Neste dia 4 de
dezembro, pelas 11,30 horas, foi apresentado, em conferência imprensa a partir
da Sala de Imprensa da Santa Sé, em transmissão ao vivo, o documento
“O Bispo e a
Unidade Cristã: Vademecum Ecuménico”, do Pontifício
Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cujo objetivo, em última análise,
é dar corpo ao enunciado em epígrafe proferido pelo Papa Francisco, que aprovou
o texto no passado dia 5 de junho.
Com efeito, o
Papa afirma recorrentemente que a unidade se
faz caminhando, “não virá como um milagre no final”, mas “vem a caminho, o
Espírito Santo a faz a caminho” (vd Homilia
na Oração de Vésperas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, a 25 de janeiro
de 2014).
Na predita conferência de imprensa intervieram os
cardeais Koch, Presidente
do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Quellet, Prefeito
da Congregação para os Bispos, Tagle, Prefeito da
Congregação para a Evangelização dos Povos, e Sandri, Prefeito da Congregação
para as Igrejas Orientais.
Leonardo
Sandri vê ali o auspício para o estudo comum, o aprofundamento do conhecimento recíproco
e a hospitalidade mútua entre o Oriente e o Ocidente, secundado por um conjunto
de conselhos práticos que podem favorecer a experiência da vida de comunhão
entre as Igrejas.
Luis Antonio G. Tagle salienta do
texto que o ministério de unidade do bispo é
descrito como um serviço à identidade e missão da Igreja e que o compromisso
ecuménico do Bispo exige que ele seja pessoa de diálogo. Por outro lado,
entende que, na formação de bispos recém-nomeados e na formação contínua de
bispos, são de incluir seminários ou sessões práticas sobre como lidar com
diferenças e conflitos e promover a cura de memórias e perdão, pois “os
diferentes tipos de diálogo serão produtivos somente se feitos no contexto de
amizades humanas, encontros humanos, sendo que “a amizade dos Bispos com os
líderes e membros das comunidades não católicas ajuda a eliminar preconceitos”
e que “os bons relacionamentos que cultivamos agora” constituirão, mais tarde, “as
boas lembranças que curariam as feridas do passado”.
Marc Quellet, PSS,
destaca a índole prática do documento, que assinala os 25 anos da Encíclica “Ut unum sint” (UUS), de São João Paulo II (25 de
maio de 1995), sobre o empenho ecuménico; observa que os anexos informam
sucintamente sobre as relações e os diálogos institucionais da Igreja católica
com os diferentes parceiros; entende que a causa ecuménica se secundarizou nas
prioridades da Igreja mercê dos fluxos migratórios que postulam intenso diálogo
inter-religioso face às situações de multiculturalidade; e frisa que os bispos são
os primeiros responsáveis pela unidade dos cristãos, não só nas suas dioceses,
mas também no âmbito universal por força da colegial sucessão apostólica, pelo
devem dar o exemplo do acolhimento e da promoção da cooperação entre os irmãos dos
diferentes credos, a exemplo do que faz o Papa Francisco.
Como é óbvio, a intervenção mais aguardada era de Kurt
Koch, o responsável pelo dicastério que elaborou o Vademecum. E, logo atendendo à etimologia do termo – composto dos
termos “vade” e “mecum”, a significar “vem comigo”, espera que este painel rico
de indicações práticas em apoio à missão dos bispos na promoção da unidade dos
cristãos constitua uma ajuda no caminho dos bispos e de toda a Igreja católica
em direção à plena comunhão para a qual o Senhor rezou. Na verdade, é “um dever e uma obrigação”, não atividade acessória, “opcional”,
do ministério a responsabilidade do bispo de promover “a causa ecuménica”. Por isso,
este opúsculo do Pontifício
Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que o Papa avalizou, pretende ser um “apoio” para cada pastor e resposta a solicitações
que surgiram num encontro de há alguns anos. E Francisco referiu-se a esta missão
ecuménica na sua carta por ocasião do 25.º aniversário da encíclica UUS,
desejando que o texto em elaboração se tornasse “estímulo e orientação” no
compromisso dos bispos com a unidade de todo o corpo cristão, um compromisso,
especificado na introdução do documento, “que diz respeito a toda a Igreja”.
Segundo o purpurado, o Vademecum surgiu do pedido dos membros e consultores do
Dicastério na sessão plenária de 2016, em que explicitaram a esperança dum
breve documento que encorajasse, ajudasse e orientasse os Bispos Católicos no
serviço de promoção da unidade do Cristãos por meio do seu ministério, já que,
no “Diretório de 1993 para a aplicação dos princípios e
normas sobre o ecumenismo”,
o documento de referência para a tarefa ecuménica da Igreja Católica, faltou um
texto destinado aos Bispos para o cumprimento das suas responsabilidades ecuménicas.
Com efeito, o Bispo não pode considerar a promoção da unidade cristã como uma
das muitas tarefas do seu ministério, que possa ou deva ser subalternizada por
outras prioridades aparentemente mais importantes, mas que é seu dever e
obrigação.
O processo da
preparação do documento durou
cerca de três anos. Os funcionários do Pontifício Conselho com o conselho
de especialistas elaboraram um esboço, que foi apresentado ao plenário do
Dicastério em 2018 e posteriormente enviado a vários Dicastérios da Cúria Romana,
que lhe prestaram contribuição valiosa.
O Vademecum estriba-se no Decreto “Unitatis
Redintegratio” (UR) do Concílio Vaticano II, sobre o ecumenismo, na UUS e em dois documentos do Pontifício
Conselho: o Diretório Ecuménico; e a dimensão ecuménica na formação de quem se dedica
ao ministério pastoral. Não se tratava de repetir tais documentos, mas
de propor uma síntese, atualizada e enriquecida pelos temas prosseguidos nos
últimos pontificados, a partir do ponto de vista do Bispo: um guia inspirador do
desenvolvimento da ação ecuménica e de fácil consulta.
