sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Francisco nomeou seis mulheres para o Conselho da Economia

Como noticia o Vatican News, o Papa Francisco nomeou, no dia 6 de agosto, 13 novos membros do Conselho para a Economia, organismo de supervisão da atividade financeira e da gestão das estruturas da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano, tendo transitado do elenco anterior apenas dois cardeais, um dos quais é o Cardeal Coordenador que preside, o cardeal alemão Reinhard Marx, Arcebispo de Munique e Freising, e o outro é o cardeal sul-africano Wilfrid Foix Napier, Arcebispo de Durban.

O Conselho tem na sua composição 8 cardeais, que refletem a universalidade da Igreja, e 7 peritos internacionais. Para lá dos dois referidos, o Santo Padre nomeou os seguintes: Dom Peter Erdo, Arcebispo de Budapeste, na Hungria; Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, no Brasil; Dom Gerald Cyprien Lacroix, Arcebispo do Quebeque, no Canadá; Dom Joseph William Tobin, Arcebispo de Newark, nos EUA; Dom Anders Arborelius, Bispo de Estocolmo, na Suécia; e Dom Giuseppe Petrocchi, Arcebispo de Aquila, na Itália. Já o painel dos peritos de várias nacionalidades e áreas profissionais é constituído por sete leigos, dos quais seis são mulheres. Os seus nomes são: Charlotte Kreuter-Kirchhof, Eva Castillo Sanz, Leslie Jane Ferrar, Marija Kolak, María Concepción Osákar Garaicoechea, Ruth Maria Kelly e Alberto Minali. E, a atestar a competência financeira e a reconhecida profissionalidade destes peritos/as, o Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, de 6 de agosto, inclui uma nota biográfica de cada um dos novos membros leigos do Conselho de Economia.

O Sumo Pontífice Francisco, pela Carta Apostólica sob a forma de Motu Proprio, Fidelis “Dispensator Prudens”, de 24 de fevereiro de 2014, instituiu o Conselho para a Economia, presidido por um Cardeal Coordenador, com a função de supervisionar a gestão económica e vigiar sobre as estruturas e as atividades administrativas e financeiras dos Dicastérios da Cúria Romana, das Instituições ligadas à Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano. E estabeleceu que a sua composição fosse de 15 membros, 8 dos quais escolhidos de entre os Cardeais e Bispos, de modo a refletir a universalidade da Igreja, e sete especialistas leigos de várias nacionalidades, com competência financeira e reconhecida profissionalidade.

Pelo mesmo documento, o Papa instituiu a Secretaria para a Economia – dividida em duas secções, uma para o “controlo e vigilância” e outra administrativa – como Dicastério da Cúria Romana, nos termos da Constituição Apostólica Pastor Bonus, a qual, levando em conta quanto for estabelecido pelo Conselho para a Economia, responde diretamente ao Santo Padre e efetua o controlo económico e a vigilância sobre os dicastérios da Cúria Romana, as Instituições ligadas à Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano, bem como sobre as políticas e os procedimentos relativos às aquisições e à adequada colocação dos recursos humanos, no respeito das competências próprias de cada um daqueles entes. Ou seja, a competência deste organismo estende-se a tudo o que, direta ou indiretamente entre no âmbito em questão. E ficou estabelecido que a Secretaria para a Economia é presidida por um Cardeal Prefeito (agora um padre jesuíta), que colabora com o Secretário de Estado, com a coadjuvação dum Secretário-Geral.

Por último, o Motu Proprio estabelece que haja o Auditor Geral nomeado pelo Santo Padre, com a função de realizar a auditoria contável dos entes acima discriminados.

Nos termos do n.º 8 do Motu Proprio, o  Cardeal Prefeito procedeu, com critérios de “prudência e eficiência”, à elaboração dos Estatutos ad experimentum do Conselho para a Economia, da Secretaria para a Economia e do cargo do Auditor Geral, sujeitou-os à aprovação do Santo Padre a 22 de fevereiro de 2015 e fê-los publicar, publicação que ocorreu em março deste ano, e que sofreram algumas alterações, sobretudo no caso da Secretaria para a Economia, com a Carta Apostólica sob a forma de Motu ProprioOs Bens Temporais”, de 9 de julho de 2016.    

Nos últimos tempos, o Papa tinha alterado a liderança da Secretaria para a Economia. Assim, por meio de um rescrito assinada pelo Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, a 11 de maio deste ano, Francisco decidiu que o Centro de Processamento de Dados, encarregado de gerenciar e administrar os bancos de dados de investimentos e movimentos financeiros e que dependia da Administração do Património da Sé Apostólica, passasse para a Secretaria de Economia. No documento, explicava-se que esse movimento dentro da Cúria Romana ocorreu pela “necessidade de garantir uma organização mais racional das informações económicas e financeiras da Santa Sé”. Por outro lado, intentava-se “informatizar os modelos e procedimentos correspondentes, para garantir a simplificação das atividades e a eficácia dos controlos, já que são fundamentais para o correto funcionamento dos órgãos da Cúria Romana”.

A mudança pela qual Secretaria para a Economia adquiriu, assim, maiores competências no controlo das finanças do Vaticano entrou em vigor a 20 de maio, após a publicação do rescrito no L’Osservatore Romano. E a transferência ocorreu por Protocolo de Entendimento assinado entre a Administração do Património da Sé Apostólica (APSA) e a Secretaria para a Economia, representadas pelo Presidente da Primeira, Dom Nunzio Galantino, e pelo Prefeito da segunda, Padre Juan Antonio Guerrero, S. J.

E, por falar no Padre Juan Antonio Guerrero, é de recordar que o Santo Padre nomeara ad quinquennium, a 14 de novembro de 2019, o jesuíta espanhol como Prefeito da Secretaria para a Economia da Santa Sé, cargo que se encontrava vago após a saída do cardeal australiano George Pell. O Padre Guerrero, que foi missionário em Moçambique, disse então ao Vatican News:

Como jesuíta é uma alegria receber uma missão diretamente do Papa. É um modo privilegiado para realizar a minha vocação.”.

Segundo a agência Ecclesia, o Papa nomeou, a 4 deste mês de agosto, ad quinquennium como secretário-geral da Secretaria para a Economia o especialista espanhol Maximino Caballero, até agora nos quadros da ‘Baxter Healthcare Inc.’, nos Estados Unidos da América, e que passa a integrar a equipa liderada pelo Padre Guerrero, assistindo-o na coordenação e na administração da secção para o controlo e a vigilância.

Ao Vatican News, Maximino Caballero declarou que “de todas as oportunidades de carreira que poderia ter imaginado, esta é uma em que eu nunca sequer pensei, remotamente”. O convite partiu do amigo de infância, pois Caballero e Guerrero são naturais da mesma localidade. E o agora número dois da Secretaria para a Economia sente que “poder colaborar com a Santa Sé, ao serviço do Santo Padre, é uma honra e uma grande responsabilidade” esperando, com os seus ‘talentos’, ou seja, a experiência e trabalho, poder “com eles poder fazer a minha parte e colaborar para a transparência económica da Santa Sé”.

***

Não sendo este o único nem o primeiro, é, no entanto, um organismo da Santa Sé que releva de forma eminente o papel dos leigos na Igreja e, em especial, das mulheres leigas com base na competência e no profissionalismo, sem pruridos de género. Uma postura a saudar!

2020.08.07 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário