Disse-o Dom José Traquina, Bispo de Santarém e presidente da Comissão
Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade
Humana, na 48.ª Peregrinação do Migrante e Refugiado, a que presidiu, a 12 e 13
de agosto, falando dos migrantes
explorados, pobres, refugiados e deslocados.
O presidente
da Peregrinação Internacional Aniversária de agosto, em Fátima, afirmou, na
alocução que fez na Celebração da Palavra na noite do dia 12, que os
estrangeiros são “uma necessidade e um bem” para Portugal e não podem ser
“explorados ou maltratados”, antes devem ser acolhidos e protegidos com a “respeitabilidade”
que se quer para os portugueses que “vivem em qualquer outro país” e ser informados
das nossas “regras e hábitos de convivência, ao mesmo tempo que se lhes hão de
dar “as condições para expressarem a sua cultura”.
O prelado escalabitano
apelou aos fiéis a que manifestem “capacidade de acolhimento” e não cultivem
sentimentos que não correspondem à “matriz cristã de fraternidade universal”,
para o que desafiou os responsáveis diocesanos a um maior envolvimento no
apoio aos migrantes.
Afirmando que
a OCPM (Obra
Católica Portuguesa de Migrações) espera mais
envolvimento dos Serviços Diocesanos com os migrantes, frisou que é
desejável que os Secretariados Diocesanos desenvolvam iniciativas que tenham a
ver com os migrantes portugueses no estrangeiro e com os imigrantes
estrangeiros residentes em Portugal que, segundo um recente Relatório do
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, “ultrapassa as 590 mil pessoas” – realidade
para a qual “a Pastoral da Igreja tem de estar atenta para acompanhamento e
apoio”, sendo que o grande desafio mundial é o reconhecimento dos “direitos dos
pobres”, sobretudo neste contexto de maior vulnerabilidade, acentuada pela
pandemia. Na verdade, mais que o apelo a uma generosidade pontual ou
continuada, “trata-se de reconhecer a nível mundial o direito dos pobres”, pois
“Deus quer que seja reconhecido o direito dos pobres no mundo inteiro”.
O Bispo de
Santarém lembrou particularmente os migrantes que sempre viveram “dificuldades
acrescidas”, os portugueses que não puderam regressar a Portugal ou daqui sair,
os que foram atingidos pelo vírus, os que ficaram desempregados e os que
experimentam a fragilidade e a acentuada insegurança por viverem num país
estrangeiro. Recordando as mais de 250 mil pessoas deslocadas por causa dos
conflitos armados em Cabo Delgado, Moçambique, vincou a urgência de encontrar “uma
solução para travar os combates armados que atingem pessoas inocentes” e
observou que, “em África ou em qualquer
parte do mundo, é necessário considerar a pessoa humana como o centro, o valor
e o bem maior a acolher, defender e promover, para que haja humanização e
desenvolvimento social”. E, deixando votos de que a peregrinação seja “um
momento de transfiguração”, “retemperadora da força e da luz interior da Fé”,
concluiu:
“A missão dos Pastorinhos mostra que viver
em Deus implica interesse e zelo pela humanidade. Concretizando o Evangelho,
esta é a missão que nos é confiada, sabendo que o futuro do mundo depende da
conversão dos homens, na resposta ao problema dos pobres e à defesa do planeta
Terra.”.
***
É de
recordar que, durante a Procissão das Velas, houve um momento de oração junto
ao monumento ao Muro de Berlim, cuja construção foi iniciada no dia 13 de agosto
de 1961. Nesta oração rezou-se pela paz e pelo fim dos conflitos entre os
homens.
A
Peregrinação Internacional Aniversária de agosto, que integrou, pela 48.ª vez,
a Peregrinação Nacional do Migrante e Refugiado, assinalou a 4.ª
aparição de Nossa Senhora, que, por a 13 os pastorinhos estarem retidos em
Ourém pelo administrador, ocorreu a 19, nos Valinhos, a cerca de 3
quilómetros da Cova da Iria. Além dos peregrinos migrantes e os
peregrinos portugueses, inscreveram-se nos serviços do Santuário para
participar nas celebrações programadas 7 grupos, 3 dos quais estrangeiros,
nomeadamente de Espanha, Itália e Polónia.
