sexta-feira, 3 de julho de 2020

No Vaticano, AIF sente-se preparada para a avaliação de Moneyval


Quem o assegura, com base nos numerosos progressos no sistema de controlo das atividades financeiras das entidades do Vaticano, é Carmelo Barbagallo, presidente da Autoridade de Informação Financeira da Santa Sé e da Cidade do Vaticano (AIF), que falou, em entrevista ao Vatican News, sobre as realizações sob a sua gestão.
O Presidente da AIF, que está à testa deste organismo desde novembro de 2019, após 40 anos no Banco da Itália, documenta os aludidos progressos com o Relatório de 2019 e com o trabalho do 1.º semestre de 2020.
Este auditor oficial de contas, de 65 anos, casado e pai de dois filhos, aposentou-se, em junho de 2019, do Banco da Itália, onde trabalhou durante 40 anos como chefe do Departamento de vigilância bancária e financeira.
Na sua apresentação do Relatório de 2019, lembra que, recém-chamado ao delicado encargo pelo Papa em novembro passado, afirmara ter a certeza de que “a AIF teria podido dar a própria contribuição para que continuassem a ser reconhecidos os valores de seriedade e de transparência dos movimentos financeiros da Santa Sé”. Passados pouco mais de 6 meses de trabalho, garante que os resultados alcançados “atestam o fundamento desses compromissos”. Prestando contas do que foi feito em 2020, destaca o alto número de informações trocadas com os escritórios de informações financeiras de outros países e os protocolos de intenção assinados com outras autoridades da Santa Sé, da Secretaria para a Economia ao Promotor de Justiça. E releva que a AIF promoveu, para muitas entidades do Vaticano, cursos de formação para dirigentes e funcionários, com vista à melhoria da capacidade de “identificar a origem e o destino dos fundos movimentados”, fortalecendo assim os “anticorpos” desses escritórios “diante das potenciais ameaças de lavagem de dinheiro e de financiamento ao terrorismo às quais poderiam estar expostos, não raramente inconscientemente”.
No quadro das tarefas da AIF (criada em 2010 por Bento XVI e tendo começado a operar em 2011), o presidente destaca a execução de duas tarefas fundamentais: o combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo; e a vigilância prudencial sobre entidades que realizam profissionalmente atividades financeiras e, portanto, sobre o IOR (Instituto para as Obras de Religião).
Não escamoteia a investigação do judiciário do Vaticano à AIF em outubro de 2019, sobre 64 suspeitas, no âmbito da qual “foram realizadas buscas nos locais da Autoridade e suspenso o diretor”. E, como consequências, refere a substituição do então o presidente e de dois dos outros 4 membros do conselho de direção. Mais precisa que “a investigação não dizia respeito à Autoridade como tal, mas a um único membro, em relação ao qual, até prova contrária, prevalece a presunção de inocência”. E foi, no quadro da remediação que Francisco nomeou Barbagallo como presidente, em 27 de novembro de 2019, e o cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, em 15 de abril de 2020, nomeou o novo diretor e o vice-diretor, “expoentes de alto nível e com grande experiência”. Por fim, o Papa nomeou para o conselho de diretores Antonella Sciarrone Alibrandi, vice-reitora da Universidade Católica do Sagrado Coração, que saberá dar, juntamente com os demais membros do Conselho, “uma importante contribuição para a definição das estratégias e diretrizes da AIF”.
Todavia, as consequências não se ficaram pelas mudanças na direção do organismo. Na verdade, as investigações e buscas determinaram 4 medidas preventivas (incluindo bloqueio de contas) e concluíram, em novembro de 2019, pela suspensão da AIF do circuito de Egmont, o fórum que reúne as unidades de informações financeiras em todo o mundo, tendo sido readmitida após dois meses. Segundo Barbagallo, a suspensão “foi causada pela dificuldade – no contexto da temporária falta dos expoentes da AIF – de fornecer ao mesmo circuito informações imediatas em mérito aos documentos apreendidos e às circunstâncias da apreensão e conformidade, além do respeito, também em perspetiva, dos padrões internacionais de segurança das informações de inteligência”. E a readmissão deveu-se “às informações e às garantias fornecidas pela AIF”, tendo sido determinante “a assinatura de um protocolo de intenções entre a AIF e o Gabinete do Promotor de Justiça (11 de dezembro de 2019), que assegura, entre outras coisas, às contrapartes internacionais que “a eventual apreensão de documentação e informações reservadas ocorrerá nas modalidades coerentes com os padrões de segurança das informações de inteligência estabelecidos pelo circuito Egmont”.
Sobre o 1.º semestre de trabalho à frente da AIF em 2020, não lhe cabendo o julgamento, menciona alguns factos: a nível internacional, o restabelecimento da “plena fluidez dos circuitos de informação”; a nível interno, a assinatura de “quatro importantes protocolos de intenção com a Secretaria de Estado, com a Secretaria para a Economia, com o Gabinete do Promotor de Justiça, com a Gendarmaria e, por fim, com o Gabinete do Auditor Geral”, que “permitirão tornar ainda mais intensas e frutuosas as ocasiões de colaboração com essas Autoridades, já particularmente profícuas, bem como o fortalecimento do conjunto de funcionários e a reorganização dos escritórios, com a nomeação de dois novos responsáveis. Por outro lado, “a atividade de vigilância prudencial no IOR valer-se-á dos resultados duma aprofundada verificação em fase de conclusão e será apoiada por específicas guias operacionais”.
Na forja estão, e serão publicados em breve, o novo estatuto e o primeiro regulamento interno da AIF, que virão a coroar “a intensa atividade de fortalecimento da Autoridade conduzida nestes meses. Na estrutura de governança, o novo estatuto confirmará o papel do conselho de administração e sublinhará a capacidade de proposta do presidente na elaboração e controlo da estratégia da Autoridade, será fortalecido o papel do diretor, responsável, em concordância com o vice-diretor, da eficácia e eficiência das atividades da Autoridade, permitirá a revisão da organização interna para garantir um melhor funcionamento das atividades dos vários escritórios e procederá à mudança do nome da AIF para ASIF (Autoridade de Supervisão ​​e Informação Financeira), para valorizar as duas ‘almas’ da atividade, de inteligência e de supervisão, entendida como vigilância e regulamentação. Por seu turno, o regulamento interno especificará algumas regras de funcionamento da Autoridade “numa lógica de boa e saudável administração”.
Por último, Barbagallo refere que a avaliação da Moneyval em setembro é “particularmente importante para a jurisdição vaticana”, pois abrangerá a “totalidade da estrutura regulatória em matéria de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, como sua efetiva implementação”. E o Vaticano está preparado – com baixo risco de financiamento do terrorismo e capaz da prevenir a evação fiscal – e mostrará “os múltiplos progressos realizados no sistema de controlos e as premissas hoje estabelecidas para sua consolidação estável”.
Enfim, as finanças e a economia vaticanas pretendem estar acima de toda a suspeita. Oxalá!
2020.07.03 – Louro de Carvalho

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