Da Suíça chega, neste dia 25 de agosto, o convite conjunto
do Conselho das
Conferências Episcopais da Europa (CCEE)
e da Conferência das Igrejas Europeias (CEC)
para celebrar ‘o tempo da criação’, de 1 de setembro a 4 de outubro,
assinalando que a pandemia covid-19 “revelou” quão “profundamente o mundo está
interconectado”.
Considerando que “a criação é um presente de Deus para a humanidade e
para todos os seres vivos”, convidam a celebrar este ano o Tempo da Criação com
o tema ‘Jubileu pela Terra’. Na
verdade, como refere a declaração conjunta, divulgada pela agência Ecclesia, o jubileu “está enraizado na
Bíblia” visa promover “um equilíbrio justo e sustentável entre as realidades sociais,
económicas e ecológicas”.
Assim, o Cardeal Angelo Bagnasco e o Reverendo Christian
Krieger, respetivamente, presidente do Conselho das Conferências Episcopais da
Europa e presidente da Conferência das Igrejas Europeias, explicitam que a
lição do conceito bíblico de jubileu aponta para “a necessidade de restaurar o
equilíbrio nos próprios sistemas de vida, afirmando a necessidade de igualdade,
justiça e sustentabilidade”, confirmando a necessidade de uma “voz profética em
defesa da casa comum”.
Neste contexto e neste sentido, o CCEE e a CEC convidam
“todos” os responsáveis pelas comunidades cristãs, os cristãos europeus, as
paróquias, as comunidades eclesiais e todas as pessoas de boa vontade a
“prestar atenção ao tempo da Criação e a vivê-lo com espírito ecuménico, unidos
na oração e na ação”. Com efeito, como escrevem Bagnasco e Krieger, “o impacto
da pandemia força-nos a levar a sério a necessidade de vigilância e a
necessidade de condições de vida sustentáveis em todo o planeta”, sobretudo “quando
se considera a devastação ambiental e a ameaça das mudanças climáticas”.
As personalidades em referência salientam que a pandemia do
coronavírus que origina a covid-19 (o SARS CoV 2) “revelou o quão profundamente o globo está interconectado” e
mostrou que, “mais do que nunca”, as pessoas não estão isoladas “umas das outras
e que as condições relacionadas com a saúde e bem-estar humanos são frágeis”.
Por isso tudo, sendo o ‘Dia da Criação’ celebrado a 1 de
setembro, importa que, a partir dessa data, até 4 de outubro, dia do Irmão
Universal Francisco de Assis, os cristãos se sintam motivados a viver o ‘Tempo
da Criação’, pelo que o CCEE e a CEC encorajam as suas Igrejas na Europa a
“reconhecer estes dias para celebrar a riqueza de fé como uma expressão para
proteger nossa casa comum”, sublinhando que “os valores do Tempo da Criação remontam
às raízes da fé cristã” e, como já foi vincado, “a criação é um presente de
Deus para a humanidade e para todos os seres vivos”.
Por consequência, a declaração conjunta recorda que o Papa
Francisco na encíclica ‘Laudato Si’
sublinhou que “o desafio urgente de proteger a casa comum inclui a preocupação
de reunir toda a família humana para procurar um desenvolvimento sustentável e
integral” e apela a um novo diálogo.
Por fim, Angelo Bagnasco e Christian Krieger anotam que
celebrar o ‘Dia da Criação’ e o ‘Tempo da Criação’ tem uma “dimensão
ecuménica significativa”, pelo que agradecem a proposta do falecido Patriarca
Ecuménico Dimitrios I, em 1989, e as Assembleias Ecuménicas Europeias
organizadas pela CEC e pela CCEE em Basel (1989),
Graz (1997) e Sibiu (2007).
***
Por seu turno, segundo reporta o vatican news, a presidência do CELAM (Conselho
Episcopal Latino-americano), em carta dirigida aos líderes e governos da América Latina e do Caribe em face à crise da covid-19, apela à
integração e cooperação regional para a procura de soluções comuns para superar
a crise, que chegou também aos 10 países aonde não chegou a pandemia.
O convite dos
Bispos latino-americanos é necessariamente extensivo à comunidade científica e
a todas as pessoas com vista à superação das dificuldades atuais. A este
respeito, o CELAM recorda que este processo necessita de vontade política para
se concretizar. Por isso, une-se na oração para que Deus inspire a inteligência
das pessoas e coletividades para o alcance deste objetivo. E sugere que
essa atitude pró-ativa não seja assumida apenas na solução do problema gerado
pela covid-19, mas olhando para o futuro e os desafios que o continente
terá que enfrentar, porque para na Igreja ainda está latente o sonho
de uma “Grande Pátria” latino-americana e caribenha que viva
plenamente a integração.
A carta
lembra que, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), até ao momento já morreram mais de 200.000 pessoas
na América Latina e no Caribe e 5 mil milhões foram infetadas com o vírus da covid-19. A
previsão é de mais 215 milhões de pessoas que vivem na pobreza nos próximos
meses, ou seja, 35% da população – facto escandaloso a fazer mossa na
consciência da Igreja. Na verdade, a Igreja continental está fortemente
preocupada com a situação dos mais vulneráveis a que se soma a violência e o
medo que ameaçam a liberdade de todos os povos, circunstância que agrava a alma
daquela “Grande Pátria”.
Por tudo
isto, os Bispos, sentem no íntimo o eco das palavras do Santo Padre na Audiência Geral de 19 de agosto:
“É
essencial encontrar uma cura para um pequeno mas terrível vírus que põe o mundo
inteiro de joelhos. Por outro, devemos curar um grande vírus, o da injustiça
social, da desigualdade de oportunidades, da marginalização e da falta de
proteção dos mais débeis.”.
