quinta-feira, 28 de junho de 2018

“Que Ele Cresça e eu diminua”


No outono do ano passado, a comunicação social portuguesa relevava a situação das dioceses que estavam à beira de serem providas de Bispo próprio. Era o caso do Porto, pelo falecimento repentino do prelado diocesano, Dom António Francisco dos Santos; e eram os casos de Santarém, Évora e Funchal, cujos prelados, Dom Manuel Pelino Domingues, Dom José Francisco Sanches Alves e Dom António José Cavaco Carrilho, respetivamente, tinham ultrapassado o limite canónico de idade, Viseu, cujo titular, Dom Ilídio Pinto Leandro, solicitara dispensa por motivos de saúde, e Vila Real, caso em que Dom Amândio José Tomás estava prestes a atingir o limite canónico de idade, o que sucedeu em 23 de abril pp. Também se falava em questões de saúde da parte do Bispo de Viana do Castelo, Dom Anacleto Cordeiro Gonçalves de Oliveira, o que deixou de ser mencionado. E surgiram vozes a clamar pela provisão do Porto, cuja Igreja estava a ser conduzida, embora com mérito, pelo então Administrador Diocesano Dom António Maria Bessa Taipa, também à beira do limite de idade.
Entretanto, as dioceses portuguesas vão sendo providas, ainda que paulatinamente. E a primeira foi a de Santarém com a entrada solene de Dom José Augusto Traquina Maria, que era Bispo Auxiliar do Patriarcado. A seguir, foi provida a Diocese do Porto com a transferência de Dom Manuel da Silva Rodrigues Linda da Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança para ali. Foi depois eleito e criado Bispo de Viseu o Cónego António Luciano dos Santos Costa, oriundo da Diocese da Guarda, que recebeu a ordenação episcopal na Sé da Guarda, a 17 de junho pp, e entrará solenemente no próximo dia 22 de julho.
A 27 de junho, foi eleito Arcebispo de Évora Dom Francisco José Villas-Boas Senra Faria Coelho, até agora Bispo Auxiliar de Braga e que entrará solenemente na Sé arquidiocesana a 2 de setembro. A ele será feita referência mais adiante.
Falta, assim, prover à Diocese do Funchal, à de Vila Real, em que os respetivos prelados se mantêm em funções, e a das Forças Armadas e das Forças de Segurança, que tem, até à provisão de ordinário próprio, como Administrador Apostólico o Bispo do Porto.
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Não conheço pessoalmente o Arcebispo de Évora eleito. Porém, ouvi-o algumas vezes em homilias e no programa “Ecclesia”, que passa diariamente na RTP 2, e li alguns textos de que me recordo um excursus sobre o culto mariano em Portugal a par da nossa História.
Agora, que há poucos dias escrevi a reflexão “Do precursor ao apóstolo”, apreciei com outros olhos o seu lema episcopal “Que Ele Cresça e eu diminua” (Jo 3,30) a encimar a saudação que dirigiu à “Igreja de Cristo, presente em Évora”.
Penso que o Arcebispo eleito, se quiser efetivamente assumir o despojamento humilde e a missão arrojada do precursor à maneira do Batista, pode ser, na linha da sucessão apostólica, um verdadeiro apóstolo e líder duma eficiente Igreja em saída. Tem, a meu ver, estatura e condições para isso, contando para tanto com a colaboração de todos quantos nomeia na sua mensagem.
