quarta-feira, 8 de julho de 2020

Em ação o fundo papal para as áreas de missão afetadas pelo vírus


Depois da China, o Ocidente é o maior “viveiro” da covid-19. Trata-se duma pandemia que se vem estendendo nas regiões do hemisfério sul, especialmente na América Latina, mas também na África, em áreas que são, para a Igreja, terras de missão onde a escassez de meios, aliada ao novo coronavírus criam situações muito difíceis. Por isso, Francisco instituiu, a 6 de abril, para ajudar nessas áreas milhões de pessoas vulneráveis, um fundo de emergência nas Pontifícias Obras Missionárias, com uma contribuição inicial de 750 mil dólares. E as Igrejas que podem contribuirão através das Pontifícias Obras Missionárias (POM). É uma rede para ajudar.
O cardeal Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, muito grato por esta decisão papal, disse que “o Santo Padre está a chamar toda a vasta rede da Igreja para enfrentar os desafios que nos esperam”. E recordou:
Na sua tarefa de evangelização, a Igreja está muitas vezes na vanguarda das principais ameaças ao bem-estar humano. Somente na África, existem mais de 74 mil religiosas e mais de 46 mil sacerdotes que administram 7.274 hospitais e clínicas, 2.346 casas para idosos e pessoas vulneráveis. Educam mais de 19 milhões de crianças em 45.088 escolas primárias. Em muitas áreas rurais, são os únicos que dão assistência de saúde e educação.”.
A intenção do Pontífice é que as entidades eclesiais que podem e desejam ajudar são solicitadas a contribuir com esse fundo por meio das POM de cada país, que são o canal de apoio ao Papa para mais de 1.110 dioceses, sobretudo na Ásia, África, Oceânia e parte da Região Amazónica.
Segundo Dom Giampietro Dal Toso, presidente das POM, graças a essa rede é possível “demonstrar que ninguém está sozinho nesta crise” e as “instituições e os ministros da Igreja desempenham um papel vital”. Ante o sofrimento de muitos, voltamo-nos para os que não têm ninguém para cuidar deles, demonstrando assim o amor de Deus Pai – diz o prelado.
O Fundo vai engrossando e, entre os donativos mais avultados, sobressai o do maior líder budista de Mianmar, que fez uma doação de 10 mil dólares. O Fundo, além da ajuda direta, serve de exemplo e funciona como estímulo à partilha, como se vê a seguir.
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Desde o início da pandemia de covid-19, a Diocese de Barishal, em Bangladesh (que abrange 11 distritos civis) organizou-se na ajuda à população a prevenir e conter os contágios. Os pobres são os que mais sofrem as consequências do isolamento: a maior parte da população vive de ganhos diários e, não podendo sair, fica sem ter como se alimentar; os pequenos agricultores não podem transportar e vender os seus produtos; com as escolas fechadas, estão professores e funcionários sem receber os salários, ficando as suas famílias em dificuldades.
Barishal é uma das muitas dioceses do mundo que recebeu ajudas do Fundo papal, que pode, atendendo ao pedido dos Bispos, ajudar várias outras circunscrições eclesiásticas.  
A maioria dos fiéis da Diocese de Rajshahi é formada por tribais adivasis, analfabetos, pobres e marginalizados. Muitos são jornaleiro e, se não trabalham, a família fica sem ter que comer.
Na Diocese de Mymensingh, a situação é bastante grave, com pelo menos mil pessoas infetadas (número subestimado). A maioria é indígena e quase todos ganham a vida com trabalhos ocasionais.
Também na Diocese de Sylhet, as pessoas, que são muito pobres e simples, não entendem a gravidade da situação. A Igreja está empenhada no campo educacional e da saúde, ao serviço dos pobres e de pessoas com deficiência, e no respeito aos seus direitos. Após o isolamento, está a verificar-se muita falta de comida, sentida mais pelos idosos e crianças.
Situação análoga é a da Diocese de Khulna, onde os cristãos são pobres e excluídos. A Igreja distribui alimentos para aliviar a situação de muitas famílias que não têm outra ajuda.
Na Arquidiocese de Chattogram, que se estende por um vasto território de população pobre, sobrevivendo do pequeno cultivo, a fé é alimentada e mantida pelo trabalho dos catequistas e animadores da oração, preparados para animar os encontros de catequese, acompanhar os catecúmenos e guiar momentos espirituais, visitando frequentemente as comunidades. O apoio financeiro é-lhes necessário para compra de material de proteção contra a covid-19.
A Arquidiocese de Chittagong, no sudeste de Bangladesh, recolheu cerca de 500 takas por pessoa (5,4 euros), doados por cerca de 200 católicos que frequentam a Catedral local N. Senhora do Rosário. As doações obtidas foram redistribuídas por mais de 100 famílias que receberam aproximadamente 1.000 takas (10,8 euros) – iniciativa estendida a todas as paróquias da região.
