Pedro Silva
Pereira, ex-ministro do PS e candidato ao Parlamento Europeu, em sétimo lugar na lista encabeçada por
Francisco Assis, reclamou, no sábado de hoje, uma mudança que “devolva
a esperança” aos portugueses. É uma coisa em que todos estaremos de acordo, já que
governo que tirou quase tudo aos cidadãos, a ponto de muitos dificilmente se
reconhecerem cidadãos de pleno direito, muito pequeno quinhão de esperança
deixou no espectro nacional, quando a sua preocupação essencial consistiu em
fazer de Portugal um “bom aluno” não sei de quem nem em que matérias. Seria a
obediência acrítica ao eixo “Mercosy” na rampa da austeridade galopante?
É, no
entanto, difícil de aceitar que tenha sido a direita, por si só, ou a esquerda renitente
a atirar unilateralmente o país para a necessidade de ajuda externa. Embora, em
tese, seja possível acusar do PSD de 2011 de haver precipitado as condições que
induziram ao pedido de intervenção da troika, por via da recusa em subscrever a
aprovação do PEC 4, também é verdade que a preparação desse instrumento de
equilíbrio orçamental e contenção da dívida soberana foi mal equacionada pelo
governo socrático. Nem se pode omitir o facto de Teixeira dos Santos haver
produzido, durante o último tetramestre de 2010, uma declaração premonitória
das condições de custo da dívida que levariam à elaboração de um programa de
ajustamento apoiado pelo FMI, Comissão Europeia e BCE. É certo que a Assembleia
da República, apesar de o orçamento do Estado ter passado (na versão PEC 3,
segundo alguns), gerou maiorias de autêntica diversão a contrariar pura e
simplesmente as opções governamentais. E, se Cavaco Silva, por acaso, tem alguma
razão em se queixar de algum hipotético escondimento da situação do país à
Presidência da República, também é verdade que o Presidente aproveitou bem o discurso
de vitória eleitoral nas presidenciais para zurzir nos seus opositores e o
discurso de tomada de posse para incitar os jovens ao sobressalto democrático,
bem como utilizou o capital da sua magistratura de influência para acautelar o
enervamento dos mercados e para escamotear a competente externa da crise,
nomeadamente a europeia.
Como se pode
bem compreender, não é uma só das “narrativas” que garante a certeza da origem
da crise e do défice de esperança. Nem hoje o partido Socialista dá garantias
de se posicionar como alternativa significativamente melhor que a atual
governação. Chegados ao poder, muito em breve se notam os sintomas chagados do
clientelismo partidário, acautelados os interesses básicos do bloco central de
interesses daqueles que a ocupação nominal do poder retirou provisoriamente da
ribalta. Não foram prestadas promessas ajuramentadas de que tal não irá suceder
nem elas garantiriam absolutamente nada em momento em que desgraçadamente – e assim
contrario Silva Pereira – os políticos são mesmo iguais. Como assegura Silva
Martins, não têm pedagogia política, não têm conhecimento político e, parece-me,
nem detêm experiência profissional e/ou política, tendo mesmo alguns uma
competência académica “ficcionada”.
Concorda-se
com o candidato em que o “maior adversário” da mudança política é a “abstenção, a resignação, a
desistência” e que é preciso lembrar os portugueses que nas eleições europeias se
decide “o futuro de Portugal e da Europa”. A Conferência Episcopal Portuguesa,
em sua nota pastoral de 1 de maio, reconhece
o divórcio entre políticos eleitores e entre a Europa e nós:
É um sentimento comum experimentar a distância entre o nosso voto e as
suas consequências práticas. Além disso, a Europa pode parecer uma entidade
estranha, que está para além das nossas fronteiras e não nos diz diretamente
respeito. Por vezes, a onda de descrédito que atinge alguns setores políticos é
tendenciosamente generalizada. Estas eleições, que marcarão o futuro da União
Europeia nos próximos anos, devem ser encaradas como um momento privilegiado
para colaborar na construção de uma Europa melhor.
