segunda-feira, 18 de junho de 2018

“Ousadia, renovação, força, confiança, coragem e muita esperança”


São os desejos do recém-eleito Bispo de Viseu formulados ontem no final da liturgia da sua ordenação episcopal na cidade da Guarda.
Com efeito, foi ontem, dia 17 de junho, na Sé Catedral da Guarda, celebrada a ordenação episcopal do Bispo eleito de Viseu, Dom António Luciano dos Santos Costa. Foi ordenante o Bispo da Diocese da Guarda, Dom Manuel da Rocha Felício, oriundo da diocese que vai receber o novel prelado, e coordenantes: Dom Ilídio Pinto Leandro, até agora Bispo de Viseu e Administrador Apostólico da mesma diocese até 22 de julho, data da posse do novo titular, e Dom Jorge Ferreira da Costa Ortiga, o metropolita Arcebispo de Braga, sede da Província Eclesiástica a que pertence a Diocese de Viseu (A diocese da Guarda é sufragânea da província Eclesiástica de Lisboa).
Participaram na celebração, antecedida de cortejo litúrgico da Igreja de São Vicente para a Sé, o núncio apostólico, diversos bispos de Portugal, o clero da diocese da Guarda e da de Viseu, bem como paroquianos, amigos e conhecidos do novo bispo, das paróquias onde foi responsável e dos hospitais e das universidades onde colaborou, bem como outros leigos das duas dioceses.
O novo Bispo português nasceu a 26 de Março de 1952, em Corgas, freguesia e paróquia de Sandomil (Seia), distrito e diocese da Guarda, trabalhou como enfermeiro nos Hospitais da Universidade de Coimbra; ordenado sacerdote em 1985, foi capelão no Hospital da Guarda e na Universidade da Beira Interior, onde foi professor, bem como na Universidade Católica (Viseu).
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Na sua homilia, o Bispo da Guarda disse que António Luciano, “recebendo a plenitude do Espírito Santo” e revestido dos seus dons, fica “especialmente configurado com Cristo” para o ministério Episcopal e constituído como “cabeça e pastor de uma Igreja particular”, bem como “membro do Colégio Episcopal e, portanto, corresponsável com a Igreja no seu todo”.
Radicando a missão episcopal no quadro da sucessão apostólica em comunhão com o sucessor de Pedro, por vontade de Cristo, que entregou aos apóstolos a tarefa do anúncio da Boa Nova da Salvação, Dom Manuel Felício sustentou que “os Bispos, cada um a presidir à sua Igreja particular e todos constituídos em colégio episcopal transportam consigo a responsabilidade de garantir a Tradição da Fé que nos vem dos Apóstolos e, por eles, do próprio Jesus Cristo”.
Mais disse que esta missão é cumprida quando cada um “preside à Igreja particular” que lhe é confiada e quando, em comunhão com os outros Bispos, em colégio presidido pelo Papa, “vivem a corresponsabilidade pela condução de vida da Igreja universal”. Porém, sendo Jesus Cristo, “de facto, o único Bom Pastor”, hoje, é Ele, “através dos Bispos e seus colaboradores mais diretos, a começar pelos que com eles partilham o Sacramento da Ordem, mas também de outros ministérios e serviços”, Aquele que “continua a pastorear a Sua Igreja”. Assim, “na pessoa do Bispo, rodeado principalmente dos seus presbíteros e diáconos”, é Cristo “que está presente para continuar a anunciar o Evangelho, a oferecer-nos os mistérios da fé e a conduzir-nos através da história, em peregrinação, rumo à pátria eterna”. É, pois, Ele quem inspira aos Bispos e colaboradores as posturas a assumir “para construção da vida da Igreja” e para a sua condução “pelos caminhos da salvação”.
A seguir, firmando-se na Palavra escutada no Evangelho “O Bom Pastor dá a vida pelas Suas ovelhas” (Jo 10,11), voltou-se para o novo Bispo e segredou-lhe em voz alta:
É mesmo essa disposição de dar a vida que em breve, tu, irmão D. António Luciano nos vais manifestar, respondendo à pergunta: ‘Queres consagrar-te até à morte ao Ministério Episcopal?’. Contrariamente ao mercenário, que explora as ovelhas e as abandona, o Bom Pastor conhece-as e é conhecido de cada uma delas.”.
Depois, evocando recomendações do Papa, disse-lhe que “o Pastor que o é de verdade procura estar próximo das suas ovelhas para as acompanhar de perto e defendê-las dos lobos que tentam desgarrar o rebanho” (cf Jo 17,1-4; EG 17). E estimulou-o à preocupação com os fiéis que formam “o tecido das nossas comunidades” e, por maioria de razão, com “os que estão fora”.
