Depois da
China, o Ocidente é o maior “viveiro” da covid-19. Trata-se duma pandemia que se
vem estendendo nas regiões do hemisfério sul, especialmente na América Latina,
mas também na África, em áreas que são, para a Igreja, terras de missão onde a
escassez de meios, aliada ao novo coronavírus criam situações muito difíceis.
Por isso, Francisco instituiu, a 6 de abril, para ajudar nessas áreas milhões
de pessoas vulneráveis, um fundo de emergência nas Pontifícias Obras
Missionárias, com uma contribuição inicial de 750 mil dólares. E as Igrejas que
podem contribuirão através das Pontifícias Obras Missionárias (POM). É uma rede para ajudar.
O cardeal Tagle, prefeito
da Congregação para a Evangelização dos Povos, muito grato por esta decisão
papal, disse que “o Santo Padre está a chamar toda a vasta rede da Igreja para
enfrentar os desafios que nos esperam”. E recordou:
“Na sua tarefa de evangelização, a Igreja está muitas vezes na vanguarda
das principais ameaças ao bem-estar humano. Somente na África, existem mais de
74 mil religiosas e mais de 46 mil sacerdotes que administram 7.274 hospitais e
clínicas, 2.346 casas para idosos e pessoas vulneráveis. Educam mais de 19
milhões de crianças em 45.088 escolas primárias. Em muitas áreas rurais, são os
únicos que dão assistência de saúde e educação.”.
A intenção do
Pontífice é que as entidades eclesiais que podem e desejam ajudar são
solicitadas a contribuir com esse fundo por meio das POM de cada país, que são
o canal de apoio ao Papa para mais de 1.110 dioceses, sobretudo na Ásia,
África, Oceânia e parte da Região Amazónica.
Segundo Dom
Giampietro Dal Toso, presidente das POM, graças a essa rede é possível
“demonstrar que ninguém está sozinho nesta crise” e as “instituições e os
ministros da Igreja desempenham um papel vital”. Ante o sofrimento de muitos, voltamo-nos
para os que não têm ninguém para cuidar deles, demonstrando assim o amor de
Deus Pai – diz o prelado.
O Fundo vai
engrossando e, entre os donativos mais avultados, sobressai o do maior líder
budista de Mianmar, que fez uma doação de 10 mil dólares. O Fundo, além da
ajuda direta, serve de exemplo e funciona como estímulo à partilha, como se vê
a seguir.
***
Desde o
início da pandemia de covid-19, a Diocese de Barishal, em Bangladesh (que abrange
11 distritos civis) organizou-se
na ajuda à população a prevenir e conter os contágios. Os pobres são os que
mais sofrem as consequências do isolamento: a maior parte da população vive de
ganhos diários e, não podendo sair, fica sem ter como se alimentar; os pequenos
agricultores não podem transportar e vender os seus produtos; com as escolas
fechadas, estão professores e funcionários sem receber os salários, ficando as
suas famílias em dificuldades.
Barishal é
uma das muitas dioceses do mundo que recebeu ajudas do Fundo papal, que pode,
atendendo ao pedido dos Bispos, ajudar várias outras circunscrições
eclesiásticas.
A maioria dos
fiéis da Diocese de Rajshahi é formada por tribais adivasis, analfabetos,
pobres e marginalizados. Muitos são jornaleiro e, se não trabalham, a família
fica sem ter que comer.
Na Diocese
de Mymensingh, a situação é bastante grave, com pelo menos mil pessoas infetadas
(número
subestimado). A maioria é
indígena e quase todos ganham a vida com trabalhos ocasionais.
Também na
Diocese de Sylhet, as pessoas, que são muito pobres e simples, não entendem a
gravidade da situação. A Igreja está empenhada no campo educacional e da saúde,
ao serviço dos pobres e de pessoas com deficiência, e no respeito aos seus direitos.
Após o isolamento, está a verificar-se muita falta de comida, sentida mais
pelos idosos e crianças.
Situação
análoga é a da Diocese de Khulna, onde os cristãos são pobres e excluídos. A
Igreja distribui alimentos para aliviar a situação de muitas famílias que não
têm outra ajuda.
Na Arquidiocese
de Chattogram, que se estende por um vasto território de população pobre, sobrevivendo
do pequeno cultivo, a fé é alimentada e mantida pelo trabalho dos catequistas e
animadores da oração, preparados para animar os encontros de catequese,
acompanhar os catecúmenos e guiar momentos espirituais, visitando
frequentemente as comunidades. O apoio financeiro é-lhes necessário para compra
de material de proteção contra a covid-19.
A
Arquidiocese de Chittagong, no sudeste de Bangladesh, recolheu cerca de 500
takas por pessoa (5,4 euros), doados por
cerca de 200 católicos que frequentam a Catedral local N. Senhora do Rosário. As doações obtidas foram redistribuídas por mais de 100 famílias que
receberam aproximadamente 1.000 takas (10,8 euros) – iniciativa estendida a todas as paróquias da
região.
