sábado, 25 de abril de 2015

25 de abril, dia hagiológico de São Marcos, evangelista

Marcos, ou João Marcos, um hebreu da tribo de Levi, foi um dos primeiros discípulos de Pedro, que no dia de Pentecostes, impressionados pelo discurso petrino, solicitaram o Batismo em nome de Cristo e o receberam da parte do Apóstolo primaz (cf At 2,37ss).
Terá sido este o motivo por que Pedro lhe chama “meu “filho” na sua primeira carta (1Pe 5,13).
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Marcos Evangelista (em grego, Μάρκος) foi martirizado em Alexandria a 25 de abril do ano 68. Tendo começado por ser discípulo de Paulo, posteriormente foi discípulo de Pedro. Considerado o autor do 2.º Evangelho (o segundo, de acordo com a ordem do cânone bíblico) é também um dos setenta e dois discípulos e venerado como santo e mártir por várias igrejas cristãs, como a Católica, a Ortodoxa e a Copta. É ainda venerado como o patriarca fundador da Igreja de Alexandria, um dos principais focos do Cristianismo primitivo.
O leão é o símbolo deste evangelista, que inicia o seu Evangelho com as palavras: “Voz daquele que clama no deserto: Preparai os caminhos do Senhor” (Mc 1,3).
A tradição cristã identifica-o com o João Marcos (em grego, Μάρκος Ιωάννης), mencionado como companheiro de Paulo nos Atos dos Apóstolos e que depois se teria tornado discípulo de Pedro, apesar de uma tradição anterior reportada aos séculos II-III distinguir duas personalidades: Marcos e João Marcos. Porém, a obra de Hipólito “Sobre os Setenta Apóstolos” é espúria.
Os atos dos Apóstolos (cf At 12,12) mencionam Maria, a mãe de Marcos e dona duma casa em Jerusalém, onde os cristãos realizavam as suas sessões. Autores há que reconhecem em Marcos o parente de Barnabé que, bem moço ainda, se associou com este a Paulo na sua primeira viagem apostólica e, após o términus desta, por desinteligências surgidas entre eles, voltou para Jerusalém. Na segunda viagem paulina, não o vemos ao lado do apóstolo das gentes (cf At 15,3). Mais tarde, porém, tornou-se seu companheiro na primeira prisão do mesmo em Roma (cf Flm 24); pelo mesmo apóstolo foi mandado a Colossos (Cl 4,10). Preso pela segunda vez em Roma, Paulo chamou-o para junto de si (cf 2 Tm 4,11). O seu apostolado está, pois, também ligado ao de Paulo, em Roma, onde desenvolveu um zelo e atividade apostólicos tais que o seu chefe desejou tê-lo em sua companhia.
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Segundo Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica, Herodes Agripa I, durante o seu 1.º governo (41 dC) mandou matar Tiago, filho de Zebedeu, e mandou prender Pedro planeando matá-lo após a Páscoa judaica. Mas Pedro fora salvo miraculosamente por intervenção angélica e escapou das mãos de Herodes (cf At 12,1-19), sendo acolhido na casa da mãe de Marcos.
Após diversas viagens pela Ásia Menor e pela Síria, chegou a Roma no 2.º ano do imperador Cláudio (42 dC). Em algum ponto da caminhada, encontrou Marcos, confirmou-o na fé e tomou-o como companheiro de viagem e seu intérprete. A pregação de Pedro teve tal sucesso na capital do Império que foi presenteado pelos seus habitantes com uma estátua. Aí, Marcos teve o grato prazer de ver os belos frutos, que a pregação de Pedro, o príncipe dos Apóstolos, vinha produzindo, crescendo dia por dia o número dos que pediam o Batismo.  
