Publicado,
no Vaticano, no dia 25 de junho, o novo Diretório
Geral para a Catequese, herdeiro do Diretório
Geral para a Catequese, de 1971 e do Diretório
Geral para a Catequese, de 1997 (para lá do Catecismo da Igreja
Católica, de 1992 e de 1997 [texto definitivo], e do respetivo compêndio, de
2005), o documento, elaborado pelo
Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, fora aprovado pelo
Santo Padre a 23 de março, dia da memória litúrgica de São Turíbio de
Mogrovejo, que, no século XVI, deu um forte impulso à evangelização e à
catequese.
A
peculiaridade do novo Diretório é a estreita ligação entre a Evangelização e a
Catequese, que destaca a íntima união entre o primeiro anúncio e o
amadurecimento da fé, à luz da cultura do encontro. Como se lê no texto, tal
peculiaridade torna-se mais necessária e pertinente ante dois desafios para a
Igreja, na época contemporânea: “a cultura digital e a globalização da
cultura”.
O
documento articula os conteúdos numa estrutura “renovada e sistemática”, que se
estende por mais de 300
páginas, divididas em 3 partes e 12 capítulos, recordando que “todo o batizado
é um discípulo missionário” e que “são urgentes esforços e responsabilidades,
necessários para encontrar novos instrumentos de linguagem para comunicar a
fé”.
A
primeira parte, A catequese na missão evangelizadora da Igreja, oferece os
fundamentos de todo o percurso, vincando que a Catequese não se limita a mero
momento de crescimento mais harmonioso da fé, mas “contribui para gerar a
própria fé e permite que se descubra a sua grandeza e a sua credibilidade”, e
postulando a adequada formação dos
catequistas. A
segunda parte, O processo da catequese, apresenta critérios teológicos para o
anúncio da mensagem evangélica, “tornando-os mais adequados às exigências da
cultura contemporânea”, e acentua a importância
da família como parte integrante e ativa da evangelização. E a terceira parte, A
catequese nas Igrejas particulares, frisa que cada comunidade cristã é
convidada a “confrontar-se com a complexidade do mundo contemporâneo” e faz ressaltar o papel das paróquias, definido como
“exemplo de apostolado comunitário: catequese criativa e ensino da religião”.
São três os grandes
princípios basilares da ação catequética: “testemunho, misericórdia e
diálogo”. Testemunho, porque, na verdade, “a Igreja não cresce por
proselitismo, mas por atração”; misericórdia, pela qual “a
verdadeira catequese torna crível a proclamação da fé”; e diálogo,
“livre e gratuito, que não obriga, mas, partindo do amor, contribui para a
construção da paz”. Assim, “a catequese ajuda os cristãos a dar pleno sentido à
sua existência”.
Outros aspetos
essenciais da catequese, laboratório de diálogo, são “ecumenismo e
diálogo inter-religioso com o Judaísmo e o Islamismo”. Assim, a catequese deve
“despertar o desejo de unidade” entre os cristãos, para ser “um instrumento
crível de evangelização”. Quanto ao Judaísmo, convida-se à manutenção dum diálogo
para combater o antissemitismo e promover a paz e a justiça. E, ante o
fundamentalismo violento, que, às vezes, se defronta com o Islamismo, a Igreja
exorta a favorecer o conhecimento e encontro com os muçulmanos. E, num contexto
de pluralismo religioso, a Catequese deve “aprofundar e fortalecer a identidade
dos fiéis”, promovendo o impulso missionário, mediante o testemunho e um
diálogo “afável e cordial”.
O texto reflete
ainda sobre a “cultura digital”, hoje “natural”, que mudou a linguagem e as
hierarquias dos valores em escala global. Tal cultura é rica de aspetos
positivos, apesar do seu lado sombrio, que pode causar solidão, manipulação,
violência, cyber-bullying, preconceito, ódio. Aqui, os jovens devem
ser acompanhados a buscar a sua liberdade interior, para se diferenciarem do
“rebanho social”. E, além da cultural digital, o texto propõe que a ciência e a
tecnologia sejam orientadas para melhorar as condições de vida da família
humana; trata a bioética, com base no pressuposto de que “nem tudo o que é
tecnicamente possível é moralmente admissível”, partindo do princípio da
sacralidade e inviolabilidade da vida humana, em contraste com a cultura da
morte; aconselha o discernimento entre intervenções, manipulações terapêuticas
e eugenia; e sugere a abordagem, na perspetiva de fé, da sexualidade, “como
resposta à chamada original de Deus”.
Enfim, o
documento faz referência a uma “profunda conversão ecológica”, promovida por
uma catequese em defesa da Criação, do bem comum, dos direitos dos mais fracos.
***
Na conferência de imprensa de apresentação, Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho
para a promoção da Nova Evangelização, vincou a urgência duma ‘conversão
pastoral’ a fim de “libertar a catequese de certos laços que a impedem de ser eficaz”,
observando que, “na era digital, vinte anos podem ser comparados, sem exageros,
a pelo menos meio século”.
O orador
explicitou que o documento nasceu da necessidade considerar, “com grande
realismo, o novo que está a surgir, com a tentativa de propor uma leitura que
envolvesse a catequese”. Por isso, o Diretório “não só apresenta os problemas
inerentes à cultura digital, mas também sugere caminhos a serem tomados para
que a catequese se torne uma proposta que encontre o interlocutor capaz de
compreendê-la e ver sua adequação com seu próprio mundo”.
Sublinhando que “viver cada
vez mais a dimensão sinodal faz com que não esqueçamos os últimos Sínodos que a
Igreja viveu”, Fisichella mencionou em particular o Sínodo sobre a Nova Evangelização e transmissão da fé, de 2012, com
a consequente Exortação Apostólica do Papa Francisco Evangelii gaudium,
e o 25.º aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica (a 11 de
setembro de 2017), que afeta (desde 2013) a competência do dicastério a que preside.
Observando que “a
evangelização ocupa o primeiro lugar na vida da Igreja e no ensinamento diário
do Papa Francisco”, o prelado sustentou que “a catequese deve estar intimamente
ligada à obra de evangelização e não pode ser separada dela”, já que “precisa de
assumir em si mesma as próprias caraterísticas da evangelização, sem cair na
tentação de se tornar um substituto para ela ou de querer impor-lhe as suas
próprias premissas pedagógicas”. A partir daí, ressalta o primado do “primeiro anúncio”
e o vínculo entre evangelização e catecumenato, “como experiência do perdão
oferecido e da nova vida de comunhão com Deus”.
Para
Fisichella, a ‘conversão pastoral” libertará a catequese de certos laços que a
impedem de ser eficaz”. E os laços que aponta são: o esquema escolar, pelo qual a catequese de Iniciação Cristã é vivida
no paradigma da escola; a mentalidade com
que a catequese é feita a fim de receber um sacramento; e a instrumentalização do sacramento por
causa da pastoral, levando a que os tempos do sacramento da Confirmação são estabelecidos
“pela estratégia pastoral de não perder o pequeno rebanho de jovens que não
abandonaram a paróquia e não pelo significado que o sacramento possui em si mesmo
na economia da vida cristã”.
***
Em Portugal o documento orientador da ação catequética das
comunidades, sublinhando as possibilidades de “interação” com as redes sociais
e plataformas digitais, que alteram “a própria abordagem da experiência fé”, será
editado pelo Secretariado Nacional da
Educação Cristã, com apresentação da obra nas Jornadas Nacionais de Catequistas. Aguardemos!
2020-07.02
– Louro de Carvalho
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