

Na predita conferência de imprensa intervieram os cardeais Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Quellet, Prefeito da Congregação para os Bispos, Tagle, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, e Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais. 

Leonardo Sandri vê ali o auspício para o estudo comum, o aprofundamento do conhecimento recíproco e a hospitalidade mútua entre o Oriente e o Ocidente, secundado por um conjunto de conselhos práticos que podem favorecer a experiência da vida de comunhão entre as Igrejas.

Luis Antonio G. Tagle salienta do texto que o ministério de unidade do bispo é descrito como um serviço à identidade e missão da Igreja e que o compromisso ecuménico do Bispo exige que ele seja pessoa de diálogo. Por outro lado, entende que, na formação de bispos recém-nomeados e na formação contínua de bispos, são de incluir seminários ou sessões práticas sobre como lidar com diferenças e conflitos e promover a cura de memórias e perdão, pois “os diferentes tipos de diálogo serão produtivos somente se feitos no contexto de amizades humanas, encontros humanos, sendo que “a amizade dos Bispos com os líderes e membros das comunidades não católicas ajuda a eliminar preconceitos” e que “os bons relacionamentos que cultivamos agora” constituirão, mais tarde, “as boas lembranças que curariam as feridas do passado”.

Marc Quellet, PSS, destaca a índole prática do documento, que assinala os 25 anos da Encíclica “Ut unum sint(UUS), de São João Paulo II (25 de maio de 1995), sobre o empenho ecuménico; observa que os anexos informam sucintamente sobre as relações e os diálogos institucionais da Igreja católica com os diferentes parceiros; entende que a causa ecuménica se secundarizou nas prioridades da Igreja mercê dos fluxos migratórios que postulam intenso diálogo inter-religioso face às situações de multiculturalidade; e frisa que os bispos são os primeiros responsáveis pela unidade dos cristãos, não só nas suas dioceses, mas também no âmbito universal por força da colegial sucessão apostólica, pelo devem dar o exemplo do acolhimento e da promoção da cooperação entre os irmãos dos diferentes credos, a exemplo do que faz o Papa Francisco.   

Como é óbvio, a intervenção mais aguardada era de Kurt Koch, o responsável pelo dicastério que elaborou o Vademecum. E, logo atendendo à etimologia do termo – composto dos termos “vade” e “mecum”, a significar “vem comigo”, espera que este painel rico de indicações práticas em apoio à missão dos bispos na promoção da unidade dos cristãos constitua uma ajuda no caminho dos bispos e de toda a Igreja católica em direção à plena comunhão para a qual o Senhor rezou. Na verdade, é “um dever e uma obrigação”, não atividade acessória, “opcional”, do ministério a responsabilidade do bispo de promover “a causa ecuménica”. Por isso, este opúsculo do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que o Papa avalizou, pretende ser um “apoio” para cada pastor e resposta a solicitações que surgiram num encontro de há alguns anos. E Francisco referiu-se a esta missão ecuménica na sua carta por ocasião do 25.º aniversário da encíclica UUS, desejando que o texto em elaboração se tornasse “estímulo e orientação” no compromisso dos bispos com a unidade de todo o corpo cristão, um compromisso, especificado na introdução do documento, “que diz respeito a toda a Igreja”.

Segundo o purpurado, o Vademecum surgiu do pedido dos membros e consultores do Dicastério na sessão plenária de 2016, em que explicitaram a esperança dum breve documento que encorajasse, ajudasse e orientasse os Bispos Católicos no serviço de promoção da unidade do Cristãos por meio do seu ministério, já que, no “Diretório de 1993 para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo, o documento de referência para a tarefa ecuménica da Igreja Católica, faltou um texto destinado aos Bispos para o cumprimento das suas responsabilidades ecuménicas. Com efeito, o Bispo não pode considerar a promoção da unidade cristã como uma das muitas tarefas do seu ministério, que possa ou deva ser subalternizada por outras prioridades aparentemente mais importantes, mas que é seu dever e obrigação.

O processo da preparação do documento durou cerca de três anos. Os funcionários do Pontifício Conselho com o conselho de especialistas elaboraram um esboço, que foi apresentado ao plenário do Dicastério em 2018 e posteriormente enviado a vários Dicastérios da Cúria Romana, que lhe prestaram contribuição valiosa.

Vademecum estriba-se no Decreto “Unitatis Redintegratio (UR) do Concílio Vaticano II, sobre o ecumenismo, na UUS e em dois documentos do Pontifício Conselho: o Diretório Ecuménico; e a dimensão ecuménica na formação de quem se dedica ao ministério pastoral. Não se tratava de repetir tais documentos, mas de propor uma síntese, atualizada e enriquecida pelos temas prosseguidos nos últimos pontificados, a partir do ponto de vista do Bispo: um guia inspirador do desenvolvimento da ação ecuménica e de fácil consulta.

O Santo Padre, que aprovou o Vademecum, fez-lhe referência já na Carta de 24 de maio, por ocasião do 25.º aniversário da UUS, lembrando que “o serviço à unidade é um aspeto essencial da missão do Bispo”, e esperando que o texto sirva de “encorajamento e guia” para o exercício das responsabilidades ecumênicas dos Bispos.

