quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A porta da felicidade abre-se somente para fora

 Quem o recordou foi Gabriella Gambino, subsecretária para a Família e a Vida no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, na videomensagem para a aldeia temática “Políticas para a Felicidade”, que difundiu no âmbito da preparação do caminho de preparação do encontro sobre “A Economia de Francisco”, para o momento previsto, em Assis, de 19 a 21 de novembro de 2020, tendo destacado a importância de se entender o bem comum, não como “a soma dos bens particulares” de cada um, mas como “um bem indivisível que só pode ser alcançado, aumentado e preservado juntos”, pelo se deseja que “o mercado tutele e promova o bem comum”.

Com efeito, citando o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, em 31 de julho, a Dra. Gabriella Gambino disse que “a porta da felicidade se abre somente para fora” e “quem tenta forçá-la na direção oposta acaba por a fechar cada vez mais”.

Observando que “riqueza e felicidade não são a mesma coisa” e vincando que o bem comum não “é um fim em si mesmo”, mas um meio para a “realização em plenitude” da pessoa, e que não pode ser atribuído “a um simples bem-estar socioeconómico”, a subsecretária deste Dicastério destacou a forte ligação entre a economia, o bem comum e a família baseada no matrimónio entre homem e mulher; recordou que o termo “economia” vem do grego “oikia-nomos”, a indicar “a arte de administrar a família, a casa”; e acentuou que, “pelos laços que a caraterizam, a família é capaz de gerar atitudes virtuosas dentro do mercado, como a partilha e a solidariedade entre as gerações, tornando-se uma produtora de serviços” e “força motriz do sistema económico”. E referiu a experiência da pandemia de coronavírus, que mostrou isso, tendo a família sido “o amortecedor que absorveu em seus ombros as consequências humanas e económicas mais pesadas da crise global da saúde”.

Depois, verificando que a economia capitalista se centraliza na “maximização do lucro”, sustenta que ela não conduz “nem à felicidade dos indivíduos nem ao bem comum” e não garante o “desenvolvimento humano integral e a inclusão social”, antes deixa para trás sempre “os pobres, os marginalizados e os que estão em dificuldades há muito tempo”. Na verdade, como sublinha, “a compra de bens de luxo não nos torna mais felizes”, pois, reitera, “riqueza e felicidade não são a mesma coisa: a primeira persegue o útil, a segunda vive da reciprocidade e em vista da solidariedade” – o que “mostra que dentro do sistema económico é necessário, e não opcional, salvaguardar as relações e, antes de tudo, o papel piloto da família, ou seja, o lugar das relações primárias necessárias” a que a pessoa realize plenamente a sua personalidade, identidade e projeto de vida. De verdade, a família “não é um peso ou um custo”, mas o principal motor capaz de gerar estabilidade, segurança, atitudes virtuosas, solidárias e livres, que podem virtuosamente alimentar o sistema económico”.

Por conseguinte, segundo Gambino, há que “abandonar a concepção individualista da pessoa” e “reconhecer a subjetividade e a prioridade social da família como fundamento do bem comum”. Depois, é preciso promover condições de trabalho que protejam a vida familiar, um crescimento económico que não seja “às custas das necessidades fundamentais da pessoa em termos relacionais e familiares” e “uma renovação dos modelos económicos baseados também na nossa generosidade pessoal para com os mais necessitados”, pois, como a pandemia demonstrou, “somos todos irmãos, todos interligados e conectados”, tanto que, se alguém está doente, todo o “corpo social” sofre.

Por fim, a Dra. Gabriella Gambino exortou a trabalhar por um mercado entendido como “um espaço de encontro entre as pessoas, governado pela confiança e transparência”, baseado nos princípios da “partilha, solidariedade e comunhão”, pois “o mercado não pode ser governado por uma ‘mão invisível’, onde o outro é um desconhecido anónimo sem rosto, mas deve ser uma casa comum onde todos podem viver sem serem excluídos ou ficar para trás, onde todos têm um nome e podem fazer ouvir a sua voz”.

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Francisco instituiu o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida a 15 de agosto de 2016, pela Carta Apostólica em forma de Motu Proprio Sedula Mater, juntando as competências e funções que eram do Pontifício Conselho para os Leigos e do Pontifício Conselho para a Família.