O Santo Padre, que aprovou o Vademecum, fez-lhe referência já na Carta de
24 de maio, por ocasião do 25.º aniversário da UUS, lembrando que “o
serviço à unidade é um aspeto essencial da missão do Bispo”, e esperando que o texto sirva de “encorajamento e
guia” para o exercício das responsabilidades ecumênicas dos Bispos.
A publicação do Vademecum Ecuménico marca o
25.º aniversário da Encíclica “Ut unum sint” e o 60.º aniversário
da criação do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos cristãos, que
aconteceu após o anúncio do Concílio Vaticano II – aniversários assinalados por
um Ato Académico realizado na tarde deste dia 4 e transmitido ao vivo pelo
Angelicum.
No atinente
ao conteúdo, diz o cardeal que o documento se divide em duas partes: uma, sob o
título “A promoção do ecumenismo na Igreja Católica”, expõe o que se
exige da Igreja Católica na sua missão ecuménica, pois “a busca da unidade
é, antes de tudo, um desafio para os católicos”, pelo que se consideram aqui as
estruturas e as pessoas ativas no campo ecuménico a nível diocesano e nacional,
a formação ecuménica e o uso dos meios de comunicação diocesanos; a outra, sob
o título “As relações da Igreja Católica com outros cristãos”, examina
quatro maneiras pelas quais a Igreja Católica interage com outras comunidades
cristãs.
A primeira
via é a do “ecumenismo espiritual”, que
é a “alma do movimento ecuménico” (UR 8), pelo que se destaca a importância das Sagradas Escrituras, do
“ecumenismo dos santos” e da purificação da memória. A segunda via é o “diálogo
da caridade”, que promove a “cultura do encontro” ao nível dos contactos e a
colaboração quotidiana, alimentando e aprofundando a relação que já une os
cristãos em virtude do batismo. Como diz São João Paulo II, “o
reconhecimento da fraternidade [...] vai muito além dum ato de cortesia ecuménica
e constitui uma afirmação eclesiológica fundamental” (UUS
42). E fazem-se
algumas recomendações práticas; por exemplo, para assistir, na medida do
possível e oportuno, às liturgias de ordenação ou instalação dos líderes doutras
Igrejas, para convidar os líderes doutras Igrejas para as celebrações
litúrgicas e outros eventos significativos da Igreja Católica. A terceira via é
o “diálogo da verdade”, que se
refere à busca da verdade de Deus que os católicos empreendem com outros cristãos
por meio do diálogo teológico. E mencionam-se alguns princípios do
diálogo como troca de dons, do diálogo teológico (que “não busca um mínimo denominador teológico comum
sobre o qual se possa chegar a um compromisso, mas se baseia no aprofundamento
de toda a verdade”) e do
desafio da receção (que
deve envolver toda a Igreja no exercício do sensus fidei). E a quarta forma é “o diálogo da vida”, expressão que
designa oportunidades de intercâmbio e colaboração com outros cristãos em três campos:
pastoral, testemunho ao mundo e cultura. No campo do “ecumenismo pastoral”, abordam-se temas como cooperação na
missão e catequese, casamentos mistos e comunicação in sacris; no
do “ecumenismo prático”, aborda-se
a cooperação ao serviço do mundo e o diálogo inter-religioso como desafio ecuménico;
e, no do “ecumenismo cultural”,
destacam-se os projetos conjuntos nos campos académico, científico e artístico.
E Koch adverte
que o Vademecum não só recorda os princípios do empenho ecuménico
do Bispo, mas, no final de cada secção, apresenta “recomendações práticas”, que
sintetizam, em termos simples e diretos, as tarefas e iniciativas que o Bispo
pode promover a nível local e regional. Por fim, um Apêndice oferece uma resenha dos parceiros da Igreja Católica nos
diálogos teológicos internacionais bilaterais e multilaterais e dos principais
frutos já colhidos.
Em suma, documento está dividido em
duas partes: uma dedicada à promoção do ecumenismo; e a outra às relações entre
os cristãos. A primeira aponta a busca da unidade como “um desafio para os
católicos” e o bispo como “um homem de diálogo que promove o compromisso ecuménico”,
responsável pelas iniciativas neste campo. Além disso, delineia as modalidades
de formação, as áreas em que ela se desenvolve, os meios necessários para a
promover e algumas “indicações práticas”, tais como assegurar que nos
seminários e faculdades de Teologia haja um curso obrigatório de ecumenismo e
que a documentação e o material sobre o tema sejam divulgados no site diocesano;
a segunda define o movimento ecuménico como “único e indivisível”, embora com “formas
diferentes conforme as várias dimensões da vida eclesial”.
No ecumenismo
espiritual”, sobressai a “necessidade de rezar com outros cristãos” e partilhar
momentos, festas e tempos litúrgicos, segundo um calendário comum que permita
aos cristãos prepararem-se juntos para a celebração de festas importantes. Nos diálogos
da caridade, da verdade e da vida, bem como no estímulo à cultura do encontro, vinca-se
que os católicos “não devem esperar apenas que outros cristãos se aproximem”,
mas estar “prontos a dar o primeiro passo”. No “ecumenismo pastoral”, incluem-se as missões, catequese e a partilha
da vida sacramental para chegar ao “ecumenismo
prático”, à colaboração entre cristãos, por exemplo, na defesa da vida ou
na luta contra a discriminação, e ao “ecumenismo
cultural”.
As diversas Igrejas tanto devem com partilhar a “via pulchritudinis” como a “via veritatis”. Sit!
2020.12.04 – Louro de Carvalho
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