Marcos, ou João Marcos, um hebreu da tribo de Levi,
foi um dos primeiros discípulos de Pedro, que no dia de Pentecostes,
impressionados pelo discurso petrino, solicitaram o Batismo em nome de Cristo e
o receberam da parte do Apóstolo primaz (cf At 2,37ss).
Terá sido este o motivo por que Pedro lhe chama “meu “filho”
na sua primeira carta (1Pe 5,13).
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Marcos Evangelista (em grego, Μάρκος) foi martirizado em
Alexandria a 25 de abril do ano 68. Tendo começado por ser discípulo de Paulo,
posteriormente foi discípulo de Pedro. Considerado o autor do 2.º Evangelho (o segundo, de acordo
com a ordem do cânone bíblico) é também um dos
setenta e dois discípulos e venerado como santo e mártir por várias igrejas
cristãs, como a Católica, a Ortodoxa e a Copta. É ainda venerado como o
patriarca fundador da Igreja de Alexandria, um dos principais focos do
Cristianismo primitivo.
O leão é o símbolo deste evangelista, que inicia o seu
Evangelho com as palavras: “Voz daquele que clama no deserto: Preparai os
caminhos do Senhor” (Mc 1,3).
A tradição cristã identifica-o com o João Marcos (em grego, Μάρκος Ιωάννης), mencionado como
companheiro de Paulo nos Atos dos Apóstolos e que depois se teria tornado
discípulo de Pedro, apesar de uma tradição anterior reportada aos séculos
II-III distinguir duas personalidades: Marcos e João Marcos. Porém, a obra de
Hipólito “Sobre os Setenta Apóstolos” é espúria.
Os atos dos Apóstolos (cf At 12,12) mencionam Maria, a mãe de Marcos e dona duma casa em
Jerusalém, onde os cristãos realizavam as suas sessões. Autores há que reconhecem
em Marcos o parente de Barnabé que, bem moço ainda, se associou com este a
Paulo na sua primeira viagem apostólica e, após o términus desta, por
desinteligências surgidas entre eles, voltou para Jerusalém. Na segunda viagem
paulina, não o vemos ao lado do apóstolo das gentes (cf At 15,3). Mais
tarde, porém, tornou-se seu companheiro na primeira prisão do mesmo em Roma (cf Flm 24); pelo mesmo apóstolo foi mandado a Colossos (Cl 4,10). Preso pela segunda vez em Roma, Paulo chamou-o para
junto de si (cf 2 Tm 4,11). O seu
apostolado está, pois, também ligado ao de Paulo, em Roma, onde desenvolveu um
zelo e atividade apostólicos tais que o seu chefe desejou tê-lo em sua
companhia.
***
Segundo Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica, Herodes Agripa I,
durante o seu 1.º governo (41 dC) mandou matar Tiago,
filho de Zebedeu, e mandou prender Pedro planeando matá-lo após a Páscoa
judaica. Mas Pedro fora salvo miraculosamente por intervenção angélica e
escapou das mãos de Herodes (cf At 12,1-19), sendo
acolhido na casa da mãe de Marcos.
Após diversas viagens pela Ásia Menor e pela
Síria, chegou a Roma no 2.º ano do imperador Cláudio (42 dC). Em algum ponto da caminhada, encontrou Marcos, confirmou-o na fé e
tomou-o como companheiro de viagem e seu intérprete. A pregação de Pedro teve
tal sucesso na capital do Império que foi presenteado pelos seus habitantes com
uma estátua. Aí, Marcos
teve o grato prazer de ver os belos frutos, que a pregação de Pedro, o
príncipe dos Apóstolos, vinha produzindo, crescendo dia por dia o número dos
que pediam o Batismo.
Durante a sua ausência, Pedro confiou
a Marcos a vigilância sobre a jovem Igreja. E, correspondendo ao insistente pedido dos primeiros cristãos de Roma de lhes deixar em documento escrito tudo
o que ouviram da boca de Pedro e da sua sobre a vida, a doutrina, os milagres
e a morte de Jesus Cristo. Assim, Marcos escreveu o Evangelho que tem aposto o
seu nome, sendo o mais curto dos 4 Evangelhos e, por assim dizer, o mais incompleto: não contém a história da Infância de Cristo, nem o sermão da
montanha. Todavia, Pedro leu-o, aprovou-o e recomendou aos cristãos que dele
fizessem a leitura.