Rege-se pelo Estatuto aprovado ad experimentum a 10 abril de 2018 e funciona desde 13 de maio 2018. É presidido pelo Prefeito, assistido por um Secretário e dois Subsecretários leigos (presentemente duas senhoras); tem membros e consultores próprios, incluindo leigos (homens e mulheres, solteiros e casados) envolvidos em vários campos de atividade e provenientes de várias partes do mundo; e é dotado dum número adequado de funcionários (clérigos e leigos), escolhidos, quanto possível, das diferentes regiões do mundo. É competente nos assuntos relacionados com a Sé Apostólica para a promoção da vida e do apostolado dos leigos, o cuidado pastoral dos jovens, da família e da sua missão, segundo o plano de Deus, e a proteção e apoio da vida humana – para o que promove e organiza conferências internacionais e outras iniciativas que têm em conta a esfera eclesial e a social. Cabe-lhe promover a vocação e a missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo, como indivíduos e como membros de associações, movimentos e comunidades, fomentando neles a consciência da responsabilidade compartilhada, em virtude do Batismo, pela vida e missão da Igreja, de acordo com os diferentes carismas recebidos para a edificação comum. Encoraja a presença ativa e responsável dos leigos na vida paroquial e diocesana e nos órgãos dirigentes da Igreja universal; e presta especial atenção à animação e aperfeiçoamento da ordem da realidade temporal. Avalia as iniciativas das Conferências Episcopais que solicitam à Sé Apostólica, segundo as necessidades das Igrejas particulares, a instituição de novos ministérios e ofícios eclesiais. Erige ou aprova as associações de fiéis e os movimentos eclesiais internacionais e reconhece os seus estatutos, além de examinar os recursos administrativos relativos a assuntos da sua competência. Exprime a preocupação da Igreja pelos jovens, apoiando as iniciativas do Papa na pastoral juvenil, constituindo momento forte desta atividade a preparação das JMJ (Jornadas Mundiais da Juventude). Promove a reflexão eclesial sobre a identidade e a missão das mulheres na Igreja e na sociedade.

Dedica-se ao cuidado pastoral da família, protege a sua dignidade e bem, fundamentados no sacramento do matrimónio; e favorece os seus direitos e responsabilidades na Igreja e na sociedade. Procura discernir os sinais dos tempos para identificar as oportunidades que surgem para valorizar a família segundo o plano de Deus e para enfrentar os desafios que lhe dizem respeito. Promove conferências e eventos internacionais, em particular o Encontro Mundial das Famílias. Segue a atividade de institutos, associações, movimentos eclesiais e das organizações católicas, cujo propósito é servir o bem da família. Cuida do aprofundamento da doutrina sobre a família e a sua divulgação através de adequada catequese. Favorece estudos sobre a espiritualidade do matrimónio e da família, oferece diretrizes para programas formativos para os noivos que estão a preparar-se para o matrimónio e para jovens esposos. Apoia as famílias na formação dos jovens para a fé e a vida eclesial e civil, com particular atenção ao diálogo intergeracional, bem como aos pobres e marginalizados. Favorece a abertura das famílias à adoção e guarda dos filhos e ao cuidado dos idosos. E, para atingir tais objetivos e promover a orientação comum nos estudos sobre o matrimónio, família e vida, tem ligação direta com o Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimónio e da Família.

Por fim, apoia e coordena iniciativas de proteção da vida humana desde a conceção até a morte natural, considerando as necessidades da pessoa nas várias fases evolutivas. Promove e encoraja as organizações e associações que ajudam mulheres e famílias a acolher e guardar o dom da vida, sobretudo no caso de gravidezes difíceis, e a prevenir o recurso ao aborto; e apoia programas e iniciativas que ajudam as mulheres que abortaram. É ainda tarefa sua estudar e promover a formação dos fiéis com base na doutrina moral católica e no Magistério da Igreja, sobre os principais problemas da biomedicina e do direito conexos com a vida humana e sobre as ideologias inerentes à vida humana e à realidade do género humano, em articulação com a Pontifícia Academia para a Vida. (cf Anuário Pontifício, 2019).

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Dirigem o Dicastério: o Cardeal Farrell, prefeito, o Padre carioca Alexandre Awi Mello, secretário, a Dra. Gabriella Gambino, subsecretária para as secções Família e Vida, e a Dra. Linda Ghisoni, subsecretária para a secção dos Leigos.

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Kevin Joseph Farrell nasceu em Dublin a 2 de setembro de 1947. Estudou na Universidade de Salamanca (Espanha) e na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma). Licenciou-se em filosofia e teologia na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino (Roma). Fez o mestrado em Administração de Empresas na Universidade de Notre Dame (EUA). Tendo ingressado na Congregação dos Legionários de Cristo em 1966, foi ordenado sacerdote a 24 de agosto de 1978 no Vaticano, pelo Cardeal Eduardo Francisco Pironio. Foi capelão na Universidade de Monterry (México), Professor de Estudos Económicos, Diretor-Geral, responsável pelos seminários e escolas de Legionários de Cristo na Itália, Espanha e Irlanda. Em 1984, foi incardinado na Arquidiocese de Washington. Nomeado Bispo de Rusuccuru e  auxiliar de Washington a 28 de dezembro de 2001, recebeu a ordenação a 11 de fevereiro seguinte, sendo ordinante o Cardeal Theodore Edgar McCarricc, Arcebispo de Washington e co-ordinantes o Cardeal James Aloysius Hickey, Arcebispo emérito de Washington, e o Bispo Leonard James Olivier, SVD, Bispo auxiliar de Washington. Desde 2001, foi Vigário Geral e Moderador da Cúria. A 6 de março de 2007, passou a bispo de Dallas. E, a 15 de agosto de 2016 , Francisco nomeou-o Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.