Exatamente pelo facto de Jesus ter “outras ovelhas que não estão neste redil” e ser necessário reuni-las, é que a ordenação episcopal comporta necessariamente a dimensão missionária com a resposta efetiva e afetiva à pergunta ritual: “Queres, como bom pastor, procurar as ovelhas dispersas e conduzi-las ao redil do Senhor?”. De facto, sempre e cada vez mais é urgente “primeirear” a responsabilidade missionária da Igreja, seja como Bispos responsáveis pela condução das Igrejas particulares, seja como corresponsáveis pela vida da Igreja universal.
Assim, firme na necessidade de apregoar a obrigação de despertar o dinamismo missionário nos Bispos, nos seus mais diretos colaboradores e nos fiéis em geral, o Bispo da Guarda clamou:
Não queremos uma Igreja à defesa, mas sim uma Igreja empenhada em cumprir o Sonho do Papa Francisco, colocando todas as suas capacidades mais ao serviço da evangelização do mundo atual do que da sua autopreservação”.
E chamou à colação o “Outubro Missionário de 2019” proclamado pelo Papa e o especial “Ano Missionário 2018-2019” declarado pela Conferência Episcopal Portuguesa como prementes formas de interpelação aos Bispos.
Referindo-se à unção episcopal, começou por mencionar as palavras de Isaías “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou” (Is 61,1) para assegurar:
O Espírito Santo ungiu a Pessoa de Cristo e presidiu ao cumprimento de toda a Sua missão messiânica de evangelizar os pobres, consolar os aflitos e de proclamar o ano da justiça divina, que substitui o luto pela alegria”.
Fazendo a aproximação à celebração em causa, declarou:
Hoje o mesmo Espírito Divino, como cantaremos em breve, pela imposição das nossas mãos, desce abundantemente sobre o novo Bispo, fazendo dele verdadeiro Sacerdote do Senhor, servidor da Nova Aliança estabelecida em Cristo Jesus”.
Voltando-se ainda mais diretamente para o Eleito, precisou:
Sim, é para servir que o Senhor hoje te faz Bispo, Irmão Dom António Luciano, como lembra o Pontifical Romano de Ordenação Episcopal, nos seguintes termos: “O Episcopado significa trabalho e não honra; e o Bispo, mais do que presidir tem obrigação de servir”. E nesse serviço inclui-se o tríplice múnus de ensinar, santificar e governar.”.
E, para ilustrar cada um dos itens do tríplice múnus, tomou as palavras de Paulo a Timóteo, no atinente ao ensino: “Proclama a Palavra, a tempo e fora de tempo; exorta com toda a paciência e doutrina” (2Tm 4,2). Quanto ao múnus santificador, disse que os Bispos escutam hoje de novo “o convite para perseverar na oração a Deus Pai Todo-poderoso em favor do Povo Santo de Deus e a exercer a plenitude do Sacerdócio com toda a fidelidade”. E, no respeitante à missão de governar em ordem à edificação do Corpo de Cristo, a Igreja, citou o Pontifical Romano:
Com amor paterno e fraterno, ama todos quantos Deus confia ao ter cuidado pastoral, sobretudo os presbíteros e os diáconos que têm parte contigo no ministério de Cristo; e, ainda, os pobres, os débeis, os imigrantes, os deslocados e todos os que viajam. […] Exorta os fiéis a colaborarem contigo no trabalho apostólico e dispõe-te a ouvi-los de bom grado”.
Mas, repisando as palavras do profeta Isaías, acima referidas, sublinhou o dever de prestar a devida e assídua atenção “a dar aos pobres, aos atribulados, aos prisioneiros, aos cativos necessitados de libertação, aos que se encontram envolvidos pelo luto da dor”, ou seja, às diversas periferias da pobreza, da dor e do abandono ou simplesmente da marginalidade, referidas pelo Papa Francisco. E, interpelando o novo Bispo, disse em modo de solidariedade fraterna e pastoral:
Também nós, Bispos, hoje contigo, irmão Dom António Luciano, queremos responder à pergunta que te vai ser assim feita: ‘Queres ser, pelo nome do Senhor, bondoso e compassivo com os pobres, os deslocados e todos os que precisam?’. Diante desta forte interpelação que a Liturgia nos faz, queremos escutar mais uma vez, as palavras do Papa Francisco, lembrando a cada cristão e a cada comunidade cristã o encargo de serem instrumento do Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres para que possam integrar-se plenamente na Sociedade.” (EG, 187).
