Neste dia em que
devo falar pouco e pouco escrever, porque mais imperioso é meditar, agradecer e
agir, seguem umas poucas e mal notadas linhas, preenchidas por umas mal
entrelaçadas e encaixadas palavras, como é próprio de filho que nem sempre sabe
cumprir.
Meditar impõe-se-nos, porque o mistério
da vida se gera no seio da “mulher” que nos transportou por entre alegrias e tristezas,
incómodos e atenções, atropelos e deferências, esperanças e temores, ânsias e
sonhos. Mas, quando o salto para a luz do dia acontece, fica feliz, radiante e
graciosa: o futuro do antes tornou-se o presente do hoje e será o futuro do que
virá. E os trabalhos continuam na paciência da alimentação e nutrição, da
educação por valores fundamentais, no zelo pela saúde, na preparação para o
trabalho, no culto do lazer, na construção da liberdade futura e na atenção ao
Deus da Vida. A mãe é a “mãe” e é só uma: “mãe”, em português, é palavra
pequenina, mas indefinível e inefável a realidade que em si ela contém.
Agradecer é a dívida que nunca se paga à
mãe, que se privou do necessário para si para que eu tivesse mais e fosse mais “eu”
e aprendesse a doar-me; agradecer também
se deve a quem, de algum modo, colaborou para que os cuidados maternos fossem
mais eficazes, menos penosos e mais harmónicos; agradecer deve-se outrossim a Deus de quem deriva toda a
paternidade e, consequentemente, o milagre da sua concretização na maternidade;
agradecer é dever nosso para com
todas as mulheres que aceitam ser mães em tempos de crise, de sofrimento e de penúria,
mas com a grandeza das almas generosas, que não olham para trás quando cumpre a
promoção da vida e vida em condições de dignidade humana.
E agir? Agir, sim, impõe-se-nos no respeito
pela mãe, na fidelidade ao desígnio que acalentou em torno de nós, no amor
dedicado à causa da vida, na honra à sua pessoa indescritível. Agir impõe-se-nos na construção de um
ambiente propício ao seu bem-estar e à abjuração da criação de situações
indesejadas. Agir impõe-se-nos, como
no meu caso, no respeito pela sua memória, pela valorização da sua história de
vida, pela admiração da serenidade com que enfrentou os últimos momentos que
passou visivelmente connosco (novembro de 1989), pela oração da fé, pela
consolidação da esperança.
Agir impõe-se-me na correspondência à sábia
recomendação paterna, uns meses depois: “Reza
pela tua mãe, reza a tua mãe, que ela é uma santa!”. E porque não? Grande
é o Dia de Todos os Santos! – blasfemamente triturado em nome da troika
neoliberal.
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