Já lá vão 27 anos. A 29 de julho de
1993, quinta-feira de forte trovoada na zona de Sernancelhe e Lapa (os telefones
avariaram quase todos na zona), foi firmado, no auditório do CNE (Conselho
Nacional de Educação), em Lisboa, o contrato-programa da criação da Escola
Profissional de Sernancelhe (ESPROSER), juntamente com os de mais uma
dúzia de outras.
O contrato-programa foi elaborado ao
abrigo dos artigos 5.º, 6.º e 7.º do Decreto-lei n.º 70/93, de 10 de março, e
foi assinado em sessão solene pelo Dr. Alberto Antas de Barros, diretor do DES
(Departamento
do Ensino Secundário), por parte do Estado, e pelo Dr. José Mário Almeida
Cardoso, Presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe, e pelo Dr. Joaquim António
Ferreira Seixas, Presidente da Associação Jornalística de Sernancelhe (AJS), por parte
das duas entidades promotoras, de que eram os respetivos presidentes. E o
Dr. Manuel Joaquim Pinho Moreira
de Azevedo, Secretário de Estado dos Ensinos Básico e Secundário, que
presidiu à sessão, homologou os respetivos contratos-programa e salientou que o
referido decreto-lei “integrava as escolas profissionais na rede do ensino
secundário” (cito de cor).
Estive presente na
sessão, dado que, nos termos do n.º 1 do art.º 5.º do aludido normativo legal,
a criação de escolas profissionais era “precedida da candidatura a um
concurso anual de projetos para abertura de novas escolas” e eu, como
vice-presidente da susodita AJS, assumi-me
como um dos colaboradores ativos da preparação da candidatura, bem como
colaborador nas demais diligências prévias tendentes à criação da escola, sua
organização e funcionamento. Isto não retira absolutamente nada à dedicação e
ao mérito das personalidades acima referidas, já que o trabalho desenvolvido
foi um trabalho de conjunto que teve de suscitar diversas sinergias e
ultrapassar algumas resistências. E é de sublinhar que em reunião do executivo
municipal foi aprovado por unanimidade um voto de regozijo pela criação da
Escola.
Não se pode deixar
de recordar, no âmbito da satisfação do estipulado no n.º 1 do art.º 6.º do
mesmo diploma, o trabalho com o Dr. Jaime Manuel Oliveira Ferreira na definição
dos estatutos, projeto educativo, primeiro regulamento interno, primeiro plano
de atividades, áreas e perfis de formação, recursos humanos e materiais,
financiamento e gestão, bem como natureza e objetivos da escola, denominação e
regime de acesso – no que ajudaram imenso os contributos da direção da Escola
Profissional de Torredeita, nomeadamente do Inspetor Arcides Simões, e dos
serviços jurídicos do DES. Obviamente que a parte de financiamento que
incumbia às entidades promotoras foi definida por estas sob a égide dos
respetivos presidentes, tendo a Câmara procedido às obras adaptação das
instalações da antiga EB 2/3 (onde funcionou o Colégio Infante
Santo), para aí se instalar a ESPROSER.
É de justiça
salientar o apoio de dactilografia prestado pela funcionária do município Graça
Figueiredo e as diligências feitas no RNPC (Registo Nacional de
Pessoas Coletivas), da parte do então motorista do
Conselho Diretivo do Centro Regional de Segurança Social, Viseu, Jorge
Patrício, já falecido, bem como o acompanhamento de Nelson Soares um pouco para
todo o lado.
***
O processo
conducente à criação da Escola Profissional foi um tanto longo e teve
informações contraditórias da parte do DES. E o Presidente da Câmara foi firme
no contorno da situação, no que foi acompanhado pelo vereador em regime de
permanência Vítor Figueiredo.
Começando do
início, deve dizer-se que a ideia da criação da escola resultou no âmbito de um
debate, que moderei, sobre a prossecução dos estudos dos jovens sernancelhenses
(já que no concelho não havia oferta formativa no ensino secundário), ocorrido a 2 de novembro de 1991 no Salão Nobre do Município com a
presença de antigos alunos e professores do Colégio Infante Santo (criado em 1966, vindo progressivamente a dar lugar ao ensino público), os presidentes daquelas que viriam a ser as entidades promotoras, vários
professores, com destaque para o então Presidente do Conselho Diretivo da EB
2/3, Eng. António José de Almeida, o Governador Civil, Dr. António Soares
Marques, um deputado, Dr. José de Almeida Cesário, e o antigo Diretor do
Colégio, Dr. Laurentino Ferreira Lages. Este debate constituiu um dos números
do encontro dos antigos alunos do Colégio no 25.º aniversário da sua criação.
Quando foram
auscultados técnicos do DES, a orientação era de que o processo não deveria
mencionar a autarquia. Como assim se procedeu na elaboração do material da
candidatura, esta acabou por não ser considerada justamente por não estar expressamente
envolvida na mesma a Câmara Municipal. Esta foi a grande contradição lançada
precisamente por quem tinha a função de analisar as candidaturas.
Também se ficou a
saber que o Secretário de Estado que tutelava diretamente a criação das escolas
profissionais não estava pela criação da escola em Sernancelhe e alguns achavam
descabida a insistência de Sernancelhe neste projeto, o qual teve a determinação
e a persistência de prosseguir.
Entretanto, o
Primeiro-Ministro Professor Aníbal António Cavaco Silva, a 21 de novembro de
1992, visitou Tarouca, Armamar, Tabuaço, São João da Pesqueira, Penedono,
Sernancelhe e Aguiar da Beira.
Sernancelhe
recebeu-o em peso em frente à EB 2/3. E, além dum memorando rubricado por seis
presidentes da câmara presentes, o Presidente da Câmara de Sernancelhe, em seu
discurso, enfatizou a relevância da criação da escola profissional no concelho,
desafiando retoricamente o líder do Governo a percorrer as diversas paragens do
território do município, garantindo-lhe que, vendo tanto trabalho dos munícipes
e seus animadores, “até levaria a mal estarmos a pedir-lhe tão pouco” (cito de cor). E foi mais explícito ao dizer: “a
maior e melhor obra que V. Ex.cia pode inaugurar em Sernancelhe
será a escola profissional” (cito de cor).
O Primeiro-Ministro
respondeu ao discurso e, no atinente à escola profissional, referiu que
estávamos numa escola, que a escola é o principal motor do desenvolvimento, que
à Câmara Municipal cabia a liderança do projeto e que, depois, “numa perspetiva
de complementaridade, o meu Governo pode apoiar”. Portanto, “não será por culpa
do meu Governo que Sernancelhe não terá a escola profissional” (cito de cor). Tais palavras foram escutadas por todos, incluindo o Dr. José Manuel
Durão Barroso, Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Dr. Álvaro José
Brilhante Laborinho Lúcio, Ministro da Justiça, o Dr. Manuel Joaquim Dias
Loureiro, Ministro da Administração Interna, o Dr. José Manuel Nunes Liberato,
Secretário da Administração Local e Ordenamento do Território, e o Dr. José
Manuel Bracinha Vieira, Secretário de Estado dos Recursos Educativos.
Bastava que alguém fosse lembrando a Cavaco Silva que tinha prometido a criação
da escola, o que alguns dos presentes tentaram fazer logo no dia seguinte em
Viseu e que Bracinha Vieira manteve até ao fim.
Uns dias antes do
Carnaval, estivemos (Presidente da Câmara, Presidente e
Vice-presidente da AJS) no gabinete de Bracinha Vieira a
dar conta do projeto de candidatura, que deveria ser por nós entregue nas
instalações do DES no Porto. E Bracinha Vieira fez questão de lembrar diante de
nós, por telefone, a Joaquim Azevedo a promessa de Cavaco Silva em
Sernancelhe.
***
Criada a escola,
entrou em funcionamento no dia 22 de setembro de 1993, com duas turmas do 1.º
ano, uma de construção civil/condução de obra e uma de turismo/profissionais de
informação turística. Visitada a 4 de novembro pelo Ministro da Administração
Interna, já referido, foi oficialmente inaugurada, a 28 de novembro, em
cerimónia presidida, em nome do Governo da República, pelo Secretário de Estado
da Defesa Nacional Dr. António Figueiredo Lopes. E foi crescendo e gerida pelos
órgãos previstos nos estatutos, num crescendo de quantidade e qualidade,
incluindo a ampliação e melhoria das instalações, que a torna uma referência
regional e mesmo nacional, tendo recentemente sido “certificada
com o selo EQAVET, o que significa que se encontra alinhada com os padrões do
Quadro de Referência Europeu de Garantia da Qualidade na Educação e Formação
Profissional”.
Devo deixar uma palavra de
reconhecimento aos técnicos acompanhantes Dr. António Morais, Dra. Fátima
Beirão e Eng.ª Anabela Santos, a qual recebeu público louvor, a 20 de agosto,
da parte do Diretor-Geral dos Estabelecimentos Escolares, Dr. João
Miguel dos Santos Gonçalves, bem como ao falecido Dr. João Luís da Inês Vaz,
que foi, como o Governador Civil anterior, um dos amigos da ESPROSER.
Entretanto, com a
publicação do Decreto-lei n.º 4/98, de 8 de janeiro, que estabelecia o regime
jurídico das escolas profissionais, estas, sendo privadas, deixavam de
funcionar sob a égide de entidades promotoras, mas tinham de ser detidas por
uma entidade proprietária. Esta podia ser uma pessoa singular ou uma pessoa
coletiva – isoladamente ou em regime de associação. Era, na prática uma
refundação, visto que o art.º 20.º daquele diploma, estabelecia que o regime
ora estabelecido se aplicava às escolas profissionais criadas ao abrigo da
legislação anterior; que estas dispunham do prazo de um ano para procederem à
reestruturação decorrente do regime estabelecido; e que os direitos e
obrigações de que eram titulares as escolas profissionais e/ou as respetivas
entidades promotoras e que se encontrassem afetos ao desempenho das funções
daquelas escolas se transferiam, por força do susodito diploma, que constituía
título bastante para efeitos de registo, com dispensa de qualquer outra
formalidade, para as entidades proprietárias.
Como a AJS deixara
de funcionar, fora criada uma associação designada por Liga dos Amigos da
ESPROSER, a funcionar nos termos estatutários. Recordo parenteticamente que ESPROSER
era a designação abreviada de Escola Profissional de Sernancelhe como constava
no contrato-programa. E, havendo dúvidas sobre a forma de entidade proprietária
a constituir para responder aos objetivos do ensino profissional, entendeu-se
que a melhor forma seria a de SA (sociedade anónima), embora sem fins lucrativos. E,
ainda que fossem necessários, ao tempo, nos termos do código das sociedades
comerciais (CSC), cinco
subscritores para se constituir uma SA, desde que um dos subscritores fosse uma
entidade pública que subscrevesse a maioria do capital social, bastava um outro
subscritor privado. Assim, a entidade proprietária surgiu duma parceria entre o
município, que subscreveu 60% do capital social, e a Liga dos Amigos da
ESPROSER, que subscreveu 40%. Presentemente, o município já não tem
participação maioritária, detém 49,5% do capital social, tendo o resto da sua
participação sido cedido a outras três entidades; e os seus estatutos foram
sofrendo ajuntamentos em conformidade com o CSC.
O projeto de
estatutos, elaborado com a colaboração de um jurista e um economista
recomendados pela ANESPO e com o acompanhamento da Dra. Fernanda Sobral, vereadora
em regime de permanência, foi submetido, para aprovação, à Assembleia Municipal
e à assembleia geral da Liga dos Amigos da ESPROSER. E, no RNPC, foi acordado para a SA com a representante da
escola a denominação de ESPROSER – Escola Profissional, S.A.
E, a 9 de junho de
1999 (já lá vão 21 anos), foi celebrada escritura pública no
cartório notarial de Sernancelhe em que outorgaram, pelo município, o Dr. José Mário
Almeida Cardoso, Presidente da Câmara Municipal, e, pela Liga dos Amigos da ESPROSER, o Dr. António Adelino
Conde Rebelo, Presidente, e eu próprio, vice-presidente (os estatutos
da Liga obrigavam a duas assinaturas). Entretanto, foi efetuado o
registo na Conservatória do Registo Comercial e o Ministério da Educação emitiu
o alvará de funcionamento. E, em setembro, a SA e a escola já funcionaram com
os novos órgãos estatutários.
E, obviamente, ao longo do tempo, a
ESPROSER e a escola foram-se ajustando às alterações legislativas e às novas
circunstâncias. Mas estão de pedra e cal como uma válida resposta formativa de
Sernancelhe às necessidades da região (e de alguns PALOP) e como
contributo para o seu progresso – e a cumprir as suas obrigações com a
Educação, o Estado e a Sociedade.
Porém, é de justiça deixar esta
referência da génese e dos alvores da escola para que conste, já que 27 anos
são uma bonita etapa (Três novenas, nove triénios!). Só espero
que ninguém pense que pretendo tirar disto qualquer proveito pessoal,
profissional ou partidário, já que, a 29 de julho de 2007, domingo, me coube
apresentar um livro e seu autor, meu amigo. A apresentação, porque o livro era
adequado, ocorreu na Igreja da Senhora das Necessidades (Vila da
Ponte) e eu frisei
que aquele dia era importante para o concelho de Sernancelhe por ser o dia
aniversário da escola profissional. E alguém disse, na sessão subsequente da
Assembleia Municipal, que eu fora fazer política (?) “na capela”!... Apenas
fui corresponsável pela conceção do projeto e pelo seu desenvolvimento durante
os primeiros sete anos.
Apraz-me saber que, tal como
asseguram os responsáveis no site, “a
ESPROSER, enquanto instituição dedicada e vocacionada para o ensino
profissional, sente um regozijo pelo facto de, ao longo da sua história, ter
contribuído de forma decisiva para o sucesso pessoal e profissional de muitas
centenas de formandos que fizeram parte deste Projeto Educativo”; e “continuará
a tudo fazer para que os formandos que a que a escolhem como a ‘sua escola’
alcancem as suas metas profissionais e pessoais”. E é de apreciar o “agradecimento
profundo” que deixam “a todos os envolvidos ao longo destes 27 anos”.
(Reformulação
e aumento de artigo escrito a 30 de julho de 2018 por ocasião dos 25 anos da
ESPROSER, a que procedi agora a instâncias dum amigo meu acima referido,
sentindo-me no agradável dever de o dar a lume)
2020.12.02 –
Louro de Carvalho
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