Na Diocese de Khulna, os jovens estudantes católicos membros do Bangladesh Catholic Students’ Movement, movidos pelo sofrimento dos mais necessitados, idealizaram uma coleta solidária de arroz, lentilha, sal, óleo, batata e produtos para higiene pessoal. A comida e o material redistribuídos foram doados não só por cristãos, mas também por muçulmanos locais.
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O isolamento decretado pelas autoridades para conter a pandemia teve as suas consequências económicas e sociais no Togo. Os escassos recursos económicos de dioceses e paróquias estão esgotados há muito. Por essa razão, o Fundo papal dá prosseguimento à sua missão, enviando a ajuda solicitada pela Igreja local, necessária para continuar a assistência e a evangelização. Nas sete dioceses do Togo, as ajudas serão usadas para as necessidades mais urgentes.
A Diocese de Aneho destina-as ​​à compra e distribuição de kits de alimentos e kits de saúde para crianças carentes, além de garantir apoio às crianças do catecismo, e para os sacerdotes, seminaristas e às comunidades religiosas.
Na Diocese de Atakpamé, com a maior parte da população rural, o fechamento de escolas e outros centros coloca as crianças em risco. As ajudas servirão para essas necessidades, bem como para fortalecer os meios de comunicação social.
Na Diocese de Dapaong, que inclui a região mais pobre do Togo, os cristãos, apesar dos limitados recursos económicos, pois são agricultores ou têm criação, sempre foram generosos, mas agora a situação tornou-se muito difícil para todos. É, pois, necessário ajudar os professores das escolas primárias católicas, adquirir material didático para os alunos e ajudar os sacerdotes, os seminaristas, os agentes de pastoral e o Centro de Formação de Catequistas.
A Diocese de Kara tem que ajudar sacerdotes, paróquias, catequistas e o seminário menor, bem como instituições diocesanas, além de arcar com os custos da transmissão da Missa pela Rádio Maria e da difusão de subsídios pastorais por meio das várias plataformas da internet.
Na Diocese de Kpalimé, registam-se graves problemas por força da covid-19, que desestabilizou o precário equilíbrio económico da população e da diocese. Os sacerdotes vivem das ofertas dos fiéis, bem como dos catequistas, mas o fecho das igrejas não permite as coletas e a diocese não consegue atender às necessidades básicas dos agentes pastorais e de suas famílias.
Muitas famílias da Arquidiocese de Lomé vivem de pequenos trabalhos informais e encontram-se em situação de necessidade, pelo que as paróquias assumiram um certo número de jovens, dando-lhes comida, medicamentos, máscaras e materiais de saúde.
A Diocese de Sokodé, entre as necessidades mais urgentes da infância, encontra a escassez de alimentos para os orfanatos administrados pela Igreja e a necessidade de financiar os programas de rádio para compensar o fecho de escolas e outros centros de encontro e a distribuição de kits de saúde, bem como a ajuda às paróquias, aos institutos religiosos, aos seminários e noviciados e à rádio diocesana Sainte Therese.
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O Benin registou os primeiros casos de Covid 19 em março e a pandemia provocou profundas mudanças a nível social, económico e de saúde, com consequências psicológicas, criando uma atmosfera de angústia e medo. O governo tomou medidas para conter a pandemia; e a Igreja comprometeu-se desde logo a estar próxima dos sofrimentos das pessoas e a tentar responder às suas necessidades. Porém, o prolongamento da situação esgotou os recursos económicos das dioceses e paróquias, que pediram a ajuda do Fundo, que permitirá a continuação do trabalho de assistência e evangelização.
A Diocese de Abomey pediu ajuda para as atividades de prevenção e assistência a crianças vulneráveis em centros diocesanos e a crianças e adultos afetados pelos efeitos da covid-19.
A diocese de Dassa Zoumé provê ao sustento de sacerdotes e outros agentes pastorais, mas com o fechamento das igrejas, não é possível receber as ofertas entre os fiéis. E, porque muitas pessoas ficaram sem trabalho, a Caritas assumiu alguns idosos confinados em casa.
Na Diocese de Djougou, a prioridade são as escolas católicas: os pais não têm condições para pagar as mensalidades, pois nem as necessidades mais básicas das famílias conseguem suprir.
A Diocese de Lokossa, diocese rural onde já faltavam infraestruturas básicas antes da pandemia, situação que agora se agravou. Os professores e funcionários das escolas católicas, não recebem salário há meses, já que os cofres da diocese estão vazios. 
A população de Natitingou recebeu o primeiro anúncio do Evangelho em 1941. Fervorosa na fé e formada por agricultores, criadores e artesãos, vive em condições precárias. Os sacerdotes e os institutos religiosos que colaboram na evangelização estão privados de sustento.
Na Diocese de N'Dali, a Igreja local fornece apoio alimentar, por meio da distribuição de milho, arroz, sorgo e apoio financeiro a orfanatos, idosos e crianças pobres e vulneráveis.