***
Entretanto, na homilia da Missa deste 13 de agosto, Dom José Traquina
apontou a partilha e a caridade cristãs como caminho para um mundo mais justo.
A partir do
Evangelho proclamado, que relata o episódio das Bodas de Caná, o presidente da peregrinação
destacou o papel de intercessão da Virgem Maria na História da Salvação para
deduzir a missão da Igreja na procura de um mundo mais fraterno, em especial
com os migrantes explorados, os pobres, os refugiados e os deslocados. E,
exortando a assembleia à partilha e caridade, metas do amor cristão, disse:
“Sejamos extensivos, a sua noiva que é a
multidão de homens e mulheres que eram como ovelhas sem pastor, são hoje os
atuais milhões de pobres em todo o mundo, os milhões de refugiados que têm de
fugir como Jesus para terem vida, os migrantes que, por desconhecimento das
formas legais de emigrar, são explorados por contrabandistas e traficantes, os
milhões de pessoas deslocadas forçadamente dentro do seu próprio país, por
falta de segurança. Todos estes têm direito à festa nupcial.” (vd Mt
22, 11-14).
Citando um versículo
da Carta de Paulo aos Romanos, “nada, nem ninguém, “poderá separar-nos do amor
de Deus, que se manifestou em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,39), garantiu que “é este amor indestrutível que
celebramos na Eucaristia, o grande sacramento da Igreja que suscita e alimenta
o zelo apostólico e a prática da caridade”. E concluiu tomando como exemplo a
entrega dos Pastorinhos à “Luz de Cristo que vence as trevas” pelo serviço ao
próximo.
***
Gesto caraterístico
no ofertório da Eucaristia da Peregrinação Aniversária de agosto, e que se
manterá, é a oferta de trigo pelos peregrinos. A história deste gesto, que se realizou
este ano pela 80.ª vez, remonta a agosto de 1940, quando um grupo de jovens da
Juventude Agrária Católica, de 17 paróquias da diocese de Leiria, ofereceu 30
alqueires de trigo, destinados ao fabrico de hóstias para consumo no Santuário
de Fátima. Desde então, os peregrinos, já não só de Leiria, mas também de
outras dioceses do país e até do estrangeiro, têm vindo a dar continuidade, ano
após ano, a este ofertório.
Durante o
ano de 2019 foram oferecidos 8060 quilos de trigo e 545 quilos de farinha.
Consumiram-se, no Santuário, aproximadamente 15.500 hóstias e 1.089.000
partículas.
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Antes da
Procissão do Adeus, o Bispo de Leiria-Fátima, Cardeal Dom António Marto, fez,
como é usual, a saudação final, deixando, em primeiro lugar, um “abraço
espiritual” aos migrantes presentes na Cova da Iria e aos que acompanhavam a
Peregrinação pelos meios de comunicação social, vincando:
“É sempre bela esta peregrinação de agosto,
sobretudo por esta caraterística particular de ser dedicada a todos os
migrantes: a todos os nossos irmãos que trabalham no estrangeiro e que hoje
estão aqui a representar diferentes povos, mas irmanados na mesma fé e amor,
formando uma só família, para além de todas as diferenças”.
Saudou o
presidente da Peregrinação, a quem agradeceu a mensagem “interpeladora e
bela” que apelou ao “reforço dos laços da solidariedade e da partilha
fraterna e ao fortalecimento da esperança no futuro de um mundo melhor”.
Depois, citando
o Papa Francisco, ao pedir a oração pela paz no mundo, em
particular pelo povo libanês, avisou:
“Se não cuidarmos uns dos outros não curaremos
o nosso mundo enfermo”.
