As organizações precisam obviamente de reuniões, pelo que a
tendência é multiplicá-las e carregá-las de agenda. E, não raro, as organizações
limitam-se, quando não podem escapar-se, ao estabelecido na lei ou nos
regulamentos. Quer isto dizer que a maior parte das reuniões são uma maçada e o
êxito é reduzido. Agora, o contexto da covid-19 multiplicou o número e as modalidades
de reunião: videoconferência, sessões síncronas, reuniões presenciais com
máscara e distanciamento físico (dizem distanciamento
social, mas esse já existe há séculos), etc.
Algumas reuniões fracassam porque não eram necessárias, pois os
assuntos a tratar não exigiam reunião ou porque o momento não era oportuno. E pode
acontecer que uma reunião se tenha realizado por motivos errados, por exemplo,
se o conteúdo se esgotou em falar, discutir, criticar, desfazer, impor poder,
impressionar, resolver assuntos pessoais, concitar o ámen dos outros, ou se não
foram definidos objetivos concretos e resultados a produzir. Também podem os objetivos não ter sido
claros ou adequados ou ter constituído obstáculos e não desafios.
Podem não ter sido convocadas as
pessoas certas: em vez de decisores, vieram
substitutos que não podem tomar decisões. E pode ter havido falta de controlo adequado ou ter o programa sido insuficientemente
detalhado, horários vagos, ausência de fio condutor, tratamento desadequado de conflitos
surgidos, falta de liderança, exclusivo cumprimento de calendário.
E ainda pode o ambiente físico não
ter sido apropriado: local desconfortável,
recursos que não funcionam, interrupções que desconcentram.
Ora, para que as reuniões tenham o êxito desejado, não têm de
multiplicar-se, mas devem ser bem preparadas, bem conduzidas e muito
participadas. Enfim, devem ser como o sal na comida. Torna-se evidente que a adequada
preparação e condução duma reunião é condição do seu sucesso e da obtenção dos
resultados pretendidos, ao mesmo tempo que permite uma gestão mais eficaz do
tempo por parte dos órgãos competentes e dos participantes envolvidos.
Necessidade da
reunião
As reuniões são necessárias para mobilizar ideias e energias,
para coordenar atividades e para atingir desempenhos coletivos. Contudo, fazer
uma reunião absorve vários tipos de recursos, e não apenas o recurso raro que é
o tempo, o que implica um dispêndio considerável que tende a passar
despercebido. Por isso, a grande questão a colocar-se é a de saber se o tema ou
assunto justifica a realização da reunião ou se ela é dispensável.
Em caso de se justificar a realização da reunião, importa
desde logo estabelecer os objetivos e os resultados a que se quer chegar,
definir, se a lei ou os regulamentos o não tiverem estabelecido, o tipo e o número
de participantes, fixar a duração, o dia, a hora e o local da mesma.
Preparação da
reunião
Uma reunião eficaz não se
improvisa, precisa de ser cuidadosamente preparada.
Verificada a necessidade da reunião, importa escolher o tipo
de reunião, pois há vários tipos de reuniões, consoante os objetivos: reunião
de informação, de formação ou de sensibilização; reunião de discussão e debate,
vulgarmente chamada ‘reunião de trabalho’, para programação de atividades
futuras, troca de pontos de vista, procura de um acordo ou, simplesmente,
produção de ideias; reunião de consulta, de negociação, de resolução de
problemas, de validação de situações e de tomada de decisões.
A sua preparação é um trabalho exigente, mas essencial para o
sucesso, na medida em que pressupõe um conjunto diversificado de ações que obedeçam
aos princípios seguintes: planificação segundo as necessidades; escolher o tipo
de reunião de acordo com os objetivos e os grupos visados; dirigir a reunião
eficazmente em função de objetivos concretos e resultados mensuráveis; exercer
a liderança através da animação e da dinâmica do grupo; saber gerir espaços,
assegurar a organização do material e dos instrumentos de apoio.
Para tanto, há que estabelecer uma lista de controlo de
tarefas: fixação clara dos objetivos e dos resultados a atingir; elaboração de
uma ordem de trabalhos anotada a enviar com a respetiva convocatória (ou convite) a todos os
participantes; programação da condução de cada assunto, segundo um esquema de
apresentação, justificação, diálogo e decisão; designação de secretário ou relator
para elaboração da ata ou relatório; reserva da sala e marcação da data; definição
da composição da mesa de presidência, se aplicável; disponibilização de
bebidas, se for caso disso; entrega da lista de participantes externos à receção,
PBX e parque de estacionamento; e verificação do funcionamento dos equipamentos
e preparação do restante material de apoio.