Obviamente que, entre muitos outros, saúda o Papa Francisco e lhe manifesta a comunhão e vontade “de com ele cooperar no esforço de a todos testemunhar a Alegria do Evangelho” no esforço de que, “pela humanização da sociedade, se leia o Evangelho de Cristo na vida de cada cristão”. Mas saúda sobretudo a Igreja em Évora – que se estende por terras alentejanas e ribatejanas – “como quem se sente chamado a servir e a compartilhar a vida com todos: as alegrias e esperanças, e também as tristezas e apreensões, as horas de sol e de sal” – dando nela e com ela o “sim à Igreja e à humanidade. E saúda “cada família da Arquidiocese, cada jovem, cada criança, os idosos, os doentes, os sós, os frágeis ou carentes de humanização, e aqueles que experimentam a carência ou a pobreza”; “todo o Povo de Deus – as Paróquias, Movimentos Eclesiais e todas as pessoas de Boa Vontade, que se Irmanam na construção da Justiça e da Solidariedade” – bem como “todas as instituições de cariz social” e “todos os cuidadores da saúde e da qualidade da vida humana, todos os voluntários, todos os jovens que pressentem o chamamento à dádiva da vida e não pactuam com propostas banais e fúteis de vida e todos os que promovem a Doutrina Social da Igreja”; e salienta a característica mariana comum às duas arquidioceses: a veneração de Nossa Senhora Conceição, venerada “em Vila Viçosa e no Monte Sameiro como Mãe e Rainha de Portugal e Padroeira desta terra e cultura que somos todos nós” e através de quem o Arcebispo eleito se coloca “na oração de todos os crentes” e em cujo “colo maternal” coloca todos.
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O Arcebispo Primaz de Braga, Dom Jorge Ferreira da Costa Ortiga, referindo, em mensagem ocasional, que a Arquidiocese, durante o seu múnus episcopal, já teve ao seu serviço oito bispos auxiliares, declara que estes bispos auxiliares trouxeram consigo experiências diocesanas que muito enriqueceram a comunidade eclesial de Braga e que “também a sua capacidade intelectual foi um contributo precioso para orientar a Arquidiocese na senda da nova evangelização”.
Em relação a Dom Francisco José Villas-Boas Senra de Faria Coelho, oriundo de Braga, destacou que “foi ordenado e trabalhou numa Arquidiocese com um contexto social e eclesial diferente”. Não obstante, a sua experiência sacerdotal e humana constituiu para Braga “um contributo de inegável valor”. Por outro lado, “a sua inteligência e carreira académica dotaram-no com uma visão ímpar dos problemas”, oferecendo “sempre sugestões oportunas em ordem a opções pastorais adequadas ao tempo em que vivemos” e “o seu zelo apostólico e alegria no anúncio do Evangelho deixaram marcas num número significativo de comunidades, leigos e sacerdotes que o conheceram de perto”.
Assim, o Primaz, vincando que o espírito do ora eleito fica com Braga e que levará consigo a amizade das comunidades bracarenses, garante que juntos, dado que “a messe é a mesma”, sentirão e mostrarão a beleza do anúncio do Evangelho neste tempo de tanta perplexidade.
Juntos, em oração e colaboração, testemunharão que a missão consiste em semear esperança.
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O Arcebispo eleito disse à Ecclesia continuar a apostar na “pegada laical” e na “atenção a cada pessoa” como estratégia para uma “caridade ativa” na região. Por isso, é mister orientar “todos os dias” o trabalho da Igreja “na linha da consciencialização laical”, numa arquidiocese onde ganha relevo a “dimensão missionária” desenvolvida por sacerdotes de outras regiões do país e de congregações religiosas. Por outro lado, deseja continuar o “trabalho” que a arquidiocese tem sabido fazer com os sacerdotes, o ISTE (Instituto Superior de Teologia de Évora) e os últimos arcebispos. Disse que se requer “a humanização e uma Igreja muito presente na proximidade, porque a solidão é uma das marcas que acontece em terra alentejana”. E acrescentou:  
Temos de ter uma atenção muito grande ao acompanhamento de cada pessoa, nomeadamente os idosos, à problemática da solidão, à interioridade que faz com os montes alentejanos estejam perdidos na charneca da planície e é necessário uma Igreja muito atenta ao testemunho de uma caridade, ativa, com capacidade e criatividade para situações novas”.
Dom Francisco Senra Coelho, embora nascido em Maputo, é considerado natural de Barcelos.