E, a exemplo de Paulo, como nos conta na sua 2.ª Carta aos Coríntios, garantiu:
Também nós não esperamos facilidades no cumprimento da missão episcopal que o Senhor Jesus Cristo nos confia para, em Seu nome, pastorearmos a Igreja. Foram muitas as dificuldades que o Apóstolo experimentou e das quais nos dá testemunho, desde a perseguição à perplexidade, passando pelo abatimento e pelo abandono. Uma luz, porém, bastou para dar sentido a todos os seus sofrimentos e tribulações. Essa luz para ele e para nós hoje vem-nos da certeza da Ressurreição de Cristo, garantia da nossa Ressurreição, pois, como lembra a referida carta, ‘Aquele que ressuscitou Jesus também nos há de ressuscitar com Ele e nos levará para junto d’Ele’.”.
Por fim, ante a mesma experiência de Paulo, vincou a grande fragilidade de quem transporta em vasos de barro o grande tesouro do ministério que lhe está confiado. Mesmo assim, cumpre “a obrigação de transformar as nossas múltiplas fragilidades em oportunidades para deixar brilhar em nós e em tudo o que fazemos a grandeza e a força do próprio Deus, única fonte de todo o bem que nós possamos realizar”. Na verdade, “uma só coisa é necessária – Que Ele reine nos nossos corações, na vida da Igreja e na vida do mundo”.
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Por seu turno, o novo Bispo, no fim da celebração, proclamou o discurso da gratidão ao Senhor e de saudação aos irmãos. 
Começou por convidar todos a alegrarem-se e a exultarem consigo “no Senhor pelas maravilhas que Ele operou em favor do seu Povo”, pois “Cristo caminha connosco e surpreende-nos”.
Convicto de que se cumpriram naquela Catedral as palavras de Cristo “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28,20), assegurou que agora pode “partir e servir com aquela atitude de coragem que o Espírito Santo suscitava nos Apóstolos, impelindo-os a anunciar Jesus Cristo” (Gaudete et Exsultate, 129). Disse reconhecer a oração como “o verdadeiro respiro de Deus nas nossas vidas” que nos leva “ao coração de Deus e traz o coração de Deus à nossa frágil condição humana”.
Glosando um pouco o seu lema episcopal o “Fiat voluntas Tua” paternostriano, confessou que, “ao rezar ao Pai, ‘Venha o teu reino’ e ‘seja feita a Tua vontade’, a Igreja reunida entra no coração de Deus Pai, fonte de vida, de amor e de paz”. Pediu a São José, “o dom do silêncio prudente e fiel” e a ajuda “a guardar, a administrar bem a Igreja e a vigiar pela sua unidade e integridade”. Desejou a “coragem e o testemunho dos Apóstolos e de todos os Santos” a fim de poder cantar eternamente com os fiéis “as maravilhas do Senhor”.
Reiterou a profunda gratidão, comunhão, obediência na fé e veneração filial à Igreja, na pessoa de Francisco, sucessor de Pedro, que o chamou a integrar o Colégio Apostólico.
Fez, a seguir, os agradecimentos costumeiro, nomeadamente aos irmãos no episcopado, às autoridades, à família, às instituições que serviu e com quem trabalhou – frisando o muito que aprendeu com os outros –, bem como a todas as pessoas amigas, conhecidas e anónimas que participaram naquela celebração Eucarística e a todos os que estão unidos espiritualmente, a quem dirigiu “um bem-haja sincero e beirão”.
E deixou “uma palavra de gratidão, de esperança e de estima às crianças, adolescentes, jovens, casais, idosos, frágeis, doentes, abandonados e a todos os que experimentam a dor e a solidão”, garantindo que Deus os ama muito.
E, porque “há sempre um receber e um dar”, pediu que dessem sem medida, vindo assim a obter a felicidade. E deu como como “base sólida de uma sociedade sadia e de uma Igreja renovada” o seguinte tetranómio: comunhão fraterna, proximidade, gratuitidade e solidariedade.
Finalmente, exortou as dioceses da Guarda e de Viseu à “ousadia, renovação, força, confiança, coragem e muita esperança em Cristo Ressuscitado”, pois “o Bom Pastor Deus está connosco, em tudo”. Proclamou que o desafio feito à Igreja é “amar e servir”, na certeza de que “Deus está connosco” e esperando “com zelo apostólico a nossa colaboração”.
Por tudo e para que guie sempre os nossos passos, invocou “Maria, a Virgem das mãos orantes, a Senhora da Assunção, e pediu que rezassem com ele “Fiat Voluntas Tua”, “para maior honra e glória de Deus”.
Depois, percorreu a nave central da Sé Catedral a todos saudando e de todos recebendo saudação e aplauso.
Que Deus o ouça e que as ovelhas o sigam!
2018.06.18 – Louro de Carvalho

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