Durante a sua ausência, Pedro confiou a Marcos a vigilância sobre a jovem Igreja. E, correspondendo ao insistente pedido dos primeiros cristãos de Roma de lhes deixar em documento escrito tudo o que ouviram da boca de Pedro e da sua sobre a vida, a doutrina, os milagres e a morte de Jesus Cristo. Assim, Marcos escreveu o Evangelho que tem aposto o seu nome, sendo o mais curto dos 4 Evangelhos e, por assim dizer, o mais incompleto: não contém a história da In­fância de Cristo, nem o sermão da montanha. Todavia, Pedro leu-o, aprovou-o e recomendou aos cristãos que dele fizessem a leitura.
Pode dizer-se que Marcos se faz espetador com os leitores, com os quais acompanha e vive o drama de Jesus de Nazaré, desenrolado em dois atos, coincidentes com as duas partes deste Evangelho. Ao longo do 1.º, vai-se perguntando: Quem é Ele? Pedro responderá por si e pelos outros, de forma direta e categórica: “Tu és o Messias!” (Mc 8,29). O 2.º ato pode esquematizar-se com a pergunta-resposta: De que modo se realiza Ele como Messias? Morrendo e ressuscitando (Mc 8,31; 9,31; 10,33-34). Este Evangelho apresenta-nos, assim, uma Cristologia simples e acessível: Jesus de Nazaré é verdadeiramente o Messias que, com a sua Morte e Ressurreição, demonstrou ser verdadeiramente o Filho de Deus (Mc 15,39) que a todos possibilita a salvação: “Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos” (Mc 10,45).
Mais do que em qualquer outro Evangelho, Jesus, “Filho de Deus” (Mc 1,1.11; 9,7; 15,39), revela-se profundamente humano, de contrastes por vezes desconcertantes: é ora acessível (Mc 8,1-3), ora distante (Mc 4,38-39); acarinha (Mc 10,16) e repele (Mc 8,12-13); impõe “segredo” acerca da sua pessoa e do bem que faz e manda apregoar o benefício recebido; manifesta limitações e até aparenta ignorância (Mc 13,22). É verdadeiramente o “Filho do Homem”, título da sua preferência. Deste modo, a pessoa de Jesus torna-se misteriosa: porque encerra em si, conjuntamente, um homem verdadeiro e um Deus verdadeiro. 
A evidência de que o autor do 2.º Evangelho – que alude a alguns costumes romanos e está cheio de latinismos – é efetivamente Marcos vem de Papias de Hierápolis nos fragmentos da sua “Exposição dos oráculos do Senhor”.
Entretanto, no 3.º ano de Cláudio (43 dC), partiu para Alexandria. Lá fundou a Igreja de Alexandria, cuja sucessão é avocada por diferentes denominações cristãs, mas sobretudo pela Igreja Copta. Alguns aspetos da sua liturgia são referenciados a Marcos, que se tornou o primeiro bispo de Alexandria e o fundador do Cristianismo em África. Enquanto isto, Marcos pregou o Evangelho na ilha, de Chipre, no Egito e nos países vizinhos. As conversões produzidas por esta pregação contavam-se aos milhares e milhares de ídolos iam ruindo por terra; e nos lugares dos templos pagãos ergueram-se igrejas cristãs. O Egito, antes entregue à mais refinada idolatria, tornou-se teatro da mais alta perfeição cristã e refúgio de eremitas.
Marcos trabalhou 19 anos em Alexandria, onde a Igreja atingiu um extraordinário esplendor. Não satisfeitos com a observância daquilo que o Evangelho indicava como indispensável para alcançar a vida eterna, muitos observavam do modo mais perfeito os valores evangélicos, abstendo-se, a exemplo do líder, do uso da carne e do vinho e distribuindo os bens pelos pobres. Inúmeros eram aqueles que viviam em perfeita castidade. O número de cristãos cresceu de tal modo que para todos terem ocasião de participar na celebração eucarística e na pregação, foi necessário destacar um número de casas bem grande onde se pudessem reunir.
Tal prosperidade da causa do Senhor inquietou e irritou os sacerdotes pagãos contra o grande Apóstolo. Marcos, sabendo que os inimigos, seus e de Cristo, conspiravam contra a sua vida e na iminência da generalização persecutória, na qual muitos cristãos poderiam não ter a força de perseverar na fé, deu à Igreja de Alexandria um novo bispo na pessoa de Aniano e ausentou-se da cidade. Era o 8.º ano do imperador Nero (62-63 dC).
