Quem o recordou foi Gabriella Gambino, subsecretária para a Família e a Vida no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, na videomensagem para a aldeia temática “Políticas para a Felicidade”, que difundiu no âmbito da preparação do caminho de preparação do encontro sobre “A Economia de Francisco”, para o momento previsto, em Assis, de 19 a 21 de novembro de 2020, tendo destacado a importância de se entender o bem comum, não como “a soma dos bens particulares” de cada um, mas como “um bem indivisível que só pode ser alcançado, aumentado e preservado juntos”, pelo se deseja que “o mercado tutele e promova o bem comum”.
Com efeito, citando o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, em 31 de
julho, a Dra. Gabriella Gambino disse que “a porta da felicidade se abre
somente para fora” e “quem tenta forçá-la na direção oposta acaba por a fechar
cada vez mais”.
Observando
que “riqueza e felicidade não são a mesma coisa” e vincando que o bem comum não
“é um fim em si mesmo”, mas um meio para a “realização em plenitude” da pessoa,
e que não pode ser atribuído “a um simples bem-estar socioeconómico”, a
subsecretária deste Dicastério destacou a forte ligação entre a economia, o bem
comum e a família baseada no matrimónio entre homem e mulher; recordou que o
termo “economia” vem do grego “oikia-nomos”, a indicar “a arte de administrar
a família, a casa”; e acentuou que, “pelos laços que a caraterizam, a família é
capaz de gerar atitudes virtuosas dentro do mercado, como a partilha e a
solidariedade entre as gerações, tornando-se uma produtora de serviços” e
“força motriz do sistema económico”. E referiu a experiência da pandemia de
coronavírus, que mostrou isso, tendo a família sido “o amortecedor que absorveu
em seus ombros as consequências humanas e económicas mais pesadas da crise
global da saúde”.
Depois,
verificando que a economia capitalista se centraliza na “maximização do lucro”,
sustenta que ela não conduz “nem à felicidade dos indivíduos nem ao bem comum”
e não garante o “desenvolvimento humano integral e a inclusão social”, antes
deixa para trás sempre “os pobres, os marginalizados e os que estão em
dificuldades há muito tempo”. Na verdade, como sublinha, “a compra de bens de
luxo não nos torna mais felizes”, pois, reitera, “riqueza e felicidade não são a mesma coisa: a primeira persegue o
útil, a segunda vive da reciprocidade e em vista da solidariedade” – o
que “mostra que dentro do sistema económico é necessário, e não opcional,
salvaguardar as relações e, antes de tudo, o papel piloto da família, ou seja,
o lugar das relações primárias necessárias” a que a pessoa realize plenamente a
sua personalidade, identidade e projeto de vida. De verdade, a família “não é
um peso ou um custo”, mas o principal motor capaz de gerar estabilidade,
segurança, atitudes virtuosas, solidárias e livres, que podem virtuosamente
alimentar o sistema económico”.
Por
conseguinte, segundo Gambino, há que “abandonar
a concepção individualista da pessoa” e “reconhecer a subjetividade e a prioridade social da família
como fundamento do bem comum”. Depois, é preciso promover condições de trabalho
que protejam a vida familiar, um crescimento económico que não seja “às custas
das necessidades fundamentais da pessoa em termos relacionais e familiares” e “uma renovação dos modelos económicos
baseados também na nossa generosidade pessoal para com os mais necessitados”,
pois, como a pandemia demonstrou, “somos todos irmãos, todos interligados e
conectados”, tanto que, se alguém está doente, todo o “corpo social” sofre.
Por fim, a
Dra. Gabriella Gambino exortou a trabalhar por um mercado entendido como “um
espaço de encontro entre as pessoas, governado pela confiança e transparência”,
baseado nos princípios da “partilha, solidariedade e comunhão”, pois “o mercado
não pode ser governado por uma ‘mão invisível’, onde o outro é um desconhecido
anónimo sem rosto, mas deve ser uma casa comum onde todos podem viver sem serem
excluídos ou ficar para trás, onde todos têm um nome e podem fazer ouvir a sua
voz”.
***
Francisco instituiu o Dicastério
para os Leigos, a Família e a Vida a 15 de agosto de 2016, pela Carta
Apostólica em forma de Motu Proprio Sedula
Mater, juntando as competências e funções que eram do Pontifício Conselho
para os Leigos e do Pontifício Conselho para a Família.
Rege-se pelo Estatuto aprovado ad experimentum a 10 abril de 2018 e funciona
desde 13 de maio 2018. É presidido pelo Prefeito, assistido por um Secretário e
dois Subsecretários leigos (presentemente duas senhoras); tem membros e consultores próprios,
incluindo leigos (homens e mulheres, solteiros e casados) envolvidos em vários campos de
atividade e provenientes de várias partes do mundo; e é dotado dum número
adequado de funcionários (clérigos e leigos), escolhidos, quanto possível,
das diferentes regiões do mundo. É competente nos assuntos relacionados com a
Sé Apostólica para a promoção da vida e do apostolado dos leigos, o cuidado
pastoral dos jovens, da família e da sua missão, segundo o plano de Deus, e a
proteção e apoio da vida humana – para o que promove e organiza conferências
internacionais e outras iniciativas que têm em conta a esfera eclesial e a social.