A 9 de outubro de 2016, durante o Angelus, o Papa anunciou a sua criação como cardeal no Consistório Ordinário Público de 2016. A 19 de dezembro, recebeu o anel cardinalício, o barrete e o título de cardeal-diácono de São Juliano Mártir. E, a 24 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco nomeou-o Camerlengo da Santa Igreja Romana.

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O Padre Mello, que era diretor nacional do Movimento de Schoenstatt, nasceu a 17 de janeiro de 1971 e estudou Filosofia e Teologia na Pontifícia Universidade Católica de Santiago (Chile). Em 2000, formou-se em Teologia na Alemanha e doutorou-se em “mariologia” na Universidade de Dayton, Ohio (EUA), com o tema de estudo “Maria-igreja, Mãe do povo missionário: o Papa Francisco e a piedade popular mariana no contexto teológico-pastoral da América Latina”.

O Papa nomeou-o secretário do Dicastério a 31 de maio de 2017

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Gabriella Gambino, casada e mãe de 5 filhos, nasceu em Milão em 1968. Graduada em Ciência Política pela Universidade de Milão, em 2001, obteve o doutoramento em Bioética, no Instituto de Bioética da Universidade Católica do Sagrado Coração (Roma). De 2001 a 2007 realizou atividades de ensino, estudo e pesquisa em bioética no Instituto de Metodologia das Ciências Sociais da Universidade LUISS-Guido Carli (Roma). De 2002 a 2006 foi nomeada Especialista Científica do Comité Nacional de Bioética na Presidência do Conselho de Ministros. Até 2017 foi Professora Adjunta de Bioética na Faculdade de Filosofia da Universidade de Roma “Tor Vergata” e pesquisadora em filosofia do direito na Faculdade de Direito da mesma universidade. Desde 2005 é Professora Responsável pela Bioética e Biodiritto na Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as ciências do matrimónio e da família (Universidade Lateranense). Em 2017 foi professora convidada no setor brasileiro do Instituto da Universidade Católica do Salvador (Bahia). De 2013 a 2016, colaborou com o Pontifício Conselho para os Leigos e atuou como palestrante em conferências organizadas pelo Pontifício Conselho (2013) e pela Pontifícia Academia para a Vida (2016).

Autora de numerosas publicações (monografias, curadorias e ensaios) dedicou-se, em particular, aos temas da vida humana, do matrimónio e da família. Em novembro de 2017, o Papa nomeou-a Subsecretária do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.

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Linda Ghisoni, casada e mãe de duas filhas, nasceu em 1965, em Cortemaggiore (Piacenza). Fez a licenciatura em Filosofia e Teologia na Universidade Eberhard Karls de Tübingen (1991); o doutoramento em Direito Canónico na Pontifícia Universidade Gregoriana (1999); o diploma de Advogada Rotal no Studium rotale do Tribunal da Rota Romana (2002) e o diploma de Prática administrativa na Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (1994). Nos Tribunais de primeira instância e de apelo do Vicariato de Roma, trabalhou como Notária (1997-1999), Defensora do vínculo (1999-2002), Auditora (2002-2005) e Juíza (2005-2017). Na Santa Sé ocupou o cargo de Defensora do vínculo delegada ao Tribunal da Rota Romana (2003-2009), de Comissária adjunta em defesa do vínculo nas causas de Dissolução do matrimónio ratificado e não consumado à Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos (2006-2011) e, a partir de novembro de 2011, no Tribunal da Rota Romana. De 2013 a 2016 colaborou com o Pontifício Conselho para os Leigos no contexto de estudos especializados sobre os leigos na Igreja. O Papa, a 7 de novembro de 2017, nomeou-a subsecretária do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e, em 2018, nomeou-a Consultora da Congregação para a Doutrina da Fé e Comissária para a dissolução dos matrimónios in favorem fidei.

Autora de publicações científicas no campo do Direito Canónico, desde 2011 é professora da Faculdade de Direito Canónico da Pontifícia Universidade Gregoriana.

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Toda esta informação mostra a magnitude das tarefas do dicastério em referência, bem como a qualificação e o profissionalismo dos seus responsáveis estribado num currículo académico e experiencial em que se evidencia a dedicação eclesial.

Programas não faltam. Falta, sim, a reconversão da sociedade aos valores do Evangelho na atenção às pessoas, mormente as que sofrem. Não será por falta de empenho da Igreja e, em especial, deste dicastério que a Economia de Francisco não vai avante.

2020.08.13 – Louro de Carvalho 

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