Ao voltar passados dois anos, decorria uma grande festa que os pagãos celebravam em honra do deus Serapis. A maior homenagem que podiam render à divindade seria, segundo opinavam os idólatras, a oferta da vida do Galileu – nome por que era conhecido o evangelista. Por isso, puseram-se a caminho em busca de Marcos. A eles se juntou o populacho. Descoberto o paradeiro, penetraram na casa que o hospedava. Marcos celebrava os santos mistérios, quando a horda sequiosa do seu sangue entrou. Prenderam-no e, com extrema brutalidade, ter-lhe-ão colocado uma corda à volta do pescoço e arrastaram-no pelas ruas da cidade. O trajeto ficou, pois, todo marcado pelo sangue do Mártir. Marcos nenhuma resistência fez; pelo contrário, deu louvores a Deus por ter sido achado digno de sofrer pelo nome de Cristo.
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A Igreja Copta mantém a tradição de que Marcos, o evangelista, foi um dos Setenta Discípulos enviados por Cristo, o que é confirmado pela lista de Hipólito. Porém, a Igreja Copta adotou a tradição que mistura numa só personalidade as figuras de Marcos e João Marcos. Ela acredita que foi o evangelista quem recebeu os discípulos em sua casa após a morte de Jesus, a mesma para onde foi o Jesus ressuscitado e onde também o Espírito Santo irrompeu sobre os discípulos no Pentecostes. Também terá sido ele um dos servos nas Bodas de Caná, o que despejou a água que Jesus transformou em vinho (cf Jo 2,1-11).
Também segundo a tradição copta, Marcos terá nascido em Cirene de Pentápolis, na antiga Líbia, aonde terá retornado mais tarde, quando Paulo o enviou a Colossos  (cf Cl 4,10; Flm 4) – passagens que tratam de Marcos, primo de Barnabé, e depois de ter servido com ele em Roma (cf 2 Tm 4,11).
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Na noite anterior ao martírio, que ocorreu a 25 de abril, teve a visão dum anjo, que lhe disse: “Marcos, Servo de Deus, o teu nome está escrita no livro da vida e a tua memória jamais se apagará. Os arcanjos receberão em paz o teu espírito”. E Cristo, da mesma maneira por que muitas vezes o tinha visto e saudado durante a vida mortal e disse-lhe: “Marcos, a paz seja contigo”. Foram palavras que encheram de grande consolo e ânimo a alma do Mártir.
Durante o martírio, encomendou a alma a Deus com as palavras de Cristo na cruz, Nas Tuas mãos entrego o meu espírito (Lc 32,46).
Os pagãos que o martirizaram quiseram incinerar-lhe o corpo. Entretanto, uma fortíssima tempestade, que sobreveio, frustrou-lhes os planos e forneceu aos cristãos o ensejo de recolherem o corpo e lhe darem condigna sepultura numa rocha em Bucoles.
Em 828 d.C., as relíquias que se crê serem de São Marcos foram roubadas em Alexandria por dois mercadores venezianos e levadas para Veneza, que tinha como padroeiro Teodoro de Amásia. Foi ali edificada uma basílica para as guardar, a Basílica de São Marcos. Nela se encontra um mosaico nela onde figuram os marinheiros a cobrir as relíquias com carne de porco para que os muçulmanos, senhores de Alexandria, impedidos de tocar na carga, a não pudessem inspecionar.
Também Braga, na igreja de São Marcos, guarda uma arca tumular com o que se crê serem relíquias do evangelista, para lá levadas, no século XI, pelo arcebispo Dom Maurtício Burdino.
Os coptas acreditam que a cabeça do santo permaneceu em Alexandria. Todos os anos, no 30.º dia do mês de Paopi, a Igreja Ortodoxa Copta comemora a consagração da igreja de São Marcos e o aparecimento da cabeça do santo na cidade – cerimónia que ocorre na Catedral Ortodoxa Copta de São Marcos, onde a cabeça do santo está preservada.