Embora a
presidência do CELAM reconheça os esforços de toda a comunidade científica para
produzir uma vacina contra esse vírus, alertou que “as vacinas devem ser comprovadas como seguras e testadas
eticamente; a advertência médica tradicional do primum non
nocere, ou a primeira coisa é não fazer mal” , deve sempre orientar os cientistas, de acordo com
a Associação de Saúde dos Estados Unidos.
Além disso,
o CELAM exorta os líderes e governadores da América Latina, enquanto responsáveis
pelas decisões que afetam o bem comum, a buscar soluções juntamente com todos
os povos, sempre na unidade e na fraternidade, com vista à construção de uma “Grande
Pátria” com que
todos sonham no continente, esperando que toda a comunidade científica realize
ações conjuntas em centros de pesquisa, laboratórios e produção de medicamentos
“para que possamos enfrentar também as chamadas doenças invisíveis,
resultado do défice e de condições socioeconómicas injustas, que causam mais
mortes do que a covid-19”. Com
efeito, a crise provocada pela covid-19 revelou as deficiências das
estruturas sociais onde a pobreza está aumentar – é o caso da maioria dos povos
da América Latina e Caribe – pelo que se torna urgente que economistas e
cientistas procurem uma nova “vacina” contra as estruturas sociais que estão doentes. E o CELAM
brada:
“Mas
não devemos ver tudo como uma maldição ou castigo de Deus, mas sim como o
resultado do ‘pecado estrutural’ e do ‘pecado ecológico’ que afetam a nossa
região e que todos devemos superar juntos. Exigimos que as políticas
públicas tenham sempre em mente, em primeiro lugar, os homens e mulheres de
nossa terra e principalmente os mais pobres. Nós o reivindicamos em nome
de Deus!”.
E porfia que
a Igreja estará sempre comprometida com a reconstrução do tecido social
latino-americano e caribenho e com uma particular dedicação pastoral à defesa e
ao cuidado da vida, particularmente a dos mais vulneráveis e excluídos.
***
Celebrar
o ‘Dia da Criação’ e o ‘Tempo da Criação’, como buscar soluções
conjuntas para superar a crise sanitária mundial, que redunda em crise
multifocal – económica, social, política, ética e espiritual – tem um inimigo:
o espezinhamento dos direitos humanos.
Neste
campo, é de referir que a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) alertou, no ‘II Dia
Internacional das Vítimas de Violência baseada na Crença ou Religião’, que
ocorreu a 22 de agosto, para o “crescimento do terrorismo internacional” com
base na religião e para a “tendência alarmante” de ataques a edifícios e
símbolos religiosos.
Na informação divulgada pelo secretariado português da AIS, o
seu presidente executivo Thomas Heine-Geldern afirma que “o ódio desenfreado
contra grupos religiosos gera violência e destruição deveria ser repudiado
publicamente”, tendo os governos “a obrigação de proteger as vítimas” e
processar aqueles que praticam atos de violência”.
Com efeito, segundo a AIS, “a situação só piorou”. Por isso,
a esta fundação pontifícia quis “recordar e homenagear” as vítimas da
perseguição religiosa que foram esquecidas, este ano. Entre outros, recordou o
seminarista Michael Nnadi, assassinado a 1 de fevereiro, na Nigéria, Philippe
Yarga, catequista de Pansi, no Burkina Faso, morto a 16 de fevereiro com mais
24, e Joseph Nadeem, cristão paquistanês que morreu a 29 de Junho, “assassinado
por um vizinho simplesmente por desprezo religioso e social”. E recordou
vítimas de perseguição religiosa que ainda estão vivas, especialmente as que
foram raptadas, como a Irmã Gloria Narvaez, no Mali, e a jovem Leah Sharibu, na
Nigéria”.
O presidente executivo da AIS sublinhou que as “notícias
constantes” de atos de violência e assédio “com base na religião em países como
o Paquistão, Nigéria ou Índia continuam a ser motivo de grande preocupação”
para esta fundação pontifícia. E frisou que “embora muitas vezes haja motivos
sociais e étnicos, não podemos fechar os olhos a esta realidade”.
Thomas Heine-Geldern questionou a falta de “resposta global
aos avisos, ignorados por tanto tempo, de células terroristas do Estado
Islâmico a atuar em Moçambique”, onde “mais de 200.000 pessoas tiveram de
fugir”, e apontou que os cristãos e os yazidi no Iraque “sofreram uma horrenda
perseguição nos últimos anos” e continuam a ser “ameaçados na sua existência”.
Na verdade, “os efeitos do terrorismo com base na religião internacional são
devastadores”. Por isso, os líderes religiosos “têm de desempenhar um papel
crucial” na construção da nação, orientada para a paz e a justiça e é
necessário “pôr um fim aos preconceitos sociais e, através do diálogo, acabar
com os medos daqueles que são diferentes”.
Nesse sentido, o Papa Francisco, na sua conta
@pontifex_pt, na rede social ‘Twitter’, escreveu que que “Deus não quer que o
Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas”.
Assim, para o presidente executivo da AIS, ‘Dia Internacional das Vítimas de Violência
baseada na Crença ou Religião’ “é um marco na direção certa” mas alerta que
é preciso “reconhecer que a situação mundial não está a melhorar”.
Enfim, lutar pela sanidade da Terra, preservar a integridade
da Criação, desenvolvê-la e rejubilar com ela, mas acabar com todas as formas
de atropelo à dignidade humana!
2020.08.25 – Louro de Carvalho
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