Boa
e Santa Páscoa de 2015 é o voto que dirijo a todos os amigos e amigas, em primeiro
lugar por força da amizade que impele ao desejo do bem para todos, mas também por
dever que decorre da fé que professamos.
Entrados
a fundo no ambiente da Semana Santa,
não podemos deixar de seguir de perto o Cristo Pascal que não quis marinar na
inanidade do grão de trigo que não aceita ser deitado à terra, resignando-se ao
estatuto de mediocridade que a estrutura e morfologia de grão lhe permitem. Preferiu
voluntariamente fazer coincidir a sanha mortífera dos perseguidores – religiosos
e políticos – com o desígnio salvífico de Deus, Fonte de toda a vida e
consolação, Pai comum de todos. Assim, à semelhança daquele grão de trigo que, renunciando
à estabilidade da forma, se deixou semear, germinou e se multiplicou e qualificou
em fruto, Jesus, que passou pelo mundo fazendo o bem, entrou na Cidade como
Messias (se o seu messianismo como os demais, saberia a pouco) e, depois de celebrar a Páscoa judaica
em comunidade com os discípulos, resolveu aceitar a condenação à morte para
testemunho da Verdade. E glorificado pelo Pai, com a descida ao túmulo,
penetrou na mansão dos mortos e, no Espírito vivificante, ressuscitou!
Como
herança, deixou-nos a Nova Aliança, corporizada no Sacrifício-Banquete, regada
pelo mandamento novo do amor fraterno e com a incumbência imperativa da missão,
fazer discípulos em todas as nações, sem
aceção de pessoas.
Importa
reconhecer que a Páscoa não consiste apenas na Ressurreição. Sem a Morte de Cristo,
era impossível a ressurreição e a assunção do corpo glorioso. Mas a morte sem a
ressurreição seria como o grão de trigo lançado à terra, mas que não germinou
por falta das boas condições edafo-climáticas. E a morte de Cristo, se fosse
provocada apenas pela natureza ou se fosse desprovida do toque messiânico do
Domingo de Ramos, soaria a condenação comum.
Assim,
é necessário que, independentemente da profundeza da fé de cada um, se anule ou,
pelo menos minore, o egoísmo pessoal e o flagelo do individualismo ou da indiferença,
se aposte em mais solidariedade e se construa a sério a comunidade. E, se os
cristãos querem afirmar a vitalidade e a pujança da sua Igreja, têm de assumir a
Páscoa desde o Domingo de Ramos até ao Domingo de Páscoa, valorizando o
testamento de Quinta-feira Santa (Eucaristia, Sacerdócio,
Amor Fraterno, Serviço aos mais desfavorecidos), o dom universalista de Sexta-feira Santa (Jesus
morto na cruz para a reunião dos filhos de Deus que andavam dispersos ou como
ovelhas sem pastor)
e a festa da luz, da água, do “glória”, do Aleluia e do frenesim barulhento da
Vigília Pascal.
Deste modo,
fará mais sentido sentir a verdura, as flores, a água, a frescura, o Sol, o
calor que natureza empresta às pessoas, às famílias, às comunidades! Em consonância com o cuidado de e em Cristo, tudo respira
de vida, tudo impa de pujança, tudo ostenta jovialidade. É o rebentar da exuberância
a clamar a maturação do fruto, pela queda das inutilidades. A cruz do Redentor
forjou uma nova criação, uma nova natureza, uma comunidade operante, um homem
refeito.
Talvez
seja conveniente adotar a premência da seguinte enunciação do Bispo do Porto no
Domingo de Ramos, inaugurando a Páscoa:
“Ir ao encontro de Jesus Cristo, caminhar com Ele e anunciar o evangelho
não é para nós uma opção facultativa. É um imperativo assumido, é uma decisão consciente;
é um caminho que urge percorrer; é uma missão, hoje mais necessária do que
nunca”.
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