Pode dizer-se que Marcos se faz espetador com os
leitores, com os quais acompanha e vive o drama de Jesus de Nazaré, desenrolado
em dois atos, coincidentes com as duas partes deste Evangelho. Ao longo do 1.º,
vai-se perguntando: Quem é Ele? Pedro responderá por si e pelos outros, de
forma direta e categórica: “Tu és o Messias!” (Mc 8,29). O 2.º ato pode
esquematizar-se com a pergunta-resposta: De que modo se realiza Ele como
Messias? Morrendo e ressuscitando (Mc 8,31; 9,31; 10,33-34). Este Evangelho
apresenta-nos, assim, uma Cristologia simples e acessível: Jesus de Nazaré é
verdadeiramente o Messias que, com a sua Morte e Ressurreição, demonstrou ser
verdadeiramente o Filho de Deus (Mc 15,39) que a todos possibilita a salvação:
“Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate por todos” (Mc 10,45).
Mais do que em qualquer outro
Evangelho, Jesus, “Filho de Deus” (Mc 1,1.11; 9,7;
15,39), revela-se profundamente humano, de contrastes por vezes
desconcertantes: é ora acessível (Mc 8,1-3),
ora distante (Mc 4,38-39); acarinha (Mc 10,16)
e repele (Mc 8,12-13); impõe “segredo” acerca da sua pessoa e do bem que faz e
manda apregoar o benefício recebido; manifesta limitações e até aparenta
ignorância (Mc 13,22). É verdadeiramente o “Filho do Homem”, título da sua
preferência. Deste modo, a pessoa de Jesus torna-se misteriosa: porque encerra
em si, conjuntamente, um homem verdadeiro e um Deus verdadeiro.
A evidência de que o
autor do 2.º Evangelho – que alude a alguns costumes romanos e está cheio de
latinismos – é efetivamente Marcos vem de Papias de Hierápolis nos fragmentos
da sua “Exposição dos oráculos do Senhor”.
Entretanto, no 3.º ano
de Cláudio (43 dC), partiu para
Alexandria. Lá fundou a Igreja de Alexandria, cuja sucessão é avocada por
diferentes denominações cristãs, mas sobretudo pela Igreja Copta. Alguns
aspetos da sua liturgia são referenciados a Marcos, que se tornou o primeiro
bispo de Alexandria e o fundador do Cristianismo em África. Enquanto isto, Marcos pregou o Evangelho na ilha,
de Chipre, no Egito e nos países vizinhos. As conversões produzidas por esta pregação contavam-se aos milhares e milhares de ídolos iam ruindo por terra; e nos lugares dos templos pagãos ergueram-se igrejas cristãs. O Egito, antes
entregue à mais refinada idolatria, tornou-se teatro da mais alta perfeição
cristã e refúgio de eremitas.
Marcos trabalhou 19 anos em
Alexandria, onde a Igreja atingiu um extraordinário esplendor. Não satisfeitos
com a observância daquilo que o Evangelho indicava como indispensável para
alcançar a vida eterna, muitos observavam do modo mais perfeito os valores
evangélicos, abstendo-se, a exemplo do líder, do uso da carne e do vinho e
distribuindo os bens pelos pobres. Inúmeros eram aqueles que viviam em
perfeita castidade. O número de cristãos cresceu de tal modo que para todos
terem ocasião de participar na celebração eucarística e na pregação, foi
necessário destacar um número de casas bem grande onde se pudessem reunir.
Tal prosperidade da causa do Senhor inquietou e
irritou os sacerdotes pagãos contra o grande Apóstolo. Marcos, sabendo que os
inimigos, seus e de Cristo, conspiravam contra a sua vida e na iminência da
generalização persecutória, na qual muitos cristãos poderiam não ter a força de
perseverar na fé, deu à Igreja de Alexandria um novo bispo na pessoa de Aniano
e ausentou-se da cidade. Era o 8.º ano do imperador Nero (62-63
dC).