A publicação do Vademecum Ecuménico marca o 25.º aniversário da Encíclica “Ut unum sint” e o 60.º aniversário da criação do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos cristãos, que aconteceu após o anúncio do Concílio Vaticano II – aniversários assinalados por um Ato Académico realizado na tarde deste dia 4 e transmitido ao vivo pelo Angelicum.

No atinente ao conteúdo, diz o cardeal que o documento se divide em duas partes: uma, sob o título “A promoção do ecumenismo na Igreja Católica”, expõe o que se exige da Igreja Católica na sua missão ecuménica, pois “a busca da unidade é, antes de tudo, um desafio para os católicos”, pelo que se consideram aqui as estruturas e as pessoas ativas no campo ecuménico a nível diocesano e nacional, a formação ecuménica e o uso dos meios de comunicação diocesanos; a outra, sob o título “As relações da Igreja Católica com outros cristãos”, examina quatro maneiras pelas quais a Igreja Católica interage com outras comunidades cristãs. 

A primeira via é a do “ecumenismo espiritual, que é a “alma do movimento ecuménico” (UR 8), pelo que se destaca a importância das Sagradas Escrituras, do “ecumenismo dos santos” e da purificação da memória. A segunda via é o “diálogo da caridade”, que promove a “cultura do encontro” ao nível dos contactos e a colaboração quotidiana, alimentando e aprofundando a relação que já une os cristãos em virtude do batismo. Como diz São João Paulo II, “o reconhecimento da fraternidade [...] vai muito além dum ato de cortesia ecuménica e constitui uma afirmação eclesiológica fundamental” (UUS 42). E fazem-se algumas recomendações práticas; por exemplo, para assistir, na medida do possível e oportuno, às liturgias de ordenação ou instalação dos líderes doutras Igrejas, para convidar os líderes doutras Igrejas para as celebrações litúrgicas e outros eventos significativos da Igreja Católica. A terceira via é o “diálogo da verdade”, que se refere à busca da verdade de Deus que os católicos empreendem com outros cristãos por meio do diálogo teológicoE mencionam-se alguns princípios do diálogo como troca de dons, do diálogo teológico (que “não busca um mínimo denominador teológico comum sobre o qual se possa chegar a um compromisso, mas se baseia no aprofundamento de toda a verdade”) e do desafio da receção (que deve envolver toda a Igreja no exercício do sensus fidei). E a quarta forma é “o diálogo da vida”, expressão que designa oportunidades de intercâmbio e colaboração com outros cristãos em três campos: pastoral, testemunho ao mundo e cultura. No campo do “ecumenismo pastoral”, abordam-se temas como cooperação na missão e catequese, casamentos mistos e comunicação in sacris; no do “ecumenismo prático”, aborda-se a cooperação ao serviço do mundo e o diálogo inter-religioso como desafio ecuménico; e, no do “ecumenismo cultural”, destacam-se os projetos conjuntos nos campos académico, científico e artístico.

E Koch adverte que o Vademecum não só recorda os princípios do empenho ecuménico do Bispo, mas, no final de cada secção, apresenta “recomendações práticas”, que sintetizam, em termos simples e diretos, as tarefas e iniciativas que o Bispo pode promover a nível local e regional. Por fim, um Apêndice oferece uma resenha dos parceiros da Igreja Católica nos diálogos teológicos internacionais bilaterais e multilaterais e dos principais frutos já colhidos.

Em suma, documento está dividido em duas partes: uma dedicada à promoção do ecumenismo; e a outra às relações entre os cristãos. A primeira aponta a busca da unidade como “um desafio para os católicos” e o bispo como “um homem de diálogo que promove o compromisso ecuménico”, responsável pelas iniciativas neste campo. Além disso, delineia as modalidades de formação, as áreas em que ela se desenvolve, os meios necessários para a promover e algumas “indicações práticas”, tais como assegurar que nos seminários e faculdades de Teologia haja um curso obrigatório de ecumenismo e que a documentação e o material sobre o tema sejam divulgados no site diocesano; a segunda define o movimento ecuménico como “único e indivisível”, embora com “formas diferentes conforme as várias dimensões da vida eclesial”.

No ecumenismo espiritual”, sobressai a “necessidade de rezar com outros cristãos” e partilhar momentos, festas e  tempos litúrgicos, segundo um calendário comum que permita aos cristãos prepararem-se juntos para a celebração de festas importantes. Nos diálogos da caridade, da verdade e da vida, bem como no estímulo à cultura do encontro, vinca-se que os católicos “não devem esperar apenas que outros cristãos se aproximem”, mas estar “prontos a dar o primeiro passo”. No “ecumenismo pastoral”, incluem-se as missões, catequese e a partilha da vida sacramental para chegar ao “ecumenismo prático”, à colaboração entre cristãos, por exemplo, na defesa da vida ou na luta contra a discriminação, e ao “ecumenismo cultural”.

As diversas Igrejas tanto devem com partilhar a “via pulchritudinis” como a “via veritatis”. Sit!

2020.12.04 – Louro de Carvalho

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