quinta-feira, 15 de maio de 2014

O que pretendem os candidatos às eleições europeias

A revista Visão, no seu número de 15 de maio, traz a páginas 26 e 27, ao lado de um texto sob o título Votar para quê, um verdadeiro jardim de vontades de significativo conjunto de cabeças de lista de candidaturas às eleições para o Parlamento Europeu, a que se segue um curioso painel interpretativo a páginas 28-31. O esquema interpretativo estriba-se em questões levantadas aos líderes de metade das candidaturas, a que eles vão respondendo (saliente-se que as respostas dos grandes partidos são escandalosamente lacunares), e é complementado por um comentário elaborado com o contributo de cinco jornalistas.
Um dos candidatos quer “o combate ao desemprego no centro da agenda” e outro quer “uma agenda para a formação de emprego”. Não será a mesma coisa combater o desemprego e criar emprego, sendo as duas páginas da agenda comparáveis às duas faces da mesma moeda, ou seja, a perspetiva do bloco central português? Se bem me recordo, há tempos, o ex-primeiro-ministro, promovido a comentador de TV era de parecer de que, em vez de falar de desemprego, se deveria, por mais positivo tratar do emprego. Grande pertinência na diferença!
Eu gostava de perceber as diferenças essenciais destas candidaturas ditas europeístas. Será que elas existem de facto? Se gritam ao vento que a extrema direita antieuropeísta está a crescer tanto que pode alterar substancialmente a correlação de forças no Parlamento Europeu, podendo até gerar o bloqueamento das instituições, porque é que os europeístas convictos não arregaçam as mangas na entrega à promoção do voto e ao esclarecimento das suas políticas pela Europa unida, lançando mão de todos os meios legítimos e chegando a todos os recantos do território nacional? Porque perdem tanto tempo na constituição de listas, nas minudências diárias ou mesmo na putativa apresentação de cartão amarelo ou vermelho ao governo, quando se sabe que, quaisquer que sejam os resultados, o governo não cairá? Venham daí, da parte dos convictos, as grandes ideias da Europa da solidariedade e da subsidiariedade, da democracia económica e social, da união política, financeira e bancária, das instituições e dos cidadãos, da liberdade e da segurança, do rigor e da equidade, do todo federal interativo e dos Estados soberanos – da soberania partilhada! E verão que a abstenção reverterá em votação massiva. Porém, enquanto os cidadãos se sentirem esmagados pelas diretivas europeias, lhes repugnarem os altos salários dos europolíticos e dos eurofuncionários, as condições de aposentação e reforma, os subsídios de reintegração, os apoios à saúde e educação do seu núcleo familiar, a idade precoce para requerer a aposentação ou reforma o asilo nichal de ex-governantes incompetentes, não dirão “presente” em massa nas urnas, a não ser aqueles que tenham uma consciência cívica escrupulosa ou interesses na panóplia da relação Estado-cidadãos. Enquanto os cidadãos estiverem convictos de que a Europa mandou às urtigas a solidariedade e o bem comum, passando a esmagar os Estados mais fracos e os cidadãos mais débeis, obviamente que se perguntarão em que é que a Europa será motivo de esperança, pretexto de renovação ou fator de humanismo – mesmo que detenha em seu território geoestratégico a sede da Igreja Católica ou o Centro Ecuménico das Igrejas. Que pena os europolíticos não ouvirem a voz dos Bispos do CCEE!
Mas o dito jardim de vontades contém mais flores opcionais. Vejamos:
“Quero inverter a fuga de cérebros dos países do Sul” – Até concordo, mas esta pretensão tem de ser acionada em Lisboa por parte de gente que saiba motivar o investimento, negociar nos areópagos europeus executivos (Comissão, Conselho e BCE), não em sede legislativa e fiscalizadora, e em sede de concertação social, promover a paz social, prestigiar as instituições, robustecer a Administração Pública e dar alento às classes médias. À Europa o que é da Europa e aos Estados o que é dos Estados!
“Quero um salário mínimo europeu” – Em que montante? Segundo a bitola portuguesa? Sem estruturar a estratégia europeia da economia, do desenvolvimento social, sem a união financeira, fiscal e bancária. não vamos lá.
“Quero que Portugal saia do euro e seja ressarcido pelos prejuízos”. – O candidato não está nem de saúde. O problema não é o euro. A moeda é um símbolo, neste caso falso, da realidade económica e financeira. Exige-se o ressarcimento em nome de quê? Certamente que não será em nome de uma adesão nacional tida por voluntária. Deve, é, intervir-se na realidade que é significada pela moeda.
“Quero acabar com o uso de animais em espetáculos”. – O candidato que discuta isso em Lisboa, Madrid e Marselha – para Portugal, Espanha e parte de França. Não é um problema europeu, muito menos do tribunal dos direitos do homem. Animais não são sujeito de direitos, já que não o são de deveres. Os homens, sim, têm deveres de estimação para com os animais que lhes servem de companhia, de proveito no trabalho e fornecimento de alimento, adereços e agasalho, sem exploração exaustiva, bem como para com os animais selvagens pelo equilíbrio ecológico. A diversão é também um serviço que o animal pode prestar ao homem.
“Quero acabar com o tratado orçamental”. – Pois eu não. Só quero que, em vez de instrumento de disciplina das contas, ele não seja arma de arremesso ou pretexto para o Governo da República ou a Europa fazer gato-sapato do Zé Povo.
“Quero o fim dos memorandos de entendimento”. – Eu também quero que não haja mais instrumentos como aquele que foi gizado em 2011 ou o executado ao longo dos três últimos anos. Porém, disciplina orçamental exige-se, mas não à custa do rendimento do trabalho; sim, à custa de quem definiu políticas desastrosas, de quem viveu acima da minhas possibilidades, de quem geriu de forma danosa, de quem swapou, de quem roubou, de quem burlou, de quem fugiu ao fisco, de quem não fiscalizou, de quem autoaumentou salário ou pensão, de quem prometeu apoio a projetos de investimento e depois recuou vergonhosamente!
Ademais, cabe-me perguntar sobre o que não se percebe:
Qual é a verdadeira intenção das candidaturas antieuropeístas, ou seja, que pretenderão fazer da União Europeia, que combatem? Quererão reduzi-la à estaca zero ou aproveitar as suas estruturas para mandar à sua maneira? E os eurocéticos que quererão fazer de uma Europa em que não acreditam? Porque é que a Europa se afastou abissalmente dos cidadãos?
Queremos Europa ou não?

Se queremos, vamos votar!

Sem comentários:

Enviar um comentário