Dom António Marto
saudou também os Bombeiros, que, nos últimos dias, combatem os incêndios
no país, em especial os que faleceram no exercício desta função, tal como lembrou
os doentes e seus familiares, em especial os que sofrem com a pandemia.
Fez notar a
presença dos peregrinos mais pequenos, a quem enviou saudação de carinho e
afeto e uma bênção especial em nome de Jesus e dos Pastorinhos de Fátima para
uma infância feliz.
***
Também no dia 13, Dom António
Marto, à margem da Peregrinação, presidiu à bênção de 7 novas ambulâncias – 6
de socorro e uma de transporte de doentes –, da Associação Humanitária de
Bombeiros de Fátima, adquiridas na sequência de campanha de angariação de
fundos para o reforço e renovação de frota realizada junto de instituições,
empresas e particulares, residentes em Fátima e na diáspora. A primeira destas ambulâncias foi
oferecida pelo Santuário de Fátima.
Nas breves
palavras que dirigiu antes da bênção, o Cardeal lembrou o papel dos bombeiros,
que denominou de “nobre e bela missão”, valorizada ainda mais neste tempo de
pandemia, que acentuou a vulnerabilidade de tantas pessoas. E disse:
“É de louvar e reconhecer o trabalho e o
empenho de tantas pessoas que manifestam o amor ao próximo, arriscando a sua
vida para tratar da saúde do outro, salvar vidas e proteger a nossa casa comum”.
Dirigindo-se
aos bombeiros de Fátima presentes no Santuário, onde decorreu a bênção junto ao
Posto de Socorros, depois de uma primeira oração na Capelinha, declarou:
“Vós
sois heróis de pleno título. (…) Deveis lembrar-vos, sempre, de que sois uma
bênção para os outros; para a comunidade.”.
Por fim, o
Cardeal lembrou que, além da “gratidão individual”, as palavras de
reconhecimento pelo trabalho correspondem a um sentimento mais vasto. E explicitou:
“É uma presença da Igreja que assim
manifesta a gratidão e o afeto a esta corporação, e a todos os bombeiros, pelo
trabalho em favor da pessoas e da comunidade”.
Durante a
cerimónia, usaram ainda da palavra o presidente da Associação Humanitária de
Bombeiros de Fátima, Amorim Gonçalves, que destacou a missão dos bombeiros e
agradeceu a “generosidade de todos os que participaram desta campanha”,
sublinhando:
“Nós trabalhamos em função das necessidades
das comunidades, mas também dependemos de todas as pessoas para podermos funcionar”.
Este
dirigente associativo lamentou a falta de apoio financeiro do Governo à
construção das novas infraestruturas dos bombeiros em Fátima – crítica secundada
pelo Presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares. E enfatizou:
“Estamos num dos lugares mais respeitados da
Humanidade, um lugar sagrado e de fé”.
Depois exortou
à fé e à esperança de que “o bom senso venha a prevalecer para que esses que
andam distraídos tenham luz” e possam os bombeiros responder “no momento certo
e na medida certa” com “o apoio para que estes homens e mulheres, heróis que se
entregam, possam ter as ferramentas adequadas para a prestação do seu serviço”.
E o Presidente
da Câmara Municipal de Ourém, que é simultaneamente a autoridade máxima
concelhia em termos de Proteção Civil, agradeceu a ação e a entrega dos
bombeiros, seja na defesa da floresta, seja na proteção da vida humana.
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De Fátima,
como sempre, a preocupação espiritual e pastoral, a atenção à vida humana, o
zelo pelos bens patrimoniais e o apoio à ação social. Lugar de peregrinação, o
Santuário é lugar de encontro com Deus infinito e belo, Pai comum, e com as
preocupações e necessidades humanas. A Casa da Mãe está aberta e a Mãe está
disponível para clamar junto de Jesus pelas nossas necessidades e a junto de
nós recomendar a prática do bem.
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