Ao voltar passados dois anos, decorria uma grande
festa que os pagãos celebravam em honra do deus Serapis. A maior homenagem que
podiam render à divindade seria, segundo opinavam os idólatras, a oferta da vida do Galileu – nome por que era conhecido o evangelista. Por isso, puseram-se
a caminho em busca de Marcos. A eles se juntou o populacho. Descoberto o
paradeiro, penetraram na casa que o hospedava. Marcos celebrava os santos
mistérios, quando a horda sequiosa do seu sangue entrou. Prenderam-no e, com
extrema brutalidade, ter-lhe-ão colocado uma corda à volta do pescoço e
arrastaram-no pelas ruas da cidade. O trajeto ficou, pois, todo marcado pelo
sangue do Mártir. Marcos nenhuma resistência fez; pelo contrário, deu louvores
a Deus por ter sido achado digno de sofrer pelo nome de Cristo.
***
A Igreja Copta mantém a
tradição de que Marcos, o evangelista, foi um dos Setenta Discípulos enviados por Cristo, o que é confirmado pela
lista de Hipólito. Porém, a Igreja Copta adotou a tradição que mistura numa só
personalidade as figuras de Marcos e João Marcos. Ela acredita que foi o
evangelista quem recebeu os discípulos em sua casa após a morte de Jesus, a
mesma para onde foi o Jesus ressuscitado e onde também o Espírito Santo
irrompeu sobre os discípulos no Pentecostes. Também terá sido ele um dos servos
nas Bodas de Caná, o que despejou a água que Jesus transformou em vinho (cf Jo 2,1-11).
Também segundo a
tradição copta, Marcos terá nascido em Cirene de Pentápolis, na antiga Líbia,
aonde terá retornado mais tarde, quando Paulo o enviou a Colossos (cf Cl 4,10; Flm 4) – passagens que tratam de Marcos,
primo de Barnabé, e depois de ter servido com ele em Roma (cf 2 Tm 4,11).
***
Na noite anterior ao martírio, que ocorreu a 25 de
abril, teve a visão dum anjo, que lhe disse: “Marcos, Servo de Deus, o teu nome
está escrita no livro da vida e a tua memória jamais se apagará. Os arcanjos receberão em paz o teu espírito”. E Cristo, da mesma maneira por que muitas
vezes o tinha visto e saudado durante a vida mortal e disse-lhe: “Marcos, a paz
seja contigo”. Foram palavras que encheram de grande consolo e ânimo a alma do
Mártir.
Durante o martírio, encomendou a alma a Deus com as
palavras de Cristo na cruz, Nas Tuas mãos
entrego o meu espírito (Lc 32,46).
Os pagãos que o martirizaram quiseram incinerar-lhe o
corpo. Entretanto, uma fortíssima tempestade, que sobreveio, frustrou-lhes os
planos e forneceu aos cristãos o ensejo de recolherem o corpo e lhe darem condigna sepultura numa rocha em Bucoles.
Em 828 d.C., as
relíquias que se crê serem de São
Marcos foram roubadas em Alexandria por
dois mercadores venezianos e
levadas para Veneza, que tinha como padroeiro Teodoro de Amásia. Foi ali
edificada uma basílica para as guardar, a Basílica de São Marcos. Nela se
encontra um mosaico nela onde figuram os marinheiros a cobrir as relíquias com
carne de porco para que os muçulmanos, senhores de Alexandria, impedidos de
tocar na carga, a não pudessem inspecionar.
Também Braga, na igreja
de São Marcos, guarda uma arca tumular com o que se crê serem relíquias do
evangelista, para lá levadas, no século XI, pelo arcebispo Dom Maurtício
Burdino.
Os coptas acreditam que
a cabeça do santo permaneceu em Alexandria. Todos os anos, no 30.º dia do mês
de Paopi, a Igreja Ortodoxa Copta comemora
a consagração da igreja de São Marcos e o aparecimento da cabeça do santo na
cidade – cerimónia que ocorre na Catedral Ortodoxa Copta de São Marcos, onde a
cabeça do santo está preservada.