Na Diocese de Khulna, os jovens estudantes católicos
membros do Bangladesh Catholic Students’ Movement, movidos pelo
sofrimento dos mais necessitados, idealizaram uma coleta solidária de arroz,
lentilha, sal, óleo, batata e produtos para higiene pessoal. A comida e o material redistribuídos foram doados não só por cristãos, mas
também por muçulmanos locais.
***
O isolamento
decretado pelas autoridades para conter a pandemia teve as suas consequências
económicas e sociais no Togo. Os escassos recursos económicos de dioceses e
paróquias estão esgotados há muito. Por essa razão, o Fundo papal dá
prosseguimento à sua missão, enviando a ajuda solicitada pela Igreja local,
necessária para continuar a assistência e a evangelização. Nas sete dioceses do
Togo, as ajudas serão usadas para as necessidades mais urgentes.
A Diocese de
Aneho destina-as à compra e distribuição de kits de alimentos e kits de saúde
para crianças carentes, além de garantir apoio às crianças do catecismo, e para
os sacerdotes, seminaristas e às comunidades religiosas.
Na Diocese
de Atakpamé, com a maior parte da população rural, o fechamento de escolas e
outros centros coloca as crianças em risco. As ajudas servirão para essas
necessidades, bem como para fortalecer os meios de comunicação social.
Na Diocese
de Dapaong, que inclui a região mais pobre do Togo, os cristãos, apesar dos
limitados recursos económicos, pois são agricultores ou têm criação, sempre
foram generosos, mas agora a situação tornou-se muito difícil para todos. É,
pois, necessário ajudar os professores das escolas primárias católicas, adquirir
material didático para os alunos e ajudar os sacerdotes, os seminaristas, os agentes
de pastoral e o Centro de Formação de Catequistas.
A Diocese de
Kara tem que ajudar sacerdotes, paróquias, catequistas e o seminário menor, bem
como instituições diocesanas, além de arcar com os custos da transmissão da
Missa pela Rádio Maria e da difusão de subsídios pastorais por meio das várias
plataformas da internet.
Na Diocese
de Kpalimé, registam-se graves problemas por força da covid-19, que desestabilizou
o precário equilíbrio económico da população e da diocese. Os sacerdotes vivem das
ofertas dos fiéis, bem como dos catequistas, mas o fecho das igrejas não
permite as coletas e a diocese não consegue atender às necessidades básicas dos
agentes pastorais e de suas famílias.
Muitas famílias
da Arquidiocese de Lomé vivem de pequenos trabalhos informais e encontram-se em
situação de necessidade, pelo que as paróquias assumiram um certo número de
jovens, dando-lhes comida, medicamentos, máscaras e materiais de saúde.
A Diocese de
Sokodé, entre as necessidades mais urgentes da infância, encontra a escassez de
alimentos para os orfanatos administrados pela Igreja e a necessidade de
financiar os programas de rádio para compensar o fecho de escolas e outros
centros de encontro e a distribuição de kits de saúde, bem como a ajuda às
paróquias, aos institutos religiosos, aos seminários e noviciados e à rádio
diocesana Sainte Therese.
***
O Benin registou
os primeiros casos de Covid 19 em março e a pandemia provocou profundas mudanças
a nível social, económico e de saúde, com consequências psicológicas, criando
uma atmosfera de angústia e medo. O governo tomou medidas para conter a
pandemia; e a Igreja comprometeu-se desde logo a estar próxima dos sofrimentos
das pessoas e a tentar responder às suas necessidades. Porém, o prolongamento
da situação esgotou os recursos económicos das dioceses e paróquias, que
pediram a ajuda do Fundo, que permitirá a continuação do trabalho de
assistência e evangelização.
A Diocese de
Abomey pediu ajuda para as atividades de prevenção e assistência a crianças
vulneráveis em centros diocesanos e a crianças e adultos afetados pelos efeitos
da covid-19.
A diocese de
Dassa Zoumé provê ao sustento de sacerdotes e outros agentes pastorais, mas com
o fechamento das igrejas, não é possível receber as ofertas entre os fiéis. E, porque
muitas pessoas ficaram sem trabalho, a Caritas assumiu alguns
idosos confinados em casa.
Na Diocese
de Djougou, a prioridade são as escolas católicas: os pais não têm condições
para pagar as mensalidades, pois nem as necessidades mais básicas das famílias
conseguem suprir.
A Diocese de
Lokossa, diocese rural onde já faltavam infraestruturas básicas antes da
pandemia, situação que agora se agravou. Os professores e funcionários das
escolas católicas, não recebem salário há meses, já que os cofres da diocese
estão vazios.
A população
de Natitingou recebeu o primeiro anúncio do Evangelho em 1941. Fervorosa na fé
e formada por agricultores, criadores e artesãos, vive em condições precárias.
Os sacerdotes e os institutos religiosos que colaboram na evangelização estão
privados de sustento.
Na Diocese
de N'Dali, a Igreja local fornece apoio alimentar, por meio da distribuição de
milho, arroz, sorgo e apoio financeiro a orfanatos, idosos e crianças pobres e
vulneráveis.
O apoio a
seminários e escolas católicas é a urgência na Diocese de Parakou; e, em Porto
Novo, têm dificuldades as estruturas
paroquiais, tal como os sacerdotes e as comunidades religiosas.