Cabe-lhe promover a vocação e a missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo, como
indivíduos e como membros de associações, movimentos e comunidades, fomentando
neles a consciência da responsabilidade compartilhada, em virtude do Batismo,
pela vida e missão da Igreja, de acordo com os diferentes carismas recebidos
para a edificação comum. Encoraja a presença ativa e responsável dos leigos na
vida paroquial e diocesana e nos órgãos dirigentes da Igreja universal; e presta
especial atenção à animação e aperfeiçoamento da ordem da realidade temporal. Avalia
as iniciativas das Conferências Episcopais que solicitam à Sé Apostólica,
segundo as necessidades das Igrejas particulares, a instituição de novos
ministérios e ofícios eclesiais. Erige ou aprova as associações de fiéis e os
movimentos eclesiais internacionais e reconhece os seus estatutos, além de
examinar os recursos administrativos relativos a assuntos da sua competência.
Exprime a preocupação da Igreja pelos jovens, apoiando as iniciativas do Papa
na pastoral juvenil, constituindo momento forte desta atividade a preparação
das JMJ (Jornadas
Mundiais da Juventude).
Promove a reflexão eclesial sobre a identidade e a missão das mulheres na
Igreja e na sociedade.
Dedica-se ao cuidado pastoral da família, protege a sua
dignidade e bem, fundamentados no sacramento do matrimónio; e favorece os seus
direitos e responsabilidades na Igreja e na sociedade. Procura discernir os
sinais dos tempos para identificar as oportunidades que surgem para valorizar a
família segundo o plano de Deus e para enfrentar os desafios que lhe dizem
respeito. Promove conferências e eventos internacionais, em particular o Encontro Mundial das Famílias. Segue a
atividade de institutos, associações, movimentos eclesiais e das organizações
católicas, cujo propósito é servir o bem da família. Cuida do aprofundamento da
doutrina sobre a família e a sua divulgação através de adequada catequese. Favorece
estudos sobre a espiritualidade do matrimónio e da família, oferece diretrizes
para programas formativos para os noivos que estão a preparar-se para o matrimónio
e para jovens esposos. Apoia as famílias na formação dos jovens para a fé e a
vida eclesial e civil, com particular atenção ao diálogo intergeracional, bem
como aos pobres e marginalizados. Favorece a abertura das famílias à adoção e
guarda dos filhos e ao cuidado dos idosos. E, para atingir tais objetivos e
promover a orientação comum nos estudos sobre o matrimónio, família e vida, tem
ligação direta com o Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as
Ciências do Matrimónio e da Família.
Por fim, apoia e coordena iniciativas de proteção da vida
humana desde a conceção até a morte natural, considerando as necessidades da
pessoa nas várias fases evolutivas. Promove e encoraja as organizações e
associações que ajudam mulheres e famílias a acolher e guardar o dom da vida,
sobretudo no caso de gravidezes difíceis, e a prevenir o recurso ao aborto; e
apoia programas e iniciativas que ajudam as mulheres que abortaram. É ainda tarefa
sua estudar e promover a formação dos fiéis com base na doutrina moral católica
e no Magistério da Igreja, sobre os principais problemas da biomedicina e do
direito conexos com a vida humana e sobre as ideologias inerentes à vida humana
e à realidade do género humano, em articulação com a Pontifícia Academia para a
Vida. (cf Anuário Pontifício, 2019).
***
Dirigem o Dicastério: o
Cardeal Farrell, prefeito, o Padre carioca Alexandre
Awi Mello, secretário, a Dra. Gabriella Gambino, subsecretária para as secções
Família e Vida, e a Dra. Linda Ghisoni, subsecretária para a secção dos Leigos.
***
Kevin Joseph Farrell nasceu em
Dublin a 2 de setembro de 1947. Estudou na
Universidade de Salamanca (Espanha) e na Pontifícia
Universidade Gregoriana (Roma). Licenciou-se
em filosofia e teologia na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino (Roma). Fez o mestrado em Administração de Empresas na Universidade
de Notre Dame (EUA). Tendo ingressado na Congregação
dos Legionários de Cristo em 1966, foi ordenado sacerdote a 24 de agosto de
1978 no Vaticano, pelo Cardeal Eduardo Francisco Pironio. Foi capelão na
Universidade de Monterry (México), Professor
de Estudos Económicos, Diretor-Geral, responsável pelos seminários e escolas de
Legionários de Cristo na Itália, Espanha e Irlanda. Em 1984, foi
incardinado na Arquidiocese de Washington. Nomeado Bispo de Rusuccuru e
auxiliar de Washington a 28 de dezembro de 2001, recebeu a ordenação a 11
de fevereiro seguinte, sendo ordinante o Cardeal Theodore Edgar McCarricc,
Arcebispo de Washington e co-ordinantes o Cardeal James Aloysius Hickey, Arcebispo
emérito de Washington, e o Bispo Leonard James Olivier, SVD, Bispo auxiliar
de Washington. Desde 2001, foi Vigário Geral e Moderador da Cúria. A 6
de março de 2007, passou a bispo de Dallas. E, a 15 de agosto de 2016 ,
Francisco nomeou-o Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e
a Vida.