Em 1063, durante a consagração da Basílica de São Marcos, as relíquias do santo não puderam ser encontradas. Porém, de acordo com uma tradição, o santo revelou pessoalmente, em 1094, a localização de seus restos mortais estendendo o braço a partir de um pilar. Estes restos recém-encontrados foram colocados num sarcófago na basílica.
Em junho de 1968, o Patriarca Cirilo VI de Alexandria enviou uma delegação não oficial à Roma para receber uma relíquia de São Marcos das mãos do Papa Paulo VI. A relíquia era um pequeno pedaço de osso que havia sido presenteado ao Papa pelo cardeal Urbani, Patriarca de Veneza. O Papa, dirigindo-se à delegação, disse que o resto das relíquias se manterá na cidade.
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Foi revelado a São Marcos que o seu nome estava escrito no livro da vida. A mesma possibilidade da inscrição do nome de todos no mesmo livro da vida foi proporcionada a todos pelo Evangelho, onde se encontram estabelecidos os princípios e as normas de conduta segundo o olhar de Deus. Deve, pois, o Evangelho ser a leitura predileta e constante de todos. “Fazei penitência e crede no Evangelho” disse Cristo no seu primeiro sermão (Mc l,15). Quem crê no Evangelho como palavra de Deus observa o que ele prescreve. “Pode alguém dizer que crê em Cristo, se não faz o que Cristo mandou que fizesse?” – pergunta São Cipriano). “Nem todos obedecem ao Evangelho”, lamenta o apóstolo Paulo (Rm 10,16). É esta a única razão por que os seus nomes não são encontrados no livro da vida. “As minhas ovelhas ouvem minha voz” (Jo 10,27). São as ovelhas que no dia do juízo serão colocadas à direita do Rei. São elas que lhe ouvem a voz e lhe obedecem. Quem quer figurar entre os eleitos do Senhor, deve ouvir-Lhe a voz.
Provavelmente era em atenção à vida austera e frugal de Marcos e seus colaboradores e seguidores mais próximos que, em muitas aldeias cristãs, o dia 25 de abril era o dia dos pobres. Os mais ricos dispunham de uma significativa fatia dos seus bens em favor dos mais desprotegidos e os remediados ofereciam o dia de trabalho braçal e dos animais em favor deles.
Era também uso litúrgico da Igreja de no dia de São Marcos cantar em procissão a ladainha de todos os Santos, para impetrar a misericórdia divina por intercessão de todos os santos e santas de Deus. Este uso fora introduzido pelo Papa Libério, no século IV, e foi tornado obrigatório pelo Papa Gregório Magno, por ocasião da peste que dizimou horrivelmente, em 586, a população de Roma. Era o dia em que os pagãos celebravam, com uma grande procissão ao longo da Via Flamínia até à 5.ª pedra miliária, a festa de Robigo. Ali, Junto dum pequeno bosque, o sacerdote oferecia ao deus um cão e uma ovelha para invocar o patrocínio sobre as searas contra o carbúnculo. Eram as ladainhas maiores porque mobilizavam todo o povo romano a partir das suas sete igrejas paroquiais, em contraposição com as ladainhas menores, cantadas nos dias das rogações, os três dias anteriores à Quinta-feira da Ascensão, introduzidas, em 477, por São Mamertus, bispo de Vienne, por conta dos terramotos e outras calamidades então prevalecentes e ordenada para Roma por Leão III, em 799.
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O dia 25 de abril, que passou, desde 1974, em Portugal, a ser o Dia da Liberdade, como admirável pedra de toque para a instauração da democracia, era para a Igreja Católica, o dia da solidariedade para com os pobres, as vítimas das pestes e dos terramotos e o dia do apóstolo da proximidade de Deus humanizado em Jesus Cristo.

Sim, a democracia, para ser plena, tem ser política, mas também económica, social e cultura, mas sobretudo solidária.

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