quinta-feira, 2 de julho de 2020

Para mostrar a atualidade do Evangelho utilizando os novos meios


Publicado, no Vaticano, no dia 25 de junho, o novo Diretório Geral para a Catequese, herdeiro do Diretório Geral para a Catequese, de 1971 e do Diretório Geral para a Catequese, de 1997 (para lá do Catecismo da Igreja Católica, de 1992 e de 1997 [texto definitivo], e do respetivo compêndio, de 2005), o documento, elaborado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, fora aprovado pelo Santo Padre a 23 de março, dia da memória litúrgica de São Turíbio de Mogrovejo, que, no século XVI, deu um forte impulso à evangelização e à catequese.
A peculiaridade do novo Diretório é a estreita ligação entre a Evangelização e a Catequese, que destaca a íntima união entre o primeiro anúncio e o amadurecimento da fé, à luz da cultura do encontro. Como se lê no texto, tal peculiaridade torna-se mais necessária e pertinente ante dois desafios para a Igreja, na época contemporânea: “a cultura digital e a globalização da cultura”.
O documento articula os conteúdos numa estrutura “renovada e sistemática”, que se estende por mais de 300 páginas, divididas em 3 partes e 12 capítulos, recordando que “todo o batizado é um discípulo missionário” e que “são urgentes esforços e responsabilidades, necessários para encontrar novos instrumentos de linguagem para comunicar a fé”.
A primeira parte, A catequese na missão evangelizadora da Igreja, oferece os fundamentos de todo o percurso, vincando que a Catequese não se limita a mero momento de crescimento mais harmonioso da fé, mas “contribui para gerar a própria fé e permite que se descubra a sua grandeza e a sua credibilidade”, e postulando a adequada formação dos catequistas. A segunda parte, O processo da catequese, apresenta critérios teológicos para o anúncio da mensagem evangélica, “tornando-os mais adequados às exigências da cultura contemporânea”, e acentua a importância da família como parte integrante e ativa da evangelização. E a terceira parte, A catequese nas Igrejas particulares, frisa que cada comunidade cristã é convidada a “confrontar-se com a complexidade do mundo contemporâneo” e faz ressaltar o papel das paróquias, definido como “exemplo de apostolado comunitário: catequese criativa e ensino da religião”.
São três os grandes princípios basilares da ação catequética: “testemunho, misericórdia e diálogo”. Testemunho, porque, na verdade, “a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração”; misericórdia, pela qual “a verdadeira catequese torna crível a proclamação da fé”; e diálogo, “livre e gratuito, que não obriga, mas, partindo do amor, contribui para a construção da paz”. Assim, “a catequese ajuda os cristãos a dar pleno sentido à sua existência”.
Outros aspetos essenciais da catequese, laboratório de diálogo, são “ecumenismo e diálogo inter-religioso com o Judaísmo e o Islamismo”. Assim, a catequese deve “despertar o desejo de unidade” entre os cristãos, para ser “um instrumento crível de evangelização”. Quanto ao Judaísmo, convida-se à manutenção dum diálogo para combater o antissemitismo e promover a paz e a justiça. E, ante o fundamentalismo violento, que, às vezes, se defronta com o Islamismo, a Igreja exorta a favorecer o conhecimento e encontro com os muçulmanos. E, num contexto de pluralismo religioso, a Catequese deve “aprofundar e fortalecer a identidade dos fiéis”, promovendo o impulso missionário, mediante o testemunho e um diálogo “afável e cordial”.
O texto reflete ainda sobre a “cultura digital”, hoje “natural”, que mudou a linguagem e as hierarquias dos valores em escala global. Tal cultura é rica de aspetos positivos, apesar do seu lado sombrio, que pode causar solidão, manipulação, violência, cyber-bullying, preconceito, ódio. Aqui, os jovens devem ser acompanhados a buscar a sua liberdade interior, para se diferenciarem do “rebanho social”. E, além da cultural digital, o texto propõe que a ciência e a tecnologia sejam orientadas para melhorar as condições de vida da família humana; trata a bioética, com base no pressuposto de que “nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível”, partindo do princípio da sacralidade e inviolabilidade da vida humana, em contraste com a cultura da morte; aconselha o discernimento entre intervenções, manipulações terapêuticas e eugenia; e sugere a abordagem, na perspetiva de fé, da sexualidade, “como resposta à chamada original de Deus”.
Enfim, o documento faz referência a uma “profunda conversão ecológica”, promovida por uma catequese em defesa da Criação, do bem comum, dos direitos dos mais fracos.
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Na conferência de imprensa de apresentação, Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a promoção da Nova Evangelização, vincou a urgência duma ‘conversão pastoral’ a fim de “libertar a catequese de certos laços que a impedem de ser eficaz”, observando que, “na era digital, vinte anos podem ser comparados, sem exageros, a pelo menos meio século”.
O orador explicitou que o documento nasceu da necessidade considerar, “com grande realismo, o novo que está a surgir, com a tentativa de propor uma leitura que envolvesse a catequese”. Por isso, o Diretório “não só apresenta os problemas inerentes à cultura digital, mas também sugere caminhos a serem tomados para que a catequese se torne uma proposta que encontre o interlocutor capaz de compreendê-la e ver sua adequação com seu próprio mundo”. 
Sublinhando que “viver cada vez mais a dimensão sinodal faz com que não esqueçamos os últimos Sínodos que a Igreja viveu”, Fisichella mencionou em particular o Sínodo sobre a Nova Evangelização e transmissão da fé, de 2012, com a consequente Exortação Apostólica do Papa Francisco Evangelii gaudium, e o 25.º aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica (a 11 de setembro de 2017), que afeta (desde 2013) a competência do dicastério a que preside.
Observando que “a evangelização ocupa o primeiro lugar na vida da Igreja e no ensinamento diário do Papa Francisco”, o prelado sustentou que “a catequese deve estar intimamente ligada à obra de evangelização e não pode ser separada dela”, já que “precisa de assumir em si mesma as próprias caraterísticas da evangelização, sem cair na tentação de se tornar um substituto para ela ou de querer impor-lhe as suas próprias premissas pedagógicas”. A partir daí, ressalta o primado do “primeiro anúncio” e o vínculo entre evangelização e catecumenato, “como experiência do perdão oferecido e da nova vida de comunhão com Deus”.
Para Fisichella, a ‘conversão pastoral” libertará a catequese de certos laços que a impedem de ser eficaz”. E os laços que aponta são: o esquema escolar, pelo qual a catequese de Iniciação Cristã é vivida no paradigma da escola; a mentalidade com que a catequese é feita a fim de receber um sacramento; e a instrumentalização do sacramento por causa da pastoral, levando a que os tempos do sacramento da Confirmação são estabelecidos “pela estratégia pastoral de não perder o pequeno rebanho de jovens que não abandonaram a paróquia e não pelo significado que o sacramento possui em si mesmo na economia da vida cristã”.
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Em Portugal o documento orientador da ação catequética das comunidades, sublinhando as possibilidades de “interação” com as redes sociais e plataformas digitais, que alteram “a própria abordagem da experiência fé”, será editado pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã, com apresentação da obra nas Jornadas Nacionais de Catequistas. Aguardemos!
2020-07.02 – Louro de Carvalho

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