Ordem de trabalhos
Para lá da habitual ordem de trabalhos, poderá ser preparada
uma ordem de trabalhos anotada, que incluirá: descrição sucinta dos objetivos e
dos resultados globais a alcançar; indicação dos diversos assuntos a tratar em
cada etapa, com previsão da duração total da reunião e de cada ponto da agenda;
priorização dos temas, prevendo os que possam ser retirados em caso de falta de
tempo; menção dos documentos a ler previamente e, eventualmente, dos documentos
a trazer ou a apresentar; referência à atribuição de trabalho preparatório a
determinados participantes.
Uma ordem de trabalhos deverá discriminar suficientemente os
diversos assuntos, evitando-se colocar um item sob a designação de “outros assuntos”;
deverá ser atempadamente afixada e/ou publicada nos termos legais e
regulamentares e enviada aos destinatários; e deverá ser acompanhada de texto a
motivar a participação dos participantes e a incentivar, para tanto, a
preparação por parte de cada participante.
Convocatória
Da convocatória (ou
convite, no caso de os destinatários não serem obrigados a compadecer), a afixar nos lugares de estilo ou a publicar nos boletins previstos
nos regulamentos, deve constar informação sobre: data da reunião (local, dia, mês e hora de início e conclusão); indicação das condições de início; agenda anotada, acompanhada
de eventuais documentos e/ou de informação de contexto; resultados esperados; participantes;
e modos de intervenção, se for o caso.
Na fase de preparação poderá ser importante: enviar a
convocatória por correio eletrónico, com vista à agilização de todo o processo
de organização e preparação da reunião; telefonar aos convocados/convidados com
a antecedência de um ou dois dias, a fim de garantir a sua participação; enviar
convite pessoal de modo a garantir a presença específica dum participante.
Abertura da
reunião
O presidente (moderador ou
facilitador) abre a sessão à hora prevista, dá
as boas-vindas e agradece o tempo a presença dos participantes; pede aos presentes,
se for caso disso, que se apresentem ou, no caso de se tratar dum grupo grande,
refere a diversidade e heterogeneidade dos participantes fazendo-os sentir-se
confortáveis e motivados para participarem e alcançar um objectivo comum; não perde
demasiado tempo com a aprovação de atas anteriores, apresenta claramente os
objetivos da reunião, faz aprovar a agenda e expõe os respetivos pontos,
recorda os resultados a que se quer chegar, explicita o método de trabalho, sublinha
a duração prevista da reunião e informa sobre aspetos práticos de organização;
e avisa se haverá registo, ata ou relatório, indicando previamente o relator ou
secretário da reunião, sublinha a necessidade de liberdade e concisão nas
intervenções e pode fazer uma breve abertura, moderando o excesso de
entusiasmo, insistindo na circunscrição aos temas centrais da agenda e
exprimindo firmeza e segurança.
Condução da
reunião
O presidente ou moderador é um elemento central para o sucesso
da reunião, competindo-lhe: congregar a atenção dos participantes e envolvê-los
no clima da reunião; facilitar a troca de pontos de vista, assegurar a
participação de todos e, sempre que se justifique (mas só nesse caso, evitando a monopolização), dar um contributo sobre o tema a ser tratado; assegurar a
organização das intervenções e a objetividade dos contributos; gerir o tempo,
alocando-o aos diferentes pontos da agenda, evitando desvios à ordem de
trabalhos e deixando cair pontos da agenda, se for caso disso; dinamizar
a reunião, mostrando flexibilidade sobre tópicos controversos ou questões de
difícil acordo; mobilizar o máximo de opiniões individuais para o espaço
coletivo; formular posições de consenso ou pedir a um dos participantes que
apresente uma posição que reflita a posição geral do grupo; sintetizar ou fazer
sintetizar cada um dos pontos da agenda tratados, salientando os pontos de
consenso adquiridos e elencando os obstáculos apontados; assegurar que sejam
tomadas todas as decisões necessárias; e terminar com uma síntese mencionando
expressamente os resultados alcançados e evitando que a reunião termine sem
tomada decisões ou sem definição de prazos e responsabilidades.
Não deve monopolizar o debate, devendo suscitar a participação
dos presentes, respeitando as diversas opiniões e gerindo equanimemente os
tempos de intervenção a ponto de sinalizar desvios dos temas em agenda. E não
deve deixar de pôr a votação as propostas que tiverem de ser apresentadas para
tal por si ou por outrem, depois da devida discussão.
