domingo, 26 de julho de 2020

Adição de novos títulosinvocação à ladainha Lauretana


Por carta do passado dia 20 de junho, Memória do Imaculado Coração da Virgem Santa Maria, o Cardeal Robert Sarah e o Arcebispo Arthur Roche, respetivamente Prefeito e Secretário da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, comunicaram aos Presidentes das Conferências Episcopais que “o Sumo Pontífice Francisco, acolhendo benignamente as petições que lhe foram dirigidas, quis dispor que, doravante, no formulário das Ladainhas da Virgem Santa Maria, chamadas ‘Lauretanas’, fossem inseridas as invocações ‘Mater misericordiae’, ‘Mater spei’ e ‘Solacium migrantium’.”.
Mais foi determinado que a invocação ‘Mater misericordiae(Mãe de misericórdia) se insere a seguir a ‘Mater Ecclesiae(Mãe da Igreja), que vinha a seguir a ‘Mater Christi’; a invocação ‘Mater spei(Mãe da esperança) se insere a seguir a ‘Mater divinae gratiae(Mãe da divina graça); e a invocação ‘Solacium migrantium(Conforto dos migrantes) se insere a seguir a ‘Refugium peccatorum’.  
Como justificação desta medida papal, a referida carta evoca elementos do mistério da Igreja e da sua ligação à Mãe de Cristo, sendo Maria imagem, protótipo, mãe e membro preponderante da mesma Igreja peregrina na Terra a caminho da pátria celeste. Com efeito, diz a carta, “peregrina rumo à Santa Jerusalém celeste para gozar da comunhão inseparável com Cristo, seu Esposo e Salvador, a Igreja caminha pelas sendas da história confiando-se Àquela que acreditou na Palavra do Senhor”. E, como, segundo os Atos dos Apóstolos, os discípulos aprenderam, desde os alvores da Igreja, a louvar a ‘bendita entre as mulheres’ e a confiar na sua maternal intercessão”, de tal aprendizagem intensificada ao longo da História, resultaram inumeráveis “títulos e invocações que a piedade cristã, no decurso dos séculos, reservou à Virgem Maria, via principal e certa para ir ao encontro de Cristo”. E, “no tempo atual, com tantos motivos de incerteza e de desorientação, o povo de Deus recorre a Ela numa devoção particularmente sentida, repleta de afeto e confiança”.   
Além disso, a adição das invocações em causa refletem elementos fundamentais do pontificado de Bergoglio: a misericórdia, que obriga a Igreja a estar em saída às periferias existenciais e a armar-se em hospital de campanha para a cura das feridas de todos os que sofrem; a esperança, a virtude singular do caminho comum, de modo que ninguém fique para trás; e os migrantes, que motivaram a primeira viagem de Francisco para fora de Roma e constituem o sinal da insatisfação coletiva em muitos lugares deste universo geográfico global, marcado pela guerra, pela exploração, pelo esbulho e pela fome.
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A palavra ladainha (em latim, “litania”) vem do termo grego “litaneía”, que deriva de “litê” a significar oração, súplica, petição, enfim, súplica séria e cordial feita pelo suplicante (“lítanos”). Santo Irineu, discípulo de São Policarpo de Esmirna, testemunha que as ladainhas já estavam em uso no seu tempo e denomina-as como desfile de súplicas. E Santo Ambrósio faz retroceder a sua origem aos tempos apostólicos corroborando a sua opinião com a autoridade de Paulo que, escrevendo a Timóteo (1Tm 2,1), se expressou assim: “Conjuro-vos antes de tudo que se façam súplicas, orações, petições e ações de graças por todos os homens”. Era sancionar as ladainhas e exortar a recitá-las.
Há vários tipos de ladainhas – de Todos os Santos (muito utilizada nas procissões, na Vigília Pascal e na ordenação de diácono, de presbítero e de bispo, bem como nalgumas profissões religiosas), do Sagrado Coração de Jesus, do Santo Nome de Jesus, da Virgem Maria, de São José… –, mas a mais divulgada é a chamada ladainha lauretana em louvor da Virgem Maria, de cuja história se fala a seguir.
A notícia do transporte milagroso da casa em que morou Nossa Senhora, na Palestina, para a cidade de Loreto (Itália), em 1291, espalhou-se rapidamente, dando início a numerosas peregrinações. Com o correr do tempo, uma série de súplicas a Nossa Senhora foi sendo composta pelos peregrinos, que A invocavam pelos seus principais títulos de glória.
Posteriormente, essa ladainha era cantada diariamente no Santuário, e os peregrinos que de lá voltavam popularizaram-na em todo o orbe católico. Chama-se, pois, lauretana por ter a sua origem em Loreto e foi sistematizada após o termo a Idade Média, merecendo aprovação do Papa Sixto V.
Alguns dos seus títulos/invocações atuais foram acrescentados solenemente à ladainha original por uma série de Papas ao longo da história. Assim, em 1854, o Beato Pio IX acrescentou ‘Rainha concebida sem pecado original’; em 1903, São Pio X acrescentou ‘Mãe do bom conselho’; em 1917, Bento XV acrescentou ‘Rainha da paz’; em 1950, o Venerável Pio XII acrescentou ‘Rainha assunta ao céu’; em 1964, São Paulo VI acrescentou “Mãe da Igreja”; e, em 1995, São João Paulo II acrescentou ‘Rainha da família’. E Francisco, duma assentada, adicionou três invocações bem pertinentes.
Outras invocações, porém, são agregadas para honrar a proteção de Nossa Senhora a alguma Ordem religiosa, como fazem os carmelitas, que rezam a ladainha lauretana carmelitana, com mais 4 invocações. Mas o corpo central da ladainha permanece o mesmo.
No início e no fim, as invocações não se dirigem a Nossa Senhora, mas a Cristo e à Santíssima Trindade, pois tudo em Nossa Senhora nos conduz a seu Filho e, por meio d’Ele, à Santíssima Trindade, nosso fim último. Maria Santíssima é o melhor caminho para se chegar a Cristo.
Após essa introdução da ladainha, seguem-se três invocações, nas quais pronunciamos o nome da Virgem (Santa Maria) e lembramos dois dos seus principais privilégios: o ser Mãe de Deus e Virgem das virgens. A seguir, há um grupo de 14 invocações para honrarmos a Maternidade de Nossa Senhora e 6 para honrar a sua Virgindade. Em seguida, 13 figuras simbólicas; 5 invocações de sua misericórdia à maneira da de Cristo e, finalmente, 13 invocações a Ela enquanto Rainha gloriosa e poderosa. Por fim, uma tríplice invocação a Cristo Cordeiro de Deus, um versículo mariano e cristológico e uma oração ao Pai.
Leão XIII prescreveu que, no mês de outubro, o Rosário fosse terminado com a Ladainha de Nossa Senhora, facto que levou a que a Ladainha, além de continuar a ser uma oração autónoma, fosse introduzida como um apêndice do Rosário. 
Têm, assim, ao dispor os católicos e devotos de Maria um texto mais atualizado e rico de espiritualidade orante, como guia de diálogo com a Mãe, cuja utilização será de bom proveito.
2020.07.26 – Louro de Carvalho

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