Por isso, é urgente lembrar aos políticos que
têm eles de equacionar os temas de cada eleição, explicá-los ao eleitorado e
debatê-los com franqueza e elevação, centrando a discussão nas matérias e não
nas pessoas. A mesma nota pastoral recomenda:
Urge ser esclarecida a opinião pública a respeito dos programas
partidários e das pessoas que se candidatam. A nossa democracia deve exigir, de
todos, propostas realistas, geradoras de soluções concretizáveis, evitando
falsas ilusões.
Para isso, é também necessário que as candidaturas
sejam limpas, isto é, sem pessoas com rabos-de-palha na política, nas finanças
e/ou na atividade profissional, mas com candidatos competentes, cultos,
trabalhadores e simpáticos. E, de uma vez por todas, se efetivamente os
políticos não são todos iguais, mostrem-no com palavras, currículo, ação e não com
desfechos como os conhecidos até agora, por exemplo: Gaspar para o FMI, Catroga
e Cardona para EDP, Jorge Coelho para Mota Engil, Nogueira para BCP, Pina Moura
para Iberdrola, etc. E que saibam fazer mais alguma coisinha que não seja
cortar no rendimento dos outros, aumentar impostos, contribuições, taxas e
tarifas ou mexer em diplomas legais só para mostrar serviço e para satisfazer lóbis.
Finalmente, é certo que nas eleições de 25
de maio se decide o futuro de Portugal, mas não o do governo, porque se decide
o futuro da Europa. Porém, não sei se o futuro da Europa se decide com este painel
de candidatos, sobretudo se crescer assustadoramente o bolo dos eurocéticos.
Como se pode renovar algo em que não se acredita? Não será possível a Europa da
solidariedade e da subsidiariedade, a Europa da união política e socioeconómica,
financeira e bancária e, então, da moeda única? Ora, se as candidaturas seguissem
as vozes dos bispos da CCEE já aqui explanada em tempos, outro galo cantaria. Por
seu turno, os bispos portugueses explicam no referido documento:
A Europa é muito mais do que um espaço geográfico. É uma comunidade de
ideais e valores, para a qual muito tem contribuído a fé cristã ao longo dos
séculos. O ressurgir do ideal europeu, no rescaldo de duas guerras mundiais que
tiveram origem no nosso Continente, em boa parte foi obra de líderes políticos
cristãos. Tem-se dado a evolução de um mercado comum ou de uma comunidade económica
para o ideal de uma união europeia, que atualmente congrega 28 Estados. Estes
encontram na Europa a sua casa comum, comprometidos na construção de um projeto
de civilização, orientado por critérios de paz e justiça social, de liberdade
religiosa, de diálogo cultural e solidariedade, a nível interno e com a
comunidade de todos os outros povos e nações.
Será que
todos os eleitos e elegendos interiorizam estes pressupostos e perspetivam a sua
ação pelo texto seguinte, da mesma CEP, ou alinham por gregarismo ou por indicação
partidária?
Numa visão realista do nosso Continente, dinamiza-nos a esperança de uma
Europa melhor, em que seja salvaguardada a vida humana desde conceção até morte
natural, em que o desemprego não pareça um mal inevitável, mas um desafio a
responder sem adiamentos, em que as fronteiras não se fechem à solidariedade
com os povos maltratados política e economicamente, em que o diálogo
inter-religioso e intercultural seja o caminho de sentido único para uma paz
justa e duradoura, em que o capital não se arvore em governo autocrático, mas
sirva a pessoa humana e o bem comum.
Para quando a política como verdadeira ciência
baseada no direito e na justiça, uma atraente arte de expressão das ideias e
das sensibilidades dos homens e das comunidades, uma autêntica demagogia (condução sábia e honesta dos povos!) –
para termos um futuro melhor em Portugal e na Europa?
Por tudo, não posso dizer que basta bradar
“Basta!”.
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