Fez a formação para o sacerdócio na Arquidiocese de Évora, no Seminário Maior e no Instituto Superior de Estudos Teológicos, onde foi presbítero durante 28 anos, até ser nomeado Bispo Auxiliar de Braga, em 2014.
Para o novo prelado eborense, Braga mostrou-se uma “diocese criativa, empreendedora, pascal, com um espírito festivo, com um povo participativo, com um calendário popular de uma religiosidade muito fértil”. Mais, como adiantou, “foi um alargar horizontes a uma outra Igreja” que também conhece, já que as suas “raízes familiares são minhotas”, e o constatar um conjunto de experiências que podem ser muito úteis para o seu “ministério episcopal”.
Em relação ao trabalho que o espera em Évora, diz que ultrapassa “a apreensão com e em paz”: “põe a sua “mão na mão de Deus” e vai. Não sabe “como será o caminho”, mas acredita que, “com a sua mão, vai ser bom”.
Como sacerdote, Senra Coelho liderou o início duma nova paróquia na cidade de Évora, onde foi necessário “edificar uma comunidade” e construir tudo “passo a passo”. Vincou a este respeito:
Tudo isto me deu uma relação de muita proximidade e uma vivência grande com a população, com a Igreja local e compreendi as potencialidades do povo alentejano e ribatejano”.
E porfiou:
Há uma esperança latente naquela Igreja e, por aquilo que me foi dado experimentar, me desafia a dar a vida com eles, a irmos juntos, a fazermos a estrada e o percurso sem receio, porque o Senhor vai connosco”.
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Dom Francisco José nasceu a 12 de março de 1961 em Maputo (Moçambique), de pais naturais de Adães, concelho de Barcelos, na Arquidiocese de Braga. Frequentou o Liceu Nacional de Barcelos e o Liceu Sá de Miranda em Braga enquanto estava já no Seminário Conciliar da cidade minhota. E, em 1980, ingressou no Seminário Maior de Évora, onde concluiu o curso superior de Teologia, sendo posteriormente ordenado a 29 de junho de 1986 pelo então arcebispo de Évora, Dom Maurílio Jorge Quintal de Gouveia, antecessor de Dom José Alves.
Foi assistente religioso dos estúdios da Rádio Renascença e da Rádio Sim em Évora, assistente diocesano do Movimento da Mensagem de Fátima, da Associação dos Missionários de Cristo Sacerdote, do Movimento dos Cursos de Cristandade e membro do Conselho Presbiteral e do Cabido da Basílica Metropolitana de Évora, na qualidade de cónego capitular, assumindo as funções de tesoureiro-mor. Agora é vogal da Comissão Episcopal do Laicado e Família.
De 1990 a 2000, foi diretor e editor do boletim ‘Igreja Eborense, Vida e Cultura da Arquidiocese de Évora’; tem várias obras publicadas, a última das quais sobre ‘Nossa Senhora e a História de Portugal”. E, a nível académico, é doutorado em História pela Universidade Internacional de Phoenix (EUA), tendo como tema da tese a vida do Arcebispo de Évora, Dom Augusto Eduardo Nunes, no contexto da Primeira República em Portugal.
Em abril de 2014, foi nomeado pelo Papa Francisco como bispo auxiliar de Braga; era então pároco de Nossa Senhora de Fátima e de São Manços, em Évora, e de Nossa Senhora da Consolação, em Arraiolos, além de ser o vigário forâneo da Vigararia de Évora e o moderador da Zona Pastoral Centro/Sul da Arquidiocese de Évora. A ordenação episcopal decorreu a 29 de junho de 2014 na Sé de Évora e foi presidida pelo arcebispo Dom José Alves, tendo como coordenantes os arcebispos Dom Jorge Ortiga e Dom Maurílio de Gouveia.
Enfim, que tenha um ministério episcopal como a Igreja deseja e o mundo necessita.
2018.06.28 – Louro de Carvalho

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