Em 1063, durante a
consagração da Basílica de São Marcos, as relíquias do santo não puderam ser
encontradas. Porém, de acordo com uma tradição, o santo revelou pessoalmente, em
1094, a localização de seus restos mortais estendendo o braço a partir de um
pilar. Estes restos recém-encontrados foram colocados num sarcófago na basílica.
Em junho de 1968, o Patriarca Cirilo VI de Alexandria enviou
uma delegação não oficial à Roma para receber uma relíquia de São Marcos das
mãos do Papa Paulo VI. A relíquia era um pequeno pedaço de osso que havia sido
presenteado ao Papa pelo cardeal Urbani, Patriarca de Veneza. O Papa,
dirigindo-se à delegação, disse que o resto das relíquias se manterá na cidade.
***
Foi revelado a São Marcos que o seu nome estava
escrito no livro da vida. A mesma possibilidade da inscrição do nome de todos
no mesmo livro da vida foi proporcionada a todos pelo Evangelho, onde se
encontram estabelecidos os princípios e as normas de conduta segundo o olhar de
Deus. Deve, pois, o Evangelho ser a leitura predileta e constante de todos.
“Fazei penitência e crede no Evangelho” disse Cristo no seu primeiro sermão (Mc l,15). Quem crê no Evangelho como palavra de Deus observa
o que ele prescreve. “Pode alguém dizer que crê em Cristo, se não faz o que
Cristo mandou que fizesse?” – pergunta São Cipriano). “Nem todos obedecem ao Evangelho”,
lamenta o apóstolo Paulo (Rm 10,16). É esta a única
razão por que os seus nomes não são encontrados no livro da vida. “As minhas
ovelhas ouvem minha voz” (Jo 10,27). São as
ovelhas que no dia do juízo serão colocadas à direita do Rei. São elas que lhe ouvem a voz e lhe obedecem. Quem quer figurar entre os eleitos do Senhor,
deve ouvir-Lhe a voz.
Provavelmente era em atenção à vida austera e frugal
de Marcos e seus colaboradores e seguidores mais próximos que, em muitas
aldeias cristãs, o dia 25 de abril era o dia dos pobres. Os mais ricos
dispunham de uma significativa fatia dos seus bens em favor dos mais
desprotegidos e os remediados ofereciam o dia de trabalho braçal e dos animais
em favor deles.
Era também uso litúrgico da Igreja de no dia de São
Marcos cantar em procissão a ladainha de todos os Santos, para impetrar a misericórdia divina por intercessão de todos os santos e santas de Deus. Este uso fora introduzido pelo Papa Libério, no século IV, e foi tornado obrigatório pelo
Papa Gregório Magno, por ocasião da peste que dizimou horrivelmente, em 586, a
população de Roma. Era o dia em que os pagãos celebravam, com uma grande procissão ao
longo da Via Flamínia até à 5.ª pedra miliária, a festa de Robigo. Ali, Junto
dum pequeno bosque, o sacerdote oferecia ao deus um cão e uma ovelha para
invocar o patrocínio sobre as searas contra o carbúnculo. Eram as ladainhas maiores porque mobilizavam todo o
povo romano a partir das suas sete igrejas paroquiais, em contraposição com as
ladainhas menores, cantadas nos dias das rogações, os três dias anteriores à
Quinta-feira da Ascensão, introduzidas, em 477, por São Mamertus, bispo
de Vienne, por conta dos terramotos e outras calamidades então prevalecentes e
ordenada para Roma por Leão III, em 799.
***
O
dia 25 de abril, que passou, desde 1974, em Portugal, a ser o Dia da Liberdade,
como admirável pedra de toque para a instauração da democracia, era para a
Igreja Católica, o dia da solidariedade para com os pobres, as vítimas das
pestes e dos terramotos e o dia do apóstolo da proximidade de Deus humanizado
em Jesus Cristo.
Sim,
a democracia, para ser plena, tem ser política, mas também económica, social e
cultura, mas sobretudo solidária.
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