segunda-feira, 13 de abril de 2015

Misericórdia, alegria e pobres – a trilogia de Francisco!

São estas as três palavras que definem o atual Papado, na ótica do cardeal hondurenho Oscar Andrés Rodriguez Maradiaga, em entrevista ao periódico on lineZenit – o mundo visto de Roma” no passado dia 10 de abril.
Quem é afinal o predito príncipe da Igreja?
O cardeal arcebispo de Tegucigalpa e presidente da Caritas Internationalis (desde 2007) é um dos principais colaboradores de topo do Papa Francisco. Coordena, desde o mês de abril de 2013, o Conselho de Cardeais – conhecido por C-9 – que aconselha o Papa no âmbito da reforma da Cúria Romana e do governo da Igreja universal.
Como presidente da Caritas Internationalis esteve em Portugal no passado dia 13 dezembro de 2014 e proferiu uma conferência em torno do tema Dimensão Social da Evangelização no Mundo de Hoje. Também esteve, no passado dia 8 de abril, em Fafe, onde interveio no âmbito da iniciativa fafense “Terra Justa” – Encontro Internacional de Causas, Valores da Humanidade. Conhecido pela sua luta pelos direitos humanos, continua a desafiar as nações mais ricas a manterem as suas promessas para aumentar e melhorar o desenvolvimento de ajuda aos países mais pobres do mundo.
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Na aludida entrevista, o insigne colaborador do Papa afirmou que o balanço de dois anos de trabalho daquele Conselho dos Cardeais é bastante positivo. E, citando palavras do Sumo Pontífice, assegurou que ‘a Cúria está para servir’ e que ‘não pode haver carreirismo dentro da Igreja’. Mais: aquele que diz que não se fez nada, se não sabe, é melhor que não fale. Recorda outrossim que, segundo palavras de Francisco, se podem reformar todas as instituições, mas, “se as pessoas não se reformam, isso não leva a lugar nenhum”. Ademais, “a Cúria Romana não é uma corte”, pelo que o “carreirismo dentro da Igreja” não tem lugar. Por consequência, uma das chaves da reforma é descobrir o modo “como fazer para que as instituições da Cúria Romana possam servir melhor, possam servir mais agilmente”.
O Cardeal Maradiaga não se coibiu de falar sobre o IOR, adiantando que “foram canceladas 14 mil contas”. Reconhece que o Santo Padre estava altamente preocupado com os escândalos conexos com a economia Vaticana, mas salienta que a transparência ora conseguida reduz muito a corrupção.
Refere-se ainda à ideia mítica das riquezas do Vaticano, sublinhando que o “orçamento de todo o Estado do Vaticano, não chega nem aos tornozelos da Arquidiocese de Colónia”, por exemplo.
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Mais em detalhe:
Quanto ao papel da Igreja na sociedade de hoje, distingue a Igreja como hierarquia e a Igreja como povo de Deus. Como hierarquia, a sua missão é evangelizar, em especial, a cultura (parece interessante este acento na cultura, pois, através dele se atingirá o homem todo); como povo de Deus, compete-lhe evangelizar sobretudo com o testemunho. Isto não retira quer à hierarquia quer ao laicado a missão comum de testemunho, ensinamento e reflexão. Trata-se, porém de evidenciar os aspetos predominantes de uns e de outros, acentuando a preeminência do testemunho dos valores do Evangelho.
Em conformidade com estes termos, o cardeal enuncia o desafio hodierno lançado à Igreja.
Se nós efetivamente somos o povo de Deus, se constituímos esta comunidade, temos de apresentar a Igreja como casa de comunhão, escola de comunhão. Frente a um mundo, marcado pelo individualismo, onde cada um procura fechar-se nos seus próprios limites, a Igreja está chamada “a ter um abridor de latas na mão para ir abrindo essas áreas” demasiado individualizadas e individualistas.
Sobre o mencionado Conselho dos Cardeais, confessa que “uma das coisas mais belas é que temos o Santo Padre como um de nós em todas as nossas reuniões, e está lá [nas sessões] como um irmão a mais”. Além de não impor o seu pensamento, às vezes, até pede alguns esclarecimentos. “Está com todos nós o tempo todo. Da Santa Eucaristia da manhã até, às vezes, à noite. Almoça connosco e toma café connosco. Podemos ter esse acesso tão fraterno e tão bonito com o Santo Padre”.