O apoio a seminários e escolas católicas é a urgência na Diocese de Parakou; e, em Porto Novo, têm  dificuldades as estruturas paroquiais, tal como os sacerdotes e as comunidades religiosas.
Também em Madagáscar, na Diocese de Ambanja, a ajuda do Fundo visa apoiar o sistema escolar. O ambiente é rural e os jovens abandonam a escola cedo, pois as famílias não dispõem dos meios necessários; assim, alastra a droga e a delinquência e é frequente a gravidez precoce. A diocese responde da melhor forma possível, construindo várias escolas ao longo dos anos, de jardins da infância a escolas secundárias, para garantir uma educação ao maior número possível de crianças, mas, com a pandemia, a situação é catastrófica: muitos abandonaram a escola e é preciso apoiar os alunos e professores desempregados.
A população da Arquidiocese de Dakar, no Senegal, é pobre, de baixo nível social e composta por agricultores, pescadores e outros trabalhadores. Em quase todas as paróquias, há estruturas educacionais e de saúde a servir a comunidade. Porém, a pandemia, agravando as adversidades do clima, tornou a situação cada vez mais difícil. Por isso, é necessário o apoio à evangelização, já que os sacerdotes e catequistas continuam em missão, bem como os centros de acolhimento e de atividades de reflexão espiritual e social para crianças a preparar a pós-pandemia.
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A Diocese de Doba, no Chade, viu o encerramento de escolas, igrejas, locais públicos e outros centros de encontro, seguindo as disposições governamentais para conter o surto pandémico. E a rádio diocesana “La Voix du Paisan”, que oferece transmissões religiosas, como a recitação do rosário e a celebração da Missa, desempenha um papel importante para manter viva a fé e as relações entre os membros da comunidade. Aliás, contribuiu imenso para a conscientização da população, especialmente a das áreas rurais, em grande parte analfabetas e marginalizadas, sobre as medidas de prevenção da saúde. Os custos da emissora são pesados para a diocese, especialmente neste período, uma vez que também deve fornecer apoio aos agentes de pastoral e ao pessoal envolvido no campo educacional e da saúde. Com o encerramento dos locais de culto e a suspensão das atividades pastorais, os recursos das paróquias, baseados nas ofertas dos fiéis, são praticamente nulos. Para remediar a situação, as POM enviaram recursos a esta Diocese, bem como a muitas outras nos territórios missionários, com o objetivo de apoiar as igrejas dos países missionários face à emergência causada pela covid-19.
No Quénia, muitas dioceses foram severamente afetadas pelo isolamento imposto para conter a propagação do novo coronavírus e pediram apoio às POM para responder às necessidades básicas das famílias e pessoas mais vulneráveis e apoiar sacerdotes e religiosos que, após a suspensão das celebrações das Missas e atividades pastorais, ficaram sem meios de apoio.
Nairóbi, a capital e o principal centro de negócios e comércio, foi particularmente afetada pelo isolamento que causou desemprego e ansiedade em relação ao futuro. A Arquidiocese tornou-se fonte de esperança e local de refúgio para muitas pessoas ao dedicar-se aos mais fracos e às famílias em dificuldade, estendendo a ação aos habitantes das favelas (slums). Não obstante a boa resposta dos católicos à emergência, ainda há muitas necessidades a que urge responder.
Também foi enviada ajuda à Diocese de Nyahururu para a aquisição de bens de primeira necessidade para as famílias carecidas.
A Diocese de Lodwar, que inclui uma área com um clima inóspito, já havia sido provada pelos desastres das inundações que destruíram vidas e bens materiais, antes da covid-19. Agora, precisa de ajuda para garantir o funcionamento das atividades diocesanas e paroquiais de evangelização, bem como a assistência às famílias necessitadas.
Na Diocese de Kitale, onde a maioria da população está desempregada e em estado de pobreza, a ajuda será usada para compra de alimentos a distribuir às crianças pobres, apoio a atividades educativas e catequéticas, fornecimento de água e compra de material de higiene.
Também Marsabit, uma das dioceses mais pobres do país, precisa de ajuda para comprar comida para os catequistas e famílias, as atividades educacionais e o programa de rádio diocesano.
Foram enviadas ajudas à Diocese de Kisumu, para a compra de alimentos e bens de primeira necessidade para os pobres, apoio às atividades pastorais e o seguro médico dos sacerdotes.
A Arquidiocese de Mombaça precisa de apoio a crianças pobres, orfanatos e sacerdotes.
A Diocese de Homa Bay tem dificuldade no apoio aos sacerdotes, casas de formação e Seminário Menor de Rakwaro, bem como na garantia do funcionamento do centro catequético e na ajuda às comunidades religiosas.
E o Vicariato Apostólico de Isiolo utilizará a ajuda do fundo Papal para cobrir as despesas atuais das instituições diocesanas e garantir o sustento de clérigos e religiosos.
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É o muito que parece pouco face à situação calamitosa e à magnitude das necessidades. Mas a solidariedade tem de crescer e induzir a patilha.
2020.07.08 – Louro de Carvalho  

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