Participação na
reunião
O desempenho do presidente (moderador
ou facilitador) e dos participantes
são os pilares do êxito da reunião. Ao participante na reunião compete:
Antes da reunião, analisar
os documentos recebidos com a convocatória; equacionar o modo como irá intervir
ativamente; recolher informações que sejam úteis para o sucesso da reunião; e produzir
algum apontamento importante.
Durante a reunião, tomar
notas sobre dúvidas e pontos importantes; intervir de modo claro e conciso
sobre os temas da agenda, focando o seu contributo e grau de envolvimento para
a consecução dos objetivos; saber escutar bem ideias e opiniões, interessar-se
pelos avanços conseguidos, ponderar as críticas a fazer; intervir de modo
assertivo sobre a agenda, com economia de tempo, sem pretender dominar a
discussão.
Após a reunião, verificar
e assumir os conteúdos da versão final da ata, empenhando-se na concretização
das determinações da reunião.
Conclusão e
encerramento
Cabe ao presidente ou moderador proceder ao encerramento da
reunião. Para que o faça com sucesso, importa: sumariar as decisões tomadas, realçando
os respetivos prazos; fazer breve balanço dos aspetos positivos adquiridos, bem
como das divergências evidenciadas e dos obstáculos a superar; informar da
elaboração cuidada e abrangente da ata/relatório/nota/síntese que constitui a
memória escrita dos resultados e o guia para a futura monitorização e
acompanhamento da execução das decisões – a qual, sempre que possível, é apresentada
no final da reunião, para, após os pertinentes comentários, ser aprovada para
envio posterior, podendo ser conveniente enviar cópia a pessoas que não
participaram na reunião (por exemplo, o
responsável de um setor que desempenha um papel importante na implementação das
medidas decididas ou que será afetado pela concretização das mesmas); e concluir agradecendo a presença e a participação.
Anote-se que devem ser aceites as declarações de voto, que
devem ser transcritas para a ata ou a ela anexadas e com a menção no corpo da
ata.
A ata, depois de lida, deve ser aprovada em minuta no fim da
reunião, sobretudo se houver deliberações a entrar imediatamente em vigor, ou no
início da reunião seguinte, se esta estiver no horizonte da organização a curto
ou médio prazo, podendo ser dispensada a leitura da ata em voz alta, neste
caso, se o texto tiver sido efetivamente distribuído pelos participantes.
Acompanhamento dos resultados da reunião
O êxito da reunião depende do acompanhamento dos seus
resultados. E, porque, sem o seu acompanhamento, pode perder-se parte do
trabalho nela realizado, no final da reunião terá de haver uma lista de tarefas
a realizar, cuja responsabilidade pode ser distribuída por cada participante,
com um prazo de execução e indicação clara de quem monitoriza o processo.
Por outro lado, impõe-se assegurar que o relator/secretário
prepare a ata ou relato o mais cedo possível após a reunião; enviar cópia da ata
provisória aos participantes, com pedido de observações e comentários dentro de
um prazo útil e com agradecimento pelos contributos; remeter a todos e, se for
caso disso, a pessoas relevantes que não puderam estar na reunião a ata
definitiva, da qual constem: decisões consensuais, conclusões assumidas e recomendações
formuladas; indicação dos compromissos e da partilha de responsabilidades pelas
tarefas específicas de acompanhamento a realizar nos prazos acordados;
Uma vez concluída a ata, o presidente (moderador ou facilitador)
poderá organizar um calendário com notas e lembretes relacionados com a concretização
das decisões tomadas; antes da reunião seguinte, deverá assegurar-se que os
participantes redijam curtos relatórios de avaliação sobre o grau de
implementação das medidas e decisões tomadas; e deverá manter sempre os
participantes informados e motivados relativamente ao desenvolvimento dos
trabalhos.
Referências
Barker, Alan, Reuniões que funcionam, Mem Martins,
Lyon Edições, 1996
Dressler, Larry, Reuniões eficazes, Lisboa, Actual
Editora, 2008
Noyé, Didier, Réussir vos réunions, Paris, Insep
Consulting éditions, 2009
Tropman, E. John, Making meetings work: achieving high
quakity group decisions, London, Sage Publications Inc., 2003
Rebori, Marlene. K., How to organize and run effective
meetings, Cooperative Extension, Bringing the University to you,Fact Sheet
97-29, University of Nevada, Reno
2020.08.05 –
Louro de Carvalho
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