Também em Madagáscar,
na Diocese de Ambanja, a ajuda do Fundo visa apoiar o sistema escolar. O
ambiente é rural e os jovens abandonam a escola cedo, pois as famílias não
dispõem dos meios necessários; assim, alastra a droga e a delinquência e é frequente
a gravidez precoce. A diocese responde da melhor forma possível, construindo
várias escolas ao longo dos anos, de jardins da infância a escolas secundárias,
para garantir uma educação ao maior número possível de crianças, mas, com a
pandemia, a situação é catastrófica: muitos abandonaram a escola e é preciso
apoiar os alunos e professores desempregados.
A população da
Arquidiocese de Dakar, no Senegal, é pobre, de baixo nível social e composta
por agricultores, pescadores e outros trabalhadores. Em quase todas as paróquias,
há estruturas educacionais e de saúde a servir a comunidade. Porém, a pandemia,
agravando as adversidades do clima, tornou a situação cada vez mais difícil.
Por isso, é necessário o apoio à evangelização, já que os sacerdotes e
catequistas continuam em missão, bem como os centros de acolhimento e de atividades
de reflexão espiritual e social para crianças a preparar a pós-pandemia.
***
A Diocese de
Doba, no Chade, viu o encerramento de escolas, igrejas, locais públicos e
outros centros de encontro, seguindo as disposições governamentais para conter
o surto pandémico. E a rádio diocesana “La
Voix du Paisan”, que oferece transmissões religiosas, como a recitação do
rosário e a celebração da Missa, desempenha um papel importante para manter
viva a fé e as relações entre os membros da comunidade. Aliás, contribuiu imenso
para a conscientização da população, especialmente a das áreas rurais, em
grande parte analfabetas e marginalizadas, sobre as medidas de prevenção da
saúde. Os custos da emissora são pesados para a diocese, especialmente neste
período, uma vez que também deve fornecer apoio aos agentes de pastoral e ao
pessoal envolvido no campo educacional e da saúde. Com o encerramento dos
locais de culto e a suspensão das atividades pastorais, os recursos das
paróquias, baseados nas ofertas dos fiéis, são praticamente nulos. Para
remediar a situação, as POM enviaram recursos a esta Diocese, bem como a muitas
outras nos territórios missionários, com o objetivo de apoiar as igrejas dos
países missionários face à emergência causada pela covid-19.
No Quénia,
muitas dioceses foram severamente afetadas pelo isolamento imposto para conter
a propagação do novo coronavírus e pediram apoio às POM para responder às
necessidades básicas das famílias e pessoas mais vulneráveis e apoiar
sacerdotes e religiosos que, após a suspensão das celebrações das Missas e
atividades pastorais, ficaram sem meios de apoio.
Nairóbi, a
capital e o principal centro de negócios e comércio, foi particularmente
afetada pelo isolamento que causou desemprego e ansiedade em relação ao futuro.
A Arquidiocese tornou-se fonte de esperança e local de refúgio para muitas
pessoas ao dedicar-se aos mais fracos e às famílias em dificuldade, estendendo a
ação aos habitantes das favelas (slums). Não
obstante a boa resposta dos católicos à emergência, ainda há muitas necessidades
a que urge responder.
Também foi
enviada ajuda à Diocese de Nyahururu para a aquisição de bens de primeira necessidade
para as famílias carecidas.
A Diocese de
Lodwar, que inclui uma área com um clima inóspito, já havia sido provada pelos
desastres das inundações que destruíram vidas e bens materiais, antes da
covid-19. Agora, precisa de ajuda para garantir o funcionamento das atividades diocesanas
e paroquiais de evangelização, bem como a assistência às famílias necessitadas.
Na Diocese
de Kitale, onde a maioria da população está desempregada e em estado de
pobreza, a ajuda será usada para compra de alimentos a distribuir às crianças pobres,
apoio a atividades educativas e catequéticas, fornecimento de água e compra de
material de higiene.
Também Marsabit,
uma das dioceses mais pobres do país, precisa de ajuda para comprar comida para
os catequistas e famílias, as atividades educacionais e o programa de rádio
diocesano.
Foram
enviadas ajudas à Diocese de Kisumu, para a compra de alimentos e bens de
primeira necessidade para os pobres, apoio às atividades pastorais e o seguro
médico dos sacerdotes.
A
Arquidiocese de Mombaça precisa de apoio a crianças pobres, orfanatos e sacerdotes.
A Diocese de
Homa Bay tem dificuldade no apoio aos sacerdotes, casas de formação e Seminário
Menor de Rakwaro, bem como na garantia do funcionamento do centro catequético e
na ajuda às comunidades religiosas.
E o
Vicariato Apostólico de Isiolo utilizará a ajuda do fundo Papal para cobrir as
despesas atuais das instituições diocesanas e garantir o sustento de clérigos e
religiosos.
***
É o muito
que parece pouco face à situação calamitosa e à magnitude das necessidades. Mas
a solidariedade tem de crescer e induzir a patilha.
2020.07.08 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário