A Sala de
Imprensa da Santa Sé divulgou um comunicado, neste dia 12, um quirógrafo do
Papa, de 17 de novembro, com o qual o Pontífice erigiu, como pessoa jurídica
canónica e vaticana, a Fundação Rede Mundial de Oração do Papa,
antigo Apostolado da Oração, com sede no Estado da Cidade do Vaticano, continuando
o organismo aos cuidados da Companhia de Jesus, pelo que nomeado foi o Padre
Frederic Fornos seu diretor internacional. Os estatutos, aprovados pelo
Papa, entrarão em vigor a 17 de dezembro, ad experimentum por
três anos a partir da data de aprovação. O objetivo é coordenar e animar o
vasto movimento espiritual, muito querido ao Sumo Pontífice, acolhendo e
difundindo as suas intenções de oração mensais.
Esta rede,
com a designação de “Apostolado da Oração”,
teve início na França, em 1844, como se verá a seguir, e posicionou-se como apostolado
de oração para a missão da Igreja, alcançando rapidamente cerca de 13 milhões
de membros.
Em 2018,
Francisco instituiu-a como Obra Pontifícia para destacar o caráter universal
deste apostolado e a necessidade de que precisamos rezar cada vez mais e com o
coração sincero.
A Rede
Mundial de Oração do Papa apoia sua missão de evangelização, permitindo “sair
da ‘globalização da indiferença’ e abrir-se à compaixão pelo mundo.
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O Apostolado da Oração (sigla AO), atualmente conhecido como Rede Mundial da Oração do Papa (RMOP ou RMPP), é uma
organização (obra e movimento) de leigos
católicos (atualmente com cerca de 35 milhões de membros no mundo) que visa a santificação pessoal e
a evangelização. E o “Movimento Eucarístico Jovem”, antiga Cruzada
Eucarística (criada em 1915), é a secção
jovem.
Os estatutos
definem assim o AO:
“O Apostolado da Oração constitui a união
dos fiéis que, por meio do oferecimento quotidiano de si mesmos, se juntam
ao Sacrifício Eucarístico, no qual se exerce continuamente a obra da
nossa redenção, e desta forma, pela união vital com Cristo, da qual
depende a fecundidade apostólica, colaboram na salvação do mundo”.
Nascido, a 3
de dezembro de 1844, Festa de São Francisco Xavier (há 176 anos), no Seminário da Companhia de Jesus (padres jesuítas) de Vals, perto de Le Puy (França), espalhou-se pelo mundo, trabalha com afinco pela evangelização
das famílias, cultiva a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e todos
os seus membros rezam diariamente pelas intenções do Santo Padre.
Naquela data,
Francisco Xavier Gautrelet (1807-1886), o Padre
Espiritual do Colégio, fez uma conferência aos estudantes, em que explicou como
podiam eficazmente satisfazer o desejo de colaborar com os que trabalham nos
vários campos de apostolado para a salvação dos homens, podendo fazê-lo, sem interromper
o seu trabalho principal (o estudo) e oferecendo
com fim apostólico as suas orações, os seus sacrifícios e trabalhos, por meio duma
pequena organização, que seria denominada de “Apostolado da Oração”.
As ideias de
Gautrelet, fundamento do AO, foram recebidas com entusiasmo pelos estudantes e
divulgadas nas terras vizinhas do colégio e, depois, em toda a França.
A obra teve
aprovação do Bispo de Le Puy, em 1846, e alcançou, em 1849,
a aprovação e as primeiras indulgências do Papa Beato Pio IX, sendo
estendida a toda a Igreja. A sua estrutura organizacional e promoção inicial
são trabalho do Padre Henrique Ramière, SJ. Em numerosos artigos e
escritos, explicou amplamente, e de forma acessível, a doutrina do AO,
dando-lhe forma definitiva. Publicou, em 1861, o livro “O Apostolado da Oração, Santa Liga de
corações cristãos unidos ao Coração de Jesus”, lançando a base teológica do
movimento.
Pio IX
aprovou os primeiros Estatutos em 1866 e Leão XIII
reformou-os em 1896. Em 1948, o Papa Venerável Pio
XII procedeu a extensa revisão do texto, que foi reaprovado e proclamado a 28
de outubro de 1951. Com o Concílio Vaticano II, ocorreu nova reforma e a
versão final e atual até agora dos Estatutos foi aprovada pelo Papa São
Paulo VI a 27 de março de 1968.
O anúncio
mensal das intenções de oração do Papa para serem rezadas com o
Oferecimento Diário surgiu em 1880, com Leão XIII, que criou a Intenção
Geral. E a Intenção Missionária foi acrescentada em 1929 pelo
Papa Pio XI.
No 100.º
aniversário em 1944, Pio XII, dando graças a Deus pelo AO, considerou-o “um
dos meios mais eficazes para a salvação das almas”, por se tratar de “oração e
oração em comum”. Elogiou a organização em torno do seu objetivo: “rezar assiduamente pelas necessidades da
Igreja e tentar satisfazê-las por meio do oferecimento quotidiano”. Em
1985, o Papa São João Paulo II chamou-lhe “um precioso tesouro do coração
do Papa e do Coração de Cristo”.
A primeira
revista específica do AO foi editada em 1861, na França, sob a denominação
de “Mensageiro do Coração de Jesus”,
órgão oficial da associação, que rapidamente começou a ser editado em vários
países. Até ao ano 2000, havia 50 diferentes edições desta revista e de 40
outros periódicos.
A Portugal
o AO chegou em 1864 pela mão do italiano Padre António Marcocci. E o grande
impulsionador foi o seu colega Padre Luís Prosperi, primeiro Diretor Nacional.
Em 1887, já havia em Portugal 1.074 Centros e cerca de 850.000
associados e zeladores, tendo a Irmã Beata Maria do Divino Coração sido uma das
grandes propagadoras das pagelas do Apostolado da Oração na região do Norte de
Portugal.
Ao nível da espiritualização da comunidade, os seus membros seguem um profundo programa de vida espiritual, estão
capacitados para cooperar ativamente na espiritualidade da paróquia, em
conjunto com outras pastorais e movimentos, promovendo Horas Santas e
incentivando as visitas ao Santíssimo Sacramento, participando ativamente
na Missa, procedendo anualmente à Consagração das Famílias ao
Sagrado Coração de Jesus, entronizando a imagem ou quadro do Sagrado
Coração de Jesus nos lares, fazendo novenas e rezando o terço em família,
percorrendo a via-sacra e desenvolvendo as demais iniciativas que ajudem a
comunidade a orar. É sobretudo pela ação com as famílias, agregando as famílias
dos zeladores, associados e suas vizinhanças, que procuram atingir as famílias
da comunidade de forma inclusiva, por meio de práticas como as Novenas do Natal
em Família, Encontros da Campanha da Fraternidade, Semana Nacional e
Dia Nacional da família, Festas do Padroeiro/a.
Depois, cada membro do
AO, que deverá promover, no seu ambiente, os valores cristãos, pelo testemunho
de vida e pela palavra, é instado a praticar as obras de misericórdia: dar
alimento aos necessitados, visitar pessoas enfermas, idosas e encarceradas,
levando conforto, oração, esperança e auxilio material quando necessário,
caminhando em parceria com Vicentinos, Pastoral dos Pobres, Pastoral da
Saúde, Pastoral dos Enfermos, Pastoral dos Idosos, Pastoral Prisional e Pastoral
da Esperança. Enfim, o membro do AO é encorajado a ser membro ativo destas
pastorais, bem como da Pastoral Vocacional, maxime
através da oração pelas vocações sacerdotais, religiosas e leigas; e pelo
auxílio material para o sustento dos seminários. A evangelização tem lugar privilegiado junto das famílias e
na catequese propriamente dita, sendo que o Movimento Eucarístico
Jovem (MEJ), seção jovem do AO, apresenta um itinerário para a formação
de adolescentes e jovens. E, além da contribuição material para o culto e
sustentação do clero, o membro do AO colabora nos trabalhos e promoções
materiais e sociais da paróquia.
Em termos de
compromisso orante, os membros do AO: fazem o Oferecimento Diário, preferencialmente pela manhã, oferecendo a
Deus a suas orações, trabalhos, sofrimentos e alegrias, e pedindo as bênçãos
para cada momento vivenciado durante o dia; são estimulados a participar
ativamente em todas as ações litúrgicas:
Missa com a comunhão eucarística e os
demais sacramentos, sendo que a principal celebração do mês é a Missa da Primeira Sexta-Feira, onde os membros
praticam a devoção da Comunhão Reparadora,
pela qual pedem perdão a Deus pelos pecados cometidos pela humanidade; praticam
e difundem especialmente as devoções
ao Espírito Santo, ao Sagrado Coração de Jesus (pela Festa
do Sagrado Coração de Jesus, Primeiras Sextas-Feiras do mês, Horas Santas,
Entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares e a Consagração das famílias
ao Sagrado Coração de Jesus),
à Virgem Maria, aos Santos Padroeiros (Francisco Xavier e Teresa do
Menino Jesus e da Santa Face) e aos
Santos Promotores do culto ao Sagrado Coração de Jesus, com destaque para
Santa Margarida Maria Alacoque, São Cláudio La Colombière e
Beata Maria do Divino Coração.
Na linha da vontade de sentir com a Igreja, os membros do AO, a cada mês, rezam pelas intenções que o Santo
Padre propõe e são encorajados a seguirem as orientações pastorais do Papa,
do Bispo e dos Sacerdotes, devendo-lhes respeito e colaboração. Estimula-se a prática da oração constante
e regular. E promove-se a formação
sólida de zeladoras e zeladores e de todos os membros de cada núcleo, em termos
espirituais, bíblicos, litúrgicos, apostólicos, doutrinários, através da
Reunião Mensal, Hora Santa, Novena do Sagrado Coração de Jesus, Tríduo para as
festas dos santos padroeiros, Retiro Espiritual, Tarde de Reflexão, Palestra,
Círculo bíblicos, Jornada Apostólica, Leitura de livros e revistas (vg: Revista
Mensageiro do Coração de Jesus), Encontroo
de Formação e demais encontros promovidos pelas paróquias e dioceses.
Em suma, além da
oração, o AO tem o compromisso de colaborar com todas as boas obras.
Ao nível da
estrutura, o diretor-geral mundial é
o Padre Geral da Companhia de Jesus ou alguém nomeado por este. O atual
Diretor Internacional é o Padre Frédéric Fornos, SJ.
O secretário nacional é nomeado
pelo diretor-geral; e a sua função é coordenar e orientar o apostolado a nível
nacional.
O diretor diocesano é nomeado
pelo bispo diocesano e tem o encargo de dinamizar o AO na Diocese,
representar o AO perante o Secretariado Nacional, promover encontros de
formação, criar novos Centros, visitar os Centros existentes, ajudar os diretores locais nas paróquias,
que são os vigários, e suas equipas e impulsionar o movimento.
Em cada um
dos níveis, são constituídas, de acordo com as necessidades, diretorias ou
comissões compostas por leigos, que auxiliam no trabalho de cada diretor ou
secretário.
Dentro de
cada núcleo local, os membros são organizados em duas categorias: os associados,
membros já incorporados por meio do Rito de Admissão e que estão a receber
formação e a participar nas atividades do grupo; e os zeladores, que são
membros mais antigos, com maior formação e participação ativa no movimento,
sendo responsáveis principalmente por zelar por um grupo composto por um número
de associados e suas famílias.
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Várias vezes
os Estatutos passaram por emendas “tornando-se cada vez mais um serviço da
Santa Sé próximo da oração pelas intenções do Santo Padre (como
desejavam especialmente Leão XIII e Pio XI). Na esteira dos predecessores, em 2018, Francisco quis que este serviço se
tornasse uma Obra Pontifícia. E, agora, como se lê nos Estatutos, “vendo o
Apostolado da Oração como missão da Santa Sé confiada à Companhia de Jesus, a
partir de agora, continua a ligação com a Companhia, mas abre-se a uma dimensão
universal, colocando-se ao serviço de cada Igreja particular no mundo”. Por isso,
está diretamente sujeita à autoridade do Sumo Pontífice, que a governa através
da Secretaria de Estado, levando em consideração a entrega histórica do AO à
Companhia de Jesus desde o início.
Mais: a Rede
Mundial de Oração do Papa “está aberta a todos os católicos que desejam
despertar, renovar e viver o caráter missionário que procede do seu batismo” e
propõe um percurso espiritual “O Caminho
do Coração”, que integra duas dimensões: comprometer-se a promover as
intenções de oração do Papa que “expressam os desafios da humanidade e a missão
da Igreja” fazendo suas as alegrias e tristezas da humanidade e deixar-se
inspirar “para realizar obras de misericórdia espiritual e corporal”. E a dimensão
ligada à vocação missionária do batizado, “permitindo-lhe colaborar em sua vida
quotidiana, com a missão que o Pai confiou a seu Filho”. E, segundo os
Estatutos, “O Caminho do Coração” é
“um processo espiritual estruturado pedagogicamente para identificar-se com o
pensamento, a vontade e os projetos de Jesus”. Assim, “a pessoa batizada propõe-se
acolher e servir o Reino de Deus, motivada pela compaixão no estilo do Filho de
Deus”.
Mais um
caminho sério e renovado de vida cristã e apostolado consequente!
2020.12.03 – Louro de Carvalho
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