domingo, 26 de abril de 2015

25 de Abril – dia da Liberdade, da democracia e da cidadania

Há quarenta e um anos, os militares quais homens sem sono e sem medo, levaram a cabo a ingente tarefa de romper com o passado de amordaçamento das liberdades, da cidadania e do pluralismo de pensamento, opinião e manifestação.
O Governo caiu em abril de 1974 e com ele esboroou-se o regime. O povo veio à rua festejar e manifestar a esperança regeneradora. E para que o poder não ficasse refém incauto da rua, o escol militar menos comprometido com o regime ora aniquilado passou a exercê-lo provisoriamente secundado pelo concurso de cidadãos de reconhecido mérito.
A rua continuou a festejar. E no festejo embriagante cometeram-se excessos e houve desvios. No entanto, o dia não deixou de merecer o festejo popular. E hoje continua a ser abril de pleno direito e em plena força. Basta que haja vontade e entusiasmo.
Depois, cumpriu-se o programa dos cabouqueiros da democracia. Um ano depois, houve eleições livres e universais, as primeiras! Foram para a escolha dos homens e mulheres que tiveram o encargo de elaborar a Constituição. E outro ano depois, vieram as eleições legislativas, as presidenciais, as autárquicas e as regionais. Estava a democracia política a dar passos completos, ainda que oscilantes. E, em 1982, com a primeira revisão constitucional, a democracia deixou de estar tutelada pelo poder castrense. Era a plenitude da democracia política e a rampa de lançamento das demais vertentes da democracia e do Estado de Direito Democrático.
A pari, os cidadãos enfileiravam em manifestações e participavam em reuniões, sessões de esclarecimento e comícios para elaborar e/ou ouvir declarações de princípios, manifestos e programas. Multiplicaram-se as ações cívicas de educação, esclarecimento dos deveres e dos direitos de cada um, nomeadamente o dever e direito de voto. Começou a democratizar-se a educação e a cultura; inventou-se ou reforçou-se o Estado Social; e garantiu-se o acesso dos cidadãos à saúde e aos benefícios da civilização, bem como o direito ao trabalho e ao justo repouso, a um presente condigno e a um futuro sadio.
Pena é que a Casa da Democracia, herdeira política e fiel depositária das glórias da revolução abrilina, tivesse tentado cozinhar, em vésperas das comemorações, um mecanismo limitador de uma das principais liberdades , a da expressão e da edição, correspondente ao direito de informar e de ser informado. Mas parece ter arrepiado caminho ainda a tempo. No entanto, a forma como comemorou o quadragésimo aniversário da inauguração da nossa democracia representativa, com as primeiras eleições livres e generalizadamente participadas (as da Assembleia Constituinte, em 25 de abril de 1975) revelou-se morna e vazia, totalmente “anticomemoração” e sem perspetivas de futuro risonho.
Por outro lado, os insignes deputados, quando pressentiram que as contas dos diversos grupos parlamentares estariam ao alcance da fiscalização do Tribunal de Contas (TdC), apressaram-se a legislar com êxito no sentido de as suas contas serem fiscalizadas pelo Tribunal Constitucional (TC). Não viesse a suceder que, por azar, também fosse detetado algum descontrolo interno ou a instalação de umas eventuais más práticas de gestão financeira e, depois, ter de vir a senhora Presidenta a terreiro mostrar-se chocada e desgostosa e quiçá a acusar o TdC de conclusões infundadas e precipitadas! É certo que o TC não dispõe de meios e de capacidade técnica para se encarregar desta missão. Mas ser-lhe-ão oferecidos. E, como diz o povo, o que elege os deputados, “enquanto o pau levanta, folgam as costas”.
Só me interrogo como é que o corpo que devia ser mais credível no Portugal de abril se transforma tão facilmente em corpo de exceção, em anticorpo? Ou a fiscalização de todas as instituições não é parte integrante da democracia? Não basta dizer-se que ninguém está acima da lei, mas também que ninguém está isento de escrutínio.
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De resto, se apertarmos bem as mãos, quase só nos resta a democracia política formal. Votamos em quem os partidos propõem e eles, por norma, apresentam apenas cidadãos que estejam em consonância com os aparelhos partidários e não quem se tenha distinguido em papel relevante na comunidade. As leis laborais pouco menos são que antidemocráticas do ponto de vista económico-social (semeiam a pobreza, a exploração, a precariedade, o medo da perda do emprego, o desemprego e o medo de falar); a educação está nas ruas da amargura; a saúde cada vez fica mais distante do povo; a segurança social está à beira da falência; o poder financeiro esboroa a alma da nação; a economia está cada vez mais exposta à cobiça do capital e de seus efeitos dilapidadores.
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Porém, Abril merece ser celebrado, tem de ser celebrado: na rua, nas consciências e nas instituições. Abril tem de ser libertado da modorra e dos ataques à democracia nas suas mais diversas valências. Tem de voltar a existir a democracia política genuína. E ela tem de gerar nova democracia económica, social, educacional e cultural. A saúde, a segurança no futuro e a educação têm de estar ao serviço e ao alcance de todos!
A Liberdade tem de ser recuperada para ser festejada em pleno e abrigar o exercício das diversas liberdades, da liberdade de todos e de cada um. Não há liberdades a não ser no contexto da Liberdade fundamental. E a Liberdade que não seja garantida e que não se concretize nas diversas liberdades não é propriamente liberdade.

Esta é a peculiaridade e a universalidade de ABRIL!

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