Já que uma das preocupações papais era a questão económica, que abrange a gestão do património da Sé Apostólica e o famoso IOR (Instituto para as Obras Religiosas), conhecido como o Banco do Vaticano, o Santo Padre criou, ainda antes da primeira reunião do Conselho dos Cardeais, duas comissões, uma para a gestão do património da Sé Apostólica e outra para os assuntos atinentes ao IOR.
Essas comissões entregaram os materiais que o Conselho estudou na primeira reunião de outubro, na reunião de dezembro de 2013 e na reunião de fevereiro de 2014. Nesta última reunião, chegou-se à conclusão clara de que era necessário criar uma Secretaria de Economia, quase como um ministério de Finanças dentro da Igreja. Foi criada por Motu Proprio do Papa Francisco e está a funcionar. Quanto ao problema da administração do património da Sé Apostólica, também passou a funcionar como as secções de um Banco Central de um Estado, com todas as funções, nomeadamente, a económica. E o IOR também foi submetido a uma reforma substancial, assumindo-se não como um banco, mas como o que era originariamente, uma fundação.
Rodríguez Maradiaga esclareceu a história e os objetivos do IOR. Trata-se de uma fundação que o Papa Pio XII criou na iminência do perigo de que Hitler tomasse o Vaticano e, por consequência, se perdessem os bens das comunidades religiosas. Porém, com o passar do tempo, transformou-se praticamente num banco, no qual havia pessoas que lá não deveriam ter conta. O cancelamento das 14 mil contas, acima evocado, foi acompanhado da recomendação aos seus titulares de que levassem o seu dinheiro ao Estado italiano, que era onde devia estar. Muitas vezes, estava ali apenas para não pagar impostos, o que era um grande erro, além de ser eticamente mau. “Agora, toda esta reforma levou a uma maior transparência”. Hoje em dia, dizia Maradiaga que “existe uma administração muito eficiente e a publicação de tudo. Os orçamentos estarão na internet, caso já lá não estejam. De tal forma que seja possível ver não somente o orçamento, mas também a execução do orçamento.” – Explicitou o cardeal.
Relativamente à reforma da Cúria Romana, o cardeal hondurenho, salienta, escorado nas palavras do Papa, que ela postula a reforma das pessoas, a reforma das mentalidades. E o Papa lembra recorrentemente estes pressupostos. Por exemplo, a Cúria Romana não é uma corte, não existe uma corte papal. Talvez no passado tenha existido, quando era considerado como um governante, um monarca. Mas hoje não é assim. O Papa diz que a Cúria Romana está para servir. Sendo assim, um dos critérios da reforma é descobrir como fazer para que as Instituições da Cúria Romana possam servir melhor e com mais agilidade. Outro critério é que não haja carreirismo dentro da Igreja. O Papa insiste muito neste ponto do carreirismo.
No atinente ao pontificado do Papa Francisco e no quadro da celebração do segundo aniversário da sua eleição, o Cardeal Rodríguez Maradiaga define-o clara e sinteticamente com três palavras: misericórdia, alegria e pobres – assente num perfil pessoal de fraternidade, franqueza comunicativa, simplicidade e alegria, raiando às vezes as malhas da brincalhonice, mesmo em público nalgumas situações de informalidade.
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Para quê, pois, discutir até à exaustão se o Papa é teólogo ou não, se o seu Pontificado está ou não estruturado teologicamente. O que importa é que Francisco seja “pastor”, conforte, semeie a esperança, confirme na fé, seja ouvido no seu magistério ordinário e de influência e, se necessário for, assuma o papel de supremo doutor da Igreja universal. De resto, que prossiga o objetivo claro que tem em mente: a reforma da Igreja, tornando-a em missão permanente às periferias, definitivamente cercã dos mais pobres, dos que não têm vez e voz.  
Como Rodríguez Maradiaga, “pedimos ao Senhor que lhe dê a vida necessária para que leve adiante esse trabalho, que é muito importante, muito importante para o futuro e, acima de tudo, para continuar dando esperança e alegria”.

Ele, como assegura o cardeal, “é portador de alegria; e a tristeza não tem nada a ver com a fé cristã”.

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