A 9 de
outubro de 2016, durante o Angelus, o Papa anunciou a sua criação como cardeal
no Consistório Ordinário Público de 2016. A 19 de dezembro, recebeu o
anel cardinalício, o barrete e o título de cardeal-diácono de São Juliano
Mártir. E, a 24 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco nomeou-o Camerlengo da
Santa Igreja Romana.
***
O Padre Mello, que era diretor
nacional do Movimento de Schoenstatt, nasceu a 17 de janeiro de 1971 e estudou
Filosofia e Teologia na Pontifícia Universidade Católica de Santiago (Chile). Em 2000, formou-se em Teologia na Alemanha e doutorou-se
em “mariologia” na Universidade de Dayton, Ohio (EUA), com o tema de estudo “Maria-igreja,
Mãe do povo missionário: o Papa Francisco e a piedade popular mariana no
contexto teológico-pastoral da América Latina”.
O Papa nomeou-o secretário do Dicastério
a 31 de maio de 2017
***
Gabriella Gambino, casada e mãe de 5 filhos, nasceu em Milão em 1968. Graduada
em Ciência Política pela Universidade de Milão, em 2001, obteve o doutoramento
em Bioética, no Instituto de Bioética da Universidade Católica do Sagrado
Coração (Roma). De 2001 a 2007 realizou atividades de ensino, estudo
e pesquisa em bioética no Instituto de Metodologia das Ciências Sociais da Universidade
LUISS-Guido Carli (Roma). De 2002 a
2006 foi nomeada Especialista Científica do Comité Nacional de Bioética na
Presidência do Conselho de Ministros. Até 2017 foi Professora Adjunta de
Bioética na Faculdade de Filosofia da Universidade de Roma “Tor Vergata” e pesquisadora em filosofia
do direito na Faculdade de Direito da mesma universidade. Desde 2005 é
Professora Responsável pela Bioética e Biodiritto na Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as ciências do
matrimónio e da família (Universidade Lateranense). Em 2017 foi professora convidada no setor brasileiro
do Instituto da Universidade Católica do Salvador (Bahia). De 2013 a 2016, colaborou com o Pontifício Conselho
para os Leigos e atuou como palestrante em conferências organizadas pelo
Pontifício Conselho (2013) e pela
Pontifícia Academia para a Vida (2016).
Autora de numerosas publicações (monografias, curadorias e ensaios) dedicou-se, em particular, aos temas da vida humana,
do matrimónio e da família. Em novembro de 2017, o Papa nomeou-a Subsecretária do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.
***
Linda Ghisoni, casada e mãe de duas filhas, nasceu em 1965, em
Cortemaggiore (Piacenza). Fez a licenciatura em Filosofia e Teologia na Universidade Eberhard Karls de Tübingen (1991); o doutoramento em Direito Canónico na Pontifícia
Universidade Gregoriana (1999); o diploma
de Advogada Rotal no Studium rotale
do Tribunal da Rota Romana (2002) e o diploma
de Prática administrativa na Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos (1994). Nos Tribunais de primeira
instância e de apelo do Vicariato de Roma, trabalhou como Notária (1997-1999), Defensora do vínculo (1999-2002), Auditora (2002-2005) e Juíza (2005-2017). Na Santa Sé ocupou o cargo de Defensora do vínculo
delegada ao Tribunal da Rota Romana (2003-2009), de Comissária adjunta em defesa do vínculo nas
causas de Dissolução do matrimónio ratificado e não consumado à Congregação
para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos (2006-2011) e, a partir de novembro de 2011, no Tribunal da Rota
Romana. De 2013 a 2016 colaborou com o Pontifício Conselho para os Leigos no
contexto de estudos especializados sobre os leigos na Igreja. O Papa, a 7 de
novembro de 2017, nomeou-a subsecretária do Dicastério para os Leigos, a
Família e a Vida e, em 2018, nomeou-a Consultora da Congregação para a Doutrina
da Fé e Comissária para a dissolução dos matrimónios in favorem fidei.
Autora de publicações científicas no campo do Direito
Canónico, desde 2011 é professora da Faculdade de Direito Canónico da
Pontifícia Universidade Gregoriana.
***
Toda esta informação mostra a magnitude das tarefas do
dicastério em referência, bem como a qualificação e o profissionalismo dos seus
responsáveis estribado num currículo académico e experiencial em que se
evidencia a dedicação eclesial.
Programas não faltam. Falta, sim, a reconversão da
sociedade aos valores do Evangelho na atenção às pessoas, mormente as que
sofrem. Não será por falta de empenho da Igreja e, em especial, deste dicastério
que a Economia de Francisco não vai avante.
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